domingo, 28 de abril de 2013

Gryffindor ou Slytherin? Eis a Questão

Por fim, o comboio parou. Estavam na estação de comboios perto de Hogwarts, em Hogsmeade, mas teriam de ir em barcos até chegar ao castelo. Lenny, Harry, Hermione e Ron saíram os quatro do comboio e observaram Hogwarts, lá ao longe, no cimo da colina. As suas malas iriam ser colocadas nos dormitórios dos alunos.
-As ondas estão agitadas hoje - comentou alguém perto deles - não costuma ser bom sinal.
-Para com isso, Luna - interveio outra voz.
-Mas é a verdade - pronunciou a primeira voz, lenta e misteriosa. Lenny ergueu os olhos e vislumbrou uma rapariga magra, com cabelos louros quase brancos e tez pálida. Um rapaz alto, desengonçado e de cabelos castanhos-escuros encontrava-se perto dela. 
-Luna! Neville! - ouviu-se a voz de Hermione por entre o barulho das ondas - que bom voltar a ver-vos!
-Olá, Hermione. Olá, Ron - cumprimentaram eles. Depois olharam para Lenny.
-Lenny... Gant - apresentou-se Lenny. Os dois sorriram e apertaram-lhe a mão. 
-Muito bem, pessoal! O mar está um bocado bravo, mas os barcos são resistentes! - a voz de Hagrid soou com um ribombar de um trovão.
-Sim - murmurou Ron por entre dentes, com ironia - barcos de madeira super resistentes.
-Só os alunos do primeiro ano costumam ir nos barcos, mas, após a batalha, a professora McGonagall decidiu que todos os anos iriam nos barcos, desta vez – informou Hermione.
Quando se encaminharam para o porto, alguém passou por Lenny, dando-lhe um encontrão. O rapaz, que tinha cabelos brancos, olhou para trás por breves momentos e semicerrou os olhos. Lenny sentiu um baque no coração. Depois, ele virou-se novamente para a frente e desapareceu.
-Draco Malfoy - informou Hermione - o mesmo idiota de sempre. Idiota?, pensou Lenny. Ah, sim, ouvira falar dele. Partilhava uma rivalidade eterna com o Harry, e os seus pais, e mesmo ele, haviam sido Devoradores da Morte, seguidores de Voldemort. Quando Voldemort desapareceu, há quinze anos atrás, os Malfoy alegaram que haviam sido obrigados a juntar-se a ele, mas assim que este regressara voltaram a unir-se a ele. Também Draco tivera de se juntar ao Senhor das Trevas, por causa dos pais. Só não foram, desta vez, parar à prisão por a mãe de Draco ter mentido a Voldemort quando este lhe perguntara se Harry estava morto, na Floresta Proibida durante a batalha de Hogwarts.
-Nem sei como é que tem coragem de voltar a Hogwarts depois de tudo o que aconteceu – disse Ron, com desprezo. Os outros concordaram, mas, por mais que Lenny se convencesse que ele era algo mau, não conseguiu abrandar o ritmo cardíaco do seu coração.
Por fim, embarcaram nos barcos de madeira que levavam cinco pessoas cada um. Hagrid ocupou o último, sozinho. 


Assim que chegaram à escola, saíram dos barcos e avistaram a professora McGonagall, a professora de Transfiguração e agora diretora de Hogwarts, bem como Chefe de Equipa dos Gryffindor, mas sem os beneficiar por isso, com um grande chapéu de bruxa, cara enrugada e olhos verdes, que se situava no cimo da enorme escadaria.
-Bem-vindos a todos - saudou ela, firmemente - queiram todos os anos menos o primeiro entrar no salão de banquetes. Como já devem saber, as vossas malas encontram-se nos respetivos dormitórios.
Todos os alunos do segundo ao sétimo ano fizeram o que a professora lhes mandou. Todos menos Lenny. Ela ainda não sabia a que Casa pertencia. Será que teria de enfrentar o Chapéu Selecionador com os alunos do primeiro ano, que tinham metade da sua altura? Isso seria embaraçoso.
Por fim, a professora McGonagall avistou-a:
-Menina Gant! - exclamou. Todos os alunos do primeiro ano se viraram para ela – acordei com os restantes professores que só vai entrar depois de o Chapéu Selecionador escolher as Casas dos alunos mais novos. Por isso, fica aqui à espera até que eu a chame para entrar no salão, ok?
Lenny assentiu com a cabeça e engoliu em seco. Entrar no salão de banquetes, sozinha? Lenny ouviu atentamente as instruções que a professora McGonagall deu: disse-lhes algumas regras básicas, lugares onde não poderiam entrar pois eram proibidos, etc. Por fim, os alunos do primeiro ano entraram no salão e Lenny sentou-se na escadaria, sozinha. Ouvia os aplausos que provinham de dentro e o entusiasmo de cada um. Finalmente, passado algum tempo, a professora McGonagall abriu as portas e comunicou-lhe:
-Pode entrar. Prepare-se para olharem para si - disse, fixando os olhos no cabelo curto e rebelde de Lenny.
Lenny levantou-se e seguiu-a. Um silêncio avassalador instalou-se no salão assim que entrou. Este estava todo iluminado com grandes candelabros que pendiam do teto. Longas mesas de madeira percorriam todo o espaço, com vários alunos vestidos com as suas capas negras sentados e ao fundo havia uma mesa na horizontal onde se encontravam os professores. O teto parecia não ser um teto, mas sim refletir o céu. No entanto, era apenas uma ilusão.

Os alunos novos estavam a sentar-se, mas mesmo assim, olhavam todos fixamente para a rapariga nova. Ao longe, ouviu-se um assobio de admiração e aprovação. Lenny procurou o dono com o olhar, não por interesse, mas por aborrecimento. Que achava ele de interessante nos seus cabelos louros quase brancos, curtos e revoltos, com madeixas rosas e azuis, nos seus olhos azuis-marinhos, e nas suas faces rosadas? Ela não se achava nada interessante. Por fim, Minerva McGonagall pôs-se diante do estrado, voltando a discursar.


-Bem-vinda, Lenny Gant – disse ela - espero que gostes de aqui estar. Podes nunca ter realizado nenhum feitiço - e vários murmúrios trespassaram a sala - mas eu sei que estás pronta para o sétimo ano. 
Agora, alguns alunos olhavam-na com desdém. Um olhar que dizia "Ah, ah, deixa-me rir! Nunca utilizou uma varinha e vai para o quinto ano?! A McGonagall está a ficar maluca!"
-Anda, o Chapéu Selecionador espera-te – incitou a diretora. Lenny engoliu em seco. Caminhou, tentando parecer segura, ao longo das mesas compridas. Avistou Harry, Ron e Hermione na mesa dos Gryffindor. Os três sorriram a encorajá-la. Subiu as pequenas escadas e sentou-se na cadeira. Oh, aquilo era tão intimidador. Depois, uma sensação de curiosidade apoderou-se dela: ainda não tinha pensado naquilo. Em que Casa a poria o Chapéu?


A professora McGonagall colocou-o na sua cabeça. Este ficou em silêncio durante algum tempo e depois os seus lábios começaram a mover-se, sussurrando-lhe:.
-Hum... difícil esta... quase tão difícil como o Harry Potter, há uns anos atrás...
Lenny tentava descobrir que semelhanças poderia ter com Harry, enquanto pensava nas qualidades que possuía e em que Casa essas se encaixavam.
-Hum, sim, o Dumbledore não se enganou, como disse antes de falecer... tens uma grande força escondida dentro de ti... e inteligência, determinação, coragem e ambição também. Tens qualidades das quatro casas... justiça, coragem, sabedoria e ambição... Tens, por outro lado, a tua alma, a tua mente e o teu coração divididos entre duas casas, embora não o reconheças - continuou o Chapéu, enigmaticamente - podíamos dizer que entre o Bem e o Mal, mas não quero atribuir rótulos a nenhuma das Casas. Digamos antes que te divides entre os Gryffindor e os Slytherin. Mas qual será a Casa correta?
O Chapéu calou-se durante uns momentos. Os alunos entreolhavam-se e falavam baixinho entre si, expectantes. Até os professores pareciam algo irrequietos. Mas Lenny não observava nada daquilo. Refletia nas palavras do Chapéu, que sabia mais o que ela sentia, do que ela própria. Ambos os pais tinham pertencido a Gryffindor. E se ela fosse parar aos Slytherin? Mesmo estando desaparecidos, Lenny não tinha a certeza se eles ficariam tão orgulhosos se Lenny ficasse nos Slytherin do que nos Gryffindor. E talvez a avó também não ficasse. Mas não era isso que a preocupava ou magoava. Lenny percorria a sala com o olhar, à procura daquilo que o Chapéu lhe dava a entender: que havia algo ou alguém naquela sala que a fazia sentir-se dividida. E Lenny deu por si a procurar com o olhar Draco Malfoy, mas sem sucesso. Por fim, foi interrompida pela voz sonora do Chapéu Selecionador: 
-Acho que a tua alma e o teu coração já se haviam decidido, mas a tua mente continua confusa! Então, aqui vai uma ajudinha: SLYTHERIN!
Murmúrios de espanto irromperam o salão. Lenny olhou para as caras surpresas dos Gryffindor, nomeadamente dos mais recentes amigos. Por fim, os Slytherin irromperam em aplausos. Lenny estava surpreendida. Pensara que nenhuma das equipas a queria. Afinal, ela nunca realizara nenhum feitiço.
Mas Lenny nunca esperara ficar nos Slytherin  Quando os pais e a avó lhe falavam sobre eles, ela ficava sempre assustada ou furiosa, já que a equipa da Serpente era a que tinha produzido maior número de feiticeiros negros das quatro Casas. Pensara sempre ir parar aos Ravenclaw, os inteligentes e criativos, ou talvez aos Gryffindor, os corajosos e bravos, ou mesmo aos Hufflepuff, os bondosos e justos. Mas aos Slytherin, ambiciosos e poderosos? A esses nunca. No entanto, não estava assustada nem arrependida, nem nada disso. Apenas... surpresa. E ansiosa.
E Lenny perguntou-se se não tivesse visto Draco umas horas antes, se teria entrado nos Slytherin na mesma.  Porque, era ele porque o seu coração e alma já se haviam decidido, não era? Ou não?
A professora McGonagall tirou, por fim, o Chapéu Selecionador da cabeça de Lenny, e esta levantou-se da cadeira e dirigiu-se, atordoada, à mesa da ponta direita, dos Slytherin. Alguns cumprimentaram-na e outros fizeram-lhe perguntas. Depois, uma voz mesquinha de rapariga argumentou:
-Não sei como podem ficar contentes com a vinda dela para aqui! Não sabe pegar numa varinha! Não é, Draco?
Não foi o tom maldoso na voz da rapariga que a alertou, mas sim o nome que proferiu. Alguém lhe deu lugar e Lenny sentou-se, olhando para o lado, procurando-o. Quando finalmente se virou para a frente, teve de fazer um esforço para não abrir a boca de espanto. Draco Malfoy encontrava-se à sua frente, com os olhos fixos na toalha de mesa. Os seus cabelos brancos caíam-lhe para a cara, tapando-lhe os olhos azuis-acinzentados, que pareciam prata derretida. Não respondeu à pergunta da rapariga, mas outra voz feminina e aguda afirmou:
-Pansy, nós não somos como os Ravenclaw, que são uns individualistas e fazem tudo para passar por cima uns dos outros só para terem a melhor nota. Nós não somos assim. Assim que entras para os Slytherin, todos os outros Slytherin passam a ser teus irmãos - a rapariga olhava agora diretamente para Lenny. Era loura e bonita. Apresentou-se como sendo Daphne Greengrass, uma das Chefes da Equipa dos Slytherin e que tinha uma irmã mais nova de nome Astoria Greengrass - assim que te tornas uma Serpente, és uma de nós, uma da elite.
Lenny gostava da ideia. De não estar só. De eles, ainda que Lenny não conseguisse usar uma varinha, a apoiassem. Aquilo contradizia tudo o que tinha ouvido sobre os Slytherin. Sabia que eles eram unidos como equipa, caso contrário, não teriam tido hipóteses de ganharem a Taça das Casas tantas vezes. Talvez eles não se importassem com a reputação que tinham. Sempre era uma forma de não os chatearem, algo que lhes dava vantagem. Pansy não ripostou.
Um rapaz escuro e bem constituído, do sétimo ano, olhou para ela.
-Sou Blaise Zabini, e juntamente com o Draco, a Daphne e a Millicent, somos os Chefes da Equipa dos Slytherin. Bem-vinda às Serpentes - disse - depois o Draco dá-te o teu uniforme. É ele quem trata disso.
-Ok, obrigada - respondeu Lenny. Depois olhou para Millicent, sentada junto de Blaise. Não tinha um aspeto muito amigável e era grande, redonda e bolacheirona.
-Bom - ouviu-se a voz de McGonagall novamente - agora que todos já se encontram nas respetivas Casas, gostaria de dar, de bom grado, início ao primeiro banquete deste ano letivo em Hogwarts! Bom apetite!
A diretora bateu palmas e imediatamente centenas de bandejas, pratos, copos, talheres, guardanapos e outros utensílios apareceram nas mesas. Depois, pratos de carne, peixe, sopas, sumos, etc, apareceram também. Em breve, todos comiam animadamente. Lenny serviu-se de puré com carne e sumo de abóbora.
-Draco! Não comes? - perguntou Pansy, que tinha cabelos pretos médios e era bem constituída.
De facto, Draco ainda não pegara nos talheres. Por fim, levantou os olhos do prato e pegou firmemente na faca e no garfo. Olhou fixamente para Lenny e perguntou, rudemente:
-Então, nunca pegaste numa varinha?
-Já peguei - contrapôs ela. A voz de Draco era áspera e rude, mas fazia acelerar o coração de Lenny.
-Sim, mas não a sabes usar - ripostou Pansy.
-Bom, o seu núcleo reside na veia de um Unicórnio e na pena da Fénix - replicou Lenny por sua vez. Começava a sentir-se farta daquela miúda. Que tinha contra ela? Porque lhe falava tão rudemente? E porque se sentava ela tão perto de Draco? Mais perto do que o seria de esperar, mais perto do que o normal.
Aquilo fez calar a rapariga. Até um pequeno indício de admiração apareceu nos olhos de Draco, mas desapareceu logo em seguida.
-E não a enfeitiçaste? - perguntou alguém.
-Claro que não! O Ollivander entregou-ma nas mãos. Nunca a vira antes. Apenas uma igual... era...
-Era a mesma da tua mãe - interrompeu Draco.
-Era – concordou Draco, perguntando-se como saberia ele disso.
-Quando acabarmos o jantar, vais connosco até à sala comum. Sou um dos Chefes de Equipa, por isso tenho de dar-te o uniforme dos Slytherin - disse Draco, de uma só vez.
Dito isto, não proferiu nem mais uma palavra. Lenny preferiu também não dizer nada, mas Pansy fulminava-a constantemente com o olhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário