A avó de Lenny não lhe fez muitas perguntas, pelo que Lenny verificou, com alívio, que ela de nada sabia daquilo que Lenny e os amigos andavam a magicar sobre os pais. Lenny não gostava de mentir à avó, mas se lhe contasse, era provável que a senhora não a deixasse ir atrás dos pais.
No domingo, Lenny ficou em casa a ajudar a avó a tratar da casa. A avó encarregou-a de limpar o pó ao seu quarto, à sala e à cozinha e proibiu-a de usar magia nestas tarefas domésticas, já que os feiticeiros menores não podiam praticar magia fora de Hogwarts.
Lenny não se podia queixar do seu quarto: era espaçoso, tinha televisão e computador (algo que, depois de ter entrado por completo no mundo da Magia já não lhe parecia assim tão grandioso) e embora Lenny já tivesse passado a sua fase da cor rosa ser a sua preferida, gostava do seu quarto.
Decoraram a casa com decorações natalícias e Lenny ficou um pouco melancólica quando notou que costumava sempre fazer aquilo na companhia dos pais. No entanto, não queria entristecer a avó, pelo que optou por ser otimista. A árvore de Natal da sala ficou decorada com as decorações dos Muggles, como sinos, bolas e laços, além de alguns presentes de cartão colocados por debaixo da árvore apenas para enfeitar e de luzes coloridas que se ligavam à corrente elétrica.
Na segunda-feira, Lenny pediu à avó para ir com ela à Diagon-Al, de modo a comprar presentes para os amigos. A avó acedeu de boa vontade e de manhãzinha, dirigiram-se ao pub em Londres que era a passagem secreta para a Diagon-Al, o Caldeirão Escoante. Esta encontrava-se cheia de feiticeiros e bruxas atarefados a fazer compras de Natal. Dirigiram-se a uma grande loja localizada numa esquina de uma das ruas, completamente decorada para o Natal: azevinhos pendurados, brinquedos e brinquedos preenchiam as montras, tocava uma suave música natalícia e entravam e saíam feiticeiros de segundos a segundos. Era ali, naquela loja, que os pais de Lenny lhes costumavam comprar os seus presentes de Natal e a rapariga sentia-se feliz porque sabia que nenhum dos seus colegas Muggles teria um brinquedo igual ao dela. Em vez disso, contentavam-se com casas de bonecas, carros e jogos que viam nos anúncios publicitários que passavam na televisão por altura do Natal. Lenny recebera uma vez um Pai Natal que era uma fonte inesgotável de doces: de cada vez que clicava no botão que havia na sua bota esquerda, aparecia um doce na sua barriga e este funcionara até que um dia se estragara de vez.
Lenny e a avó entraram na loja, cheia de árvores de Natal enfeitadas, doces de plástico natalícios, brinquedos, etc.

-Então, para quantos amigos vais comprar presentes? - perguntou-lhe a avó, admirando uma montra de meias de Natal com mini foguetes em movimento.
-Oh, sete - respondeu Lenny prontamente.
-É bom saber que fizeste tantos amigos especiais - sorriu a avó - nunca te vi tão entusiasmada. Não gostavas lá muito dos teus colegas Muggles, pois não?
Lenny abanou a cabeça. Ir para Hogwarts e conhecer os amigos fora a melhor coisa que já lhe acontecera, ainda mais do que saber que era feiticeira.
-Então, já me contaste que és amiga do Harry Potter, da Hermione Granger e dos Weasley, com quem eu tão bem me dou... e conheceste quatro Weasley, por isso, segundo as minhas contas, está a escapar-me uma pessoa, correto?
Lenny engoliu em seco e olhou para uma pequena bruxa que agarrava insistentemente no manto da mãe, apontando para uma montra cheia de peluches de renas.
-Oh, é uma amiga Slytherin - disse ela, por fim - chama-se Daphne.
E, subitamente, Lenny lembrou-se que não seria de muito bom tom enviar a Daphne a prenda de Draco sem lhe enviar uma a ela, que também era sua amiga, pelo que registou mentalmente que não se podia esquecer de lhe comprar um presente.
-Acho que para os rapazes é melhor ir à loja de Artigos de Qualidade de Quidditch - sugeriu a avó, referindo-se a uma loja em Diagon-Al que tinha tudo sobre este desporto, desde material a livros, passando por trajes, etc - quer dizer, se não estou enganada, tanto o Harry Potter como os Weasley gostam de Quidditch, não é?
-É sim - assentiu Lenny - então, compramos primeiro os presentes para as raparigas e depois para eles.
Lenny encontrou uma taça com colares de iniciais de nomes e comprou um colar com H (para Hermione), outro com G (para Ginny) e outro com D (para Daphne).
Depois de comprar os colares, a avó disse-lhe que fosse andando em direção à loja de Quidditch e Lenny suspeitou que a avó lhe fosse comprar o seu presente. No entanto, antes de se encaminhar à loja das vassouras, ouviu uma voz familiar atrás de si.
-Olha quem é ela - Lenny virou-se e reconheceu Pansy, sozinha.
-Bom dia também para ti, Pansy - sorriu Lenny friamente.
-Então, já escolheste o que vais oferecer ao Draco? - insinuou Pansy - oh, desculpa, esqueci-me que não lhe podes enviar nada... o pai dele não te suporta, não é? Não é de admirar, compreendo-o perfeitamente.
Lenny não queria que Pansy lhe estragasse o dia, mas magoava-a ouvir aquilo.
-Já acabaste, Pansy? Posso finalmente voltar ao que vim aqui fazer? - questionou Lenny, impassível.
-Oh, claro que sim - Pansy olhou-a friamente, com um sorriso falso - só te queria dizer que não venhas dizer que não te avisei quando o Lucius Malfoy descobrir quem é a namoradinha do filho.
-Oh, não te preocupes, Pansy - disse Lenny num tom igualmente falso - o Draco não lhe vai contar e a não ser que outra pessoa qualquer lhe conte, ele não vai descobrir.
Pansy olhou-a uma vez mais e depois deu meia volta e desapareceu. Lenny suspirou. Apesar daquilo que parecia ser uma ameaça de Pansy, sabia que o amor dela por Draco era superior à raiva e fúria que sentia por Lenny, pelo que, apenas por Draco, Pansy não iria contar nada a Lucius.
Na Artigos de Qualidade de Quidditch, Lenny vagueou por entre a quantidade imensa de utensílios relacionados ao desporto. Comprou o livro "Quidditch Através dos Tempos" a Harry, um Kit de Manutenção de Vassouras a Ron, que incluía uma bússola de vassoura, uma espécie de tesoura de prata que corta os galhos estragados da vassoura e um manual "Faça você mesmo" sobre como tratar a vassoura. Lenny perguntara a Ginny o que havia de dar a Ron, uns dias antes, e esta sugerira-lhe esse kit, pois quando Hermione dera um a Harry, Ron desejara um também.
Para os gémeos, Lenny decidiu passar pela "Gambel & Japes - Jogos de Magia", uma loja parecida com a Loja de Brincadeiras Mágicas Zonko's de Hogsmeade, onde comprou um boião cheio de uma substância verde intitulada "a melhor para utilizar em partidas mágicas" e um livro com várias atividades manuais a explicar como fazer diversas partidas. Por essa altura, como a avó ainda não regressara das suas compras, Lenny resolveu comprar mais qualquer coisita às amigas e por isso encaminhou-se à Borrões e Floreados, a livraria onde Lenny comprara os livros escolares, e resolveu comprar a Hermione um livro sobre os mais notáveis feiticeiros e feiticeiras do século XX, a Ginny um manual sobre as criaturas mágicas preferidas do público feminino e a Daphne um livro sobre serpentes.
Agora, pensou Lenny, só falta o mais difícil: o presente para Draco. Lenny não sabia bem o que lhe havia de oferecer. Parecia-lhe que oferecer algo de Quidditch não seria suficiente para exprimir o quanto gostava dele. Com os sacos das compras na mão, caminhou pelas ruas de Diagon-Al à procura de algo que lhe chamasse a atenção e quando passava por uma loja que parecia vender de tudo um pouco, algo lhe chamou a atenção: uma folha de pergaminho afixada na montra, que dizia:
Lenny soube que os tais "Diários-Logo" eram exatamente aquilo de que precisava para comunicar com Draco e entrou na loja. Dirigiu-se à funcionária, uma mulher baixa e atarracada.
-Bom dia, gostaria de experimentar os vossos Diários-Logo - pediu Lenny. A mulher sorriu e baixou-se, retirando dois livros iguais, de capa prateada, do balcão. Entregou um deles a Lenny e abriu lentamente os laços que seguravam o outro. Pegou numa pena de pergaminho, molhou-a no tinteiro e escreveu "Este é o mais recente modelo do Diários-Logo, cada par custa sete galeões".
Imediatamente, no diário que Lenny segurava apareceu a frase que a mulher escrevera no seu próprio diário.
-Experimente a menina - propôs a mulher, estendendo-lhe a pena. Lenny acedeu e escreveu no seu diário: "Acho que vou levar" e essa mesma frase apareceu no diário que a mulher segurava.
-E o melhor - voltou a mulher, sorrindo - é que sempre que as pessoas chegam à última folha, o diário coloca as páginas já escritas numa espécie de "pasta", na primeira folha, e renova depois as folhas, ficando estas em branco. Sempre que desejar ler as conversas que teve com o companheiro, é só clicar na pasta respetiva.
Lenny achou que aquele sistema se parecia muito com os dos computadores dos Muggles: eles também organizavam as coisas em ficheiros e pastas, guardando-os para os consultarem mais tarde.
-Bom, vai levar, então? - questionou a feiticeira. Lenny assentiu e a senhora retirou delicadamente o diário das mãos de Lenny, colocando-o a ele e ao dela de volta ao balcão. Depois, dirigiu-se a um armário de vidro com cristais incrustados, abriu-o e retirou de lá dois Diários-Logo iguais aos que ela e Lenny haviam usado.
-Pode embrulhar um? - pediu Lenny - é para oferta.
-Com certeza - sorriu a mulher e pegou na varinha que tinha no balcão. Com um movimento gracioso, a senhora fez aparecer um embrulho azul-escuro com estrelas brancas a brilhar. Lenny estendeu-lhe o dinheiro e quando a rapariga saiu da loja avistou a avó a falar com uma feiticeira grande e de rosto amável. Ficou a ver uma montra de gelados até a avó se despedir da amiga.
-Então, já compraste tudo? - perguntou ela, aproximando-se da neta, carregada de sacos.
-Já e tu?
-Também. Vamos andando para casa, então, sim?
Lenny assentiu e dirigiram-se ao Caldeirão Escoante, o pub que era uma passagem entre Diagon-Al e Londres.
*
Depois do almoço, Lenny tratou de embrulhar as restantes prendas e escreveu cartões de Boas Festas para todos, agradecendo a ajuda que lhe deram. Não pôde escrever no cartão de Draco a exprimir os seus sentimentos, não fosse o pai dele ver e desatar a fazer perguntas sobre o que teria ele com "Daphne". Pôs o presente de Draco e o de Daphne num grande saco, os dos Weasley num saco ainda maior e o de Hermione e de Harry em sacos individuais. Pô-los à porta de casa pois a avó disse-lhe que passaria pelo Correio Mágico das Corujas, situado também na Diagon-Al, entregar os presentes às corujas, já que Hedz não conseguia carregar tudo aquilo sozinha.
A tarde passou lentamente, e, apesar de não nevar, a chuva fustigou as janelas e o vento ouvia-se da lareira. Lenny passou a tarde toda a fazer os trabalhos de casa, chegando a escrever metros de pergaminho para Transfiguração, Astronomia, Defesa contra as Artes das Trevas, Poções, etc. No dia seguinte trataria de começar a fazer revisões.


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