segunda-feira, 17 de junho de 2013

Explicações & Despedidas

Um silêncio demorado instalou-se no gabinete de McGonagall e ninguém se atreveu a falar. 
-Ora, muito bem - proferiu ela passado algum tempo - desde já algum tempo para cá vim a duvidar o porquê de este ano os alunos parecerem andar muito calmos, em especial vocês, Harry, Ron e Hermione, que parece que nunca ficam parados. Claro que o Fred e George continuaram com as suas partidas habituais, mas a chegada da Lenny parecia-me ser um incentivo para que começassem a investigar. E foi o que fizeram, não foi?
A diretora olhou-os com uma expressão divertida.
-Porque estava o Braxton a tentar entrar na minha mente? - sibilou Harry, de repente. Braxton cerrou os lábios e olhou-o desdenhosamente, mas McGonagall assentiu.
-Vocês certamente sabem que não sou a favor do ensino de Legilimância em Hogwarts, por achar que invade a privacidade de cada um, mas o Braxton, sendo um bom Legilimens, sabe escolher que pensamentos há-de analisar e por isso pedi-lhe, excecionalmente, que visse o que vocês andam a tramar. 
-E porque escolheu o Harry e o Draco? - questionou Lenny, apercebendo-se de que era provavelmente a primeira vez que fazia uma pergunta direta à diretora
-Queríamos obter diferentes versões da história e quem melhor para isso do que duas pessoas tão distintas como o Harry Potter e o Draco Malfoy? - concluiu a professora de Transfiguração.
-Isso quer dizer que estão a par de tudo o que sabemos sobre os pais da Lenny? - interrogou Hermione - a visita a Hogsmeade, as visões dela...
-Sim - respondeu a professora.
-Mas... diretora.. não tinha esse direito - sussurrou Ginny.
McGonagall, para espanto de todos, sorriu.
-Eu também tive uma espécie de visão, ontem à noite. Ouvi o Michael dizer que gostaria que houvesse alguém que protegesse a Lenny nesta jornada. 
-O meu pai... falou consigo? - Lenny arregalou os olhos de espanto enquanto Minerva acenava afirmativamente com a cabeça.
-Mas como é que a Lenny ouviu a mãe a falar, quando esta não teve intenção de contactar a filha? - questionou Draco.
-A Melanie foi de toda a gente que ensinei, uma das melhores a Legilimância e Oclumância - explicou Braxton, referindo-se à mãe de Lenny - no seu sétimo ano veio pedir-me pessoalmente que a ensinasse.
-Então, a Lenny, mesmo sem ter alguma vez praticado, é uma Legilimens e talvez também uma Occlumens? - interpelou Fred.
-Supomos bem que sim - concordou McGonagall e uma nova onda de confusão invadiu o espírito de Lenny. Seria ela capaz de praticar não só a arte de invadir a mente de outras pessoas, mas também a arte de fechar a sua própria mente a invasores, resguardando assim os seus pensamentos e emoções? Era essa a arte da Oclumância e um Occlumens era quem a praticava, quem conseguia fechar a sua mente, sendo as únicas pessoas capazes de ocultar a verdade a um Legilimens. 
-Mas cremos que a Legilimância e a Oclumância se revelem de forma diferente na Lenny. De forma involuntária. Calculo que saibam que a maioria dos praticantes destas artes só se conseguem fazer valer pelo uso da varinha, embora haja feiticeiros muito qualificados que as consigam praticar sem varinha ou mesmo sem pronunciar um único som - comunicou a Chefe de Equipa de Gryffindor - mas não há registo de alguém com apenas dezassete anos e sem nunca ter praticado que consiga aceder assim à mente de alguém, ainda para mais de alguém muito bom nessas artes, embora, claro, a Melanie não tenha fechado a sua mente. De outra maneira, seria impossível, mesmo ao melhor Legilimens do mundo, invadir a mente da Melanie.
-E, pelos vistos, houve um pingo de sensatez em algumas pessoas aqui presentes - disse Braxton, os olhos vacilantes sobre Hermione e Draco - que aconselharam a menina Gant a vir falar connosco.
-Lenny, gostarias realmente de aprender as artes da Legilimância e da Oclumância? - perguntou McGonagall - isto é, de aprofundar os teus conhecimentos e de conseguir controlar a tua mente, uma vez que estas artes parecem ser muito involuntárias e incontroladas em ti?
Lenny abriu a boca para responder, porém, antes de o conseguir fazer, Braxton interveio:
-E, para quem não sabe, há aqui outro Occlumens presente.
Os alunos viraram-se todos para Harry, que fez uma expressão de espanto.
-Disseste-nos que não te tinhas dado bem com a Oclumância, quando tiveste aquelas aulas com o professor Snape! - insinuou Hermione.
-E não me dei! Eu não sou bom a Oclumância! - defendeu-se Harry.
-E, de facto, não é - redarguiu Braxton, fixando o olhar em Draco.
-Ele? - disse George num murmúrio. 
-Não me digam que não se questionaram porque é que o Draco conseguiu resistir mais ao meu poder que o Potter - resmungou o professor de Defesa contra as Artes das Trevas - já que o Potter costuma ser sempre o melhor, não é?
De facto, Draco conseguira aguentar-se em pé durante o Baile de Inverno e Harry não.
-Porque nunca me contaste? - indagou Lenny, baixinho. Draco encolheu os ombros.
-Não me orgulho do motivo pelo qual tive de aprender Oclumância - declarou ele, olhando para o chão e Lenny arrependeu-se de imediato de ter tocado naquele assunto. 
-Foi o Snape que te ensinou? - inquiriu Ginny.
-Não. Foi a minha tia, Bellatrix Lestrange. Nas férias de verão do segundo ano - Draco olhava agora em frente, fixando um ponto qualquer. Lenny soube porque Draco aprendera a arte de fechar a sua mente: para que ninguém conseguisse descobrir a missão que Draco, tendo-se tornado num Devorador da Morte, fora encarregado por Voldemort de fazer: matar Dumbledore no seu sexto ano, sem, no entanto, ter tido coragem de o fazer.
-Bom - prosseguiu Braxton, virando a atenção dos alunos para si - não vou permitir que a menina Gant ou qualquer outro de vocês, que possa querer aprender estas artes, entre na minha mente, pelo que vou precisar de um voluntário que possa treinar com ela, quando a menina Gant estiver a treinar Legilimância.
Lenny achou que aquela atitude não era nada altruísta nem digna de um professor, mas compreendeu que ela também não gostaria que andassem a remexer nos seus pensamentos e emoções. Fred, George, Ginny, Hermione e Ron trocaram breves olhares, mas Draco disse prontamente:
-Eu não me importo de treinar com a Lenny. Além disso, sou o único de nós, alunos, que sabe Oclumância e acho que, por isso, lhe serei útil.
Lenny sentiu uma tremenda ternura por Draco: devia ser horrível saber que alguém lhe iria, certamente, entrar na mente e Draco era tão fechado e já tinha passado por tanto...
-Draco, não vais poder fechar completamente a tua mente, porque senão a Lenny não vai conseguir treinar Legilimância. Não há problema? - inquiriu McGonagall e Draco abanou levemente a cabeça, concordando. Lenny sorriu-lhe, agradecida - bom, então acho que está tudo. Acho que por esta altura o baile deve estar a acabar, pelo que vos aconselho a dirigirem-se aos vossos dormitórios. Depois das férias de Natal poderão começar a treinar. 
Lenny foi atingida por uma sensação devastadora: com todos aqueles acontecimentos repentinos não lhe passara pela cabeça nem uma única vez que não veria Draco nem os restantes amigos durante os próximos quinze dias, e esse período de tempo parecia-lhe interminável. Por outro lado, veria a avó, que já não via há meses.
Em silêncio, um a um, levantaram-se das cadeiras e saíram do gabinete da diretora, dirigindo-se cada um aos respetivos dormitórios.

*

No dia seguinte, ninguém se lembrava, claro, do que ocorrera com Harry e Draco durante o Baile no dia anterior, devido ao feitiço que McGonagall lançara sobre todos. Lenny ficou a saber, por algumas conversas que ouviu, que os Weird Sisters haviam dado uma sessão de autógrafos depois do concerto no Baile.
Lenny fez a mala lentamente, foi ao Celeiro das Corujas buscar Hedz, pô-la na gaiola e encaminhou-se para os portões da escola, juntando-se aos outros na caminhada para Hogsmeade, sítio onde eles iriam apanhar o comboio. Quando lá chegaram, o Expresso de Hogwarts já lá estava e Lenny relembrou-se instantaneamente da primeira vez que embarcara a bordo naquele comboio. Às onze horas da manhã certas, entraram no comboio.
Lenny passou metade da viagem do Expresso de Hogwarts num compartimento com Draco, Daphne, Pansy, Gregory e Vincent e a outra metade com Harry, Ron, Hermione e Ginny, a que se depois lhe juntaram Fred e George.
O facto de, em Hogwarts, nunca haver testes nem exames no fim de cada período escolar, como era habitual na escola dos Muggles, mas sim apenas os EFBE's (Exames de Feitiçaria Barbaramente Extenuantes) no final do sétimo ano, em Junho, e cujos exames se prolongariam durante duas semanas (o quinto ano teria os NPF's -Níveis Puxados de Feitiçaria, enquanto que os outros anos teriam exames normais, também no fim do ano) e tudo aquilo que acontecera com os seus pais fazia com que Lenny não se andasse a preocupar o que devia com os estudos. Na verdade, muitos alunos do sétimo ano andavam já stressados pela pressão dos exames, dado que eles contribuiriam, de forma direta, na escolha da profissão futura e exerciam grande influência nessa mesma escolha. Lenny ouvira falar de relatos de desmaios durante os exames, de ataques de pânico, do tráfico na escola de poções de estimular o cérebro, a inteligência ou de afastar o sono e foi durante a viagem no Expresso de Hogwarts, quando Lenny viu Hermione a ler afincadamente o manual do sétimo ano de Transfiguração que a rapariga tomou finalmente consciência de que também tinha, além dos pais, de se preocupar com os estudos. Aqueles exames determinariam em que áreas a rapariga teria mais probabilidades de arranjar emprego.
Por isso, decidiu que começaria a fazer apontamentos, resumos e revisões durante as férias de Natal, pois Lenny não gostava de deixar tudo para a última e nunca se saberia quando seria preciso ela ausentar-se da escola para procurar os pais: só esperava que não fosse nas duas semanas dos EFBE's, mas sabia que se tivesse de escolher entre os pais e os exames que não hesitaria nem por um segundo em ir à procura dos seus progenitores. Além disso, tinha também carradas de trabalhos de casa para fazer, que, certamente, a ajudariam no seu estudo.
A neve caiu durante quase toda a viagem, e os campos outrora verdes e preenchidos encontravam-se agora debaixo de uma camada branca de neve, enquanto as árvores agitavam os ramos frágeis ao sabor do vento. Os amigos Gryffindor de Lenny falaram durante toda a viagem, sobretudo sobre o que se passara no gabinete de McGonagall no dia anterior, mas Lenny ficara calada durante a maior parte do tempo, o olhar fixo na paisagem que passava, acenando ou abanando de vez em quando a cabeça quando alguns dos outros lhe fazia alguma pergunta. O mesmo se passou com os Slytherin: apenas ela e Draco sabiam do que se passara, mas a nenhum deles lhes apeteceu falar muito. Eram já seis da tarde quando o comboio parou, por fim, na plataforma 9 e 3/4. Lenny levantou-se do banco do compartimento, recolheu a sua bagagem e saiu do compartimento, seguida dos outros Gryffindor. Quando saíram para o ar frio da noite, Lenny despediu-se dos amigos.
-Obrigada por tudo - agradeceu ela, abraçando Hermione.
-De nada. Podes contar sempre connosco. Feliz Natal! - disse Hermione.
-Feliz Natal! - retribuiu Lenny. Depois de ter abraçado todos os amigos Gryffindor, vagueou o olhar pela multidão de alunos. Avistou Draco a falar com Pansy e dirigiu-se para lá. Draco e Pansy olharam para ela, o primeiro despediu-se de Pansy e levou Lenny para um local mais sossegado, resguardados pelas sombras recortantes dos candelabros.
-Adoraria que me escrevesses - começou Draco - mas por uma questão de segurança, não quero que o faças. Se o meu pai sabe que nós... eu e tu...
-Não te preocupes, eu não escrevo - resignou-se Lenny. De maneira alguma a rapariga queria criar conflitos entre Draco e o pai - mas gostaria de te mandar um presente de Natal.
Draco franziu o sobrolho, enquanto pensava.
-Tens o endereço da Daphne, não tens?
Lenny fez que sim com a cabeça.
-Envia-la para ela e ela envia-ma para mim. A Daphne é de confiança e o meu pai não se importa que eu me dê com ela. Eu faço o mesmo.
Lenny sorriu.
-Ok - olharam-se durante um momento e depois, lentamente, a multidão de pessoas começou a dispersar-se, à medida que passava a barreira de tijolo para a estação de King's Cross - acho que...
-Pois... - disse Draco ao mesmo tempo. Sorriram ambos e, num movimento inesperado, Draco segurou Lenny pela cintura e aproximou-a de si, beijando-a ternuramente.
-Vou ter saudades tuas - declarou Draco - feliz Natal.
-Eu também. Feliz Natal - Lenny abraçou-o intensamente e depois agarrou no carrinho com as malas e a gaiola de Hedz. Afastou-se em direção à barreira e sentiu um nó apertado na garganta. Mal se tinha separado de Draco e já o desejava... correu contra a barreira e entrou na estação, em Londres. Avistou a avó de imediato, junto de um quiosque de revistas e foi ter com ela. A estação estava quase vazia, mas a funcionária do quiosque deitou um olhar desconfiado a Hedz.
-Lenny! - sorriu a avó, abraçando-a - tinha tantas saudades tuas!
-Eu também, avó - sorriu Lenny e afastaram-se ambas do quiosque, seguindo em direção à saída da estação. Lenny avistou, ao longe, as cabeças ruivas de Ginny, Ron e os gémeos e o cabelo preto rebelde de Harry, juntamente com uma mulher gorducha e um homem alto e magro que Lenny calculou serem a Srª. e o Sr. Weasley. Harry iria passar o Natal com eles, na casa dos Weasley, a quem eles, carinhosamente, apelidavam de "A Toca". Lenny avistou o velho carocha azul da avó no parque de estacionamento da estação.

Carocha da avó de Lenny

Lenny colocou as malas no porta-bagagens do carro e sentou-se no banco de trás com a gaiola de Hedz, enquanto a avó se instalava ao volante. 
-Então, filha, de que estás à espera? Conta-me tudo! - pediu a avó, sorrindo-lhe pelo espelho retrovisor interno e Lenny começou a falar-lhe de Hogwarts, omitindo por completo as visões que havia tido com os pais, a Legilimância, a Oclumância, o que encontrara quando fora a Hogsmeade e rezando para que McGonagall não lhe tivesse já relatado tudo aquilo por carta.

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