sábado, 15 de junho de 2013

Legilimância

Lenny e Draco rodopiaram durante o que pareceram horas, ao som da música clássica. Draco fazia parecer a dança muito fácil: Lenny limitava-se a deixar-se levar por ele. A certa altura, a música clássica foi diminuindo de intensidade e as pessoas começaram a dirigir-se às mesas, apreciando os aperitivos ou usufruindo de uma refeição mais completa. Lenny optou pelos aperitivos, saboreando os bolinhos de abóbora, os biscoitos de gengibre ou os chapéus de açúcar. De repente, McGonagall bateu palmas e Flitwick acabou com a música.
-Bom, sei que muitos de vocês preferem outro tipo de música e por isso, decidimos convidar os Weird Sisters para tocar no nosso Baile.
A multidão rompeu em aplausos e exclamações de entusiasmo. Lenny já ouvira falar nos Weird Sisters, uma banda popular que, apesar do nome, era constituída por oito indivíduos masculinos. Os elementos da orquestra desceram do palco e guardaram os instrumentos, preparando-se para apreciar o resto do baile e McGonagall fez um súbito movimento com a varinha. De imediato uma parede escura apareceu entre o palco e as três grandes árvores de Natal e oito bolas de fumo estoiraram no palco platinado. Assim que o fumo desapareceu, cada elemento do grupo apareceu onde antes haviam caído as bolas de fumo. Vestiam-se de forma extravagante, tal e qual verdadeiras estrelas de rock. Saudaram o público e começaram a tocar uma música muito mexida, enquanto os alunos saltavam de braços no ar e abanavam o capacete.  


-Assim - declarou Lenny, falando num tom elevado para se sobrepor ao barulho da música - é que dançam os Muggles. 
Draco sorriu. A hora seguinte passou a correr: Lenny conversou com Harry, Hermione, Ron, Ginny, Fred, George, Neville e Luna enquanto Draco falava com Pansy, Daphne, Adrian, etc, dançou mais um pouco ao som das músicas dos Weird Sisters, observou os professores fora do seu elemento natural, conversando numa das mesas, etc. 
Subitamente, Lenny sentiu a música parar abruptamente, mas as pessoas em seu redor continuavam a dançar. Sentiu a cabeça rodopiar, mas ela encontrava-se parada. As imagens à sua volta rodaram a toda a velocidade e foram-se desvanecendo progressivamente, até Lenny ser cegada por uma neblina luminosa, substituída de imediato por uma escuridão que cegava mais que a luz, uma escuridão profunda e intensa, embrenhada até às profundezas do seu ser. E depois, ouviu claramente dentro da sua mente: "Oh, ela virá. Tenho a certeza". Era a voz da sua mãe, clara e segura, mas diferente das outras vezes. Parecia que desta vez não era Lenny quem estava a ser contactada, parecia ser ela a tentar contactar os pais, sem, no entanto, o conseguir. A mãe dela falava como se não soubesse que a filha estava a ouvir. Até ali, todas as visões que tivera, tudo o que ouvira dos pais, parecia que estava predestinado a ver ou ouvir, parecia que os pais queriam que ela soubesse de tudo aquilo, mas agora... agora era diferente, algo de invulgar e que não estava previsto acontecer. Eles não sabiam que ela estava a escutar. Então, porque estava ela?
Repentinamente, a escuridão negra desvaneceu-se , o som da música alta entrou-lhe pelos ouvidos dentro e o Baile de Inverno voltou a existir. A cabeça de Lenny rodopiou mais uma vez e esta sentiu-se tonta.
-Lenny, estás bem? - questionou uma voz. Draco estava ao seu lado, olhando-a atentamente. Lenny não lhe queria estragar a festa, a modos que tentou sorrir, mas ainda se encontrava muito tonta.
-Que se passa? - Lenny distinguiu a voz de Harry, que se aproximava, seguido de Ginny, Ron e Hermione.
-Não sei - respondeu Draco. Lenny abriu caminho por entre os colegas e afastou-se para junto das portas do Salão. A música dava-lhe dores de cabeça. Os outros seguiram-na, à exceção de Ron, que conseguiu arrastar Fred e George das suas companheiras.
-Eu ouvi-os - proferiu Lenny num fio de voz - aos meus pais.
-Outra vez? Como é que foi? - interpelou Ginny.
-Que disseram eles? - perguntou Draco.
-Não foi igual - assegurou Lenny - nada nem ninguém me tentou mostrar coisa alguma à pouco. É mais como... se eu tivesse invadido a mente deles, percebem? Ouvi a minha mãe e no entanto ela não se apercebeu disso... 
Hermione e Harry trocaram olhares cúmplices, enquanto Draco franzia o sobrolho, mas os outros ficaram confusos.
-Que disse a tua mãe? - perguntou Fred.
-"Oh, ela virá. Tenho a certeza" - citou Lenny.
-Parecia que estava a falar com alguém - observou George. 
-Eu acho... - começou Draco.
-É... - disseram Hermione e Harry ao mesmo tempo que Draco. Este encolheu os ombros.
-Falem vocês primeiro - disse.
-Acho que devias falar com a professora McGonagall, Lenny - sugeriu Hermione.
-Ou com o professor Braxton - propôs Draco, perante os olhares de desprezo dos outros, que não gostavam muito dele por estar sempre a favorecer os Slytherins.
-Porquê? Não lhes posso contar nada acerca disto, vocês sabem!  - exclamou Lenny.
-Mas eles percebem melhor disto do que nós - Harry olhou em volta, cravando o olhar na mesa onde se sentavam os professores.
-Disto o quê? - indagou Lenny.
-Sim, também não estou a perceber - concordou Ron, e Ginny e os gémeos acenaram com a cabeça.
Hermione olhou para Harry e para Draco, como que a assegurar-se de que podia falar.
-Nós achamos... - mordeu o lábio inferior - que acabaste de ter um momento como Legilimens.
Desta vez, os gémeos trocaram um olhar de compreensão.
-Esperem, a Lenny sabe Legilimância? - interrogou Ginny, num sussurro. 
Lenny arregalou os olhos. Não podia... ela não... ela nunca praticara Legilimância, nunca tivera contacto com  aquela arte! Mas de facto, também nunca havia feito um feitiço antes de vir para Hogwarts... mas a Legilimância era algo que se tinha que praticar muito, algo de muito complicado e complexo. Lenny havia lido sobre Legilimância algures num livro, mas nunca achara possível conseguir tornar-se uma Legilimens. Poucas pessoas o haviam conseguido, já que a arte de entrar na mente de outras pessoas e de ler e ver os seus pensamentos era extremamente difícil. 
-Eu não posso! Eu nunca... eu não tenho treino! - Lenny não sabia explicar como pudera aceder ao que ouvira, não sabia se tinha entrado na mente da mãe ou se fora alguma artimanha de alguém, mas, sem saber como, sabia com toda a certeza de que os pais não haviam provocado aquilo.
-Também não tinhas com os feitiços - comunicou Ginny - toda a gente sabe que és diferente, Lenny. Não há ninguém como tu, que consiga entrar no sétimo ano em Hogwarts sem ter realizado nenhum feitiço e em poucos meses tornar-se uma das melhores da escola a Defesa contra as Artes das Trevas, pelo menos... 
-Além disso, a tua mãe tem o dom de ver a razão e a verdade, não é? - perguntou Hermione e Lenny mal conseguiu esconder a felicidade que sentira ao ouvir Hermione falar no presente e não no passado - talvez isso também ajude... mas nenhum de nós sabe muito sobre isto... é por isso que te aconselhamos a falar com a McGonagall... ou o Braxton.
-Como é que falo com eles sem lhes revelar o que ouvi, sem lhes dizer tudo por que passei? - insinuou Lenny.
-Podes simplesmente dizer que gostarias de aprender Legilimância... - alvitrou Draco. Lenny sentia-se bastante confusa.
-Não me parece que vá ser assim tão simples  - replicou Lenny - não me parece que a Legilimância se ensine só porque alguém quer aprender.
De súbito, os joelhos de Harry tremeram e ele caiu no chão do Salão com estrondo. Ginny soltou um pequeno grito e ajoelhou-se a seu lado. Depois, Draco começou também a tremer, tentando manter-se em pé e parecendo oferecer mais resistência.
-Draco... - murmurou Lenny, agarrando-o por um braço e ajudando-o a manter-se em pé, enquanto Ginny, Ron e os gémeos tentavam ajudar Harry a levantar-se, mas ele parecia colado ao chão. 
-É o Braxton - murmurou Hermione. Lenny olhou para a mesa dos professores e viu que, de facto, Braxton tinha os lábios cerrados e fitava Harry e Draco com o olhar.
-Que raios está ele a fazer? - uivou Fred.
-Ele também é um Legilimens - explicou Hermione
-Então porque está a atacar o Harry e o Draco? - inquiriu Ron.
-Bom, não sei, de facto... mas que está a tentar aceder aos pensamentos do Harry e do Draco, lá isso está - confidenciou Hermione. Várias pessoas tinham parado de dançar para observar a cena e lentamente, a música extinguiu-se.
-Chega, Roger - ouviu-se a voz de McGonagall e Harry caiu de costas para trás, enquanto Draco parava de tremer - não se preocupem, alunos, os rapazes devem ter comido um bolinho estragado... Weird Sisters, continuem, por favor... o Baile não pode parar! - a diretora estalou os dedos e a música recomeçou a tocar, enquanto as pessoas dançavam e Lenny percebeu que McGonagall acabara de apagar aquele momento da memória de toda a gente sem ser de Lenny, Draco, Harry, Ron, Hermione, Ginny, Fred, George, Braxton e dela próprio. Rapidamente, McGonagall e Braxton aproximaram-se deles.
-Acho que precisamos de ter uma conversinha - sibilou Braxton.
-Vamos para o meu gabinete - disse McGonagall - todos nós. Há muito coisa por explicar.
E, sem dizer mais nada, a diretora abriu as portas do Salão. Hermione, Ron e Ginny seguiram-na, enquanto os gémeos levavam Harry pelos ombros e Lenny ajudava Draco. Braxton escoltava-os, fechando a porta do Salão atrás de si. Encaminharam-se pois, para o gabinete de McGonagall. Seguiram por um corredor escuro até chegarem a uma porta resguardada por duas gárgulas, onde a diretora murmurou a senha. As gárgulas afastaram-se, deixando-os passar e passaram a porta, subindo a escadaria em direção ao gabinete da diretora, que se situava na Torre da mesma. O gabinete era grande, bem iluminado e tinha prateleiras repletas de livros, bem como uma imponente secretária de madeira por debaixo de um grande candeeiro. Havia ainda duas escadarias que se encontravam num arco.
-Sentem-se - ordenou McGonagall, fazendo um gesto com a varinha que retirou do manto e fazendo aparecer nove cadeiras - tu também, Braxton.
Sentaram-se todos e a diretora olhou um por um.
-Então, quem quer começar?

Headmaster's Tower 2
Torre da Diretora
Gabinete da Diretora

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