Fred agarrou-lhe num pulso e fê-la virar-se para si, o coração a
partir-se-lhe quando viu a cara dela, desolada, desalentada. Puxou-a para si e
abraçou-a, não se importando com as lágrimas que lhe ensopavam a camisa.
-Lamento muito, Lenny – murmurou Fred, mais sério do que alguma vez Lenny o
vira.
-Porque é que estás aqui? – perguntou Lenny, a sua voz abafada, a cabeça encostada ao peito dele.
-Eu… - Fred pareceu ficar embaraçado por um momento e depois prosseguiu: -
fui ver se estava tudo bem e depois vi-te a correr. Disse aos teus pais que te
ia buscar e te levava até eles.
Lenny libertou-se do abraço de Fred e deu um passo atrás.
-Não. Não vou voltar lá para dentro.
-Lenny… não é como se tivesses muitas opções.
-Não percebes? Se eu voltar, a discussão vai ser ainda maior! Pior! Eles
nunca mais me deixam voltar a ver o Draco!
-Isso era assim tão mau? – perguntou Fred em voz sumida. Lenny fulminou-o
com o olhar, mas não teve forças para argumentar.
-Eles tiram-me de Hogwarts.
A cara de Fred ficou ainda mais séria e triste.
-Achas que eles são capazes disso?
-Eu conheço-os.
Fred mordeu o lábio, meditando no que havia de fazer.
-O que vais fazer, então?
-Não sei. Quero dizer, eu sei que eles são meus pais e tudo, mas se eles
não conseguem aceitar o facto de que… de que eu amo o Draco – os olhos de Fred
murcharam um pouco – então não sei.
-Não estás a pensar fugir, pois não?
-Não estou a pôr essa hipótese de lado – afirmou Lenny. Depois,
impulsivamente, pôs-se em bicos de pés e beijou Fred na bochecha, muito perto
dos lábios – obrigada.
Depois virou-se. À sua frente encontravam-se Melanie, Michael e Christine.
Lenny voltou a virar-se.
-Fred! – exclamou ela, furiosa.
-Desculpa, Lenny, mas não podia deixar-te fugir – confidenciou Fred,
enquanto George e os outros chegavam junto deles. A expressão de Fred estava
triste.
-Lamento por esta confusão toda, mas nós e a Lenny temos de nos ir embora –
declarou Michael.
-E as minhas coisas?
-A Molly e o Arthur deram-nos autorização para irmos à Toca arrumar as tuas
coisas – afirmou Melanie. Assim, agarrou em Lenny para que ela não se pudesse
materializar sozinha e Apareceram os quatro na Toca.
-Tens cinco minutos – avisou-a o pai. Lenny pensou se conseguiria fugir,
mas sabia que isso não ia resolver nada. E se fugisse, para onde iria? Assim,
com lágrimas a começarem de novo a escorrer-lhe pela cara, Lenny fez as malas
num instante, pegou nas gaiolas de Hedz e Shy e foi ter com a família. Depois materializaram-se
de volta à casa da avó, em Londres.
Entraram em casa em silêncio. Lenny não se dignou a olhar para nenhum
deles, embora visse de soslaio que a sua avó a olhava compadecidamente. A
rapariga foi logo para o seu quarto e como ninguém objetou deixou-se lá estar.
Pousou as gaiolas, mas não desfez a mala. Ouvia as vozes dos pais e da avó
vindas da sala, mas não conseguia ouvir o que estavam a dizer. Também não
queria. Passado um bocado alguém bateu à porta. Não se ouviu resposta, pelo que
Christine entrou no quarto da neta, vendo-a aninhada na sua cama com a cabeça
enterrada na almofada.
-Os teus pais querem falar contigo – disse ela, sentando-se a seu lado e
afagando-lhe o cabelo.
-Correção: Querem gritar comigo – ironizou Lenny, a voz abafada.
-Lamento muito, Lenny – aquela frase fez Lenny lembrar-se de Fred e um
sentimento estranho invadiu-lhe o espírito. Porque se importara ele tanto com
ela? E porque é que ele depois a entregara? A traíra?
-Eu também – soluçou Lenny. Como a neta não fazia intenção de se levantar, Christine
levantou-se e foi até à porta. Antes de sair, contudo, disse:
-Lenny, no fim tudo vai ficar bem. Se agora as coisas não estão bem é
porque não é o fim – declarou ela, antes de sair e fechar a porta.
-Parece o fim – murmurou Lenny com um gigantesco nó na garganta. Todavia
levantou-se, compôs a colcha da cama e olhou-se ao espelho. Tinha o cabelo todo
despenteado e os olhos e o nariz vermelhos. Estupidamente, a única coisa que
conseguiu pensar foi em como Fred a tinha visto naquele estado. Foi até à casa
de banho e lavou a cara com água fria. Depois penteou-se e dirigiu-se à sala.
Os pais estavam sentados no sofá e a avó num cadeirão.
-Aqui estou – disse ela, à soleira da porta – vão tirar-me de Hogwarts?
-Estávamos a pensar nisso, de facto – apontou o pai – mas depois da
intervenção da tua avó e de termos visto que tens amigos verdadeiros em Hogwarts, como o Fred, resolvemos não o fazer.
Lenny não conseguiu sorrir.
-Afinal, só falta um período para acabares as aulas e seria um desperdício
não fazeres os exames. Também sabemos que que não é possível mudar-te de
equipa, nem impedir que o Draco Malfoy frequente os mesmos locais na escola que
tu. No entanto, pedimos a duas pessoas que te vigiassem. Não podes aproximar-te
dele. Se tiveres um trabalho de grupo, não o fazes com ele.
“A Pansy vai ficar contente”, pensou Lenny, sarcástica.
-Tens de entender que é o melhor para ti, filha – interveio Melanie –
aquele rapaz não é bom para ti.
-E eu suponho que vocês o conheçam - replicou Lenny. Michael ia abrir a
boca para argumentar mas Lenny interrompeu:
-Posso ao menos saber por quem vou ser vigiada como se fosse uma criminosa?
-Fred Weasley e Anastacia Jonathan – declarou o pai.
-Bestial – ironizou Lenny – e eles não terão mais nada que fazer do que me
vigiar?
-Eles compreendem – disse Michael. Lenny inclinou a cabeça e sorriu
cinicamente.
-Uau, agora espanta-me como é que vocês não foram para os Slytherin. Não é
como se as vossas ações fossem assim tão corajosas.
-Lenny, eu não te admito que… - exaltou-se Michael.
-Desculpa, mas foste tu que disseste que agora percebias porque é que eu
fui para os Slytherin! Porquê? Por ter mentido? Por me ter apaixonado?
A expressão de Michael ficou confusa.
-Lenny, não foi isso que eu quis dizer! Eu não estava a dizer que foste
para os Slytherin porque nos mentiste, mas sim por causa do Draco! Ele
influenciou-te, não foi?
-E se influenciou? Não é como se eu tivesse começado a comportar-me de
forma errada! Fui à vossa procura. Vocês nunca notaram nenhum comportamento
estranho. O Draco não me influenciou para o mal!
-Merlin, porque é que não podias ter-te apaixonado por outro rapaz? –
perguntou Michael, levando as mãos à cabeça – pelo Fred Weasley, por exemplo. É
um bom rapaz. Preocupa-se contigo.
-Gosta de ti – acrescentou Melanie e a sensação estranha que Lenny experienciara
no quarto quando a avó lhe disse a mesma frase que momentos antes Fred lhe
dissera, regressou. A rapariga revirou os olhos.
-A culpa não é minha que não consiga mandar nos meus sentimentos nem
controlar por quem me apaixono ou não. Mas se querem saber, não me arrependo
nem por um segundo de ter sido o Draco – respondeu Lenny com sinceridade – mais
algum castigo?
-Tens alguma forma de comunicar com ele? Espelhos ou diários ou… -
perguntou-lhe a mãe. Lenny olhou-a nos olhos.
-Não.
-Muito bem. Por agora é tudo – disse a mãe e Lenny retirou-se para o seu
quarto. Sabia que não devia ter mentido, mas estava mesmo zangada e triste
naquele momento. No entanto, não tentou contactar Draco. Naquele momento não
conseguia. Não tinha forças. O que começara por ser um grande dia acabara por
se transformar num dos piores dias da vida de Lenny. E ela não sabia como
reagir.
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