Lenny Gant não tinha pensado noutra coisa senão nele durante todas as exclamações de "Parabéns" por parte dos colegas. Lenny pensou em ir visitá-lo à enfermaria, pois Draco acabara por ter de lá ir, mas temia que isso fosse exagerado da sua parte e não via Pansy em parte alguma: o que significava que ela andava de volta dele. De qualquer maneira, Draco não estava realmente ferido. Após o jogo, e como as aulas daquele dia haviam sido canceladas, Lenny optou por juntar-se a Harry, Hermione, Ron, Luna, Ginny e Neville num dos muitos espaços exteriores da escola, junto a uma grande fonte de pedra, onde existiam vários bancos e arbustos.
Hermione e Luna entretinham-se a fazer várias formas com a água da fonte. A certa altura, Luna virou-se com rapidez para Lenny e, num tom angelical, indagou:
-Tenta tu.
Lenny engoliu em seco. E se não conseguisse voltar a realizar um feitiço? Mas depois lembrou-se: ela tinha de ser poderosa. Que lhe dissera o Chapéu? Que varinha a escolhera? Quem eram os seus pais? Tudo isso contribuiu para aumentar a confiança de Lenny - ela era realmente uma poderosa feiticeira, apenas ainda não o sabia. Algo nela havia feito um clique! quando vira Draco cair, e ativara aquilo que há muito estava escondido, e que começara a subir à superfície após o desaparecimento dos pais, tendo sido isso que levara Minerva McGonagall a enviar-lhe a carta para Hogwarts e a colocá-la no sétimo ano. Agora, essa força era cada vez maior. Por isso, agarrou firmemente na sua varinha e proferiu:
-Aguamenti!
Um violento jato de água cristalina elevou-se da fonte, mas Lenny manteve a concentração e conseguiu controlá-lo na perfeição. Sentia-se muitíssimo satisfeita e divertia-se a formar o símbolo do infinito com o longo jato de água quando ouviu uma voz conhecida atrás de si:
-Oh, agora que já se lembra de como fazer feitiços, não perde uma oportunidade de se exibir! - Lenny virou-se para trás e reconheceu Pansy, de braços cruzados sobre o peito, com um olhar carrancudo. Era óbvio que pensava que o facto de Lenny não ter conseguido realizar feitiços antes não passara de uma farsa, para a fazer parecer fraca e vir a revelar-se uma pessoa à altura, como se fosse uma estratégia. Não podia estar mais longe da verdade. Junto dela, também de braços cruzados, encontravam-se Draco, Vincent Crabbe e Gregory Goyle. Lenny não soube o que dizer. O olhar dela incidiu sobre o de Draco, que a observava minuciosamente. Ele não tinha nada engessado, apenas uma pequena ligadura em volta do pulso direito e um penso rápido por cima da sobrancelha esquerda.
-Não é culpa dela se só agora os aprendeu a fazer - Harry veio em sua defesa.
-E, claro, que não viesse o Potter defender a amiguinha! - Pansy revirou os olhos. Vincent e Gregory soltaram pequenas gargalhadas enfadadas, mas a expressão de Draco mostrou-se inalterável. Lenny reparou que Pansy o olhava de soslaio, esperando o momento em que Draco diria uma das suas falas sarcásticas, mas tal não aconteceu.
-Não é o Potter - indagou Hermione - é a verdade. Tu tens é inveja, por ela ser melhor que tu.
Pansy pôs as mãos nas ancas.
-Há dois dias, ela nem conseguia fazer um Wingardium! Agora, porque realiza um feitiço, é vista como uma celebridade!
-Só ficas assim porque ela foi capaz de reagir rapidamente e salvar o Draco e tu não - disse Ginny, num tom indiferente. Pansy enrubesceu e fez uma expressão malvada. Em seguida, cruzou o seu olhar com o de Lenny.
-Tu - chamou, dando dois passos em frente - deves julgar que és muito boa!
E preparou-se para a atacar com um movimento vigoroso da sua varinha, mas Lenny foi mais rápida e conseguiu acertar-lhe com um jato de água proveniente da fonte, que a encharcou dos pés à cabeça. Por azar, a professora McGonagall passava por ali naquele momento e chamou-a de parte, mas Lenny vislumbrou que, pelo canto do olho, houve um breve momento em que os cantos da boca de Draco se elevaram escassos milímetros para cima.
*
Depois da repreensão da professora McGonagall a Lenny, que durou mais de meia hora e onde a professora aproveitou para retirar dez pontos aos Slytherin, era hora do jantar. Apesar de tudo, Lenny sentia-se bem. Antes de se encaminhar para o salão de banquetes, correu até ao seu dormitório feminino dos Slytherin e reparou que Hedz voltara e dormia agora profundamente em cima de uma carta. Lenny retirou-a com cuidado, sem acordar a coruja, e leu-a:
"Querida Lenny,
fico contente por ter corrido tudo bem. Fiquei, de facto, um pouco admirada por teres calhado nos Slytherin, mas descansa, isso não faz de ti uma feiticeira do Mal. A propósito, Minerva McGonagall escreveu-me pessoalmente enunciando que fizeste hoje o teu primeiro feitiço. Não imaginas o quão contente fiquei! Ao que parece, salvaste um rapaz, certo? Minerva não quis referir o nome, mas é alguém com quem me deva preocupar? Beijinhos, avó"
Lenny escrevinhou uma resposta rapidamente, afirmando que o rapaz não era ninguém com quem se devesse preocupar e que não poderia demorar muito tempo a responder-lhe porque tinha de ir jantar. Assim, encaminhou-se para o salão, e logo que Pansy a viu, fulminou-a com o olhar. Sentava-se ainda mais próxima de Draco, como se quisesse afirmar alguma coisa.
Lenny acabara de se sentar quando Minerva McGonagall tocou duas vezes no seu copo de cristal.
-Atenção, alunos, por favor - começou ela e o salão ficou imediatamente em silêncio - gostaria que todos dessem atenção a Hagrid. Ele gostaria de vos dar algumas palavrinhas. Hagrid, quando quiseres.
Hagrid levantou-se do seu assento desajeitadamente e afastou a barba para poder falar.
-Boa noite a todos. Gostaria de anunciar que daqui a duas semanas, durante uma semana inteira, as turmas que têm Cuidados com Criaturas Mágicas farão, em cada dia uma turma, de manhã e à tarde, uma pequena visita de estudo junto às margens do Lago Negro. Levem apenas algo para merendar e um pequeno bloco de notas, se quiserem. Aviso-vos já para não me esquecer e para se irem preparando. Obrigado.
-Define pequeno, Hagrid! - gritou um dos gémeos Weasley, jogando com o tamanho enorme de Hagrid. Hagrid sorriu e sentou-se.
Depois, o jantar prosseguiu e, estranhamente, Pansy não fez nenhum comentário maldoso acerca de Lenny.
*
Duas semanas passaram e o tempo começara a arrefecer. As primeiras folhas das árvores começaram a cair e o vento soprava mais forte. Os professores mostraram, quase todos, entusiasmo pelo progresso de Lenny. Não havia agora nenhum feitiço que eles ensinassem que ela não conseguisse realizar, entrando para uma das melhores da turma. Nas aulas teóricas, como a História de Magia, dada por um professor-fantasma de nome Binns (que era considerada a disciplina mais chata de todas porque Binns se limitava a falar, falar, falar, sobre os feitos de feiticeiros antigos e supostos acontecimentos importantes), em Herbologia e em Poções era um pouco diferente, já que Lenny não tinha grande jeito para decorar conceitos, para identificar as diferentes espécies de plantas nem para medir a quantidade certa dos ingredientes nas poções. De facto, as disciplinas que mais lhe agradavam eram Encantamentos, de Flitwick, Transfiguração da McGonagall e, surpreendentemente, Defesa contra as Artes das Trevas, de Braxton.
A amizade entre Lenny e Harry, Hermione, Ron, Ginny, Luna e Neville crescera bastante ao longo das últimas semanas. Todos eram divertidos e bondosos, cada um à sua maneira, com características diferentes que os tornavam especiais.
Pansy, de volta em meia, tecia algum comentário medonho sobre Lenny, mas era Draco que a incomodava mais. Simplesmente, não lhe falava. Ignorava-a por completo. Em Poções, Slughorn juntara-os a pares para realizarem uma Poção Curativa e Draco fizera tudo sem se dignar a falar com Lenny ou perguntar-lhe, pelo menos, se ela gostaria de ajudar. Lenny começava a ficar farta daquele seu comportamento idiota.
No dia da visita de estudo, estava um sol pálido de manhã, meio coberto pelas nuvens, mas não aparentava ir chover. Hagrid reuniu os alunos junto ao portão de entrada de Hogwarts e depois lá foram todos pelas ravinas abaixo, até chegarem às margens do Lago Negro. A Floresta Proibida, que devia ser, de facto, proibida aos alunos, tal como McGonagall havia referido no primeiro banquete do ano letivo, lá se encontrava a rodear o Lago, sombria e enigmática.
No dia da visita de estudo, estava um sol pálido de manhã, meio coberto pelas nuvens, mas não aparentava ir chover. Hagrid reuniu os alunos junto ao portão de entrada de Hogwarts e depois lá foram todos pelas ravinas abaixo, até chegarem às margens do Lago Negro. A Floresta Proibida, que devia ser, de facto, proibida aos alunos, tal como McGonagall havia referido no primeiro banquete do ano letivo, lá se encontrava a rodear o Lago, sombria e enigmática.
-Muito bem - disse Hagrid - quero que formem grupos de dois e que me encontrem tudo o que está escrito numa lista que vos vou distribuir. Não é difícil, mas precisam de pôr essas cabecinhas a trabalhar. Terão de ir eventualmente até à floresta, que não é perigosa, não durante o dia, pelo menos. Se estiverem em apuros, basta avisarem com algumas chamas vermelhas emitidas pela vossa varinha, mas não se preocupem, sei o que estou a fazer.
Hagrid deu-lhes mais algumas indicações, conselhos e métodos de defesa e segurança e depois esperou para que os alunos formassem os grupos para poder entregar as listas. Pansy aproximou-se de Draco.
-Draco, queres fazer par comigo? - perguntou, tentando mostrar-se indiferente. Lenny encontrava-se algo afastada, observando Harry juntar-se a Ginny (por Hagrid não poder levar a turma dela ao Lago Negro porque tinha não-sei-quê para fazer no dia em que calhava a visita deles, havia ido com eles e Hagrid autorizara que se juntassem com pessoas da outra turma), Ron a Hermione e Neville a Seamus. Provavelmente quereria juntar-se a Luna, mas juntar-se com alguém de outra equipa não era visto com bons olhos.
-Não vais fazer par com a Daphne? Ela não parece ter par - observou Draco. Pansy ofendeu-se.
-Não queres formar grupo comigo, é?
-Não é isso, mas...
O enorme Hagrid aproximou-se deles e declarou em voz apressada:
-Ora, ora, vamos lá despachar, não temos o dia todo... Pansy, porque não te juntas à Daphne? Parecem trabalhar bem nas aulas. E Draco, custar-te-ia muito ficares com a Lenny? Ela não tem par.
Na verdade, muitos dos rapazes dos Slytherins já a haviam questionado se queria formar par com ele, mas ela não lhes dera uma resposta. E ainda bem. Lenny teria a oportunidade de perguntar a Draco porque a andava a ignorar. Pansy saiu dali furiosa e Draco deixou-se arrastar por Hagrid até junto de Lenny. Depois de entregues as listas, Hagrid informou:
-Muito bem, têm uma hora a partir de agora! Daqui a sessenta minutos exatos, quero-vos a todos, aqui, entendido? Podem ir, vá!
Draco começou a dirigir-se para a floresta. Inacreditável, resmungou Lenny para si mesma. Draco ainda não se dignara a mostrar-lhe a lista, sequer. Mas ela não se ia sujeitar àquilo. Querendo ele ficar com ela, ou não, que importava? Afinal, ele não aceitara a proposta de Pansy e, de qualquer maneira, Lenny queria trabalhar. A rapariga aproximou-se de Draco.
-Vais deixar-me ver a lista ou vais ignorar-me como tens feito sempre? - perguntou em tom duro. Draco optou pela segunda opção. Caminharam lado a lado durante mais algum tempo, até se embrenharem por completo na Floresta Proibida.
-Ok, chega - Lenny pôs-se à frente de Draco e cruzou os braços - não quero saber se te apetecia ficar com a Pansy ou com outra pessoa qualquer. Não sei se ouviste o Hagrid, mas ele disse grupos de dois e logo, isso inclui dois indivíduos. Agora, fazes-me o favor de deixares de ser individualista e mimado para ao menos me deixares trabalhar também?
-Quem te disse que eu queria ficar com a Pansy? - replicou Draco, cravando o olhar no seu. Os seus surreais olhos azuis-acinzentados provocaram arrepios a Lenny, que encolheu os ombros.
-Então, com quem querias ficar, afinal?
Draco esboçou um olhar carrancudo.
-Mas isso importa, agora? Em vez de estarmos para aqui a falar, devíamos procurar o que diz na lista!
-Talvez se tu ma mostrasses, eu pudesse ajudar! - Lenny levantou um pouco a voz. Draco entregou-lhe a lista relutantemente.
-Então, com quem querias ficar, afinal?
Draco esboçou um olhar carrancudo.
-Mas isso importa, agora? Em vez de estarmos para aqui a falar, devíamos procurar o que diz na lista!
-Talvez se tu ma mostrasses, eu pudesse ajudar! - Lenny levantou um pouco a voz. Draco entregou-lhe a lista relutantemente.
-Acho que podemos começar pela pérola. Não deve ser muito difícil - sugeriu Lenny, olhando em redor. A floresta deixava passar alguns raios dourados de sol, mas os dois encontravam-se isolados. Ouviam-se as falas dos outros trazidas pelo vento e o som dos seus passos, mas não era possível ver ninguém por entre a folhagem verde e cerrada - eu posso mergulhar.
Draco revirou os olhos.
-Pensa um bocado! Achas mesmo que o Hagrid nos faria mergulhar no Lago Negro? Ok que ele é um bocado lerdo e não conhece muito bem os limites, mas a McGonagall nunca o deixaria sujeitar-nos a tal perigo!
-Bom, pelo que ouvi, o Hagrid já te levou à Floresta Proibida - ripostou Lenny, lembrando-se do que Harry e os outros lhes contaram.
-Isso foi há anos.
-Pelo que ouvi fugiste a sete pés.
-Eu era diferente nessa altura - acabou Draco por dizer - os acontecimentos mais recentes mudaram-me.
Lenny calculou que com acontecimentos mais recentes, Draco se referisse a Voldemort e ao facto de ter de se juntar a ele e ser um Devorador da Morte, juntamente com os pais. Subitamente, sentiu-se preocupada.
-É difícil? - inquiriu. Draco olhou-a nos olhos, interrogativamente. - tu sabes... - continuou baixinho - estar na presença de Voldemort... ter que ser um Devorador da Morte, forçadamente.
Draco olhou para a terra, incomodado.
-Desculpa - apressou-se Lenny a dizer - não devia...
-Sim, é difícil - atalhou Draco - mas tive de o fazer. Não tive escolha.
-Pensava que havia sempre uma escolha - observou Lenny.
Draco abanou a cabeça. De repente, Lenny lembrou-se: Draco presenciara e lutara na batalha de Hogwarts, no passado ano letivo. Os seus pais também. Até ali, ninguém lhe dissera que vira os seus pais sem ser a lutar, pois nunca os viram fraquejar.
-Viste-os? - questionou, em tom alto. Draco olhou para ela e depois desviou o olhar. Assentiu lentamente com a cabeça - o que viste, Draco? Viste-os a lutar?
-Não sei! - respondeu Draco, exausto - acho que os vi, mas de soslaio.... não tive muito tempo para me concentrar nos outros...
-Por favor - murmurou Lenny - faz um esforço.
Draco suspirou.
-A última vez que os vi foi quando Voldemort acabara de lhes apontar a varinha - e estremeceu, juntamente com Lenny - mas depois uma luz intensa abateu-se sobre o espaço e não consegui ver mais nada. Quando acordei, estava junto dos alunos de Hogwarts e Hagrid tinha o Potter inanimado nas mãos, seguido do exército do Voldemort.
Uma sensação inquieta e horripilante atravessou todos os nervos de Lenny.
-Draco, de que cor era a luz? - interrogou em voz monótona. Draco abriu a boca mas fechou-a em seguida. Depois afirmou:
-Não vais querer saber.
Uma lágrima escorreu inevitavelmente pela face de Lenny. Instantaneamente e sem pensar, Draco estendeu a mão para lhe limpar a face, mas deixou-a cair após tocar no rosto de Lenny. Desviou o olhar, envergonhado, mas Lenny segurou-o por um braço.
-Diz-me.
Draco mordeu o lábio inferior.
-Verde - acabou por dizer, rendido.
Uma nova lágrima escorreu pelo rosto de Lenny. Verde era a cor da luz emitida pela varinha de alguém que acaba de realizar uma das três Maldições Imperdoáveis. A pior. Avada Kedavra. A da morte.
-Não... - soluçou ela - e porque nunca me disseste?
-Achas que é fácil contar uma coisa destas?
-E foste só tu que viste?
-Não sei. Mas eu vi... algo mais.
-O quê?
-Houve outra luz a seguir. Mais clara, mais luminosa, como...
-Um contrafeitiço! - exclamou Lenny - não estás a inventar, pois não?
Draco mostrou-se ofendido.
-Eu nunca brincaria com uma coisa destas dimensões. Talvez o meu antigo Draco, não este.
-Então... há esperanças, não há?
Draco encolheu os ombros suavemente.
-Dizem que é a última a morrer - mas depois optou uma expressão dura - mas deves saber que não há nenhum contrafeitiço conhecido que defenda o Avada Kedavra...
-O Harry conseguiu resistir - protestou Lenny.
-Isso foi porque a mãe dele deu a vida para o salvar. O amor incondicional e irrevogável parece ser a única forma de travar a morte.
-Vou continuar a acreditar - disse Lenny, destemida.
-Fazes bem - Draco sorriu. Sim, talvez ainda houvesse uma réstia de esperança e os pais de Lenny estivessem apenas à espera que ela os encontrasse para os trazer de volta para casa. E Lenny não iria descansar até o fazer.
-Obrigada por me teres contado - agradeceu a rapariga, passado um pouco - deve ser muito difícil para ti.
-Tenho feito coisas muito difíceis ultimamente - proferiu ele. Um bando de pássaros piou seguidamente e levantou voo. Uma aragem forte invadiu a floresta e soprou os ramos das árvores com força, fazendo-as balançar. Lenny sentiu uma súbita vontade de abraçar Draco. Em vez disso, perguntou, em tom de indiferença:
-Como o quê?
-Ignorar-te - respondeu o rapaz, passado algum tempo. Lenny surpreendeu-se e o seu ritmo cardíaco aumentou.
-Então, porque me ignoraste? Não tinhas escolha, é?
-Eu ignorei-te - e Draco começou a andar em frente. Lenny seguiu-o em silêncio e passado algum tempo chegaram a uma clareira onde havia um muro e dois bancos de pedra. De baixo do muro brotava uma pequena fonte de água límpida - porque estava a tentar perceber.
-Perceber o quê?
-Porque vieste para os Slytherin. Tinhas tudo para ires parar aos Gryffindor, mas houve algo em ti que escolheu os Slytherin.
Se ao menos Draco soubesse que era ele...
-E, da maneira como gostas da companhia dos teus amigos Gryffindor, não me parece que aprecies realmente as Artes das Trevas.
-E sabes o que é? - perguntou Lenny - aquilo que levou o Chapéu Selecionador a gritar Slytherin?
-Provavelmente não foi a Pansy - e Draco sorriu sarcasticamente. Houve algo na sua expressão que deu a Lenny a ideia de que ele já sabia.
-Não percebo porque me odeia. Agora já consigo realizar feitiços, mas ela continua a tratar-me como um verme.
-Pois, deve ser provavelmente muito difícil de perceber - contrapôs Draco - quer dizer, sinceramente...
-Ok, eu já percebi que tu não suportas a minha burrice - replicou Lenny, irritada - mas não, ainda não percebi onde queres chegar.
-Até a miúda ruiva Weasley já percebeu!
-Por favor, quando falas da Ginny à minha frente, agradecia que a tratasses pelo seu nome - indagou Lenny, magoada. Ginny era sua amiga.
Draco revirou os olhos.
-Como queiras. Até ela já percebeu.
Então, Lenny lembrou-se das palavras que Ginny dissera a Pansy na fonte "Só ficas assim porque ela foi capaz de reagir rapidamente e salvar o Draco e tu não".
-Ela não tem motivos para ser ciumenta - disse Lenny - tu...
-Tu foste a única pessoa que me escolheu em vez de ao Potter - interrompeu Draco inesperadamente. O que é que ele queria dizer com aquilo?
-Hã?
-Não sou burro, ao contrário do que muitos pensam. Também não sou idiota, mas gosto de me fazer que sou, e sinceramente, não sei por que razão o faço. Eu via o sofrimento na tua cara de cada vez que te ignorava ou aquele brilho impercetível para as outras pessoas quando me dignava a olhar-te ou a falar-te. Eu sei… que eu sou a razão porque vieste para os Slytherin.
-Bolas, és mesmo convencido.
Draco sorriu ironicamente.
-Convencido, mas não errado.
Lenny desviou o olhar. Era assim tão fácil de perceber?
-O que é que o Harry tem a ver com isto? - interrogou, intrigada.
-Toda a gente gosta do Potter - explicou Draco - toda a gente do Bem, pelo menos. Ele é encantador para as raparigas, com aquele seu ar introvertido e intelectual. É amigo e divertido para com os rapazes, poderoso e um bom aluno para os professores. Todos adoram andar com ele. E tu conheceste-o antes da seleção das equipas, mas também me conheceste antes. Se não me tivesses conhecido, decerto não terias ido parar aos Slytherin, mas o facto de não teres escolhido o Potter…
-Então e a Pansy? O Vincent e o Goyle? Eles não gostam do Harry.
-Sim, mas foram para os Slytherin porque os Slytherin representa quem eles são. Não por minha causa.
-Hum, e estás arrependido por me teres feito calhar na tua equipa? – averiguou Lenny.
-Tu estás? – indagou Draco por sua vez.
Bolas, pensou Lenny, lá está ele. A fazê-lo novamente.
-Bom, e se estiveres errado? Eu posso realmente pertencer ao Mal. E mesmo que não pertença, as pessoas consideram que Slytherin não usufrui de feiticeiros do Bem, mas talvez eu tenha mudado isso. Talvez tu não tenhas sido a razão por que fui lá parar.
Draco meditou nas palavras de Lenny durante alguns segundos. Lenny também ficou a pensar nelas.
-Talvez sejam ambas as razões – declarou ele, por fim.
-Mas isso coloca-me em desvantagem. O facto de me teres influenciado na escolha das equipas e o facto de eu não te ter influenciado.
-Tu nunca me conseguirias pôr nos Gryffindor, mesmo que quisesses. Não da maneira que sou - alegou Draco, com toda a firmeza.
-Eu não te acho burro, ou idiota, ou mau, se queres a minha opinião. Acho apenas que tiveste que te sujeitar às circunstâncias que te foram impostas. Vindo de uma família como a tua… ah, quero dizer…
-Não faz mal. Tens razão – Draco apoiou as mãos no muro de pedra.
-E como ficamos? Vais continuar a ignorar-me?
O rapaz fixou o olhar no dela.
-Isso é também uma das coisas mais difíceis que fiz, lembras-te…?
Lenny preparava-se para responder, quando Hagrid irrompeu na clareira, seguido de alguns alunos, de entre os quais Pansy, Harry, Hermione, Ron e Ginny.
-Andámos montes de tempo à vossa procura! – exclamou Hagrid, olhando Draco com uma expressão inquiridora – já viram que horas são?
Draco olhou para o seu relógio de bolso. Passava uma hora e quinze minutos desde que tinham chegado ao Lago Negro.
-Perdemo-nos nas horas – desculpou-se Lenny.
-E pelos vistos não procuraram nada! – Hagrid não parecia zangado, apenas perplexo e confuso.
-Desculpe…
-Tiveram coisas mais importantes para tratar, não foi, Lenny? – Pansy olhou-a friamente e embora estivesse claramente a falar para Lenny, foi Draco quem respondeu.
-Na verdade – disse ele – falámos sobre Voldemort – e ficaram todos admirados, alguns até estremeceram – e sobre a batalha em Hogwarts.
-E dos meus pais – acrescentou Lenny, omitindo a parte que Draco lhe revelara acerca da sua provável morte.
-Mas, Draco… - Pansy parecia confusa.
-Bom – prosseguiu Hagrid, um pouco embaraçado – desta vez passa. Mas vou ter de comunicar o vosso comportamento à diretora, embora ache que ela vai perceber, consoante o que me contaram… agora, vá, vamos almoçar nas margens do Lago.
Acima de tudo, Lenny sentia uma miscelânea de emoções e sentimentos dentro de si: estava confusa relativamente a Draco, pois não tinha a certeza de que ele se sentia da mesma forma em relação a ela como Lenny se sentia em relação a ele. Sentia-se também contente, por ele a ter mais ou menos defendido de Pansy e por não ter dito com todas as letras que não apreciava a sua companhia. Além disso, era-lhe muito difícil ignorá-la, o que devia contar para alguma coisa. Por outro lado, receava levar algum castigo, mas isso era o menor dos seus problemas. Enquanto descia a floresta juntamente com os outros, olhou para Draco, que a observava. E o coração de Lenny começou a bater desenfreadamente quando os cantos da boca dele se elevaram um pouco para cima, no seu já característico e irresistível sorriso sarcástico.

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