domingo, 1 de junho de 2014

Jogo

Os raios de sol acordaram Lenny na manhã de domingo de Páscoa. Ginny e Hermione não se encontravam no quarto. Depois de se vestir e arranjar, Lenny desceu até à cozinha, onde apenas se encontrava Fred.
-Bom dia – disse ele.
-Olá – disse ela – os outros?
-A Ginny e a Hermione estão lá fora com o Ron e o Harry, e o George está na casa de banho – declarou Fred, que pegou numa caneca de leite – então, que queres de pequeno-almoço?
-Eu acho que me consigo arranjar, obrigada – respondeu Lenny.
-Sabes onde estão as coisas? – sorriu Fred.
-Não. Pronto, ok…
-Leite com cereais? – sugeriu Fred. Lenny assentiu com a cabeça e quando Fred acabou de lhe preparar o pequeno-almoço, sentaram-se os dois à mesa.
-Já soubeste das novidades? – perguntou ele. 
-Foste a primeira pessoa que encontrei hoje, por isso não – respondeu Lenny com um sorriso sarcástico.
-Vamos ver o jogo de Quidditch dos Chudley Cannons contra as Holyhead Harpies hoje, para a Liga Inglesa e Irlandesa.
-Fixe! Em que posição é que se encontram cada uma das equipas?
-Os Chudley Cannons vão em 11º e as Holyhead Harpies vão em 9º, para grande infelicidade do Ron.
-Os Ballycastle Bats continuam em primeiro? – questionou Lenny.
-Credo, Lenny, tu andas atenta à Liga ou não? – riu Fred – sim, continuam. Os teus pais e os pais da Hermione também foram convidados.
-Espero que as Holyhead Harpies ganham – afirmou Lenny.
-A Ginny e a Hermione também, mas o Ron é um adepto ferranho dos Cannons. Quanto a mim, não sou por nenhum, mas mal posso esperar por ver as miúdas das Harpies.
-Vais ter de esperar até logo à tarde – disse Ginny, entrando na cozinha com Hermione – bom dia, Lenny.
-Olá – cumprimentou ela.
-Espero que o Fred não te tenha aborrecido – Ginny lançou um olhar ameaçador ao irmão.
-Quem é que achas que eu sou? – arguiu Fred, pondo as mãos no ar – além de ser o mais giro de Hogwarts, é claro!
-Ah, desculpa, mas esse sou eu – interrompeu George, entrando na cozinha.
-Mas vocês são iguais, qual é a diferença? – questionou Lenny, fazendo Ginny e Hermione rirem, enquanto Fred e George a olharam, indignados.

*

O resto da manhã foi passado descontraidamente. Havia alguma azáfama relativamente ao almoço de Páscoa e depois ao jogo. Entretanto, os familiares de Lenny e de Hermione chegaram para almoçar.
-O jogo começa às quinze da tarde – informou Arthur, enquanto se servia de cabrito assado – o estádio encontra-se numa zona aparentemente deserta para muggles, mas os pais da Hermione conseguirão vê-lo à mesma. É melhor partirmos por volta das duas e meia se queremos chegar a tempo.
Assim, por volta das duas horas e meia da tarde, com a merenda às costas, os Weasley, os Gant e os Granger, bem como Harry, materializaram-se para o estádio, que já tinha bastante gente. Este estava situado numa zona rural com muitos prados em Inglaterra, e era uma área muito inacessível e difícil de ser encontrada pelos muggles. No entanto, o estádio tinha todos os feitiços anti-muggles, só por segurança. Havia várias entradas para o estádio e seguranças verificavam as entradas e os bilhetes de cada pessoa. Depois de passarem pela segurança, entraram finalmente no estádio, onde uma imensidão de verde e amarela se fazia ver de um lado, os adeptos das Holyhead Harpies, e laranja do outro, os adeptos dos Chudley Cannons. Os Weasley, Harry, os Gant e os Granger foram sentar-se numa zona neutral, esperando que o jogo começasse. Depressa as equipas apareceram em campo, saudando os adeptos, e o apito não se fez esperar. O jogo começou rápido, mas depois foi ficando mais parado. A certa altura, vários adeptos dos Chudley Cannons começaram a cantar a uma só voz “We will rock you”, para grande espanto dos feiticeiros.
-São os feiticeiros filhos de Muggles que começaram a cantar – declarou Hermione.
-Eles têm razão – riu Ron. Ginny olhou-o maliciosamente.
-Depressa, Hermione, Lenny, não há nenhuma música muggle com a qual possamos replicar? – perguntou ela com um brilho nos olhos.
-Bem.. – pensaram elas.
-“Who let the dogs out”! – exclamou Lenny – de certeza que os filhos de muggles a conhecem.
-Boa! – disse Ginny e, sempre enérgica, começou a espalhar a palavra aos adeptos das Holyhead Harpies até um filho de muggle suficientemente corajoso começar a cantar. Depressa se lhe juntaram Lenny e Hermione, e até Ginny, mesmo não conhecendo a música começou a cantar. Assim, o coro dos Chudley Cannons que cantava “We will rock you” esmoreceu e a música de “Who let the dogs out” começou a fazer-se ouvir a alto e bom som. Os feiticeiros, atónitos, olhavam-se espantados, sem perceberem o que estava a acontecer, mas os filhos de muggles sorriam. Estavam tão absorvidos na canção que nem se aperceberam do intervalo. As Holyhead Harpies estavam a ganhar por 120-60. Os pais de Lenny foram comprar sumos e cachorros-quentes. Quando voltaram, e ao ver a expressão dos pais, Lenny percebeu de imediato que algo estava errado. Sentiu o estômago às voltas e o coração a bater depressa, mesmo sem saber o que se passava. Mas a cara dos pais não enganava. Além disso, não tinham trazido comida nenhuma.
-Lenny – chamou Michael numa voz que não estava para brincadeiras. Lenny engoliu em seco e trocou um breve olhar com os amigos, aflita. O que se teria passado quando os pais se ausentaram? – Lenny.
O pai voltou a chamá-la e Lenny levantou-se do seu assento. Notava que o pai estava a fazer um esforço para não se enervar à frente dos Weasley e dos Granger. A mãe, por sua vez, encontrava-se ao lado dele com uma expressão triste na cara.
-O que se passa? – sussurrou Lenny quando chegou junto deles. Os pais nada disseram, viraram as costas e encaminharam-se para a zona interior do estádio, onde se encontravam as casas-de-banho e as lojas de comida. A pouca gente que aí se encontrava começava a regressar ao estádio para a segunda parte do jogo.
-É verdade? – perguntou-lhe a mãe, a expressão triste a afligir Lenny.
-Bom, talvez se me explicarem do que estão a falar eu possa responder – disse Lenny, não conseguindo evitar o tom sarcástico.
-O Carl também veio assistir ao jogo – declarou o pai, que se referia ao seu amigo que vivia em Hogsmeade e cuja filha era Anastacia, Carl Jonathan. Lenny franziu o sobrolho, não conseguindo perceber o que é aquilo tinha a ver – viemos comprar comida e vimo-lo. Disse-nos que já há algum tempo que queria falar connosco.
Os pais olharam para ela, mas como Lenny não disse nada, Michael continuou.
-Disse-nos que te viu em Hogsmeade, no dia 2 de Abril.
Lenny congelou. Não podia ser. Tinha sido esse o dia em que Lenny fora com Draco à loja das tatuagens, em Hogsmeade.
-E disse-nos que te viu a beijar um rapaz – continuou Michael.
-O que não teria sido um problema tão grande, se… - disse Melanie.
-Se esse… rapaz não fosse o Draco Malfoy – finalizou Michael. Lenny não sabia o que dizer, fazer ou pensar. Não podia acreditar que os seus pais tinham descoberto. Não conseguia perceber como tinha sido tão imprudente. Afinal, qualquer um os podia ter visto. Não podia evitar sentir um pouco de raiva por Carl. Lá no fundo, sabia que a culpa não era dele, mas mesmo assim…
-Mentiste-nos, Lenny – disse Michael – e bem. Agora percebo porque é que o Malfoy foi contigo procurar-nos. A desculpa que nos deram na altura não me convencera totalmente mas decidi aceitá-la. Quer dizer, tudo era mais fácil de aceitar do que saber que… que a minha filha pudesse gostar de um… de alguém como o Malfoy.
A voz de Michael estava invulgarmente serena, o que só piorava a situação. Às vezes era preferível que gritassem connosco. Lenny não suportava ouvir a voz da desilusão, do desapontamento. Mas também não podia negar.
-Porque é que nos mentiste? – perguntou-lhe Melanie.
-Porque é que acham? – questionou Lenny por sua vez – não é como se eu tivesse planeado. Mas aconteceu. E eu sabia que vocês nunca aceitariam que eu gostasse do Draco e…
-Pensavas que o conseguirias esconder? Para sempre? – interrogou Michael.
-Eu só…
-Agora percebo porque foste para os Slytherin – cortou Michael, a voz agora mais fria. E aquela frase magoou-a mais do que qualquer outra coisa.
-Lenny… - murmurou Melanie quando a rapariga passou por eles a correr. Tentou agarrá-la, mas a rapariga esquivou-se.
-Lenny, volta aqui! – gritou o pai, mas Lenny não parou. Não tinha forças para se materializar, pelo que desceu as escadas e saiu do estádio, o coração a bater com força, a cabeça a latejar, as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Lenny nunca quisera nada daquilo. Ouviu alguém a correr atrás de si, mas não parou.
-Lenny…
Aquela voz fê-la parar. Não era a do pai, nem da mãe, nem sequer a de Ginny ou a de Hermione. 
Era a de Fred.

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