terça-feira, 7 de maio de 2013

Halloween

Depressa chegou o dia 31 de Outubro. Lenny já ouvira falar na grandiosa festa que era dada no salão de banquetes (também chamado Salão Nobre) por ocasião de Halloween. Os pais costumavam relatar-lhe, entusiasmados, o que os filhos dos seus amigos lhes diziam, bem como as suas próprias lembranças dos Halloweens que haviam festejado em Hogwarts. Houve uma vez, no primeiro ano em que Harry, Draco e os outros frequentavam o primeiro ano, que um troll invadiu a escola, tendo sido vencido por Harry, Ron e Hermione na casa de banho das raparigas. Esse acontecimento havia marcado o início da longa, duradoura e bela amizade dos três amigos. 
Aquele dia, no entanto, contradizia todas as histórias assustadoras e macabras que os alunos contavam, principalmente os gémeos Weasley, que adoravam amedrontar os mais novos com histórias de lobisomens, trolls e vampiros. Tinha estado todo o dia um sol resplendoroso e brilhante, um céu limpo e sem nuvens, nada característico do Outono.
Lenny passara o dia todo sem tomar grande atenção às aulas, principalmente às de Herbologia, História da Magia e Poções. A sua sorte é que não era apenas ela: até os professores pareciam ansiosos em dar as aulas por terminadas a fim de chegar o banquete.
À noite, depois de alimentar Hedz, Lenny encaminhou-se para o salão. Ouviu de imediato as conversas dos alunos vindas de lá de dentro e sentiu o alvoroço no ar. Lenny abriu as portas do salão e entrou. O que a viu deixou-a estupefacta e deslumbrada. Suspensas no ar, centenas de abóboras esculpidas com luzes lá dentro flutuavam muito acima da cabeça dos alunos.
Lenny sentou-se na mesa dos Slytherin. Todos conversavam animadamente, à espera que McGonagall iniciasse o banquete.
-Olá a todos - disse a voz da diretora. Calaram-se todos imediatamente e observaram a figura imponente da diretora, diante do estrado - gostaria de dar início ao banquete de Halloween deste ano. Espero que esteja tudo do vosso agrado! Bom apetite!

McGonagall bateu com as mãos uma na outra duas vezes e de imediato montes de pratos cheios de comida apareceram nas mesas. Puré, arroz, massa, batatas, carne, peixe, saladas, sopas e sumos de abóbora... havia de tudo um pouco.


-Não admira que estivessem todos tão ansiosos - declarou Lenny, servindo-se de massa às cores - isto é fantástico.
-Oh pois, tu nunca tinhas assistido a um banquete destes, pois não? - replicou Pansy, maldosamente. No entanto, calou-se quando Draco lhe lançou um olhar de aviso. 
-Não preciso que me defendas - murmurou Lenny baixinho, tentando que Pansy, que conversava agora com Daphne, não a ouvisse. Draco encolheu os ombros.
-É meu dever evitar confusões na minha equipa - respondeu.
-Mas isto não ia dar em confusão - argumentou Lenny - eu ia só dizer-lhe uma palavrinha ou duas antes de tu interromperes com esse teu olhar assustador.
Draco franziu os lábios.
-Assustador?
-Muito. 
Draco sorriu. O resto do banquete decorreu sem problemas. Depois de todos terem comido os pratos principais, McGonagall fez estalar os dedos e estes desapareceram, dando lugar a uma quantidade exorbitante de sobremesas que pareciam deliciosas. Bolos, pudins, chocolates, gomas, rebuçados, bolachas, tartes, tortas, biscoitos em forma de aranhas, serpentes, etc, tudo parecia fantástico. Quando se preparavam para começar a petiscar as sobremesas, um homem alto, pálido e com cabelo branco-alourado irrompeu pelo salão. Um silêncio terrível abalou a sala. O rosto sombrio do homem era familiar a Lenny, mas esta não conseguiu descobrir de onde. Algo lhe disse, também, que ele não era muito bem visto pelos alunos de Hogwarts. Pelo menos pelos Gryffindor, Ravenclaw e Hufflepuff, já que os Slytherin não pareciam importar-se tanto assim com a presença dele, embora estivessem um pouco amedrontados.


Draco inclinou-se sobre o prato onde se via um bocado de pudim de laranja. Parecia o único Slytherin que não esboçava sorrisos. E então Lenny compreendeu, ao mesmo tempo que Draco disse, por entre dentes:
-O meu pai. O que está ele a fazer por aqui?
-Lucius - disse McGonagall, não fazendo nada para evitar o tom frio na sua voz - o que te traz por cá?
-Preciso imediatamente de falar com o Draco - proferiu ele, numa voz gélida e cortante. Lenny não pode evitar sentir um arrepio percorrer-lhe a espinha, e não era um dos bons. De repente, Draco olhou fixamente para Lenny.
-Tens de sair daqui - sussurrou - o meu pai não te pode ver.
-Porquê? - perguntou Lenny, atordoada e espantada. Mas era tarde demais. Lucius Malfoy dirigira-se à mesa dos Slytherin sem qualquer cerimónia, em passo rápido e apoiou uma mão no ombro de Draco. Este levantou-se de imediato, enquanto Lenny baixava os olhos para o prato. Draco tentou pôr se à frente dela, para Lucius não a conseguir ver. Mas não resultara.
Os olhos arrepiantes do pai de Draco arregalaram-se ao perceber quem era a rapariga do outro lado da mesa. 
-Tu - afirmou, em tom de quem não admitia réplicas - levanta a cabeça.
-Pai, ela é só uma miúda - Draco tentava esconder o desespero patente na sua voz. Noutras circunstâncias, Lenny ficaria magoada com a indiferença de Draco, mas agora estava-lhe grata. Aquele homem devia ter alguma coisa a ver com o desaparecimento dos pais de Lenny. Afinal, fora um Devorador da Morte.
-Bom, então não vejo problemas em que levante a cabeça - redarguiu Lucius - a não ser que alguém lhe tenha feito um encantamento da cabeça presa. 
-Não querias falar comigo? Pois aqui estou - contra-atacou Draco. O salão em peso assistia àquela conversa. O suspense e o medo eram os principais ingredientes que pareciam pairar no ar como as supostamente assustadoras abóboras. Mas Lenny não ia dar parte fraca. Não ia deixar que Lucius se chateasse com Draco por causa dela. Por isso, levantou a cabeça corajosamente e enfrentou os olhos de Lucius. Este afastou o filho para o lado. Draco olhou-a em tom de desespero e algo no seu olhar pediu-lhe "desculpa". Lenny voltou a fixar os olhos nos azuis-gelados do pai dele. Podiam ter a mesma cor de olhos, mas a malvadez patente no olhar de Lucius não era encontrada na do filho. Draco tinha algo de caloroso dentro de si, algo que se refletia no brilho do seu olhar. Algo que atraía Lenny. 
A rapariga tentou não tremer enquanto Lucius arregalava os olhos, depois franzia o sobrolho e finalmente semicerrava os olhos.
-O-que-está-ela-a-fazer-aqui? - vociferou ele, lentamente. Lenny não compreendia. Apenas viu Lucius tirar algo do casaco, uma varinha preta com uma cabeça em forma de serpente, prateada e com uns grandes olhos verdes. 

Iria ele atacá-la ali? Num movimento súbito e rápido, Draco puxou o pai para trás e Dumbledore e Snape precipitaram-se para a mesa deles. Lenny sentiu-se ser agarrada por trás e viu Harry e Ron, juntamente com Hermione, Ginny, Fred e George, a tirarem-na da mesa. Viu no olhar de Draco que ele queria ir também com ela, talvez para se assegurar que ela ficava bem, talvez apenas para não ter de ouvir o que quer que fosse que o pai tinha para lhe dizer. 
-Para onde vamos? - perguntou Lenny aos amigos enquanto transpunham as portas do salão.
-A professora McGonagall pediu-nos que te tirássemos daqui - respondeu Harry, preocupado. Lenny não sabia definir o que sentia. O medo parecia ter-se evaporado dela quando vira Draco a sofrer. Agora, sentia apenas uma necessidade enorme de o proteger, mas isso não fazia sentido. Lucius não faria mal ao próprio filho, faria? E Lenny, apesar de querer ir ter com Draco, sentia-se grata aos seus amigos por estarem ali com ela, a apoiá-la. Não sabia o que faria se estivesse sozinha.
-Vamos levar-te até à biblioteca - acrescentou Hermione - seria estranho se fossemos para a Sala Comum dos Slytherin ou se tu viesses para a nossa. 
-Biblioteca? - gemeu Fred - mas sou alérgico ao pó dos livros!
-Fred! - exclamou Ginny num tom de voz duro - isto não é uma brincadeira.
-Pronto, desculpa! 
-O Fred só estava a tentar ajudar! - defendeu George, mas calou-se quando Ginny o fulminou com o olhar.
-Ele ia atacar-me? - questionou Lenny, sem demonstrar qualquer indício de medo, apenas fúria, enquanto entravam na biblioteca. Esta estava vazia, mas não se encontrava fechada. Estantes cheias de livros erguiam-se ao longo dos corredores e havia várias mesas de madeira.


-Sim - respondeu Fred sem pensar - quer dizer...
-Não vale a pena tentarem enganar-me - alegou Lenny. Sentaram-se todos numa mesa - o que tem o pai do Draco a ver comigo? Tem alguma coisa a ver com os meus pais?
Calaram-se todos. Ron trocou um olhar preocupado com Harry.
-Não sabemos ao certo - a voz de Harry parecia sincera - mas se ele era um Devorador da Morte, por certo detestava os teus pais...
-E em relação ao ir ou não atacar-te, provavelmente não. Os Slytherin medem quase sempre o que fazem. Avaliam as consequências dos seus atos para ver se vale a pena fazê-lo ou não - explicou Hermione - provavelmente o Lucius estava apenas a tentar assustar-te.
-Não pareces nada assustada - observou Ron.
-Estou mais preocupada.
-É normal. Sabe-se lá, se a Hermione estiver errada, que feitiço negro poderia ter ele lançado contra ti... - concordou George.
-Não estou preocupada comigo - indagou Lenny - estou preocupada com o Draco.
Ficaram todos boquiabertos. Arregalaram os olhos e depois Fred e George soltaram uma gargalhada.
-Essa é boa, pequena feiticeira do Mal! Preocupada com o Draco? Ahahah!
-Não estou a brincar! - Lenny tentou controlar a raiva. Não estava chateada com os gémeos. Sabia que era difícil de acreditar, mas era a verdade. 
-Pronto, ok, Lenny, ok - acalmou Ginny.
-Mas como podes estar preocupada com ele? - averiguou Hermione - quer dizer, de maneira indireta, foi ele que te pôs em perigo!
-Ele tentou salvar-me! - retrucou Lenny, exaltada. Um tom de desespero apareceu na sua voz - não percebem isso?
Lenny estava a um passo de lhes contar o que sentia por Draco, mas por outro lado preferia que eles percebessem por si próprios. Afinal, Ginny já entendera. 
-Não pode ser! - sussurrou Ron. 
-O quê? - interrogou Lenny, sem perceber.
-Tu gostas dele! - disseram todos ao mesmo tempo, à exceção de Ginny. Lenny baixou o olhar, enrubescendo. 
-Amor adolescente, que bonito - riram-se Fred e George.
-Como é que nunca percebemos? - murmurou Hermione.
-Eu já tinha percebido - interrompeu Ginny - mas a Lenny não quis que eu contasse nada.
-Não acredito que gostas dele - Harry parecia genuinamente admirado. Vá lá, aquilo nunca lhe passara pela cabeça?
-Foi exatamente por temer este tipo de reações que pedi à Ginny que não vos contasse - Lenny parecia mais aliviada, mas não sabia como os amigos reagiriam ao facto de ela gostar do seu inimigo de longa data.
-Como é que gostas dele? - Hermione fazia um esforço tremendo por perceber.
-Como é que gostas do Ron? - contrapôs Lenny, o que fez corar os dois.
-Mas o Draco... - Harry abanou a cabeça, perplexo.
-Eu só... gostava que vocês vissem... como ele está diferente da forma como vocês o vêem  Ele mudou, sabem? A sério.
-Então, porque continua a rir-se quando algum professor nos dá na cabeça? - questionou Harry.
-Então, porque gosta de atazanar a cabeça dos mais novos? - peguntou Ron, mas o seu olhar vacilou sobre os irmãos. 
Lenny levantou-se, frustrada.
-Vocês não vêem  mesmo, pois não? O facto de ele ter sido obrigado a juntar-se a Voldemort por causa dos pais! O facto de ele ter de continuar a ser assim, porque além de fazer parte de quem ele é, seria demasiado suspeito comportar-se de outra forma agora! Quer dizer, um Slytherin bondoso? Oh não, nunca ninguém ouviu falar! Merlin era um Slytherin, e no entanto, é um dos feiticeiros mais famosos da História. E não era mau!
Ficaram todos calados, à espera que Lenny continuasse. Mas ela deu meia volta e precipitou-se para a porta, em direção àquilo que os amigos temiam: ela ia à procura de Draco e onde ele estivesse, o pai estaria também. 

Sem comentários:

Enviar um comentário