sábado, 11 de maio de 2013

Coração de Serpente

Lenny andava mais animada desde que recebera a carta da avó a dar autorização à visita a Hogsmeade. Todos os seus amigos iriam também. A pouco e pouco a neve amainou, permitindo o recomeço dos treinos de Quidditich.
Marcus Flint, o capitão da equipa de Quidditch dos Slytherin e um dos três chasers da equipa não se importava nada quando o resto dos alunos dos Slytherin iam assistir aos seus treinos, era até uma forma de incentivo.
Lenny adorava ver Draco na sua posição de seeker, sempre à procura da pequena, dourada e veloz bolinha Snitch, mas a posição que mais lhe interessava era a de keeper, uma espécie de guarda-redes dos desportos coletivos como o futebol, o futsal e o andebol do mundo dos Muggles, que protegia as balizas (três altos aros) e tentava impedir que os chasers da equipa adversária marcassem pontos, tendo assim de evitar que eles lançassem a quaffle, uma bola vermelha do tamanho de uma bola de futebol, de encontro aos aros das balizas. Havia ainda os beaters, cuja função era vigiar e mandar para os adversários, munidos de um pequeno bastão, as bludgers, bolas duras e irrequietas que gostavam de fazer cair os jogadores das vassouras. 



Na equipa dos Slytherin, os chasers eram Marcus Flint, Vincent Crabbe e Blaise Zabini, o seeker era portanto Draco, o keeper Miles Blecthcley e os beaters Adrian Pucey e Gregory Goyle.
Naquela tarde de sábado, a meio de Novembro, Lenny assistia ao treino dos Slytherin juntamente com mais alguns colegas. A certa altura, Gregory Goyle perdeu a vista a uma das bludgers e esta, vendo-se livre do seu perseguidor, rumou rumo a Miles Blecthcley, acertando-lhe em cheio no braço direito, fazendo-o rodopiar e ir de encontro ao chão. Draco apressou-se a amparar-lhe a queda, agarrando-o pela capa.
-Miles, estás bem? – ouviu-se a voz de Draco, preocupada.
-Miles, desculpa, eu... – tentou Gregory desculpar-se. Mas Miles não respondeu. Parecia estar inconsciente. Lenny levantou-se das bancadas para ver melhor.
-Vincent e Blaise, levem o Miles até à Ala Hospitalar – ordenou Marcus num tom autoritário, aterrando no relvado do campo. Depois virou-se para Gregory – onde tinhas tu a cabeça? O nosso próximo jogo é contra os Gryffindor na próxima semana e eles são bons! Como é que pensas que vamos conseguir jogar sem ter ninguém que proteja as nossas balizas, hã? Não acho que o Draco consiga ser suficientemente rápido a apanhar a Snitch a ponto de nos poupar de uma humilhação e de uma derrota gigante contra aqueles convencidos pomposos!
O rapaz parecia exaltado e Gregory olhava para o relvado, embaraçado.
-Podemos tentar arranjar um suplente – sugeriu Adrian Pucey, um rapaz do sétimo ano bem constituído e bastante popular entre as raparigas.
-Mas não há ninguém! – gritou Marcus - ouviste bem, Adrian, ninguém!
Lenny desceu rapidamente da bancada e foi ter com eles ao relvado, com o coração a bater loucamente. O que é que ela estava a fazer? Lenny nunca pegara numa vassoura e nenhum dos professores lhe tinha pedido para isso. Mas ela gostaria de tentar e além disso, não queria ver a sua equipa perder. E claro, seria só enquanto Miles não estava em condições de jogar. Isto, claro, se Marcus e os outros não se importassem.
-Hum… eu poderia… tentar… ajudar-vos – disse ela. Olharam os quatro para ela, atarantados.
-Lenny? – murmurou Draco – conheces alguém que…
-Não propriamente – Lenny esboçou um sorriso forçado. Fez um movimento com a mão, pronunciou "Accio Vassoura do Miles" e a vassoura de Miles, estendida no chão, foi levada até à mão de Lenny, através dum Feitiço de Evocação básico e simples. De repente, esta sentiu-se como sempre soubesse o que tinha de fazer, como se tivesse nascido ensinada, tal e qual como sucedera com os feitiços. Lenny subiu para a vassoura e sentiu-lhe a força e a agilidade.
-Lenny, o que raio estás a fazer? – sussurrou Draco, nervoso.
-Se me deixarem, posso ser a vossa suplente – afirmou a rapariga, calmamente.
-Nem penses! – redarguiu Marcus.
-Mas vocês precisam de alguém! E ainda não me viram. Dêem-me uma oportunidade! – pediu ela.
-És uma rapariga – Marcus fez um sorriso desdenhoso. Pelo canto do olho, Lenny viu Adrian e Draco revirarem os olhos. Lenny ficou vermelha de raiva.
-Mesmo que seja alguém da equipa nacional de Quidditch, por ser uma rapariga tu não a deixarias entrar na equipa? Mas isso é a coisa mais imbecil que alguma vez ouvi! Os Gryffindor têm três chasers femininas! E eles vão à frente!
-Bom, duvido que tenhas qualidade para entrar na equipa nacional de Quidditch – contrapôs Marcus, ironicamente – e não quero incompetentes na minha equipa!
Lenny bufou de raiva e preparava-se para descer da vassoura quando esta, automaticamente e persentindo que Lenny a deixava arrancou a toda a velocidade em direção às balizas. Parecia gostar da presença de Lenny e parecia querer encorajá-la.
-Lenny! – chamou Draco. Lenny posicionou-se um pouco à frente da baliza do meio, de modo a conseguir ver as outras duas através da visão periférica.

De Quadribol poste da baliza

-Ponham-me à prova! – provocou ela, não tendo a certeza do que estava a fazer e esperando acima de tudo não estar a fazer figura de parva. A rapariga viu Pansy rir-se e apontar nas bancadas e viu também Draco e Adrian a olharem um para o outro e a acenarem discretamente com a cabeça. Ao mesmo tempo, agarraram cada um numa quaffle e lançaram-nas direitas às balizas com toda a força. A quaffle de Adrian chegou primeiro, pois fora arremessada com mais força, direita à baliza direita, mas Lenny, apesar da forte luz solar que lhe incidia nos olhos, do facto de ser uma principiante e de estar pela primeira vez montada numa vassoura, agarrou-a sem dificuldade, segurando-a firmemente debaixo do braço. Isto tudo aconteceu numa fração de segundo, pois a quaffle de Draco veio logo a seguir direita à baliza esquerda e Lenny, esticando-se para o lado e para baixo, conseguiu agarrá-la e pô-la também debaixo do braço. Lançou-lhas de volta.
-Mais uma vez! – pediu, contente. Draco e Adrian sorriram e atiraram-nas de novo, uma e outra vez. Lenny era mesmo boa naquilo. Apesar das quaffles virem com uma força e velocidade tal, nem uma lhe escapou. Marcus estava de boca aberta e Adrian e Draco começaram a falar com ele. Lenny olhou na direção das bancadas, onde, claro, Pansy a fulminava com o olhar. A primeira acenou-lhe vivamente mas não conseguiu mais do que um ranger de dentes como resposta.
-Ei, miúda! – chamou Marcus – chega aqui!
Lenny conseguia agora controlar a vassoura de Miles na perfeição e conduziu-a até junto dos rapazes. Pousou no chão suavemente e desceu da vassoura.
-Então, já deixaste o teu machismo de parte? – interpelou ela, sarcasticamente.
-Tens realmente algum jeito para isto – começou Marcus, ignorando-a – talvez te possa deixar jogar no lugar do Miles enquanto ele não puder jogar.
-Fixe! – exclamou a rapariga.
-Mas para isso, precisas de treinar. Ainda tens muito a aprender sobre a forma como jogamos e como as equipas adversárias jogam e também algumas técnicas e táticas. Acho que seria melhor falares com o Miles para ele te dar algumas explicações. De resto, o Draco dá-te um horário dos treinos. Aviso-te que nunca treinámos nem jogámos com raparigas e se pensas que vais ter tratamento especial, estás bem enganada. És completamente igual aos outros.
Lenny fez uma continência e sorriu.
-Sim, meu comandante.
Marcus ignorou-a novamente.
-Bom, por hoje é tudo. Quero-vos aqui amanhã bem cedo, prontos para treinar. Entendido?
Assentiram todos afirmativamente e Marcus foi-se embora.
-Obrigado – proferiu Gregory – vejo que não és tão inútil – e Draco fulminou o amigo com o olhar, mas este fez um gesto como que a dizer que ainda não acabara – quanto a Pansy diz. Se não tivesses sido tu, o Marcus ter-me-ia dado cabo da cabeça e sei lá se não me expulsaria da equipa.
Lenny encolheu os ombros.
-De nada.
Gregory afastou-se e depois Draco disse:
-Porque nunca me disseste que tinhas jeito para keeper?
-Nem eu sabia. Há muita coisa sobre mim que eu própria não sei, mas a pouco e pouco elas vão se revelando.
-Quero ver as caras dos Gryffindor quando virem quem é a nossa nova keeper! E então o Fred e o George! Eles adoram mandar as bludgers contra o keeper das equipas adversárias, tenho a certeza de que agora vão ter de mudar a estratégia! Afinal, até há vantagens nessa tua amizade com eles.
-Draco, eu não vou usar a minha amizade com eles de forma a beneficiar a equipa – asseverou Lenny.
-Eu sei, Len, mas, consciente ou inconscientemente, aqueles Weasley vão!
Lenny encolheu os ombros e só depois reparou em Adrian, que juntava as vassouras todas e punha as bolas de volta na mala aonde pertenciam.
-És tu quem costuma fazer isso? – inquiriu a rapariga. Adrian olhou para ela.
-Geralmente são os capitães das equipas, mas o Marcus nunca faz nada, deixa sempre alguém a arrumar por ele – Adrian não parecia sentir-se ressentido, apenas aborrecido – e desculpa lá aquilo que ele disse. Ele às vezes é uma beca idiota.
Draco assentiu com a cabeça.
-Oh, não faz mal, a sério! Não fiquei magoada – certificou Lenny com sinceridade.
-Ainda bem – Adrian pegou nas vassouras e na mala das bolas com algum esforço. Draco e Lenny ajudaram-no. Draco pegou na mala e Lenny em três das vassouras. Adrian sorriu a Lenny calorosamente – e bem-vinda à equipa, Lenny Gant.

*

Ao jantar, a notícia de que Miles se aleijara e de que Lenny o substituiria na função de keeper correu velozmente e deixou todos boquiabertos. Fred e George ultrapassaram a repugnância e foram até à mesa dos Slytherin, onde, num movimento desportista, lhe apertaram a mão.
-Até o próximo jogo. Não esperes que te demos descanso – disse Fred, mas algo na sua voz fez Lenny lembrar-se do que Draco dissera no campo de Quidditch naquela tarde.
-Temos de conseguir ganhar aos Gryffindor no próximo jogo – comentou Adrian – é a única forma de os passarmos antes das férias de Natal. O Marcus vai estar mais exigente que nunca.
-Há dois anos que não ganhamos – concordou Daphne e, ou foi impressão sua, ou Lenny vira os olhos da rapariga a brilhar enquanto Adrian lhe sorria brevemente.
-Espero que não leves muitas boladas – Pansy dirigiu-se a Lenny com um sorriso falso – isso seria mau para nós.
-Oh, claro, Pansy, não te preocupes. Vou tentar, mas, como sei que tenho o teu apoio, e isso é o que conta mais para mim, sei que vou conseguir! Obrigada! – sorriu Lenny, enquanto os outros soltavam leves gargalhadas. Pansy calou-se e corou, mal-humorada.
-Eu tenho a certeza de que a Lenny se vai portar lindamente – Draco rodeou-lhe os ombros com um braço.
-E eu tenho a certeza de que és tu que vais levar umas boladas se não me deixares comer em paz – Lenny retirou-lhe o braço dos ombros, mas beijou-o na face e vários Slytherins emitiram sons de beijos molhados. Lenny e Draco sorriram, contentes. Lenny sentiu que não podia ter ficado numa casa melhor. O Chapéu Selecionador não se enganara. O seu coração era realmente uma Serpente, ela pertencia verdadeiramente aos Slytherin.

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