sábado, 22 de novembro de 2014

Beijo

Depressa passou uma semana. O aviso de Draco aos Slytherin resultara e estes já não a chateavam. Lenny voltou a andar com os amigos Gryffindor, embora ainda evitasse Fred, e a detenção não era assim tão má, principalmente por ter Draco tão perto. Na primeira semana tiveram de limpar algumas salas, mas agora a detenção consistia em estudar e Lenny e Draco aproveitavam para estudar para os EFBE's.
Lenny e Draco sentiam-se um pouco culpados por terem feito com que os Slytherin perdessem cem pontos, pelo que cada um se esforçava ao máximo nas aulas, respondendo a perguntas, executando os feitiços na perfeição, fazendo o que podiam para ganhar o máximo de pontos possíveis. Como eram feiticeiros ótimos por natureza, não era difícil serem os melhores alunos, só empatados com Hermione. Os professores estavam impressionados, e os colegas também. Nunca tinham visto Lenny ou Draco tão empenhados, mas atribuíam esse empenho ao fim da relação e ao facto de eles se quererem concentrar noutras coisas e provar ao outro que eram melhores. 
Além disso, Draco também se esforçava muito no Quidditch, e os Slytherin iam à frente, com a maior pontuação no desporto. Apesar disso, os Slytherin ainda tinham um longo caminho até conseguirem igualar as restantes casas, mas era algo que era possível porque o espírito competitivo de Lenny e Draco tinha sido transmitido aos restantes colegas de equipa e agora todos davam o seu melhor para ganhar pontos.
Nunca se vira a casa dos Slytherin tão empenhada e tão bem-comportada, pois se os Slytherin se afastassem de castigos, não perderiam pontos. 
Pansy, em relação ao afastamento de Lenny e Draco, estava sempre a tentar ter a atenção deste último, mas este nem lhe ligava. Passava os dias a ansiar pela detenção para poder ver Lenny, e pela noite na Sala das Necessidades para poder de facto estar com ela.
Lenny e Draco quase que já não dormiam nos respetivos dormitórios: preferiam passar a noite juntos na Sala das Necessidades, algumas vezes apenas a conversar, outras vezes em carícias e afetos. Eram sempre muito cautelosos e indiferentes um ao outro durante o dia, mas à noite, ao tocarem-se, tudo valia a pena. 
Em relação aos pais, estes mandavam-lhe cartas todos os meses, a que Lenny respondia, fingindo entusiasmo. Os pais tinham ficado muito contentes ao ouvirem da discussão pública que fizera com que Lenny e Draco acabassem. Se eles soubessem...
Maio chegou, e o calor também. Os alunos sabiam que só faltava um mês para acabar as aulas e fazer os exames, e embora andassem entusiasmados pela chegada do Verão, também se sentiam ansiosos pelos exames e tristes por deixarem Hogwarts, principalmente os que estavam a frequentar o sétimo ano e que não regressariam mais. 
Num certo dia, à tarde, Lenny tinha um furo no horário pelo que resolveu dirigir-se à biblioteca quando alguém a puxou para dentro de uma sala e fechou a porta atrás de si. Lenny preparou-se para barafustar, mas depois viu quem estava encostado à porta. 
-Fred - disse Lenny. Sabia que estava a ser demasiado fria com ele, e também sabia que já não era por se sentir magoada por ele a ter "entregue" aos seus pais no dia do jogo de Quidditch. Sabia que agora andava a evitar Fred porque tinha uma ligeira ideia dos sentimentos que ele poderia nutrir por ela, sentimentos que ela não retribuía. 
-Lenny - a voz de Fred estava seca, mas Lenny denotava uma pontada de ansiedade - foi mesmo preciso andares a ignorar-me durante quase duas semanas?
Lenny engoliu em seco, sem conseguir olhar Fred nos olhos.
-Não acredito que ainda te sintas magoada por causa daquilo, Lenny. Já te pedi desculpas milhares de vezes. Fi-lo porque não podias fugir. Para onde irias? E como viverias? Precisas da tua família, Lenny, e eu só fiz o melhor para ti.
Lenny suspirou.
-Eu sei, Fred, tens razão. E também peço desculpa por te andar a evitar. Mas.... quero concentrar-me nos exames agora.
Fred franziu o sobrolho.
-Isso não te impede de te dares com os meus irmãos e com o Harry e a Hermione. Porque é que não te dás comigo?
-Porque... - Lenny não conseguiu continuar, mordendo o lábio inferior e olhando para o chão. Sentiu Fred a aproximar-se, e depois os dedos deles tocaram ao de leve no queixo dela, fazendo-a levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos. Fred era muito mais alto que Draco, quanto mais que ela.
-Porquê, Lenny? - insistiu Fred, a voz mais firme. Lenny engoliu em seco. Não valia a pena mentir.
-Porque tenho a sensação que eles não me vêem da forma que tu me vês.
Fred deixou os dedos que tocavam no queixo de Lenny caírem, recuando um passo. Os olhos estavam ligeiramente esbugalhados, e a boca encontrava-se ligeiramente entreaberta.
-Eu... - Fred não sabia bem o que dizer. Como é que ela se apercebera? Ele nunca fizera nada que pudesse indiciar o que ele sentia verdadeiramente por ela, pois não? Claro que havia umas piadas aqui, umas conversas acolá, mas... era assim que Fred era. E sim, sentia-se diferente quando estava com Lenny, e doía-lhe sempre que a via com Draco. E agora que eles já não estavam juntos, Fred sabia que podia ser essa a sua oportunidade.
Mas tinha medo de ser rejeitado, porque sabia o quanto Lenny amava Draco.
-Como é que percebeste? – perguntou ele, finalmente.
-Não sei… acho que os meus pais perceberam primeiro que eu.
-Não quero ser rejeitado, Lenny, e é por isso que nem sequer me vou dar ao trabalho de clarificar o que sinto. Não quero pôr-te numa posição em que me rejeites, porque sei que é isso que irá acontecer. Sei que amas o Draco e que nunca me escolherás a mim. Mas deixa-me ao menos fazer isto… nem que seja a primeira e a última vez.
Fred aproximou-se e antes que Lenny percebesse o que estava a acontecer, já ele lhe segurava o rosto com as duas mãos e os seus lábios tocavam os dela. Depois ele beijou-a, e ela só correspondeu porque não queria ferir ainda mais os sentimentos de Fred. Ela sabia que ao corresponder ao beijo não estava a dar esperanças a Fred porque ele próprio admitira que Lenny nunca o escolheria. Por isso deixou Fred aproveitar o único gesto romântico que eles iam alguma vez partilhar.
Sentia-se culpada por o estar a beijar, era certo, mas era demasiado amável e amiga de Fred para lhe fazer uma desfeita daquelas e rejeitar o beijo. Assim, os lábios de ambos moveram-se em sincronia. Fred sentia-se extasiado, mas percebia que ela só o estava a beijar de volta para não lhe ferir os sentimentos. E talvez ao corresponder Lenny feria-lhe mais os sentimentos do que se o tivesse rejeitado, porque sabia que Lenny sentia uma amizade demasiado grande para com ele para ser comparada a amor.
Ela não era capaz de o rejeitar porque gostava demasiado dele como amigo, mas também não era capaz de o beijar com sinceridade porque não gostava dele de forma romântica. Isso fazia Fred sentir-se mal, mas os lábios deles no dela atenuavam um pouco essa sensação.
Por fim afastaram-se, e Lenny não sabia quanto tempo tinha passado.
-Obrigado – disse Fred numa voz débil.
Lenny desviou o olhar. Sabia que Fred ficara decerto magoado por ela só querer ser amiga dele, mas também sabia que este momento, este beijo, ainda que falso, fora importante para ele.
Como se fosse o encerrar de um capitulo, de uma história. Como se ele precisasse do beijo para selar o que sentia por ela, para conseguir seguir em frente. E talvez fosse mesmo isso.
Por isso ela voltou a olhar para ele e respondeu:
-De nada. 

A Sala das Necessidades

Lenny e Draco passaram as três horas seguintes a limpar o Salão Nobre. No fim, estavam suados e exaustos, mas o Salão estava limpo e brilhante. Depois regressaram à sala comum, onde foram bombardeados por perguntas por parte dos seus colegas Slytherin, que provavelmente ainda não sabiam que Lenny e Draco, através da guerra de comida, tinham feito com que a sua equipa perdesse cem pontos.
Ambos se mostraram carrancudos, porque ninguém ficaria feliz depois de "acabar a relação" e de ter de limpar o Salão, e aproveitando a desculpa, foi cada um para o seu dormitório.
No dia seguinte, quando Lenny entrou na sala comum dos Slytherin, toda a gente se calou e ficou a olhar para ela. Lenny engoliu em seco: de certeza que os Slytherin já sabiam da perda dos cem pontos.
Pansy, que se encontrava sentada num cadeirão, levantou-se abruptamente e dirigiu-se a Lenny com passos pesados.
-Tu! O que é que te passou pela cabeça? Por que raio decidiste acabar o teu namorozinho perfeito com uma guerra de comida que fez os Slytherin perderem cem pontos?
-Eu... - Lenny começou, mas Pansy interrompeu-a.
-És mesmo egoísta! É que só pensaste em ti, sem pensares nos Slytherin! Como é que achas que vamos conseguir recuperar tantos pontos? Vamos perder a Taça das Casas no nosso último ano em Hogwarts!
-Peço desculpa, ok! - disse Lenny olhando para todos - não foi minha intenção começar uma guerra, e muito menos fazer os Slytherin perderem tantos pontos, mas aconteceu! Eu estava magoada, ainda estou, e foi no calor do momento! Não estou a dizer para me perdoarem, mas eu já pedi desculpa e se vocês não seguem em frente, eu sigo.
Dito isto, Lenny atravessou a sala comum e dirigiu-se ao Salão Nobre. À entrada, encontrou Hermione, Harry, Ron e Ginny.
-Lenny! Estás bem? - perguntou Hermione assim que a viu. Lenny engoliu em seco. Não queria ter de mentir aos amigos, mas era a única maneira de manter secreta a sua relação com Draco.
Lenny encolheu os ombros e olhou para o chão.
-Lamentamos muito... - continuou Ginny.
-A vossa discussão foi mesmo medonha - disse Ron, ganhando um olhar fulminante de Hermione.
Lenny levantou os olhos do chão.
-Eu sei. Mas... foi melhor assim. Eu e o Draco não podíamos continuar, não enquanto os meus pais não o permitirem. Por isso... só quero esquecer isto. Desculpem.
E Lenny passou por eles e entrou no Salão. Não viu Draco ao pequeno-almoço, mas nas aulas não conseguia evitar olhar para ele. Era horrível ter de mentir a toda a gente e esconder os seus sentimentos, tudo porque os pais não o permitiam.
Lenny andava também a evitar Fred, que já a tentara interpelar algumas vezes, mas ela esquivava-se sempre. Agora não era só o facto de Fred a ter "entregue" aos pais, mas também o facto de ter de mentir a mais uma pessoa. E ela gostava de Fred. Mas não da forma como amava Draco.

*

Passaram três dias. Os Slytherin ainda estavam muito chateados pela perda de cem pontos, mas Lenny ignorava as bocas e os comentários maldosos, que vinham principalmente de Pansy. Também andava mais sozinha, pois assim não tinha de mentir a ninguém acerca dela e de Draco. 
Era difícil ignorar a presença de Draco: via-o nas aulas, nos corredores, na sala comum, no Salão Nobre. E eles ainda não se tinham encontrado. Lenny começava a perguntar-se se Draco já não queria verdadeiramente estar com ela até que recebeu um papel na aula de Poções. Lenny reconheceu imediatamente a letra de Draco, e sem, que ninguém visse, leu: "Lenny, tenho estado a pensar em ti o dia todo. Estou a enlouquecer sem ti. Preferi que os ânimos acalmassem, mas acho que agora nos podemos voltar a encontrar. Hoje às 21h na S.N? Tenho saudades tuas."
Lenny não conseguiu evitar o sorriso que lhe preencheu a cara quando acabou de ler o bilhete. Sabia que com "S.N." Draco queria dizer Sala das Necessidades. E lá estaria ela a essa hora. 

*

A noite chegou e Lenny comeu pouco ao jantar. Vira Draco a sair pouco antes do Salão Nobre e ela foi ao dormitório e depois seguiu para o sétimo andar. Aí, sem que ninguém a visse, entrou na Sala das Necessidades. Esta estava iluminada por uma lareira, recriando a sala comum dos Slytherin, só que sem estes, e apenas com uma pessoa sentada num cadeirão. 
-Draco - o nome escapou-se-lhe da boca num lamento, quase como se Lenny precisasse daquele nome para sobreviver. 
Draco olhou para cima e levantou-se, correndo para ela num ápice. Os dois abraçaram-se, reconfortados no calor um do outro. Nada mais importava. As mentiras, a indiferença durante o dia, tudo isso valia a pena por aquele momento.
-Tive tantas saudades tuas - suspirou Draco para o cabelo de Lenny. 
-Eu também - respondeu ela, a voz abafada por estar com a cabeça encostada ao peito forte de Draco. Os dois afastaram-se um pouco e Draco percorreu com os dedos frios a face de Lenny.
-Tens a certeza que ninguém nos encontrará? - perguntou Lenny.   
-Pedi especificamente por um lugar onde pudesse estar a sós contigo sem que ninguém nos encontrasse. Não te preocupes, Lenny. Estamos seguros aqui - tranquilizou-a ele.
-Ainda bem.
-Os Slytherin têm-te chateado muito? - perguntou Draco. Lenny encolheu os ombros, mas desviou o olhar.
-Mais ou menos. E a ti?
-Sou Chefe de Equipa e acho que eles estão convencidos que a culpa pela guerra de comida e pelo castigo é mais tua que minha. Mas eu digo-lhes para te pararem de chatear. Eles ouvir-me-ão.
-Obrigada - Lenny sorriu.
-Não te esqueças que a detenção começa amanhã. Ao menos poderemos ver-nos todos os dias após as aulas, durante um mês.
Lenny sorriu.
-Ainda bem.
Os dedos de Draco ainda estavam a acariciar a pele de Lenny, o que lhe mandava arrepios por todo o corpo. Depois os seus lábios colaram-se aos dela, num misto de fúria, paixão e necessidade.
-Amo-te tanto - disse-lhe Draco ao ouvido, quando se afastaram.
-Eu também te amo, Draco - respondeu Lenny, rodeando-lhe o pescoço com os braços. Draco pegou-lhe pela cintura e caíram os dois num sofá verde comprido.
-Tens a certeza? - sussurrou Draco.
-Quero isto, Draco - disse Lenny, sabendo que aquilo era a maior certeza da vida dela - quero-te a ti. Amo-te, E o nosso amor é um feitiço mágico que permanecerá para sempre ininterrupto.
Os lábios dele voltaram a colar-se aos dela, enquanto a roupa de ambos caía no chão ao seu lado. Draco retirou os lábios dos de Lenny, dizendo-lhe:
-Também te quero, Lenny. Mais do que tudo. Amo-te.
E depois os lábios de ambos reencontraram-se com ferocidade e paixão e tudo explodiu em prazer.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Guerra de Comida

Depois de uma longa viagem, o Expresso de Hogwarts chegou finalmente à estação de Hogsmeade e daí os alunos partiram para o castelo nas carruagens dos Thestrals. Lenny e Draco tinham acordado que seria melhor fazerem a discussão em público dali a alguns dias, quando os ânimos do fim das férias e da entrada no terceiro e último período de aulas acalmasse. Até lá chegar, Lenny e Draco não se poderiam encontrar, para dar credibilidade à história da discussão.
Fred tentara falar com Lenny, mas esta esquivara-se sempre. Os outros tentavam perceber o que se passava na cabeça da amiga, mas esta dizia-lhes apenas que precisava de tempo. A verdade é que não gostava de mentir aos amigos, e por isso também os evitava.
Por fim o dia da discussão chegou, quinta-feira, dia 24 de Abril. Lenny sentou-se à mesa dos Slytherin, à hora de jantar, no Salão Nobre. Draco ainda não estava lá. Ambos sabiam que aquilo que iriam dizer um ao outro para tornar a história da discussão mais credível não era mesmo aquilo que sentiam.
Draco chegou no momento em que os pratos apareceram à mesa. Lenny respirou fundo. Tinha o coração a bater-lhe com força no peito e estava nervosa. Detestava chamar as atenções, mas ainda era pior ter que discutir com Draco. O acordo era começar a discussão na mesa dos Slytherin por entre sussurros e depois aumentar o tom de voz, para que toda a escola ficasse a saber. Assim evitavam-se os rumores, uma vez que todos viam com os próprios olhos.
-... e claro que a menina-do-papá ia preferir os pais a um ex-Devorador da Morte! – exclamou Draco. Os Slytherin em redor deles começaram a olhar ao ouvir os sussurros deles. Pansy ficou de ouvidos à escuta.
-Não estás a ser racional, Draco! Isto nunca ia resultar! – custava a Lenny dizer isto. Era assim que os pais dela pensavam. Tinha sido assim que os seus amigos Gryffindor tinham pensado. Toda a gente pensava assim. Ela e Draco eram os únicos a lutar contra isso.
-Porque nem sequer deste uma oportunidade! – redarguiu Draco.
-Agora a culpa é minha? – Lenny levantou o tom.
-Malta… - advertiu Daphne, olhando preocupadamente para os dois. Notara que ultimamente o ambiente entre os dois estava frágil, e agora estavam a discutir. Os Ravenclaw, que se sentavam na mesa mais próxima da dos Slytherin, começavam a olhar e a sussurrar entre si.
-Porque é que fazes isto? Como é que podes dizer que não ia resultar? – Draco levantou-se. O Salão Nobre ficou mudo. Todos os olhares estavam postos neles. Lenny levantou-se também.
-Porque não ia! Tu e eu… nós não temos nada em comum! – a rapariga engoliu em seco. Doía-lhe o coração proferir tais palavras, quanto mais com o Salão Nobre inteiro a ouvir.
-Depois de tudo o que passámos! – Draco disse, com a voz exasperada.
-Não percebes? É tóxico! Nós não fazemos bem um ao outro!
-Mas tu fazes-me bem!
-Mas tu não! - gritou Lenny. Draco desviou o olhar. Parecia verdadeiramente magoado. Se calhar pensava que Lenny estava a dizer a verdade, mas não estava.
-Tudo bem! Volta então para a tua família perfeita, para a tua vida perfeita, porque claramente, nós não pertencemos juntos! Talvez sejas tu que não me faz bem a mim! Porque és perfeita e só pensas em ti e no que é melhor para ti e nem sequer te importas com a felicidade dos out…
Draco não acabou a frase. Um “ohh” coletivo ouviu-se por todo o Salão. Lenny pegara na jarra do sumo e lançara-a sobre Draco, que ficara molhado da cabeça aos pés.
-Como queiras! Acabou! – finalizou Lenny. Mas no momento seguinte levou também ela com sumo em cima. Draco e Lenny olharam um para o outro. Nenhum deles conseguia perceber se a discussão fora longe de mais e ultrapassara a barreira da “discussão falsa”. Lenny não esperou e pegou num prato com bolachas, lançando-a para Draco.
Por ali algures, alguém gritou “Guerra de comida!”
E a confusão rebentou.

*

-Sinceramente, nunca esperei isto vindo de vocês! – a professora McGonagall olhava para Lenny e Draco severamente, os três sentados no gabinete da diretora de Hogwarts – Lenny Gant, filha de tão exemplares feiticeiros, e que tanto se esforçou por os trazer de volta, e Draco Malfoy, um dos chefes de equipa dos Slytherin! Onde é que isto já se viu!
Lenny não conseguia levantar os olhos do chão. Draco engolia em seco. Rebentara a confusão no Salão Nobre, com peças de comida, pratos, jarras, tudo por todo o lado. O que começara no que parecia ser uma séria discussão entre o “casal maravilha e improvável” de Hogwarts, acabara por se tornar num pretexto de diversão entre os outros alunos. As gargalhadas e os gritos tinham enchido o Salão. Comida trespassava os fantasmas e os professores olhavam atarantados para aquela peculiar cena que se desenrolava em frente aos seus olhos. Alguém apelidara já aquela guerra como “a maior guerra de comida que Hogwarts jamais presenciara.”
O Salão Nobre estava uma confusão. Fora a diretora McGonagall que pusera fim na confusão, berrando através do feitiço ampliador e fazendo a comida parar de voar. Os alunos tinham sido levados para as suas Salas Comuns pelos seus chefes de Equipa, todos menos Lenny e Draco, que como causadores da guerra tinham sido de imediato levados ao gabinete da diretora, molhados e sujos.
-Não têm nada a dizer? – perguntou a professora. Nenhum dos dois falou – muito bem. Em primeiro lugar, serão retirados cinquenta pontos à equipa dos Slytherin.
As cabeças de Draco e Lenny levantaram-se abruptamente, fixando a chefe dos Gryffindor, estupefactos. Os Slytherin iam matá-los!
-Cada um. O que, como sabem, perfaz um total de cem pontos retirados à vossa equipa.
-Mas estamos quase no final do ano! - resmungou Draco. Não que aquilo importasse muito a Lenny ou Draco, mas sabiam que os Slytherin não iam gostar nada daquilo.
-Tivessem pensado nisso antes. Para além disso, terão um mês de castigo.
-O quê? – exaltou-se Lenny – um mês?
-Todos os dias, após as aulas. E não me venham com a conversa de terem de estudar para os vossos. EFBE’s. Podem começar por limpar o Salão Nobre. Como devem imaginar, o uso de magia é estritamente proibido.
Draco e Lenny iam para replicar, mas McGonagall interrompeu-os:
-Além disso, vou notificar os vossos pais por coruja. Eles verão se querem ou não vir visitá-los para lhes aplicar um castigo. Espero que isto vos sirva de emenda. Podem ir para o Salão Nobre. Ah, e, Malfoy, dá-te por satisfeitos por não te retirar do cargo de chefe de equipa. Só o faço porque o professor Braxton me pediu. Até agora nunca tinha havido nada que não indicasse que eras um bom chefe, e como já estamos quase no fim do ano não vale a pena substituir-te. 
Lenny e Draco suspiraram, saindo do gabinete da diretora. Exasperados, encaminharam-se para o Salão, sem se atreverem a trocar palavras. Quando entraram, perceberam a imensidão dos estragos. Comida espalhada por todo o lado, todo o tipo de louça partida, coisas pegajosas a escorregarem pelas paredes, havia até uma perna de mesa partida, a dos Gryffindor.
-Talvez isto não tenha sido assim tão boa ideia – murmurou Draco, depois de ativar o feitiço Muffliato em volta deles, só por segurança. Ele e Lenny entreolharam-se e mesmo sem querer, sorriram.
-Nah… agora toda a gente pensa que estamos separados, e além disso, mesmo sem ter sido combinado, começámos a maior guerra de comida de Hogwarts de sempre! – exclamou Lenny.
-Tens razão. Vamos ser lendas, e as gerações futuras vão lembrar-se de nós. Se calhar até mesmo os nossos filh…
Draco calou-se. Lenny não sabia o que responder.
-Tu sabes que eu não quis dizer nada do que te disse – sussurrrou Lenny, quebrando o silêncio.
-Eu sei. E eu também não. Mas resultou. É o que importa.
-Não estás com medo do que os teus pais possam pensar?
-Estás a brincar? O meu pai vai adorar ver que discutimos! – declarou Draco.
-Tens razão. O meu também.
-A sério, Lenny, espetares-me com o sumo na cara?
Lenny soltou uma gargalhada.
-Tu também não perdeste tempo! – ripostou ela.
-Lá nisso tens razão. Mas nem tudo é pera doce. Vamos ter de nos esforçar para conciliar os exames com os castigos, para além de termos de fazer alguma coisa quanto a recuperar os cem pontos perdidos, senão os Slytherin matam-nos.
Lenny suspirou.
-Vai ser um longo mês.
-Como é que é suposto limpar isto tudo sem magia? – grunhiu Draco.
Lenny sorriu levemente.
-Suponho que vamos ter que o fazer à boa e velha maneira muggle.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Plano

Na terça-feira, dois dias depois do domingo de Páscoa, recomeçavam as aulas. Lenny regressaria a Hogwarts e se isso geralmente significava felicidade, agora significava estudar para os EFBE’s e pior, ter de enfrentar os amigos e de ignorar Draco. Lenny não contactara Draco e não sabia o que fazer. Por um lado não o queria ignorar, mas por outro sabia que seria pior se não o fizesse. Só não sabia como lhe havia de dizer nem como Draco ia reagir. Seria dificílimo ter de ver Draco a toda a hora, nas aulas, na sala comum, no Salão Nobre, e não poder falar com ele. Quanto mais pensava nisso mais Lenny começava a querer desrespeitar as regras dos pais, mas eles estariam atentos e Lenny não podia arriscar. Se a vissem a falar com Draco tirá-la-iam de Hogwarts por certo.
Na segunda-feira a seguir ao domingo de Páscoa chegaram várias corujas com cartas de Hermione e Ginny, também assinadas por Ron, Harry e George. Chegou também uma de Fred a pedir desculpas, mas Lenny não respondeu a nenhuma delas. Sabia que estava a ser mimada, mas não conseguia evitar. Sentia-se furiosa com o mundo. Era por essa mesma razão que temia contactar Draco: tinha medo de estragar tudo ao dizer coisas que não sentia. Lenny passou a segunda-feira toda enfiada no quarto. De vez em quando a mãe ou a avó iam ver se ela estava bem. Às refeições, Lenny comia rapidamente e retirava-se para o seu quarto. Ao fim da tarde fez as malas e foi deitar-se cedo. Não estava nada ansiosa pelo dia seguinte.

*

Na terça-feira, Lenny acordou, arranjou-se e sem falar muito, os pais e a avó levaram-na até à estação de Kings Cross.
-Adeus, Lenny – disse Melanie – lembra-te que gostamos muito de ti e que tudo isto é para teu bem. Daqui a uns anos vais ver que foi melhor assim.
-Claro - anuiu Lenny sarcasticamente. Relutantemente, Lenny abraçou os pais e depois, mais carinhosamente, a avó. Em seguida, sem olhar para trás, atravessou o muro. O ruído agora habitual do comboio e da agitação dos alunos fez Lenny sentir-se reconfortavelmente melhor.
-Lenny! – a rapariga reconheceu a voz de Harry ali perto e em seguida ele, Hermione, Ginny e Ron apareceram à sua frente.
-Como estás? – perguntou Hermione.
-Os meus pais proibiram-me de falar com o Draco. Não me proibiram de o ver pois isso seria impossível.
-Lamento – disse Ginny e ela e Hermione abraçaram-na.
-Até me disseram que isto tudo era para o meu bem e que daqui a alguns anos eu lhes iria agradecer – contou Lenny, quase a chorar – mas eles não entendem. O que me importa a felicidade no futuro se não sou feliz agora? Como é que eles esperam que eu siga em frente se vou estar constantemente a vê-lo?
-Quem me dera que os teus pais entendessem, Lenny – disse Hermione, triste. Era fácil perceber que Lenny se sentia desolada, desamparada. Lenny avistou as cabeças ruivas dos gémeos.
-Desculpem, mas tenho de ir.
-Não podes continuar a ignorar o Fred, Lenny – disse Ginny – ele não fez por mal.
Lenny suspirou.
-Eu só não consigo enfrentá-lo neste momento. E desculpem-me se… se não estou a ser uma boa amiga no momento, mas por favor, compreendam – disse ela, afastando-se. A voz de Hagrid anunciou a partida para Hogwarts e Lenny entrou no comboio. Por sorte ainda havia pouca gente no comboio e não encontrou ninguém conhecido. Quando estava a entrar num compartimento vazio, alguém a chamou. Lenny virou-se. Era Anastacia. Lenny franziu o sobrolho.
-Preciso de falar contigo - disse ela, empurrando Lenny para dentro do compartimento e fechando a porta atrás de si.
-O que foi? Vieste para me vigiar? Não estou com o Draco, pois não? - perguntou Lenny lembrando-se de que os pais lhe tinham dito que Anastacia ficaria encarregue de a vigiar, juntamente com Fred. Anastacia ignorou-a.
-Sei que os teus pais descobriram o teu namoro com o Draco - disse ela - o meu pai falou-me disso nas férias da Páscoa e eu tentei dizer-lhe para não contar nada aos teus pais, que não havia mal andares a namorar o Draco, mas o meu pai não me quis ouvir. Tentei ajudar-te, a sério, mas foi em vão.
-Tentaste mesmo ajudar-me? - perguntou Lenny, desconfiada.
-Sim, tentei. Desculpa se fui a razão de alguma vez te teres chateado com o Draco, e lamento que me vejas como uma inimiga. Não vou estar a vigiar-te, e por mim, vou dizer sempre aos meus pais que não te vi com o Draco. Quero que saibas que lamento muito, Lenny, e se houver alguma forma de eu puder ajudar, eu...
-Obrigada - disse Lenny. 
-Lenny - ao ouvir aquela voz Lenny gelou. À porta do compartimento encontrava-se Draco, com uma expressão triste e furiosa ao mesmo tempo.
-Ouviste? - perguntou ela.
-Palavra a palavra - confirmou Draco. Lenny olhou para Anastacia, a pensar se teria sido isto que ela queria: provocar mais confusões entre Lenny e Draco. Mas depois Lenny viu a cara aflita de Anastacia e percebeu que não tinha sido nada combinado.
-Anastacia, eu e o Draco precisamos de falar sozinhos.
-Claro - disse ela e depois pronunciou a palavra "desculpa" com os lábios. Draco desviou-se da porta do compartimento e Anastacia saiu. 
-Porque é que não me contaste? - interrogou Draco - quando é que os teus pais descobriram?
Lenny suspirou.
-Acho que chegou a altura de te contar a história toda - nesse momento, o comboio deixou a estação, arrancando em direção a Hogwarts. E Lenny contou. Contou-lhe tudo sobre o dia de Páscoa, em como os pais a tinham chamado de parte e falado, não, discutido com ela, contou-lhe como fugira, como Fred a impedira de se ir embora, da conversa em casa, do castigo. Quando chegou a essa parte Lenny não conseguiu olhar para Draco, temendo a sua reação.
-Então os teus pais proibiram-te de falares comigo? - questionou Draco quando Lenny se calou. 
-Sim - disse a rapariga com uma voz débil -  e parece que já estou a quebrar a regra.
-Mas vais cumpri-la?
-Não sei, Draco, quero dizer... tu sabes que eu não quero! Como é que eu me vou manter afastada de ti? Mas por outro lado... se eles descobrem que desobedeci, as consequências serão muito piores. 
-O que queres fazer?
Lenny conseguiu finalmente reunir coragem e olhar Draco nos olhos. A sua expressão estava triste e desalentada. Não era justo que os pais a tivessem obrigado a escolher entre eles e Draco, mesmo que alegassem que era para seu bem. Se eles gostavam mesmo dela, importar-se-iam com a sua felicidade naquele momento. E eles nem sequer conheciam Draco. Só o detestavam por causa dos pais dele. Mas estaria Lenny disposta a arriscar tudo por Draco? 
-Eu quero estar contigo - murmurou Lenny - mas ninguém pode saber.
Pronto. Dissera-o. Decidira. Não havia volta a dar. Ela não podia enganar o coração. Lenny amava Draco. 
Draco ficou calado durante algum tempo, até que disse:
-Acho que há uma maneira - como Lenny não disse nada, ele continuou - mas tem de ser muito credível, para que ninguém desconfie nada. Disseste que ninguém poderia saber, certo? Isso inclui os Slytherin e os teus amigos Gryffindor, certo?
Lenny acenou afirmativamente com a cabeça.
-Então temos de armar uma discussão. Acabar em público. 
Lenny começava a compreender a ideia.
-Mas há sempre a Sala das Necessidades - afirmou Draco - claro que teremos que ter muito cuidado, mas...
-É melhor que nada - concordou Lenny.
-Lamento muito que tenhas que escolher entre mim e os teus pais - disse-lhe Draco.
-A culpa não é tua - assegurou-lhe Lenny - então, onde é que vamos fazer a discussão?
Draco sorriu levemente. Ele conhecia o sítio ideal. 

domingo, 1 de junho de 2014

Castigo

Fred agarrou-lhe num pulso e fê-la virar-se para si, o coração a partir-se-lhe quando viu a cara dela, desolada, desalentada. Puxou-a para si e abraçou-a, não se importando com as lágrimas que lhe ensopavam a camisa.
-Lamento muito, Lenny – murmurou Fred, mais sério do que alguma vez Lenny o vira.
-Porque é que estás aqui? – perguntou Lenny, a sua voz abafada, a cabeça encostada ao peito dele.
-Eu… - Fred pareceu ficar embaraçado por um momento e depois prosseguiu: - fui ver se estava tudo bem e depois vi-te a correr. Disse aos teus pais que te ia buscar e te levava até eles.
Lenny libertou-se do abraço de Fred e deu um passo atrás.
-Não. Não vou voltar lá para dentro.
-Lenny… não é como se tivesses muitas opções.
-Não percebes? Se eu voltar, a discussão vai ser ainda maior! Pior! Eles nunca mais me deixam voltar a ver o Draco!
-Isso era assim tão mau? – perguntou Fred em voz sumida. Lenny fulminou-o com o olhar, mas não teve forças para argumentar.
-Eles tiram-me de Hogwarts.
A cara de Fred ficou ainda mais séria e triste.
-Achas que eles são capazes disso?
-Eu conheço-os.
Fred mordeu o lábio, meditando no que havia de fazer.
-O que vais fazer, então?
-Não sei. Quero dizer, eu sei que eles são meus pais e tudo, mas se eles não conseguem aceitar o facto de que… de que eu amo o Draco – os olhos de Fred murcharam um pouco – então não sei.
-Não estás a pensar fugir, pois não?
-Não estou a pôr essa hipótese de lado – afirmou Lenny. Depois, impulsivamente, pôs-se em bicos de pés e beijou Fred na bochecha, muito perto dos lábios – obrigada.
Depois virou-se. À sua frente encontravam-se Melanie, Michael e Christine. Lenny voltou a virar-se.
-Fred! – exclamou ela, furiosa.
-Desculpa, Lenny, mas não podia deixar-te fugir – confidenciou Fred, enquanto George e os outros chegavam junto deles. A expressão de Fred estava triste.
-Lamento por esta confusão toda, mas nós e a Lenny temos de nos ir embora – declarou Michael.
-E as minhas coisas?
-A Molly e o Arthur deram-nos autorização para irmos à Toca arrumar as tuas coisas – afirmou Melanie. Assim, agarrou em Lenny para que ela não se pudesse materializar sozinha e Apareceram os quatro na Toca.
-Tens cinco minutos – avisou-a o pai. Lenny pensou se conseguiria fugir, mas sabia que isso não ia resolver nada. E se fugisse, para onde iria? Assim, com lágrimas a começarem de novo a escorrer-lhe pela cara, Lenny fez as malas num instante, pegou nas gaiolas de Hedz e Shy e foi ter com a família. Depois materializaram-se de volta à casa da avó, em Londres.
Entraram em casa em silêncio. Lenny não se dignou a olhar para nenhum deles, embora visse de soslaio que a sua avó a olhava compadecidamente. A rapariga foi logo para o seu quarto e como ninguém objetou deixou-se lá estar. Pousou as gaiolas, mas não desfez a mala. Ouvia as vozes dos pais e da avó vindas da sala, mas não conseguia ouvir o que estavam a dizer. Também não queria. Passado um bocado alguém bateu à porta. Não se ouviu resposta, pelo que Christine entrou no quarto da neta, vendo-a aninhada na sua cama com a cabeça enterrada na almofada.
-Os teus pais querem falar contigo – disse ela, sentando-se a seu lado e afagando-lhe o cabelo.
-Correção: Querem gritar comigo – ironizou Lenny, a voz abafada.
-Lamento muito, Lenny – aquela frase fez Lenny lembrar-se de Fred e um sentimento estranho invadiu-lhe o espírito. Porque se importara ele tanto com ela? E porque é que ele depois a entregara? A traíra?
-Eu também – soluçou Lenny. Como a neta não fazia intenção de se levantar, Christine levantou-se e foi até à porta. Antes de sair, contudo, disse:
-Lenny, no fim tudo vai ficar bem. Se agora as coisas não estão bem é porque não é o fim – declarou ela, antes de sair e fechar a porta.
-Parece o fim – murmurou Lenny com um gigantesco nó na garganta. Todavia levantou-se, compôs a colcha da cama e olhou-se ao espelho. Tinha o cabelo todo despenteado e os olhos e o nariz vermelhos. Estupidamente, a única coisa que conseguiu pensar foi em como Fred a tinha visto naquele estado. Foi até à casa de banho e lavou a cara com água fria. Depois penteou-se e dirigiu-se à sala. Os pais estavam sentados no sofá e a avó num cadeirão.
-Aqui estou – disse ela, à soleira da porta – vão tirar-me de Hogwarts?
-Estávamos a pensar nisso, de facto – apontou o pai – mas depois da intervenção da tua avó e de termos visto que tens amigos verdadeiros em Hogwarts, como o Fred, resolvemos não o fazer.
Lenny não conseguiu sorrir.
-Afinal, só falta um período para acabares as aulas e seria um desperdício não fazeres os exames. Também sabemos que que não é possível mudar-te de equipa, nem impedir que o Draco Malfoy frequente os mesmos locais na escola que tu. No entanto, pedimos a duas pessoas que te vigiassem. Não podes aproximar-te dele. Se tiveres um trabalho de grupo, não o fazes com ele.
“A Pansy vai ficar contente”, pensou Lenny, sarcástica.
-Tens de entender que é o melhor para ti, filha – interveio Melanie – aquele rapaz não é bom para ti.
-E eu suponho que vocês o conheçam - replicou Lenny. Michael ia abrir a boca para argumentar mas Lenny interrompeu:
-Posso ao menos saber por quem vou ser vigiada como se fosse uma criminosa?
-Fred Weasley e Anastacia Jonathan – declarou o pai.
-Bestial – ironizou Lenny – e eles não terão mais nada que fazer do que me vigiar?
-Eles compreendem – disse Michael. Lenny inclinou a cabeça e sorriu cinicamente.
-Uau, agora espanta-me como é que vocês não foram para os Slytherin. Não é como se as vossas ações fossem assim tão corajosas.
-Lenny, eu não te admito que… - exaltou-se Michael.
-Desculpa, mas foste tu que disseste que agora percebias porque é que eu fui para os Slytherin! Porquê? Por ter mentido? Por me ter apaixonado?
A expressão de Michael ficou confusa.
-Lenny, não foi isso que eu quis dizer! Eu não estava a dizer que foste para os Slytherin porque nos mentiste, mas sim por causa do Draco! Ele influenciou-te, não foi?
-E se influenciou? Não é como se eu tivesse começado a comportar-me de forma errada! Fui à vossa procura. Vocês nunca notaram nenhum comportamento estranho. O Draco não me influenciou para o mal!
-Merlin, porque é que não podias ter-te apaixonado por outro rapaz? – perguntou Michael, levando as mãos à cabeça – pelo Fred Weasley, por exemplo. É um bom rapaz. Preocupa-se contigo.
-Gosta de ti – acrescentou Melanie e a sensação estranha que Lenny experienciara no quarto quando a avó lhe disse a mesma frase que momentos antes Fred lhe dissera, regressou. A rapariga revirou os olhos.
-A culpa não é minha que não consiga mandar nos meus sentimentos nem controlar por quem me apaixono ou não. Mas se querem saber, não me arrependo nem por um segundo de ter sido o Draco – respondeu Lenny com sinceridade – mais algum castigo?
-Tens alguma forma de comunicar com ele? Espelhos ou diários ou… - perguntou-lhe a mãe. Lenny olhou-a nos olhos.
-Não.
-Muito bem. Por agora é tudo – disse a mãe e Lenny retirou-se para o seu quarto. Sabia que não devia ter mentido, mas estava mesmo zangada e triste naquele momento. No entanto, não tentou contactar Draco. Naquele momento não conseguia. Não tinha forças. O que começara por ser um grande dia acabara por se transformar num dos piores dias da vida de Lenny. E ela não sabia como reagir.

Jogo

Os raios de sol acordaram Lenny na manhã de domingo de Páscoa. Ginny e Hermione não se encontravam no quarto. Depois de se vestir e arranjar, Lenny desceu até à cozinha, onde apenas se encontrava Fred.
-Bom dia – disse ele.
-Olá – disse ela – os outros?
-A Ginny e a Hermione estão lá fora com o Ron e o Harry, e o George está na casa de banho – declarou Fred, que pegou numa caneca de leite – então, que queres de pequeno-almoço?
-Eu acho que me consigo arranjar, obrigada – respondeu Lenny.
-Sabes onde estão as coisas? – sorriu Fred.
-Não. Pronto, ok…
-Leite com cereais? – sugeriu Fred. Lenny assentiu com a cabeça e quando Fred acabou de lhe preparar o pequeno-almoço, sentaram-se os dois à mesa.
-Já soubeste das novidades? – perguntou ele. 
-Foste a primeira pessoa que encontrei hoje, por isso não – respondeu Lenny com um sorriso sarcástico.
-Vamos ver o jogo de Quidditch dos Chudley Cannons contra as Holyhead Harpies hoje, para a Liga Inglesa e Irlandesa.
-Fixe! Em que posição é que se encontram cada uma das equipas?
-Os Chudley Cannons vão em 11º e as Holyhead Harpies vão em 9º, para grande infelicidade do Ron.
-Os Ballycastle Bats continuam em primeiro? – questionou Lenny.
-Credo, Lenny, tu andas atenta à Liga ou não? – riu Fred – sim, continuam. Os teus pais e os pais da Hermione também foram convidados.
-Espero que as Holyhead Harpies ganham – afirmou Lenny.
-A Ginny e a Hermione também, mas o Ron é um adepto ferranho dos Cannons. Quanto a mim, não sou por nenhum, mas mal posso esperar por ver as miúdas das Harpies.
-Vais ter de esperar até logo à tarde – disse Ginny, entrando na cozinha com Hermione – bom dia, Lenny.
-Olá – cumprimentou ela.
-Espero que o Fred não te tenha aborrecido – Ginny lançou um olhar ameaçador ao irmão.
-Quem é que achas que eu sou? – arguiu Fred, pondo as mãos no ar – além de ser o mais giro de Hogwarts, é claro!
-Ah, desculpa, mas esse sou eu – interrompeu George, entrando na cozinha.
-Mas vocês são iguais, qual é a diferença? – questionou Lenny, fazendo Ginny e Hermione rirem, enquanto Fred e George a olharam, indignados.

*

O resto da manhã foi passado descontraidamente. Havia alguma azáfama relativamente ao almoço de Páscoa e depois ao jogo. Entretanto, os familiares de Lenny e de Hermione chegaram para almoçar.
-O jogo começa às quinze da tarde – informou Arthur, enquanto se servia de cabrito assado – o estádio encontra-se numa zona aparentemente deserta para muggles, mas os pais da Hermione conseguirão vê-lo à mesma. É melhor partirmos por volta das duas e meia se queremos chegar a tempo.
Assim, por volta das duas horas e meia da tarde, com a merenda às costas, os Weasley, os Gant e os Granger, bem como Harry, materializaram-se para o estádio, que já tinha bastante gente. Este estava situado numa zona rural com muitos prados em Inglaterra, e era uma área muito inacessível e difícil de ser encontrada pelos muggles. No entanto, o estádio tinha todos os feitiços anti-muggles, só por segurança. Havia várias entradas para o estádio e seguranças verificavam as entradas e os bilhetes de cada pessoa. Depois de passarem pela segurança, entraram finalmente no estádio, onde uma imensidão de verde e amarela se fazia ver de um lado, os adeptos das Holyhead Harpies, e laranja do outro, os adeptos dos Chudley Cannons. Os Weasley, Harry, os Gant e os Granger foram sentar-se numa zona neutral, esperando que o jogo começasse. Depressa as equipas apareceram em campo, saudando os adeptos, e o apito não se fez esperar. O jogo começou rápido, mas depois foi ficando mais parado. A certa altura, vários adeptos dos Chudley Cannons começaram a cantar a uma só voz “We will rock you”, para grande espanto dos feiticeiros.
-São os feiticeiros filhos de Muggles que começaram a cantar – declarou Hermione.
-Eles têm razão – riu Ron. Ginny olhou-o maliciosamente.
-Depressa, Hermione, Lenny, não há nenhuma música muggle com a qual possamos replicar? – perguntou ela com um brilho nos olhos.
-Bem.. – pensaram elas.
-“Who let the dogs out”! – exclamou Lenny – de certeza que os filhos de muggles a conhecem.
-Boa! – disse Ginny e, sempre enérgica, começou a espalhar a palavra aos adeptos das Holyhead Harpies até um filho de muggle suficientemente corajoso começar a cantar. Depressa se lhe juntaram Lenny e Hermione, e até Ginny, mesmo não conhecendo a música começou a cantar. Assim, o coro dos Chudley Cannons que cantava “We will rock you” esmoreceu e a música de “Who let the dogs out” começou a fazer-se ouvir a alto e bom som. Os feiticeiros, atónitos, olhavam-se espantados, sem perceberem o que estava a acontecer, mas os filhos de muggles sorriam. Estavam tão absorvidos na canção que nem se aperceberam do intervalo. As Holyhead Harpies estavam a ganhar por 120-60. Os pais de Lenny foram comprar sumos e cachorros-quentes. Quando voltaram, e ao ver a expressão dos pais, Lenny percebeu de imediato que algo estava errado. Sentiu o estômago às voltas e o coração a bater depressa, mesmo sem saber o que se passava. Mas a cara dos pais não enganava. Além disso, não tinham trazido comida nenhuma.
-Lenny – chamou Michael numa voz que não estava para brincadeiras. Lenny engoliu em seco e trocou um breve olhar com os amigos, aflita. O que se teria passado quando os pais se ausentaram? – Lenny.
O pai voltou a chamá-la e Lenny levantou-se do seu assento. Notava que o pai estava a fazer um esforço para não se enervar à frente dos Weasley e dos Granger. A mãe, por sua vez, encontrava-se ao lado dele com uma expressão triste na cara.
-O que se passa? – sussurrou Lenny quando chegou junto deles. Os pais nada disseram, viraram as costas e encaminharam-se para a zona interior do estádio, onde se encontravam as casas-de-banho e as lojas de comida. A pouca gente que aí se encontrava começava a regressar ao estádio para a segunda parte do jogo.
-É verdade? – perguntou-lhe a mãe, a expressão triste a afligir Lenny.
-Bom, talvez se me explicarem do que estão a falar eu possa responder – disse Lenny, não conseguindo evitar o tom sarcástico.
-O Carl também veio assistir ao jogo – declarou o pai, que se referia ao seu amigo que vivia em Hogsmeade e cuja filha era Anastacia, Carl Jonathan. Lenny franziu o sobrolho, não conseguindo perceber o que é aquilo tinha a ver – viemos comprar comida e vimo-lo. Disse-nos que já há algum tempo que queria falar connosco.
Os pais olharam para ela, mas como Lenny não disse nada, Michael continuou.
-Disse-nos que te viu em Hogsmeade, no dia 2 de Abril.
Lenny congelou. Não podia ser. Tinha sido esse o dia em que Lenny fora com Draco à loja das tatuagens, em Hogsmeade.
-E disse-nos que te viu a beijar um rapaz – continuou Michael.
-O que não teria sido um problema tão grande, se… - disse Melanie.
-Se esse… rapaz não fosse o Draco Malfoy – finalizou Michael. Lenny não sabia o que dizer, fazer ou pensar. Não podia acreditar que os seus pais tinham descoberto. Não conseguia perceber como tinha sido tão imprudente. Afinal, qualquer um os podia ter visto. Não podia evitar sentir um pouco de raiva por Carl. Lá no fundo, sabia que a culpa não era dele, mas mesmo assim…
-Mentiste-nos, Lenny – disse Michael – e bem. Agora percebo porque é que o Malfoy foi contigo procurar-nos. A desculpa que nos deram na altura não me convencera totalmente mas decidi aceitá-la. Quer dizer, tudo era mais fácil de aceitar do que saber que… que a minha filha pudesse gostar de um… de alguém como o Malfoy.
A voz de Michael estava invulgarmente serena, o que só piorava a situação. Às vezes era preferível que gritassem connosco. Lenny não suportava ouvir a voz da desilusão, do desapontamento. Mas também não podia negar.
-Porque é que nos mentiste? – perguntou-lhe Melanie.
-Porque é que acham? – questionou Lenny por sua vez – não é como se eu tivesse planeado. Mas aconteceu. E eu sabia que vocês nunca aceitariam que eu gostasse do Draco e…
-Pensavas que o conseguirias esconder? Para sempre? – interrogou Michael.
-Eu só…
-Agora percebo porque foste para os Slytherin – cortou Michael, a voz agora mais fria. E aquela frase magoou-a mais do que qualquer outra coisa.
-Lenny… - murmurou Melanie quando a rapariga passou por eles a correr. Tentou agarrá-la, mas a rapariga esquivou-se.
-Lenny, volta aqui! – gritou o pai, mas Lenny não parou. Não tinha forças para se materializar, pelo que desceu as escadas e saiu do estádio, o coração a bater com força, a cabeça a latejar, as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Lenny nunca quisera nada daquilo. Ouviu alguém a correr atrás de si, mas não parou.
-Lenny…
Aquela voz fê-la parar. Não era a do pai, nem da mãe, nem sequer a de Ginny ou a de Hermione. 
Era a de Fred.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Férias da Páscoa

Os pais de Lenny tinham comprado uma casa num bairro de feiticeiros quando Lenny nascera na esperança de lá poderem viver os três, mas quando descobriram que Lenny não aparentava possuir magia, tinham desistido da ideia e foram viver com a avó de Lenny, em Londres, de forma a Lenny se ambientar no mundo Muggle.
No carro da avó, a caminho de casa, Lenny alegara que agora já sabia Materializar-se e que já não era preciso andar de carro, mas a avó argumentara dizendo que gostava de conduzir. 
-Estávamos a pensar comprar uma casa para nós três num bairro menos movimentado - declarou Melanie, a mãe de Lenny, quando iam a caminho de casa da avó.
-E a avó? - questionou a rapariga.
-Eu tenho a minha própria casa, querida - respondeu Christine - e acho que vocês os três também gostariam de ter a vossa. 
-Bom... mas eu não vou viver em nenhuma das duas casas muito mais tempo, pois não? Quer dizer... - Lenny calou-se ao ouvir a avó soltar uma gargalhada e ao ver os olhares cúmplices trocados entre os pais.
-Estás a planear ir viver com alguém? - perguntou-lhe a mãe, divertida. A imagem de Draco apareceu imediatamente na mente de Lenny, mas esta afastou a ideia.
-Não - disse ela - mas gostava de ter o meu próprio apartamento, sozinha. Afinal, já sou maior de idade, tanto no mundo da feitiçaria como no mundo Muggle.
-A nossa filha está a ficar crescida - sorriu o pai mas depois ficou com uma expressão séria - diz-nos, não há ninguém especial?
Lenny corou até à raiz dos cabelos, não só de embaraço mas porque lhe custava mentir, ou pelo menos, omitir a verdade. Mas não lhes podia contar nada sobre Draco.
-Então, há! - exclamou a mãe, virando-se para trás e observando a cara corada da filha. 
-Não há não! - contrapôs ela numa voz débil. Naquele momento só queria que um buraco se lhe abrisse ali mesmo para poder saltar lá para dentro. Detestava falar daquilo com os pais. 
-Deixem lá a miúda - interveio a avó, vendo a cara de Lenny pelo espelho retrovisor do meio - é jovem e é normal.
-Mas não há mal em querermos saber quem é - indagou Melanie e naquele momento entraram na garagem de casa da avó.
-Não é ninguém - assegurou Lenny, agora com uma voz mais forte, e quando o carro parou, abriu a porta e saiu para a garagem, e depois para o pequeno jardim de casa. "Bolas, os pais são excelentes a envergonhar-nos", pensou Lenny entrando em casa e correndo a toda a velocidade para o seu quarto, "agora sei porque queriam eles vir de carro, assim eu não tinha escapatória possível." 

*

Felizmente, não houve mais conversas embaraçosas e após duas semanas em casa que Lenny aproveitou para estudar para os EFBE's, chegou a Páscoa. Entretanto, Lenny tinha falado várias vezes com Draco pelo Diário-Logo (e algumas vezes pelo Espelho de Duas Faces quando nem a avó nem os pais estavam em casa).
Chegara o dia de ir ter à Toca. O dia estava ameno e Lenny olhou com agrado para a casa dos Weasley quando lá chegaram por meio de Materialização, que Lenny agora já conseguia fazer sozinha. 
Charlie e Bill Weasley não vinham passar a Páscoa com a família, mas a casa destes não se encontrava menos vazia, com Molly, Arthur, Percy, Fred, George, Ron, Ginny, Harry, Hermione e os pais, Lenny, os pais e a avó. Só os jovens e os pais dos Weasley é que ficariam a dormir na Toca, os pais de Lenny e a avó passariam a noite em casa desta e os pais de Hermione na sua casa.
-Ainda bem que chegaram! - disse Molly Weasley, aparecendo à porta de casa. 
-Adoro a casa! - exclamou Melanie, sorridente, revelando uma amizade antiga com Molly.
-Obrigada - sorriu Molly e depois de ter cumprimentado todos, entraram em casa. Arthur, que estava na cozinha com os pais de Hermione e com Percy, cumprimentou Lenny e a família, bem como Percy e os pais de Hermione e depois Molly berrou:
-Meninos! Venham cumprimentar a Lenny e a família!
Os gémeos, Harry, Ron, Ginny e Hermione deviam estar na sala-de-estar pois chegaram à cozinha num instante. Abraçaram Lenny e cada um cumprimentou educadamente a família da mesma. 
Era sábado à tarde, e Lenny rapidamente deixou os pais e a avó a conversar com Molly, Arthur, Percy e os pais de Hermione para ir desfazer as malas no quarto de Ginny. Este tinha três camas, para Hermione, Ginny e Lenny. Esta pousou a gaiola de Shy e a de Hedz na sua cama. 
-Vocês já estão despachadas? - perguntou Ron metendo a cabeça dentro do quarto com a porta pouco aberta - estamos à vossa espera para ir lá para fora.
-Que cavalheiros - riu Ginny e depois as três raparigas seguiram Ron até ao pátio, onde já se encontravam Harry e os gémeos. 
-Tens andado a estudar, Lenny? - perguntou-lhe Hermione. 
-Tem de ser. Estou farta de livros, a sério - respondeu ela.
-Eu ainda tenho de acabar aquele resumo hoje - disse Hermione.
-Não acredito que os pais nos obrigaram a fazer o sétimo ano em Hogwarts para que pudéssemos tirar os EFBE's - resmungou Fred.
-Espero que não fiquem chateados quando os chumbarmos todos - sorriu George e Hermione olhou para ele escandalizada - estou a brincar!
-Então, vamos jogar Quidditch? - perguntou Ron, impaciente. 
Assim foi. Passaram o resto do dia lá fora, a jogar Quidditch e a tomar banho no rio, cuja água estava um pouco fria, mas valera a pena. 
Por fim, Percy veio chamá-los para o jantar, que era uma especialidade de Molly: hambúrgueres à Molly. Assim, havia uma variedade de hambúrgueres para todos os gostos da família Weasley e claro, Molly também tivera em conta as preferências dos seus convidados. 

Distribuição dos lugares à mesa

O jantar foi muito animado, com conversas paralelas entre todos. Agora Lenny sentia-se verdadeiramente feliz pois tinha os pais com ela. A primeira parte da conversa foi principalmente sobre Hogwarts e os exames de final do ano, mas os jovens (menos Hermione) depressa se desinteressaram da conversa e começaram a falar entre si. 
Após o jantar, foram todos para a sala de estar, que, com tanta gente, parecia minúscula. Christine começou a falar com os pais de Hermione sobre o mundo Muggle, Melanie e Michael falavam com Molly, Arthur e Percy e os jovens estavam reunidos a um canto a conversar. Por fim, os pais de Hermione e a avó e os pais de Lenny despediram-se de todos. Hermione foi levar por meio de Materialização os pais a casa e os pais de Lenny e a avó Materializaram-se sozinhos. Depois, os jovens foram-se deitar.

domingo, 13 de abril de 2014

Sozinhos

No dia 4 de Abril, sexta-feira, era o último dia de aulas, pelo que os professores tiveram dificuldades em manter a ordem durante as aulas. Fred e George foram mesmo chamados ao gabinete da diretora por lançarem mini-foguetes durante a aula de Poções.
À hora de almoço Lenny encontrava-se na relva perto do Lago Negro com Ginny e Hermione. Como estava um dia ameno, Lenny tirou o casaco e ao fazê-lo, a camisola deslizou-lhe um pouco revelando os seus ombros, e a tatuagem.
-Lenny, isso é uma tatuagem? – perguntou Hermione – no teu ombro esquerdo?
Lenny engoliu em seco, ciente que teria de contar às amigas sobre a tatuagem. Mais valia ser já do que estar a mentir e a adiar.
-É verdade – respondeu ela.
-O quê? – disseram elas.
-Quando?
-Mostra!
Lenny assim fez, receosa do que as amigas iriam pensar ao ver a tatuagem. Passou o cabelo para o lado direito do pescoço, fez deslizar a manga da camisola e Hermione e Ginny abriram a boca de espanto.
-É uma data, não é? – perguntou Ginny.
-É – disse Lenny, tapando a tatuagem com o cabelo.
-9 de Março de 1999… - deduziu Hermione – espera lá… isso foi quando estávamos nas Caraíbas!
-Correto – alegou Lenny. Depois de contar com os dedos, Ginny proferiu:
-Domingo – e depois olhou para Hermione com um sorriso na cara – o dia que passaste com o Draco. E depois, à noite, na festa, estavas toda sorridente. Não que não fosse normal, afinal, estávamos num sítio lindo, mas havia algo mais…
-É, também reparei – consentiu Hermione – um sorriso brilhante, apaixonado… um brilho no olhar.
-Digamos que foi um dia especial – afirmou Lenny, acrescentando em voz mais baixa – muito especial, aliás…
-Porque é que não nos contaste? – perguntou Ginny.
-Contar o quê? – interpelou Lenny. Ginny olhou para Hermione e depois para Lenny.
-Queres que eu o diga em voz alta? – disse ela, quase a rir.
-Não… oh, bolas, está bem – suspirou Lenny, corando.
-É melhor esconderes a tatuagem com um feitiço de invisibilidade nas férias – propôs Hermione – mesmo que seja um local difícil de ver, pode acontecer o que aconteceu agora. Com certeza não queres que os teus pais te façam perguntas incomodativas.
-Tens razão, é melhor. Agora vocês não vão comentar isto com ninguém, pois não?
-Tens a nossa palavra, Len – disseram elas.
-Mas afinal, quando é que fizeste a tatuagem? – inquiriu Hermione.
-Na quarta, quando fui a Hogsmeade com o Draco – redarguiu Lenny.
-Ele sabe, então?
Lenny assentiu com a cabeça, mas preferiu manter para si o facto de Draco também ter feito uma tatuagem.
-Já agora, Lenny, os meus pais gostavam que tu, os teus pais e a tua avó fossem passar uns dias à Toca – convidou Ginny.
-Ok, eu falo com eles. Agora, Ginny… é verdade que o Harry tem a tatuagem de um dragão no peito?
Ginny soltou uma gargalhada.
-Fui eu que espalhei esse boato.
-Ao menos não foi tão mau como o do Ron. A Ginny disse que ele tinha a tatuagem de um pigmeu penugento – riu Hermione.
-Coitado do Ron, Ginny! – riu Lenny e daí a pouco estavam as três a rir a alto e bom som.

*

No dia seguinte, depois de fazer as malas e de tomar o pequeno-almoço, Lenny e os outros alunos apanharam as carruagens conduzidas por Thestrals até Hogsmeade para apanharem o comboio até Londres.
-É estranho como agora os podemos ver, não é? – perguntou Daphne, que se referia aos Thestrals e que ia numa carruagem com Lenny, Draco, Blaise, Adrian e Pansy. 
-Toda a gente que participou na batalha de Hogwarts os consegue ver – afirmou Blaise.
Lenny não disse nada, pois não os conseguia ver. Quando chegaram a Hogsmeade, por volta das onze da manhã, embarcaram no Expresso de Hogwarts. Quando Draco estava a entrar num compartimento, onde já se encontravam Blaise, Pansy, Daphne e Adrian, Lenny deteve-o.
-Vem comigo – murmurou ela.
-Vão escapulir-se para um compartimento vazio para estarem mais à vontade? – provocou Blaise.
-Bom, não sei quanto a ti, Blaise, mas eu não os quero ver na marmelada durante a viagem inteira – riu Adrian, alinhando na jogada.
-Nem eu quero ver-te a ti e à Daphne – replicou Lenny.
-Anda, Lenny, antes que a conversa descambe – disse Draco, pegando-lhe na mão e abandonando assim o compartimento. Ainda ouviram Blaise e Adrian a rir, mas depois, por fim, encontraram um compartimento vazio.
-Então… - disse Draco, com um sorriso atrevido no rosto.
-Esquece a marmelada, Draco – afirmou Lenny, fechando a porta do compartimento – mas preciso que me ponhas um feitiço de invisibilidade na tatuagem.
-Porqu… ah – disse Draco ao perceber – mas não é um local muito visível…
-Mesmo assim, pode acontecer estar a tirar o casaco e manga da camisola cair ou algo assim, e os meus pais iam começar com perguntas. É melhor assim. Também vais pôr na tua?
-A minha também é difícil de se ver, mas mais vale prevenir que remediar, não é, em caso de decidir querer andar em tronco nu pela casa – riu Draco.
-Espero que não tenhas vizinhas da nossa idade – indagou Lenny.
-Ficavas com ciúmes se elas me vissem? – provocou Draco.
-Claro – disse ela.
-Fica descansada – disse Draco – não tenho vizinhos – depois sacou da varinha, levantou a camisa e apontou-a à tatuagem – é melhor experimentar em mim primeiro, a ver se resulta.
Pronunciou um feitiço e lentamente os números desvaneceram-se, mas voltariam a aparecer assim que Draco fizesse o contrafeitiço.
-Nenhum efeito secundário até agora, por isso acho que podemos... – ia dizer Draco, mas Lenny interrompeu-o.
-Draco… o teu cabelo está a mudar de cor!
-O quê? – perguntou ele, perplexo.
-Ahah, apanhei-te! – exclamou Lenny. Draco fez um sorriso sarcástico.
-Ora deixa-me cá ver se tens cócegas, Lenny – ele aproximou-se dela.
-Não, não, não! – Draco começou a fazer cócegas a Lenny, mas esta conseguiu ripostar e fez cócegas a Draco.
-Ok, ok, eu rendo-me! – disse ele a custo, dobrando-se. Depois Lenny virou-se para a frente, passou o cabelo para o lado direito do pescoço e lentamente (e um pouco sedutoramente, afinal, estava com Draco), deslizou a manga esquerda da camisola para baixo, revelando a tatuagem.
-Agora faz-me lá o feitiço – pediu ela.
-Ok – Draco pronunciou o feitiço e depois, tal como nele, os números desapareceram da pele de Lenny. Esta sentiu o toque frio de Draco na sua pele, e daí a momentos os seus lábios tocaram no ombro dela. Um arrepio quente e bom percorreu todo o corpo de Lenny e o coração dela – bem como o dele – começou a bater mais depressa. Depois Draco percorreu o pescoço de Lenny com beijos até chegar à sua orelha, fazendo-lhe cócegas agradáveis. Em seguida fê-la virar-se para si, ela puxou a manga da camisola para cima e Draco tocou com o seu nariz no de Lenny, os seus lábios tocando-se em seguida.
-Eu disse que eles iam estar na marmelada! – Draco e Lenny separaram-se abruptamente quando ouviram a voz de Adrian, que se encontrava à porta do compartimento com Blaise, Daphne e Pansy. Esta última tinha um olhar furioso na cara, indo-se embora em seguida.
-Vínhamos perguntar-vos se já se queriam juntar a nós, mas parece-nos que preferem continuar a sós – sorriu Blaise travessamente. Assim, ele e os outros regressaram ao seu compartimento, deixando Lenny e Draco novamente sozinhos.
Passaram o resto da viagem juntinhos um ao outro, não só na “marmelada” como Adrian apelidara, mas também a conversar e a divertirem-se. Não sairiam juntos do comboio com medo de se depararem com as suas famílias à espera, pelo que quando este parou na estação de Londres, Lenny perguntou:
-Escreves-me pelo diário-logo e vemo-nos pelo espelho de duas faces, certo?
-Claro – disse Draco. Depois deram um último beijo, intenso e demorado. Saíram do compartimento, Lenny despediu-se dos seus amigos Slytherin e misturou-se com os alunos que saíam do comboio. Pegou no carrinho com as suas malas e as gaiolas de Hedz e de Shy, encontrando Harry, os Weasley, Hermione, Neville e Luna.
Despediu-se dos últimos dois e depois passou o muro com os primeiros. Aí esperavam as famílias Gant, Weasley e Granger, que conversavam entre si. Tinham vindo os pais de Lenny bem como a avó, Molly e Arthur Weasley e os pais de Hermione. Os jovens correram a abraçar os respetivos familiares, saudando-se animadamente.
-Eu já convidei a Lenny e a família a irem à Toca, mãe – disse Ginny a Molly.
-Também estava a falar disso agora e o Michael, a Melanie e a Christine aceitaram de bom grado – alegou Molly – e claro, os teus pais e tu também estão convidados, Hermione.
Após conversarem mais um pouco, as famílias despediram-se e separaram-se e Lenny foi com os pais e a avó para casa.