sexta-feira, 10 de maio de 2013

Primeiros Sinais

Na segunda semana de Novembro o tempo tornou-se mais frio e a chuva caiu a potes durante os primeiros dias do mês, tornando assim mais difíceis os jogos de Quidditch, mas estes nunca eram cancelados por causa da chuva.
Na Taça das Casas, Gryffindor continuava na liderança com 162 pontos, Slytherin seguia-os com 122, depois Ravenclaw com 97 e por último Hufflepuff com 77 pontos. Na Taça de Quidditch, era também Gryffindor que ia à frente, com 150 pontos, visto que ganhara três jogos, depois Slytherin com 100, já que ganhara dois, Ravenclaw com 50, pois ganhara um e Hufflepuff com 0, porque ainda não ganhara nenhum.
Lenny decidira deixar de lado aquilo que o Sem Forma lhe mostrara como sendo o seu maior medo e concentrar-se nos estudos.
Estavam na aula de Poções quando de repente algo começou a embater nas janelas, com um som cavo mas suave. Olharam todos pela janela, contentes e surpresos: os primeiros flocos de neve começavam a cair. Era sempre uma alegria quando nevava em Hogwarts: organizavam-se batalhas de neve, os mais novos construíam bonecos de neve e os alunos desciam as ravinas com os seus trenós mágicos. O único senão é que era praticamente impossível jogar Quidditch naquelas condições.



Quando a campainha soou para o final da aula, os alunos precipitaram-se lá para fora, sentindo o frio nas suas caras e aproveitando para lançar as primeiras bolas de neve. Lenny pusera o seu cachecol dos Slytherin às riscas verdes e brancas, umas luvas e um gorro de lã brancos e umas botas pretas com pêlo por dentro. Estava a olhar para a quantidade enorme de alunos do primeiro ano que faziam anjos na neve quando foi atingida por uma bola de neve fria em cheio na cara. Virou-se e viu os gémeos Weasley, juntamente com Ginny, Ron, Hermione, Harry, Neville e Luna. Lenny amassou dois pedaços de neve e lançou-os com toda a força em direção aos gémeos, acertando em cheio nas suas testas com cada bola. Não era preciso ser-se um génio ou uma Hermione para ver que eles lhe tinham mandado a bola de neve. E pedaços enormes de neve voaram em todas as direções quando uma luta de bolas de neve explodiu no pátio da escola.

*

Naquela mesma noite, no Salão Nobre, o teto refletia a neve que caía no céu verdadeiro, como um espelho, só que mágico. Lenny ouvia distraidamente Draco e os colegas a falarem de como os Gryffindor iam à frente em tudo. Ela não conseguia explicar porque estava tão alheia a tudo naquele dia, desde a tarde. Tinha um mau pressentimento em relação a algo e sentia uma grande inquietação. Escrevera à avó a perguntar se estava tudo bem e esta respondera-lhe que sim, por isso, aparentemente, não havia razões para se preocupar. Mas então, porque é que aquele sentimento estranho e incomodatório não a deixava em paz?
A meio do banquete, quando Lenny se preparava para se servir de sumo de abóbora, as luzes das dezenas de velas suspensas no ar apagaram-se subitamente enquanto um vento frio e arrepiante varreu a sala vindo de não-sei-donde. Lenny sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha enquanto sussurros de espanto se faziam ouvir. Sentiu a mão de Draco a tatear no escuro pela mão dela, mas Lenny parecia petrificada. A cena voltava a repetir-se: Lenny via agora, com total nitidez, o mesmo que vira quando desmaiara na visita de estudo ao Lago Negro: uma luz verde, intensa e aterradora, depois Voldemort com a sua varinha erguida na direção dos pais pronunciando Avada Kedavra com os lábios sem, no entanto, se ouvir qualquer som e depois, a escuridão. Lenny ficou à espera da pequena luz brilhante e branca que se seguia, mas não a encontrou.
-Lenny! Lenny, estás bem? – perguntou-lhe Draco, aflito. Os olhos de Lenny vaguearam pela escuridão.
-Tenham calma, tenham calma – pediu McGonagall, com uma voz suave e calma. Bateu palmas e a luz voltou: as velas acenderam-se mas isso não confortou Lenny. O que fora aquilo? Lenny tinha a certeza de que tivera alguma coisa a ver com ela, mas não sabia como nem porquê.
-Lenny, estás bem? – Draco abanou-a pelos ombros mas Lenny via ainda na sua mente o brilho corajoso no olhar dos pais, como se não tivessem medo do que os esperava – Lenny, por favor responde!
Lenny começou a respirar ofegantemente. E quando menos esperava, a luz branca foi demasiado forte, demasiado inesperada e grandiosa, o que fez com que Lenny desmaiasse mesmo ali.

*

Lenny acordou com a visão turva e com uma forte dor de cabeça. Olhou em volta e viu que se encontrava sozinha, deitada numa das camas brancas da Ala Hospitalar. A ala estava iluminada pela luz do sol e Lenny pode ver, pelo relógio que se encontrava na mesa de cabeceira junto a ela, que passava pouco do meio-dia. Não estava a nevar.


A rapariga nunca ali havia estado. Lenny tentou lembrar-se dos acontecimentos que a levaram a parar ali: lembrava-se do apagão das velas, do vento frio, da visão de Voldemort, da luz verde e dos pais e depois do clarão branco que a ofuscara e a fizera desmaiar. Essa era a sua última recordação. Deviam-na ter levado para ali, onde ela passara a noite e a manhã. De repente, Draco, Harry, Hermione e Ron entraram na Ala Hospitalar.
-Lenny! - exclamou Draco - acordaste!
Lenny tentou levantar-se, mas a cabeça pesava-lhe que nem chumbo.
-Que aconteceu? - interrogou, com voz débil.
-Desmaiaste ontem ao jantar - informou Harry.
-Trouxemos-te até aqui, mas ninguém sabe o que te levou a desmaiar - acrescentou Draco. Uma mulher loura e de cara enrugada entrou na ala.
-Ah, já acordaste, Lenny! Sou a Madam Pomfrey e sou responsável pela Ala Hospitalar - depois olhou para os outros - tenho de pedir-vos que deixem a Lenny descansar.
Draco e os outros saíram em silêncio e Madam Pomfrey deu-lhe a tomar um chá de ervas medicinais que sabia horrivelmente e depois deu-lhe um medicamento para a dor de cabeça. Em seguida, Lenny adormeceu e só voltou a acordar ao fim da tarde.

*

A visão de Lenny nublara-se ainda mais: tudo lhe parecia turvo e torcido, de um cinzento medonho e triste. Depois conseguiu visualizar uma longa estrada de pedra que se estendia até não ter fim, rodeada apenas por cinzento, sem se ver uma única tonalidade de outra cor. Lentamente, começou a chover, mas as gotas eram enormes e pesadas, maiores que bolas de ténis e cada uma espelhava um rosto diferente, também em cinzento. Lenny reconheceu a avó: foi a primeira gota que explodiu na estrada. Depois, sem que Lenny pudesse fazer alguma coisa, as caras dos pais, de Draco, de Harry, de Hermione, de Ron, de Ginny, de Luna, de Neville, de Fred, de George, de Daphne e de Hedz desapareciam na explosão resultante das gotas a cair na estrada, emitindo sons metálicos e desesperantes. A pouco e pouco, tudo começou a desaparecer e Lenny abriu os olhos de rompante. A luz dourada do pôr do-sol que entrava pelas janelas fê-la fechá-los de novo. Depois reabriu-os. 
Já não lhe doía a cabeça e conseguia ver bem novamente e Lenny tentou lembrar-se do sonho (ou pesadelo) que tivera, mas por mais que se esforçasse, não conseguia. Em seguida, voltou a fechar os olhos, encostou a cabeça à almofada e dormiu profundamente. 

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