terça-feira, 30 de abril de 2013

Aresto Momentum!

No dia seguinte, Lenny acordou cedo. Partilhava um dormitório com mais quatro raparigas Slytherin, entre elas Daphne Greengrass. No dia anterior, depois do jantar, Draco indicara-lhe o caminho até à Sala Comum dos Slytherin, que se encontrava nas masmorras. Em Hogwarts, as escadas mudavam constantemente de direção e as imagens moviam-se. Nos quadros, as personagens apareciam e desapareciam, juntavam-se a outras personagens noutros quadros, etc. 




Havia um grande quadro de um homem robusto na porta que dava para a Sala Comum dos Slytherin. Draco proferiu uma palavra-passe e a porta abriu-se. Na sala, que era grande e espaçosa, predominavam os tons verdes e prateados. Havia sofás, uma lareira, mesas, jogos de xadrez, quadros, candelabros, etc. Draco entregou-lhe o uniforme feminino dos Slytherin: era composto por uma camisa branca, um pólo verde-escuro de algodão,  uma capa verde-escura com o símbolo dos Slytherin cozido ao peito, uma gravata verde e branca, uma saia preta, meias pretas e sabrinas pretas. Havia ainda um cachecol verde e branco  e umas botas pretas com pêlo por dentro para os dias mais frios e um chapéu azul-escuro/preto opcional. 



Depois de algumas indicações básicas, como a hora de levantar, recolher e tudo isso, retirou-se, sem se despedir. 
Os dormitórios das raparigas situavam-se à direita e os dos rapazes à esquerda. Lenny encontrou todos os seus pertences dentro do dormitório, junto àquela que iria ser a sua cama, uma junto à janela.
Nenhuma das raparigas era especialmente amável, ao contrário de Hermione ou Luna, mas algumas chegaram a perguntar-lhe se precisava de alguma coisa, à exceção de Daphne, que era simpática. Apenas Pansy se lhe dirigia como se estivesse a falar com um animal sujo e repugnante. 
Lenny levantou-se e arranjou-se. Dirigiu-se ao parapeito e cumprimentou Hedz. Abriu a gaiola e a janela, pôs uma carta no bico da coruja e Hedz desapareceu a voar de imediato. Lenny não se preocupou: sabia que a coruja voltaria em breve, assim que entregasse a carta à avó a dizer que chegara e que estava tudo bem. Teve também de dizer que se encontrava nos Slytherin, mas procurou sublinhar as qualidades que o Chapéu lhe apelidara. 
Lenny pegou na mala preta a tiracolo, ajeitou a gravata e saiu do dormitório. Alguns dos Slytherins encontravam-se na Sala Comum, outros ainda estavam nos dormitórios e outros já haviam saído. Lenny optou por dirigir-se ao salão de banquetes, para tomar o pequeno-almoço. Por sorte usufruía de uma boa memória e foi fácil encontrar o caminho. À porta do salão, avistou Harry de braço dado com uma rapariga ruiva e com sardas, bastante parecida com Ron, e este e Hermione junto deles.
-Lenny! Olá! - disseram todos. A rapariga ruiva deu um passo em frente.
-Acho que ainda não me apresentei. Sou a Ginny. Ginny Weasley.
-Ah! És a namorada do Harry, certo?
Ambos coraram, mas Ginny assentiu afirmativamente com a cabeça. Harry tentou mudar rapidamente de assunto.
-Surpreendeste-nos, ontem, hã? Slytherin! Ninguém estava à espera! - olharam todos para o uniforme de Lenny. Ela olhou para o deles. Era bastante parecido, excetuando as cores, que eram dourado e vermelho, o símbolo dos Gryffindor cozido ao peito nas suas capas pretas e o facto do uniforme masculino ter calças e não saia, claro.
-Eu também não estava à espera - comentou a rapariga. Depois encolheu os ombros - não é assim tão mau.
-Não é assim tão mau?! - espantou-se Hermione - merecias melhor sorte!
Lenny mordeu o lábio inferior. Como é que podia explicar a Hermione que, na verdade, até estava satisfeita por ter ficado nos Slytherin? Ela não ia compreender.
Dois gémeos ruivos e iguaizinhos entraram no salão com grande estardalhaço. O sol brilhava lá fora e o céu não apresentava quaisquer nuvens.
-Aqui está a pequena feiticeira do Mal! - exclamaram eles, revolvendo ainda mais o cabelo de Lenny, num gesto amável.
-Ei! - protestou ela.
-Somos o Fred e o George Weasley - saudaram ambos, ignorando a intervenção da rapariga. Depois encaminharam-se para a mesa dos Gryffindor.
-Pequena feiticeira do Mal? Que é isso? - questionou Lenny.
-É como todos te chamam agora - informou Ron - por o Chapéu ter dito que o teu coração e alma já tinham escolhido Slytherin há algum tempo. De que outra forma poderias ter ido parar àqueles percevejos? Ups, desculpa!
-Não faz mal - Lenny encolheu os ombros. Também não valia a pena tentar explicar-lhes que não era em relação ao Bem e ao Mal que ficara dividida, mas sim em relação ao Bem e...
-Malfoy! - chamou Harry, quando o viu entrar. O primeiro já se encaminhava para a mesa dos Slytherin, vestido com o seu uniforme verde-escuro, mas parou, rodou sobre os calcanhares e olhou sarcasticamente para Harry.
-Sim, Potter?
Harry deu um passo em frente.
-Espero que não te armes em estúpido este ano.
-Porquê? - Draco fez um sorriso sarcástico - estás com medo, é?
-Não me estou a referir às nossas desavenças. Sabes muito bem que posso com mil de ti. Estou a referir-me à Lenny. Não quero que a aborreças, ouviste?
Draco reparou finalmente em Lenny. Esta sentiu-se corar quando ele olhou para ela, mas fez por permanecer impassível e segura.
-Tu não és meu pai - provocou o rapaz de cabelos brancos.
-Estou a falar a sério, Malfoy.
Draco olhou diretamente para os olhos azuis de Lenny.
-Agora precisas da proteção do namoradinho, é?
-Não sejas infantil! - exclamou Harry. Lenny tinha de fazer alguma coisa. Não podia simplesmente ficar ali a assistir.
-O Harry não é meu namorado, é da Ginny. E eu não preciso da proteção de ninguém, mas agradeço ao Harry por estar a fazer isto - Lenny aproximou-se de Draco. Este era uns bons centímetros mais alto que ela, mas ela fez por olhá-lo profundamente nos olhos, demonstrando que não tinha medo. E, oh, aquilo que ela sentia naquele momento era tudo menos medo.
Draco revirou os olhos e deu meia volta.
-Eu disse-te que ele era um idiota - avisou Hermione.
-Desculpem aquilo que ele disse sobre... nós - pediu Lenny - mas Ginny, a sério, o Harry é apenas meu amigo...
-Eu sei, Lenny, não te preocupes. Mesmo que eu não conhecesse o Draco, saberia que ele só o fez por estar irritado.
-Pois, ele não deve suportar mesmo o Harry.
-Não me referia apenas a isso - sussurrou-lhe ela, ao ouvido, de modo que mais ninguém ouviu. Lenny sentiu um frémito e virou-se para Harry.
-Obrigada, Harry. A sério.
Ele encolheu os ombros.
-De nada. Queria apenas certificar-me que ele não te aborrecia. Apesar de ser Chefe de Equipa, continua a ser um parvo. Mas, de qualquer maneira, não era preciso ter feito nada. Já vi que te consegues defender.
Lenny sorriu.
-Ao menos sou da vossa turma - no dia anterior, ficara a saber que Harry, Ron, Hermione, Luna, Neville, Seamus, Dean (dois rapazes Gryffindor que partilhavam o dormitório com Harry, Ron e Neville), Draco, Pansy, Daphne, Vincent Crabbe e Gregory Goyle (dois rapazes matulões que andavam sempre de volta de Draco como se fossem os seus guarda-costas), entre outros, eram da turma dela - qual é a nossa primeira aula?
-Defesa contra as Artes das Trevas - respondeu Hermione - com o professor Braxton. É o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas, vi-o ontem ao jantar.

-Ok. Vemo-nos lá - e Lenny dirigiu-se à mesa dos Slytherin.

*

No fim do pequeno-almoço, Lenny foi com Harry, Hermione e Ron até à primeira aula. Lenny reparou que eram os últimos a chegar. Só quatro lugares se encontravam vazios. Hermione, Ron e Hermione ocuparam os seus lugares do ano passado, mas Lenny permaneceu em pé. Só havia um lugar vago, na carteira da terceira fila na vertical e segunda na horizontal, ao lado da de Harry e Ron. Atrás estavam sentadas Pansy Parkinson e Daphne Greengrass. Ao lado da cadeira vazia encontrava-se Draco Malfoy.
-Como eu estava a dizer, antes destes quatro colegas chegarem, vou ser o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Já agora, menina, do que está à espera? – perguntou o professor, olhando para Lenny. Era um homem dos seus quarenta anos, moreno e parecia exigente - não sei como é no mundo Muggle, mas aqui eu não chamo para se vir apresentar à frente. Arranje um lugar e sente-se! Quero dar a minha aula!
Lenny correu literalmente até ao único lugar vago, passando por Daphne. Sentou-se ao pé de Draco. Harry sorriu-lhe, encorajando-a, da outra mesa. Lenny sorriu em resposta.
-Bom - indagou Braxton - agora que parece que já não há mais nada que me impeça de prosseguir com a minha aula, vamos ao que interessa. 
-Tiveste muita sorte - sussurrou Draco – o Braxton podia pregar-te um sermão por teres chegado tarde logo no primeiro dia.
-Ele também não parece implicar contigo - contrapôs Lenny, não conseguindo evitar um leve tom de irritação na voz.
-Porque sou dos Slytherin - olhou-a como se Lenny fosse parva – o Braxton também foi, quando andou em Hogwarts. Apesar de não ser Chefe dos Slytherin, gosta mais de nós.
-Dah!, e eu também sou - ela olhou-o da mesma forma.
Draco calou-se e exibiu uma expressão estranha, como se só agora se tivesse apercebido daquele facto.
-Então é por isso – indagou ele.
-É, se calhar – ironizou Lenny.
-Mas melhor é o Slughorn – prosseguiu Draco - está sempre a favorecer-nos. Os outros professores não favorecem assim tanto as suas equipas, nem desfavorecem assim tanto as outras. A McGonagall já chegou a tirar cinquenta pontos à sua própria equipa.
A cadeira de Draco foi empurrada um pouco para a frente. 
-Pst, Draco - murmurou Pansy - cala-te. O Braxton está a ouvir tudo e só não diz nada porque és um Slytherin.
Calaram-se ambos. Lenny observou o professor. Não parecia ter estado a escutar a conversa, mas se calhar era mesmo só para não prejudicar a própria equipa. No entanto, Lenny inclinava-se mais para o facto de que Pansy os mandara calar apenas porque não suportava ouvi-los conversar.

*

O resto da aula passou a correr. Draco não falou mais para Lenny, nem ela para este. A aula seguinte correu algo pior. Tiveram aulas de Encantamentos com o professor Filius Flitwick, um homem franzino de expressão amável. Durante a aula de Braxton, não tiveram de realizar nenhum feitiço, pois este limitara-se a dar-lhes uma aula teórica, mas Flitwick queria que eles revissem os feitiços básicos que lhes ensinara nos anos anteriores, entre os quais o Accio, o Wingardium Leviosa e o Aguamenti. Todos os alunos conseguiram realizá-los com sucesso (incluindo Neville, que não era conhecido pela sua destreza nos feitiços e Seamus, que costumava sempre pegar fogo às coisas). Todos menos Lenny. E isso era frustrante. Flitwick falou-lhes também de um feitiço de nome Aresto Momentum, que servia para fazer com que as pessoas, em queda, parassem a centímetros do chão, atenuando assim a dor da queda.
No final da aula, Lenny dirigiu-se ao salão dos banquetes para almoçar. Todos falavam no jogo inaugural de Quidditch daquele ano, que se realizaria naquela mesma tarde, entre Gryffindor e Slytherin, as equipas que disputaram a final do ano passado, tendo sido os primeiros a saírem vitoriosos.
-Ela nem conseguiu fazer o Wingardium Leviosa – Lenny ouviu Pansy comentar na mesa dos Slytherin, à hora de almoço.
-Ela há-de lá chegar. Espero – disse Draco.
No entanto, Lenny não tinha tanta certeza. E não estava mesmo com paciência para aturar as bocas de Pansy. Por isso, deu meia volta e saiu discretamente do salão de banquetes.

*

Não haveria aulas de tarde por causa do jogo de Quidditch, mas enquanto toda a gente parecia estar extremamente entusiasmada, a Lenny não lhe apetecia lá muito ir. No entanto, a curiosidade de ver um jogo de Quidditch a sério falava mais forte. O pai tinha sido um dos melhores chasers que Gryffindor alguma vez tivera e Lenny queria ver Harry e Draco como seekers de Gryffindor e Slytherin, respetivamente. Por isso, arrastou-se com os outros até ao campo de Quidditch, um pouco afastado de Hogwarts. As bancadas do campo iam-se enchendo de alunos e professores que vinham assistir ao jogo: Hogwarts em peso encontrava-se ali. Os torreões que rodeavam o campo tinham as cores das duas equipas.




Lenny avistou Ron, Hermione, Ginny e outros Gryffindor numa das bancadas e foi ter com eles, sendo a única Slytherin naquele lado, recebendo algumas reclamações por causa disso.
-Ainda bem que vieste! É o teu primeiro jogo, não é? – questionou Hermione.
-É. Mas sou vossa rival, agora – sorriu Lenny.
-Então, que ganhe o melhor! – gracejou Ron, enquanto a professora de voo do primeiro ano e treinadora de Quidditch, Rolanda Hooch, dava início ao jogo. Lenny sabia as regras e as posições dos jogadores, pelo que optou por desfrutar do jogo em vez de se sentir culpada por não conseguir realizar feitiços. Lá em cima, no campo, Lenny pôde ver Harry e Draco cada um sentado em cima das suas vassouras a observarem-se mutuamente. Depois, partiram ambos em busca da Snitch. Durante algum tempo, o jogo decorreu sem problemas: Gryffindor ganhava por apenas dez pontos. Mas, de repente, Draco aproximou-se de Harry e empurrou-o, já que este tentava alcançar a Snitch. Harry ripostou e deu-lhe um empurrão com força. Draco estava todo inclinado para a frente a tentar agarrar a Snitch e perdeu o equilíbrio. Tentou agarrar-se à vassoura, mas o cabo desta fugiu-lhe e Draco começou a cair a pique até ao relvado. Murmúrios de perplexidade percorreram a multidão. Vendo que ninguém reagia, Lenny soube exatamente o que fazer. Como se tivesse nascido ensinada, mas a verdade é que sentia apenas necessidade de proteger Draco.
Então, num movimento vigoroso, firme e rápido, sacou a varinha da capa e gritou, mesmo quando Draco se preparava para cair violentamente no chão:
-Aresto Momentum! – Draco ficou a pairar a poucos centímetros do relvado e depois caiu no chão, sem estrondo.
-Quem o fez? – ouviram-se várias vozes perguntar, enquanto murmúrios de espanto atravessavam as bocas da multidão.
-Foi a novata, a novata!
-A filha dos Gant!
-Lenny Gant!
Lenny sentia-se nas nuvens. Tinha acabado de realizar o seu primeiro feitiço.
-Boa, Lenny! – exclamaram Ron e Hermione, dando-lhe palmadinhas nas costas. Lenny sentia-se felicíssima: não só concretizara com sucesso um feitiço de que Flitwick lhes falara nas aulas, como também salvara Draco. O apito de Madame Hooch soou e a sua voz estridente fez-se ouvir por entre as exclamações de admiração:
-Jogo interrompido! Por motivos maiores, o jogo foi cancelado! Alguém que assista a Draco Malfoy, por favor!
No campo, Draco levantou-se. Tinha uma expressão atordoada na cara. Os restantes jogadores desceram das suas vassouras e pousaram no relvado. Os de Slytherin apressaram-se a ajudá-lo e a perguntar-lhe se precisava de ir à enfermaria, mas Draco recusou. Varreu as bancadas com o olhar à procura de Lenny, mas esta tinha desaparecido por debaixo dos festejos dos Slytherin que a congratulavam.

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