terça-feira, 25 de junho de 2013

Deves procurar onde não podes entrar

Depois de agradecer a Molly e a Arthur pelos presentes e de tomar o pequeno-almoço de panquecas com geleia preparado pela primeira, Lenny foi com Harry, Ron, Ginny e os gémeos lá para fora. Como Hermione não estava lá para arbitrar o jogo de Quidditch, entretiveram-se cada um a mexer nos seus presentes. Ginny tinha o colar que Lenny lhe oferecera ao pescoço e Lenny usava o colar de mocho que Daphne lhe dera.
Depois, Ginny pediu à mãe (já que ela ainda não podia usar magia fora de Hogwarts) para, através de um feitiço, fazer aparecer um biquíni para Lenny. Passaram a manhã no rio, a chapinhar, a nadar e a molhar os outros. George e Fred adoravam submergir a cabeça de Ron no rio e Lenny e Ginny entretinham-se a flutuar e a tentar tocar no fundo do rio.
Depois, Molly foi chamá-los para o almoço e cada um tomou um duche e se sentou nos mesmos lugares que tinham ocupado na ceia de Natal do dia anterior. 
À tarde, enquanto faziam a digestão, os seis foram para o quarto de Ginny e Lenny conversar sobre a escola.
Falaram sobre os EFBE’s, na loja de partidas mágicas, intitulada Magias Mirabolantes dos Weasley, que Fred e George haviam aberto nas férias de Verão há alguns anos atrás, mas que tinham fechado durante o ano letivo. Apesar de tudo, começavam a pensar seriamente em fazer negócio com a loja e em torná-la o seu emprego fixo, uma vez que esta tinha muito sucesso no verão. Conversaram, também, claro, sobre os pais de Lenny e sobre o que haveriam de fazer em relação a eles: antes de mais, Lenny deveria aprender as artes da Legilimância e da Oclumância, e Harry deu-lhe algumas dicas que Snape lhe dera quando este tivera aulas com o professor. Depois, Lenny avisou-os de que poderia ter de embarcar numa jornada fora de Hogwarts, faltando assim às aulas e sabia que pelo menos Molly não iria ficar satisfeita com isso.
-Esse é provavelmente o maior dos nossos problemas – disse Ron – não estou a ver a nossa mãe a deixar-nos faltar às aulas, muito menos se for por ir em busca de perigos e aventuras.
-Eu não quero que se arrisquem por mim – disse logo Lenny – eu é que sou filha deles, eu é que devo ir à procura…
-Nós não te vamos deixar ir sozinha – redarguiu Ginny – e além disso este ano está a ser demasiado parado para o meu gosto.
-Mas é perigoso… e se alguma coisa…
-Não penses nisso agora – apaziguou Harry – o que for, será. Quando for a altura certa para agir, agiremos. Não vale a pena sofrer por antecipação.
Lenny suspirou.
-Às vezes tenho medo do próprio medo – admitiu. Harry sorriu-lhe compreensivamente.
-Eu sei o que isso é – concordou ele.
Depois de a digestão estar feita, regressaram ao rio e passaram a tarde a brincar: Fred e George pediram a Billy que enfeitiçasse uma quaffle e fazê-la cair no rio, salpicando os outros, Harry conseguiu encontrar uma snitch debaixo de água e a certa altura Bill e Fleur passaram por lá perto de mãos dadas, alheios do resto do mundo e os gémeos lançaram-lhes água para cima, molhando-os por completo, levando um sermão por parte de Fleur e Molly.
Ao fim do dia, depois de mais um banho e de (por insistência dos anfitriões da casa), Lenny e a avó terem jantado na Toca, arrumaram as suas coisas e despediram-se dos outros para regressar a casa.
-Vocês podem ficar aqui até ao final das férias, se quiserem – convidou Molly.
-Obrigada, Molly, mas a Lenny anda a pôr a matéria em dia e deixou o material de estudo em casa… - declarou a avó.
-Adeus, Lenny, vemos-te no primeiro dia de aulas! – despediu-se Ginny. Lenny agarrou na mala (que tivera de ser aumentada através de um Feitiço de Extensão, para que coubessem lá dentro os presentes de Natal), na gaiola de Hedz e na de Shy (Hedz olhava desconfiadamente para Shy, que dormia profundamente) e agarrou-se à avó. A mesma sensação de agonia percorreu o corpo de Lenny à medida que rodopiava e parecia ser sugada para um vórtice negro e só parou quando colocou os pés no chão na casa da avó. Aí, o tempo continuava frio e gelado: chovia torrencialmente e ameaçava começar a trovejar. Lenny mal teve tempo de cair na cama para logo adormecer, cansada e com sono.

*

O nevoeiro que se instalava à sua frente era cerrado e Lenny não conseguia ver mais do que um metro à sua frente. Sentia-se gelada por fora, mas quente por dentro: era uma sensação esquisita e inquietante. O silêncio era absoluto, até que um relâmpago rasgou os céus e a cegou momentaneamente. Depois, um trovão rugiu e fez estremecer o solo por debaixo dos pés de Lenny. Lentamente, a rapariga conseguiu ver onde estava: era uma sala aberta, sem teto, de tijolo e redonda, com portas de madeira fechadas a toda a volta. Lenny queria abrir uma das portas, mas não se conseguia mover. Depois, um relâmpago seguido de um trovão quebrou o silêncio, mas uma voz forte e grave sobrepôs-se a este. Falou tão depressa que Lenny mal teve tempo para perceber tudo, mas as palavras ficaram gravadas na sua memória: Deves procurar onde não podes entrar. E, tão depressa como tinha aparecido, aquela paisagem desvaneceu-se e Lenny acordou, ofegante. Pegou numa folha de pergaminho que tinha na mesinha-de-cabeceira, molhou uma pena no tinteiro e descreveu o seu sonho, escrevendo a frase que ouvira, que fora certamente proferida pelo pai, e descrevendo a paisagem e a sala o melhor que podia. Tentou ainda desenhá-la, mas não se recordava quantas portas tinha visto, e nunca tivera jeito para desenho. Ficou a meditar na frase mas não se conseguiu lembrar de nenhum sítio onde não pudesse entrar e sentia as pálpebras pesadas do sono. Acabou por adormecer com a pena ainda na mão.

*

De manhã, depois de se arranjar e tomar o pequeno-almoço, Lenny desfez a mala rapidamente e abriu o kit de material escolar que Hermione lhe oferecera, escrevendo uma carta a relatar o sonho que tivera para mandar aos Weasley e a Harry, e outra a Hermione.
Lenny ainda não experimentara o Diário-Logo nem o Espelho de Duas Faces e achou que aquela era a altura ideal para o fazer. Achou melhor começar pelo Diário, não fosse Draco estar perto do pai. Abriu o diário e escreveu:
-Adorei o teu presente, obrigada - e aguardou. Passados uns instantes em que Lenny esperou, expectante, algo apareceu escrito no seu diário:
-Também adorei o teu. Adoro-te.
Lenny escrevinhou:
-Tenho uma coisa para te contar, mas preciso de ter a certeza de que és mesmo o Draco – escrevinhou Lenny.
-Pergunta-me o que quiseres – respondeu Draco. Lenny pensou nalgo que só Draco poderia saber responder:
-Qual foi a primeira coisa que me disseste?
Draco demorou algum tempo a responder, mas depois afirmou:
-Então, nunca pegaste numa varinhaE para mais garantias, Lenny, és a minha força e a minha fraqueza ao mesmo tempo. Mas se quiseres podemos falar pelo espelho, os meus pais não estão em casa.
Lenny escreveu Ok e fechou o diário, pegando em seguida no Espelho de Duas Faces. Virou-o ao contrário e proferiu:
-Draco Malfoy – subitamente, a cara de Draco apareceu-lhe no espelho, o cabelo a cair-lhe para os olhos cor de prata derretida, um sorriso a varrer-lhe o rosto e envergando uma camisa branca, diferente do seu uniforme habitual dos Slytherin. Lenny imaginou que a sua própria cara estaria agora no espelho de Draco e desejou poder tocar-lhe.
-Já tinha saudades desses teus cabelos – murmurou Draco na sua voz misteriosa e sexy e Lenny suspirou de alívio por a avó ter escolhido aquele momento para ligar o aspirador (apesar de ser uma feiticeira não se importava de fazer limpezas à maneira dos Muggles). A rapariga mordeu o lábio inferior.
-E eu desse teu sorriso sarcástico – comentou Lenny.
-Passaste bem o Natal? – perguntou-lhe Draco.
-Sim… os Weasley convidaram-me para ir ter com eles à Toca. Foi fixe – informou Lenny, tentando não demonstrar entusiasmo excessivo.
-Eles não te chatearam, pois não? – inquiriu Draco, desconfiado.
-Claro que não! Eles são todos muito divertidos e…
-Ok, já percebi – referiu Draco duramente, o que fez Lenny aperceber-se que ele estava com ciúmes.
-Mas, como eu te disse… preciso de te contar uma coisa – disse Lenny e Draco fez subitamente um ar preocupado.
-Diz.
Lenny contou-lhe o sonho que tivera e o que o pai lhe dissera.
-Fazes alguma ideia do local a que o meu pai se referia? – questionou Lenny, quando acabou de contar.
-Não… - Draco ficou subitamente muito direito e parecia estar de ouvidos à escuta. Quando falou, a sua voz era baixa e grave: - o meu pai acabou de chegar. Se me lembrar de alguma coisa escrevo no diário. Adeus, Lenny, amo-te.
-Amo-te também – proferiu ela e a imagem de Draco desapareceu do espelho. Lenny suspirou: gostaria de ter falado mais tempo com Draco, tentar descobrir a pista que o pai lhe dera… guardou o espelho e recomeçou as revisões da matéria. 


*

O Ano Novo chegou com neve e ventos frios e Lenny e a avó comemoraram a entrada no novo ano à maneira dos Muggles, comendo as doze passas ao som das badaladas da meia-noite. Lenny pediu apenas um desejo com todas as suas forças: encontrar os pais e trazê-los são e salvos para casa. 
E por fim, lá se acabaram as férias de Natal, que aparte do Natal passado na Toca, foi tão ou mais estudioso que o período de aulas, com apontamentos, resumos e revisões. Finalmente chegou o dia de embarcar no Expresso de Hogwarts e de se despedir da avó, dando início a um novo período escolar.
O comboio partiria da estação de King's Cross às onze horas da manhã e às onze menos um quarto, Lenny e a avó chegaram à parede de tijolo que era a passagem para a plataforma 9 e 3/4. Lenny despediu-se da avó, agarrou firmemente no carrinho que levava as suas malas e a gaiola de Hedz e a de Shy e correu contra a barreira, parando na plataforma 9 e 3/4. O Expresso de Hogwarts já lá estava, parado, e vários alunos movimentavam-se apressadamente, outros trocavam fotografias entre si, conversavam, saudavam-se, etc.
A certa altura, Lenny reconheceu uma cabeleira loura-quase-branca e viu Draco vir na sua direção, com o seu carrinho.
-Lenny! - Draco sorriu e abraçou-a - o Ano Novo foi bom?
-Sim, passou-se - respondeu Lenny - e o teu?
-Também.
Daphne foi juntar-se-lhes pouco depois e Lenny avistou Pansy a vir na direção deles, ao mesmo tempo que várias cabeças ruivas entravam na plataforma. Lenny despediu-se dos amigos Slytherin e foi ter com eles, que se encontravam na companhia de Harry.
-Olá! - saudou.
-Olá - responderam eles, em coro.
-A Hermione não passou o Ano Novo convosco? - interrogou Lenny.
-Não - respondeu Harry - foi esquiar com os pais.
Depois baixou os olhos para o chão como se se arrependesse de o ter dito. Lenny sentiu um nó na garganta, mas fez por sorrir.
-Olhem, ali vem ela! - apontou para a parede de tijolo, pois, de facto, Hermione acabava de passar a parede e vinha ter com eles.
-Olá!  - sorriu ela e depois baixou a voz - recebi a tua carta, Lenny, mas não faço ideia do que o teu pai possa querer ter dito...
-Falamos disso em Hogwarts - afirmou Lenny, olhando em redor. Depois Hagrid chamou-os e mandou-os entrar no comboio, e este lá partiu, com a neve a cair à sua volta.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A ceia & presentes de Natal

Depois da partida de Quidditch (que Ron, Fred e George ganharam apenas por dez pontos), Charlie e Percy chegaram. Charlie era, como o resto da família, ruivo e bem constituído e trabalhava com dragões na Roménia. Percy, que trabalhava no Ministério, pareceu a Lenny ser o mais sério dos Weasleys. Depois, quando Arthur, Molly e a avó de Lenny estavam a pôr a mesa para a ceia de Natal, chegaram Bill e Fleur, a sua esposa. Bill trabalhava no banco Gringotts, e Lenny notou que era o completo oposto do irmão Percy: descontraído e relaxado, mas tinha profundas marcas de um lobisomem (mais propriamente Fenrir Greyback) na bochecha direita aquando da batalha de Hogwarts. Fleur era muito bela, mas um pouco arrogante e tinha uma pronúncia francesa muito acentuada. Era metade Veela e frequentara Beauxbatons, em França.
Às oito da noite, Molly chamou-os a todos para a ceia e Lenny reparou que ela aumentara a mesa para que coubessem mais lugares através de um Feitiço de Extensão. A mesa estava muito bonita: em cima da toalha vermelha havia pratos dourados, guardanapos dourados e vermelhos, uma mini árvore de Natal com bolas vermelhas, um candelabro com flores, etc.


Lenny sentou-se entre a avó e Harry e Molly fez um movimento com a varinha e os guardanapos voaram até aos colos de cada um, desdobrando-se e uma quantidade razoável de caldo verde apareceu no prato de sopa de cada pessoa.


A ceia passou-se animadamente: os adultos conversavam entre si e os mais novos faziam o mesmo. Lenny iria adorar que Molly expandisse a mesa mais um pouco para que coubessem mais dois lugares, mas tentou não pensar nos pais. Era o primeiro Natal que passava sem eles, mas era também o primeiro que passava com os seus novos amigos. Harry contou a Lenny sobre Remus Lupin e Nymphadora Tonks, um lobisomem e uma metamormaga que se apaixonaram, apesar das diferenças de idade e raça. Lupin fora amigo de Sirius (padrinho de Harry que falecera no seu quinto ano) e do seu pai nos tempos da escola e depois, e Tonks pertencera os Hufflepuff e tinha sido uma Auror. Tiveram um filho que nasceu a Abril de 1998, de nome Edward Remus "Teddy" Lupin, cujo padrinho era Harry, e que agora era criado pela sua avó materna, Andromeda Tonks. Ted Lupin, como era mais conhecido, estava agora a passar o Natal com a avó. Era uma história emocionante e que, infelizmente, acabara de forma trágica, com um filho órfão por causa da guerra. 
Depois da sopa de caldo verde, Molly fez aparecer na mesa dois grandes perus, um frango, uma travessa de batatas, puré, sumo de abóbora, etc. No fim, dezenas de sobremesas encheram-lhes a vista: pudins de chocolate, rabanadas, biscoitos de gengibre, bolinhos de abóbora, bolos, etc. 
-Mãe - chamou Ron, inocentemente, servindo-se de uma fatia de bolo de laranja - já que a Hermione se vai embora depois do jantar, porque não abrimos já os presentes? Assim damos-lhe já os dela, não é?
-Isso era o que tu querias - sorriu Molly - damos os presentes à Hermione, mas os restantes abrem-nos amanhã de manhã.
Ron descaiu os ombros, desanimado. Quando finalmente se levantaram da mesa e a loiça começou a lavar-se, a secar e a arrumar-se nos respetivos armários sozinha, Arthur saiu da sala e foi buscar um saco castanho. Os outros foram para a sala de estar, que parecia agora minúscula com tanta gente. 
-Lenny, também pusemos o presente que enviaste à Hermione aqui - declarou Arthur, pousando o saco no chão. Ron foi o primeiro a precipitar-se sobre ele, esperançoso, mas constatou com desagrado que ali só estavam os presentes para Hermione.
-Molly, se não se importar - pediu a rapariga timidamente - eu gostaria que abrissem já hoje os meus presentes, para ver se gostam.
-Oh, claro, está bem - disse Molly, um tanto atarantada. 
A troca de presentes foi bastante animada: Hermione adorou o colar com um H e o livro sobre os mais notáveis feiticeiros e feiticeiras do século XX que Lenny lhe ofereceu. Hermione, por sua vez, deu-lhe um kit de material escolar que incluía penas, folhas de pergaminho de várias cores, a Tinta Muda-de-Cor (cuja tinta, como o nome indica, mudava mesmo de cor conforme o estado de espírito e a vontade do utilizador), alguns tinteiros e um caderno com folhas de pergaminho para ela apontar o que quisesse.
-Obrigada - agradeceu Lenny, contente.
-De nada. Obrigada também - sorriu Hermione.
-Bom, Hermione, não te importas que utilizemos a Materialização, pois não? - perguntou Arthur, quando a troca de presentes acabou - é mais rápido.
-Claro que não - concordou Hermione.
-Queres que eu a leve? - ofereceu-se Fred, mas Ron lançou-lhe um olhar furibundo.
-Só estava a ser simpático - defendeu Fred. 
-Não é preciso, o Arthur vai comigo - afirmou Hermione, pegando no seu saco de presentes e nas malas e agarrando-se ao braço esquerdo de Arthur. De imediato desapareceram e passado algum tempo Arthur reapareceu.
-Pronto, a Hermione está entregue - depois olhou em volta. Lenny e Harry ensinavam Ron, Ginny e Fleur a jogar às cartas dos Muggles, Charlie, Bill e Percy falavam sobre coisas do Ministério, Fred e George conversavam num canto sobre partidas e Molly e Christine conversavam animadamente sobre receitas culinárias - ah, sabe tão bem ter-vos todos aqui.
Arthur sorriu e juntou-se a Charlie, Bill e Percy e Lenny, apesar da ausência dos pais, sentiu-se em casa.

*

No dia seguinte Lenny acordou com a luz solar a bater-lhe nas pestanas. Entreabriu os olhos e viu Ginny, de pijama, a correr as persianas, enquanto observava os presentes que tinha ao fundo da cama. Lenny olhou para o fundo da sua própria cama e viu que também ela lá tinha presentes. Lenny costumava abrir os presentes debaixo da árvore de Natal em casa da avó, mas aquele método também era excelente.
-Bom dia - saudou Ginny, numa voz cantante.
-Olá - cumprimentou Lenny. 
-Já abri os presentes que me ofereceste - disse Ginny - adorei o colar e o livro, obrigada.
-De nada - afirmou Lenny, saindo em direção à casa-de-banho para se arranjar e em seguida regressou ao quarto. Quando chegou, Harry e Ron estavam sentados em cima da cama de Ginny e esta arrancava o que parecia ser o último embrulho que possuía. 
-Obrigado pelo kit de Manutenção de Vassouras - disse Ron de imediato - adorei.
-De nada - sorriu Lenny.
-E há que tempos que queria o livro do Quidditch Através dos Tempos, obrigado, Lenny - agradeceu Harry. Depois, a porta abriu-se de rompante e entraram Fred e George.
-Hum, Lenny, deves ser provavelmente a única pessoa nesta casa que ainda não abriu as prendas - observou Fred, gozão.
-Bom, elas não vão fugir, pois não? - indagou Lenny, pegando no primeiro embrulho.
-Não sei não - riu George, piscando o olho ao irmão gémeo. Lenny franziu o sobrolho, meio desconfiada.
-De qualquer maneira - interrompeu Fred - adorámos os teus presentes. Aquele guia é precioso!
-E já começámos a planear o que fazer com a Mistura Pegajo... - começou George, mas Fred deu-lhe uma cotovelada e o primeiro calou-se. Lenny sorriu e rasgou o embrulho prateado que tinha nas mãos. Tinha um cartão que dizia "Feliz Natal, beijinhos, Daphne". Dentro do embrulho vinham dois saquinhos verdes-escuros. Um deles continha um colar de mocho com grandes olhos azuis-turquesa e pedras preciosas. O outro, uma bracelete dourada com brilhantes em forma de serpente para usar no pulso/mão.



Lenny experimentou o colar e a bracelete, enquanto Fred comentava:
-Aposto que foi o teu namoradinho Slytherin que te mandou essa serpente.
Lenny sorriu sarcasticamente.
-Por acaso, até nem foi. Foi a Daphne Greengrass.
-Abre agora o meu - pediu Ginny, tirando um embrulho redondo e desengonçado do monte de presentes. Lenny abriu-o e viu uma bola de cristal incrustada num monte de estrelas e luas - isso é muito útil, sabes? Fazes-lhe uma pergunta e a bola responde-te.
-A sério? - estranhou Ron.
-Sim. Houve um aluno do sétimo ano que tentou levar uma destas para o EFBE de História da Magia, mas foi apanhado e o seu exame foi anulado - informou-os Ginny.
-Oh, mas isso dava-me jeito era a mim! - replicou Ron.
-Não sejas parvo - ripostou Ginny - eu sei que a Lenny lhe vai dar outro uso que não servir-se dele para obter respostas de testes.
Lenny pegou cuidadosamente na bola de cristal e perguntou: "O Draco sente a minha falta?"


Lenny reparou nos reflexos dos gémeos que se viam da bola de cristal: George tossicava energicamente enquanto Fred revirara os olhos, divertido. Imediatamente, letras brancas submergiram e apareceram na face da bola: "Como se tu não soubesses a resposta. Oh, podes crer que sim". Lenny sorriu.
-Quantas respostas é que isto pode dar?
-Tem uma variedade enorme de respostas, mas nunca mente, garanto-te. É um Legilimens, como o Chapéu Selecionador - explicou Ginny e Lenny agradeceu-lhe o presente. A rapariga pegou noutro embrulho com aspeto de ser um livro e rasgou-o: era de facto, um livro, intitulado Guia Avançado de Oclumância, por Maxwell Barnett. Trazia um cartão a desejar boas festas de Ron.
-Obrigada, Ron, isto vai ser-me muito útil! - exclamou Lenny. 
-De nada - retribuiu Ron. O próximo presente foi de Harry e era um livro intitulado Mitologia no Mundo.
-Como é que sabias que eu gostava de Mitologia? - questionou Lenny, lendo o resumo na contracapa do livro.
-Bom, na verdade, pedi à Ginny para utilizar a bola de cristal - respondeu Harry. 
-Obrigada!
-Não tens de agradecer - assegurou Harry. Lenny abriu um saco que continha um suéter de lã verde-escuro com a letra "L" gravada a prateado.
-Esse é da nossa mãe - afirmou Ginny - ela faz sempre para nós e este ano, resolveu fazer um para ti também. 
Dentro do saco, além do suéter, vinha também uma caixa de bombons de chocolate. Faltavam três presentes: um embrulho tosco com uma forma esquisita chamou-lhe a atenção. Parecia uma abóbada em miniatura.
-Oh! - exclamou ela, arregalando os olhos de espanto. Aquilo que tinha na sua frente era nem mais nem menos que uma gaiola rosa com uma mini bola de pelo rosa-lilás lá dentro, que ronronava suavemente.
-Isso - disse Fred - é um Pigmeu Penugento, uma miniatura dos Puffskeins.
-É tão fofo, onde o arranjaram? - interrogou Lenny.
-O segredo é a alma do negócio - confidenciou George em tom misterioso e em seguida apontou para o chão, perto da cama de Ginny - também oferecemos um à Ginny, ela chamou-lhe Arnold.
Lenny olhou para o sítio que George apontava e viu uma gaiola lilás com um Pigmeu Penugento roxo, desperto e aos círculos. 
-Como vais chamar ao teu? - interpelou Ginny. Lenny colocou um dedo por entre as grades da gaiola e fez cócegas ao pigmeu. Este mexeu-se, acordou, soltou um gritinho estridente e recuou, assustado, enquanto as suas minúsculas bochechas coravam, ficando de um tom vermelho-tomate. 
-Acho que lhe vou chamar Shy - indagou Lenny, aproximando mais o dedo do bichinho. Este aproximou-se timidamente e enroscou-se no seu dedo, manifestando afeto pela sua mais recente dona. Lenny olhou para os gémeos - eles não são ilegais, pois não? É que nunca tinha visto nenhum...
-Não! - exclamaram eles em uníssono - senão a mãe nunca nos deixaria dar-vos...
Lenny abriu a porta da gaiola e Shy instalou-se confortavelmente nas suas mãos. Depois, Ginny pediu-lhe para lhe pegar e o pigmeu foi sentar-se ao seu ombro.

Pygmy puff inside the cage
Shy na gaiola

Shy na gaiola

Shy no ombro de Ginny
Lenny agarrou no penúltimo presente e viu que era da avó. Era um vale de Gringotts, o banco dos feiticeiros, de vinte galeões, disponíveis para gastar ou na Diagon-Al ou em Hogsmeade, juntamente com um álbum personalizado e com várias fotos de Lenny, dos pais e da avó em várias ocasiões: no Natal, na Páscoa, nas férias de Verão... a avó de Lenny colara autocolantes que brilhavam, luzes que piscavam de vez em quando e Lenny reparou que a partir da página do meio do álbum até ao fim, as folhas estavam em branco. A tinta prateada, a avó escrevera: A preencher com fotografias dos momentos futuros. A rapariga percebeu que aquilo era um incentivo e uma tentativa de dizer a Lenny que os pais estavam vivos, mas mal sabia a avó que agora Lenny tinha a certeza disso. 
Lenny sentiu os olhos molhados ao percorrer as fotografias. Decidiu vê-las mais tarde, quando estivesse sozinha ou pelo menos na companhia da avó. Por fim, pegou no último presente e a não ser que Draco não lhe tivesse enviado nada, aquele tinha de ser dele. Era um espelho redondo, com rebordo preto-acastanhado. Vinha com um cartão que dizia "Querida Lenny, consegui escrever-te sem que o meu pai visse e queria desejar-te um feliz Natal. Tenho saudades tuas. Amo-te, Draco. P.S. Vira o cartão ao contrário para instruções de como usar o espelho."


Lenny virou o cartão e leu "Este é o Espelho de Duas Faces. Eu tenho um igual. Uma das faces do espelho funciona como um espelho normal: reflete a tua imagem, mas a outra face permite-te que fales comigo. Basta dizeres o meu nome e vais aparecer no meu espelho e eu aparecerei no teu. Assim, podemos comunicar mais facilmente um com o outro. Espero que gostes. Draco."
Lenny sorriu. Parecia que ela e Draco haviam tido a mesma ideia, embora Lenny tivesse comprado os Diários-Logo e não o Espelho de Duas Faces. Eram mesmo almas-gêmeas. 
-Então, vais experimentá-lo? - perguntou-lhe Harry.
-Sim, quando estiver sozinha - respondeu Lenny.
-Claro, mas não beijes o espelho demasiado- riu Fred e Lenny lançou-lhe uma almofada à cabeça com força, acertando-lhe em cheio.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Toca

Depois de ter acabado de fazer todos os trabalhos de casa, Lenny passou os dias todos, até à Véspera de Natal, a fazer resumos, apontamentos, a rever a matéria toda e conseguiu ainda encontrar os manuais escolares dos pais dos anos anteriores ao de Lenny, pelo que ela pôde estudar e aprender mais coisas sobre a matéria que não dera, mas que parecia estar armazenada no seu subconsciente. 
Lenny estranhou o facto de, na antevéspera de Natal, a avó não andasse já atarefada com os petiscos e a ceia de Natal, coisa que acontecia sempre nos anos anteriores. Mas a resposta a essa dúvida veio no mesmo dia, à hora de almoço, quando uma coruja castanha entrou de rompante pela chaminé e aterrou com estrondo na lareira, que, por sorte, estava apagada. Lenny sacudiu as cinzas das penas da coruja e retirou-lhe a carta que tinha no bico. Dizia: "Querida Lenny, já tínhamos combinado há algum tempo convidar-te, mas não quisemos dizer-te nada antes para não estragar a surpresa. Gostávamos muito que tu e a tua avó viessem passar o Natal connosco, à Toca. Podem vir na Véspera de Natal, de tarde, e ficar cá durante o dia de Natal, isto claro, se aceitarem vir. Beijinhos, Hermione, Harry e toda a família Weasley."
Lenny ficou contentíssima e correu a avisar a avó. Sabia que Hermione iria passar a Véspera de Natal com os Weasley e depois passaria o Natal com os pais. Depois de a avó ler a carta, Lenny perguntou:
-Então, 'vó, podemos, ir, podemos?
A avó sorriu e algo na sua expressão fez Lenny perceber que a avó já sabia daquilo há algum tempo.
-Claro. Eu já conheço o Arthur e a Molly há algum tempo, mas nunca tive a oportunidade de conhecer os seus filhos... além disso, estou muito curiosa sobre o Harry Potter e a Hermione Granger.
-Bom, não faças demasiadas perguntas ao Harry. Ele já deve estar farto de ser tão famoso - advertiu Lenny, escrevinhando uma resposta rápida num pergaminho a dizer que ela e a avó aceitavam o convite de bom grado, enrolou-o à pata da coruja castanha e libertou-a. Depois, não teve outro remédio senão passar o resto da tarde a estudar, enquanto a chuva batia furiosamente nas janelas. À noite, preparou uma mala com roupas e no dia seguinte, à tarde, estava pronta para ir para a Toca.
-'Vó, despacha-te, senão ainda perdemos o comboio! - chamou Lenny, já com a mala e a gaiola de Hedz na mão à entrada de casa. A avó parecia não ter pressa nenhuma. Quando por fim chegou à sala, sorriu e disse:
-E quem é que te disse que tínhamos de apanhar o comboio?
Lenny franziu o sobrolho.
-Então como é que vamos?
-Acho que vais Aparecer pela primeira vez, querida Lenny - gracejou a avó. Lenny arregalou os olhos. Sabia que a avó se conseguia Materializar e Desmaterializar sempre que quisesse, mas Lenny, que apenas podia fazer exame de Aparecer dali a alguns meses, nunca experimentara aquele que era o meio de transporte mais rápido dos feiticeiros - agora, pega firmemente na tua mala e na gaiola da Hedz e agarra-te a mim.
Lenny assim fez e de imediato tudo à volta dela começou a girar e Lenny sentiu-se como se estivesse a ser sugada para dentro de um vórtice negro, o estômago e a cabeça às voltas e de repente, assentou os pé em terra firme, num sítio completamente diferente e longínquo da casa da avó. Demorou algum tempo a libertar-se da sensação enjoativa que sentia e olhou em redor. O clima era muito diferente daquele de onde acabara de sair: ali, os campos estavam verdejantes, o céu pouco nublado e o sol despontava por entre as poucas nuvens existentes. Uma casa de madeira, desengonçada, tosca e de vários andares erguia-se à sua frente e lá perto o rio corria calmo e suave. Perto dali, exista uma espécie de garagem de teto redondo com um carro azul à frente. Lenny pensou que nenhum nome se adequava tão bem àquele lugar como "a Toca".


-Chegámos - anunciou a avó - descansa que, com o tempo, vais-te habituando à sensação de Aparecer.
De repente, um burburinho chegou-lhes aos ouvidos e a porta da frente da casa abriu-se de rompante, deixando vislumbrar Harry, Hermione, Ron, Ginny e os gémeos que corriam para ela.
-Lenny! - exclamou Ginny, abraçando-a - e a senhora deve ser a sua avó.
-Sou pois - sorriu a avó amavelmente - e tenho que vos confessar que acho a vossa casa verdadeiramente encantadora.
-A mãe anda sempre a queixar-se porque é que nunca a convidou, a si e à Lenny, a vir até cá - admitiu Fred enquanto cumprimentava a avó de Lenny educadamente.
-Oh, ora essa, não há mal nenhum! - exclamou a avó com sinceridade.
-Bom, vamos entrar? - convidou Ron e entraram todos para o hall de entrada, onde Lenny e a avó pousaram as coisas. Depois, dirigiram-se à cozinha, bem iluminada, com um balcão cheio de coisas e uma longa mesa de madeira comprida. Ouviram vozes de pessoas a falar e de imediato uma mulher de rosto amável e rechonchuda, acompanhada de um homem alto entraram na cozinha de braços abertos.


-Oh, já chegaram, que bom! - disse a mulher, que Lenny deduziu ser a Sr.ª Weasley - prazer em conhecer-te, Lenny!
-Igualmente, Sr.ª Weasley.
-Oh, por favor, trata-me por Molly.
-E a mim por Arthur - sorriu o homem. Depois virou-se para a avó de Lenny.


-Bons olhos a vejam, Christine! - cumprimentou ele.
-Olá, Arthur, olá, Molly - saudou a avó.
-Vem ver a sala - convidou Ginny e Lenny e os outros seguiram-na até chegarem à sala de estar. Esta estava igualmente desarrumada e atafulhada de coisas.


-Nós ontem recebemos os teus presentes, Lenny - afirmou Ron - mas a mãe não nos deixou abri-los. Temos que esperar por amanhã de manhã.
-Vamos mostrar-te o quarto - disse Ginny, fazendo sinal a um dos gémeos para que pegasse na mala de Lenny no hall de entrada - como a Hermione não dorme cá, ficas na cama dela.
Subiram a escadaria escura até ao primeiro andar. Ginny abriu uma porta e disse:
-É aqui.
O quarto tinha paredes brancas e retratos de alguns feiticeiros. Havia duas camas de solteiro alinhadas e separadas por uma mesinha-de-cabeceira. Em frente, um grande guarda-roupa, juntamente com uma arca e uma pequena mesa de três pés. As paredes tinham posters dos Weird Sisters e de outras bandas menos conhecidas, bem como retratos de membros da família Weasley. Depois de pousar a mala numa das camas, Lenny foi com o resto da malta ver a restante casa.
-Querem ir lá para fora? - sugeriu Fred, desviando-se da mãe que conduzia um tabuleiro flutuante com bolos com a sua varinha.
-'Bora - assentiram os outros, saindo para o ar fresco do dia.
-Onde estão os vossos irmãos? - inquiriu Lenny, dando finalmente conta de que faltavam três membros da família Weasley.
-O Bill foi buscar a Fleur e o Percy e o Charlie foram tratar de não-sei-quê no Ministério  - informou Ron.
-Querem jogar Quidditch? - sugeriu Harry - está bom tempo para isso.
-Eu não trouxe a minha vassoura... - comunicou Lenny.
-Isso não é um problema, nós temos as do Percy, Bill e Charlie - disse Ginny.
-Mas eu não tenho lá muito jeito - admitiu Hermione, hesitante.
-Oh, anda lá! - pediu Ron.
-Hum, ok, então... - acabou Hermione por aceitar.
-Que tal raparigas contra rapazes? - sorriu Fred.
-Isso não é justo! Vocês são mais! - replicou Hermione.
-E que tal, duas equipas - declarou Ginny - o Ron é o keeper de uma e a Lenny da outra, o Fred e o George podem ser os beaters de cada equipa, eu e o Harry somos os chasers de cada equipa e a Hermione...
-Eu posso ser o árbitro - propôs a rapariga, sorridente.
-A mãe não nos deixa jogar com as bludgers, Ginny, já sabes - declarou Ron.
-Bom, então que tal Ron, Fred e George numa equipa e eu, a Lenny e o Harry na outra? Assim ficam dois chasers e um keeper para cada lado - alvitrou Ginny.
-Perfeito - assentiram os outros. Foram buscar as vassouras à garagem e depois Hermione deu início à partida. 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Férias de Natal

A avó de Lenny não lhe fez muitas perguntas, pelo que Lenny verificou, com alívio, que ela de nada sabia daquilo que Lenny e os amigos andavam a magicar sobre os pais. Lenny não gostava de mentir à avó, mas se lhe contasse, era provável que a senhora não a deixasse ir atrás dos pais.
No domingo, Lenny ficou em casa a ajudar a avó a tratar da casa. A avó encarregou-a de limpar o pó ao seu quarto, à sala e à cozinha e proibiu-a de usar magia nestas tarefas domésticas, já que os feiticeiros menores não podiam praticar magia fora de Hogwarts.
Lenny não se podia queixar do seu quarto: era espaçoso, tinha televisão e computador (algo que, depois de ter entrado por completo no mundo da Magia já não lhe parecia assim tão grandioso) e embora Lenny já tivesse passado a sua fase da cor rosa ser a sua preferida, gostava do seu quarto. 



Decoraram a casa com decorações natalícias e Lenny ficou um pouco melancólica quando notou que costumava sempre fazer aquilo na companhia dos pais. No entanto, não queria entristecer a avó, pelo que optou por ser otimista. A árvore de Natal da sala ficou decorada com as decorações dos Muggles, como sinos, bolas e laços, além de alguns presentes de cartão colocados por debaixo da árvore apenas para enfeitar e de luzes coloridas que se ligavam à corrente elétrica.


Na segunda-feira, Lenny pediu à avó para ir com ela à Diagon-Al, de modo a comprar presentes para os amigos. A avó acedeu de boa vontade e de manhãzinha, dirigiram-se ao pub em Londres que era a passagem secreta para a Diagon-Al, o Caldeirão Escoante. Esta encontrava-se cheia de feiticeiros e bruxas atarefados a fazer compras de Natal. Dirigiram-se a uma grande loja localizada numa esquina de uma das ruas, completamente decorada para o Natal: azevinhos pendurados, brinquedos e brinquedos preenchiam as montras, tocava uma suave música natalícia e entravam e saíam feiticeiros de segundos a segundos. Era ali, naquela loja, que os pais de Lenny lhes costumavam comprar os seus presentes de Natal e a rapariga sentia-se feliz porque sabia que nenhum dos seus colegas Muggles teria um brinquedo igual ao dela. Em vez disso, contentavam-se com casas de bonecas, carros e jogos que viam nos anúncios publicitários que passavam na televisão por altura do Natal. Lenny recebera uma vez um Pai Natal que era uma fonte inesgotável de doces: de cada vez que clicava no botão que havia na sua bota esquerda, aparecia um doce na sua barriga e este funcionara até que um dia se estragara de vez. 
Lenny e a avó entraram na loja, cheia de árvores de Natal enfeitadas, doces de plástico natalícios, brinquedos, etc.


-Então, para quantos amigos vais comprar presentes? - perguntou-lhe a avó, admirando uma montra de meias de Natal com mini foguetes em movimento. 
-Oh, sete - respondeu Lenny prontamente.
-É bom saber que fizeste tantos amigos especiais - sorriu a avó - nunca te vi tão entusiasmada. Não gostavas lá muito dos teus colegas Muggles, pois não?
Lenny abanou a cabeça. Ir para Hogwarts e conhecer os amigos fora a melhor coisa que já lhe acontecera, ainda mais do que saber que era feiticeira.
-Então, já me contaste que és amiga do Harry Potter, da Hermione Granger e dos Weasley, com quem eu tão bem me dou... e conheceste quatro Weasley, por isso, segundo as minhas contas, está a escapar-me uma pessoa, correto?
Lenny engoliu em seco e olhou para uma pequena bruxa que agarrava insistentemente no manto da mãe, apontando para uma montra cheia de peluches de renas.
-Oh, é uma amiga Slytherin - disse ela, por fim - chama-se Daphne.
E, subitamente, Lenny lembrou-se que não seria de muito bom tom enviar a Daphne a prenda de Draco sem lhe enviar uma a ela, que também era sua amiga, pelo que registou mentalmente que não se podia esquecer de lhe comprar um presente. 
-Acho que para os rapazes é melhor ir à loja de Artigos de Qualidade de Quidditch - sugeriu a avó, referindo-se a uma loja em Diagon-Al que tinha tudo sobre este desporto, desde material a livros, passando por trajes, etc - quer dizer, se não estou enganada, tanto o Harry Potter como os Weasley gostam de Quidditch, não é?
-É sim - assentiu Lenny - então, compramos primeiro os presentes para as raparigas e depois para eles.
Lenny encontrou uma taça com colares de iniciais de nomes e comprou um colar com H (para Hermione), outro com G (para Ginny) e outro com D (para Daphne).

    

Depois de comprar os colares, a avó disse-lhe que fosse andando em direção à loja de Quidditch e Lenny suspeitou que a avó lhe fosse comprar o seu presente. No entanto, antes de se encaminhar à loja das vassouras, ouviu uma voz familiar atrás de si.
-Olha quem é ela - Lenny virou-se e reconheceu Pansy, sozinha.
-Bom dia também para ti, Pansy - sorriu Lenny friamente. 
-Então, já escolheste o que vais oferecer ao Draco? - insinuou Pansy - oh, desculpa, esqueci-me que não lhe podes enviar nada... o pai dele não te suporta, não é? Não é de admirar, compreendo-o perfeitamente.
Lenny não queria que Pansy lhe estragasse o dia, mas magoava-a ouvir aquilo.
-Já acabaste, Pansy? Posso finalmente voltar ao que vim aqui fazer? - questionou Lenny, impassível.
-Oh, claro que sim - Pansy olhou-a friamente, com um sorriso falso - só te queria dizer que não venhas dizer que não te avisei quando o Lucius Malfoy descobrir quem é a namoradinha do filho. 
-Oh, não te preocupes, Pansy - disse Lenny num tom igualmente falso - o Draco não lhe vai contar e a não ser que outra pessoa qualquer lhe conte, ele não vai descobrir.
Pansy olhou-a uma vez mais e depois deu meia volta e desapareceu. Lenny suspirou. Apesar daquilo que parecia ser uma ameaça de Pansy, sabia que o amor dela por Draco era superior à raiva e fúria que sentia por Lenny, pelo que, apenas por Draco, Pansy não iria contar nada a Lucius. 
Na Artigos de Qualidade de Quidditch, Lenny vagueou por entre a quantidade imensa de utensílios relacionados ao desporto. Comprou o livro "Quidditch Através dos Tempos" a Harry, um Kit de Manutenção de Vassouras a Ron, que incluía uma bússola de vassoura, uma espécie de tesoura de prata que corta os galhos estragados da vassoura e um manual "Faça você mesmo" sobre como tratar a vassoura. Lenny perguntara a Ginny o que havia de dar a Ron, uns dias antes, e esta sugerira-lhe esse kit, pois quando Hermione dera um a Harry,  Ron desejara um também. 
Para os gémeos, Lenny decidiu passar pela "Gambel & Japes - Jogos de Magia", uma loja parecida com a Loja de Brincadeiras Mágicas Zonko's de Hogsmeade, onde comprou um boião cheio de uma substância verde intitulada "a melhor para utilizar em partidas mágicas" e um livro com várias atividades manuais a explicar como fazer diversas partidas. Por essa altura, como a avó ainda não regressara das suas compras, Lenny resolveu comprar mais qualquer coisita às amigas e por isso encaminhou-se à Borrões e Floreados, a livraria onde Lenny comprara os livros escolares, e resolveu comprar a Hermione um livro sobre os mais notáveis feiticeiros e feiticeiras do século XX, a Ginny um manual sobre as criaturas mágicas preferidas do público feminino e a Daphne um livro sobre serpentes. 
Agora, pensou Lenny, só falta o mais difícil: o presente para Draco. Lenny não sabia bem o que lhe havia de oferecer. Parecia-lhe que oferecer algo de Quidditch não seria suficiente para exprimir o quanto gostava dele. Com os sacos das compras na mão, caminhou pelas ruas de Diagon-Al à procura de algo que lhe chamasse a atenção e quando passava por uma loja que parecia vender de tudo um pouco, algo lhe chamou a atenção: uma folha de pergaminho afixada na montra, que dizia:


Lenny soube que os tais "Diários-Logo" eram exatamente aquilo de que precisava para comunicar com Draco e entrou na loja. Dirigiu-se à funcionária, uma mulher baixa e atarracada.
-Bom dia, gostaria de experimentar os vossos Diários-Logo - pediu Lenny. A mulher sorriu e baixou-se, retirando dois livros iguais, de capa prateada, do balcão. Entregou um deles a Lenny e abriu lentamente os laços que seguravam o outro. Pegou numa pena de pergaminho, molhou-a no tinteiro e escreveu "Este é o mais recente modelo do Diários-Logo, cada par custa sete galeões".


Imediatamente, no diário que Lenny segurava apareceu a frase que a mulher escrevera no seu próprio diário. 
-Experimente a menina - propôs a mulher, estendendo-lhe a pena. Lenny acedeu e escreveu no seu diário: "Acho que vou levar" e essa mesma frase apareceu no diário que a mulher segurava.
-E o melhor - voltou a mulher, sorrindo - é que sempre que as pessoas chegam à última folha, o diário coloca as páginas já escritas numa espécie de "pasta", na primeira folha, e renova depois as folhas, ficando estas em branco. Sempre que desejar ler as conversas que teve com o companheiro, é só clicar na pasta respetiva.
Lenny achou que aquele sistema se parecia muito com os dos computadores dos Muggles: eles também organizavam as coisas em ficheiros e pastas, guardando-os para os consultarem mais tarde.
-Bom, vai levar, então? - questionou a feiticeira. Lenny assentiu e a senhora retirou delicadamente o diário das mãos de Lenny, colocando-o a ele e ao dela de volta ao balcão. Depois, dirigiu-se a um armário de vidro com cristais incrustados, abriu-o e retirou de lá dois Diários-Logo iguais aos que ela e Lenny haviam usado. 
-Pode embrulhar um? - pediu Lenny - é para oferta.
-Com certeza - sorriu a mulher e pegou na varinha que tinha no balcão. Com um movimento gracioso, a senhora fez aparecer um embrulho azul-escuro com estrelas brancas a brilhar. Lenny estendeu-lhe o dinheiro e quando a rapariga saiu da loja avistou a avó a falar com uma feiticeira grande e de rosto amável. Ficou a ver uma montra de gelados até a avó se despedir da amiga.
-Então, já compraste tudo? - perguntou ela, aproximando-se da neta, carregada de sacos.
-Já e tu?
-Também. Vamos andando para casa, então, sim?
Lenny assentiu e dirigiram-se ao Caldeirão Escoante, o pub que era uma passagem entre Diagon-Al e Londres.

*

Depois do almoço, Lenny tratou de embrulhar as restantes prendas e escreveu cartões de Boas Festas para todos, agradecendo a ajuda que lhe deram. Não pôde escrever no cartão de Draco a exprimir os seus sentimentos, não fosse o pai dele ver e desatar a fazer perguntas sobre o que teria ele com "Daphne". Pôs o presente de Draco e o de Daphne num grande saco, os dos Weasley num saco ainda maior e o de Hermione e de Harry em sacos individuais. Pô-los à porta de casa pois a avó disse-lhe que passaria pelo Correio Mágico das Corujas, situado também na Diagon-Al, entregar os presentes às corujas, já que Hedz não conseguia carregar tudo aquilo sozinha.
A tarde passou lentamente, e, apesar de não nevar, a chuva fustigou as janelas e o vento ouvia-se da lareira. Lenny passou a tarde toda a fazer os trabalhos de casa, chegando a escrever metros de pergaminho para Transfiguração, Astronomia, Defesa contra as Artes das Trevas, Poções, etc. No dia seguinte trataria de começar a fazer revisões. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Explicações & Despedidas

Um silêncio demorado instalou-se no gabinete de McGonagall e ninguém se atreveu a falar. 
-Ora, muito bem - proferiu ela passado algum tempo - desde já algum tempo para cá vim a duvidar o porquê de este ano os alunos parecerem andar muito calmos, em especial vocês, Harry, Ron e Hermione, que parece que nunca ficam parados. Claro que o Fred e George continuaram com as suas partidas habituais, mas a chegada da Lenny parecia-me ser um incentivo para que começassem a investigar. E foi o que fizeram, não foi?
A diretora olhou-os com uma expressão divertida.
-Porque estava o Braxton a tentar entrar na minha mente? - sibilou Harry, de repente. Braxton cerrou os lábios e olhou-o desdenhosamente, mas McGonagall assentiu.
-Vocês certamente sabem que não sou a favor do ensino de Legilimância em Hogwarts, por achar que invade a privacidade de cada um, mas o Braxton, sendo um bom Legilimens, sabe escolher que pensamentos há-de analisar e por isso pedi-lhe, excecionalmente, que visse o que vocês andam a tramar. 
-E porque escolheu o Harry e o Draco? - questionou Lenny, apercebendo-se de que era provavelmente a primeira vez que fazia uma pergunta direta à diretora
-Queríamos obter diferentes versões da história e quem melhor para isso do que duas pessoas tão distintas como o Harry Potter e o Draco Malfoy? - concluiu a professora de Transfiguração.
-Isso quer dizer que estão a par de tudo o que sabemos sobre os pais da Lenny? - interrogou Hermione - a visita a Hogsmeade, as visões dela...
-Sim - respondeu a professora.
-Mas... diretora.. não tinha esse direito - sussurrou Ginny.
McGonagall, para espanto de todos, sorriu.
-Eu também tive uma espécie de visão, ontem à noite. Ouvi o Michael dizer que gostaria que houvesse alguém que protegesse a Lenny nesta jornada. 
-O meu pai... falou consigo? - Lenny arregalou os olhos de espanto enquanto Minerva acenava afirmativamente com a cabeça.
-Mas como é que a Lenny ouviu a mãe a falar, quando esta não teve intenção de contactar a filha? - questionou Draco.
-A Melanie foi de toda a gente que ensinei, uma das melhores a Legilimância e Oclumância - explicou Braxton, referindo-se à mãe de Lenny - no seu sétimo ano veio pedir-me pessoalmente que a ensinasse.
-Então, a Lenny, mesmo sem ter alguma vez praticado, é uma Legilimens e talvez também uma Occlumens? - interpelou Fred.
-Supomos bem que sim - concordou McGonagall e uma nova onda de confusão invadiu o espírito de Lenny. Seria ela capaz de praticar não só a arte de invadir a mente de outras pessoas, mas também a arte de fechar a sua própria mente a invasores, resguardando assim os seus pensamentos e emoções? Era essa a arte da Oclumância e um Occlumens era quem a praticava, quem conseguia fechar a sua mente, sendo as únicas pessoas capazes de ocultar a verdade a um Legilimens. 
-Mas cremos que a Legilimância e a Oclumância se revelem de forma diferente na Lenny. De forma involuntária. Calculo que saibam que a maioria dos praticantes destas artes só se conseguem fazer valer pelo uso da varinha, embora haja feiticeiros muito qualificados que as consigam praticar sem varinha ou mesmo sem pronunciar um único som - comunicou a Chefe de Equipa de Gryffindor - mas não há registo de alguém com apenas dezassete anos e sem nunca ter praticado que consiga aceder assim à mente de alguém, ainda para mais de alguém muito bom nessas artes, embora, claro, a Melanie não tenha fechado a sua mente. De outra maneira, seria impossível, mesmo ao melhor Legilimens do mundo, invadir a mente da Melanie.
-E, pelos vistos, houve um pingo de sensatez em algumas pessoas aqui presentes - disse Braxton, os olhos vacilantes sobre Hermione e Draco - que aconselharam a menina Gant a vir falar connosco.
-Lenny, gostarias realmente de aprender as artes da Legilimância e da Oclumância? - perguntou McGonagall - isto é, de aprofundar os teus conhecimentos e de conseguir controlar a tua mente, uma vez que estas artes parecem ser muito involuntárias e incontroladas em ti?
Lenny abriu a boca para responder, porém, antes de o conseguir fazer, Braxton interveio:
-E, para quem não sabe, há aqui outro Occlumens presente.
Os alunos viraram-se todos para Harry, que fez uma expressão de espanto.
-Disseste-nos que não te tinhas dado bem com a Oclumância, quando tiveste aquelas aulas com o professor Snape! - insinuou Hermione.
-E não me dei! Eu não sou bom a Oclumância! - defendeu-se Harry.
-E, de facto, não é - redarguiu Braxton, fixando o olhar em Draco.
-Ele? - disse George num murmúrio. 
-Não me digam que não se questionaram porque é que o Draco conseguiu resistir mais ao meu poder que o Potter - resmungou o professor de Defesa contra as Artes das Trevas - já que o Potter costuma ser sempre o melhor, não é?
De facto, Draco conseguira aguentar-se em pé durante o Baile de Inverno e Harry não.
-Porque nunca me contaste? - indagou Lenny, baixinho. Draco encolheu os ombros.
-Não me orgulho do motivo pelo qual tive de aprender Oclumância - declarou ele, olhando para o chão e Lenny arrependeu-se de imediato de ter tocado naquele assunto. 
-Foi o Snape que te ensinou? - inquiriu Ginny.
-Não. Foi a minha tia, Bellatrix Lestrange. Nas férias de verão do segundo ano - Draco olhava agora em frente, fixando um ponto qualquer. Lenny soube porque Draco aprendera a arte de fechar a sua mente: para que ninguém conseguisse descobrir a missão que Draco, tendo-se tornado num Devorador da Morte, fora encarregado por Voldemort de fazer: matar Dumbledore no seu sexto ano, sem, no entanto, ter tido coragem de o fazer.
-Bom - prosseguiu Braxton, virando a atenção dos alunos para si - não vou permitir que a menina Gant ou qualquer outro de vocês, que possa querer aprender estas artes, entre na minha mente, pelo que vou precisar de um voluntário que possa treinar com ela, quando a menina Gant estiver a treinar Legilimância.
Lenny achou que aquela atitude não era nada altruísta nem digna de um professor, mas compreendeu que ela também não gostaria que andassem a remexer nos seus pensamentos e emoções. Fred, George, Ginny, Hermione e Ron trocaram breves olhares, mas Draco disse prontamente:
-Eu não me importo de treinar com a Lenny. Além disso, sou o único de nós, alunos, que sabe Oclumância e acho que, por isso, lhe serei útil.
Lenny sentiu uma tremenda ternura por Draco: devia ser horrível saber que alguém lhe iria, certamente, entrar na mente e Draco era tão fechado e já tinha passado por tanto...
-Draco, não vais poder fechar completamente a tua mente, porque senão a Lenny não vai conseguir treinar Legilimância. Não há problema? - inquiriu McGonagall e Draco abanou levemente a cabeça, concordando. Lenny sorriu-lhe, agradecida - bom, então acho que está tudo. Acho que por esta altura o baile deve estar a acabar, pelo que vos aconselho a dirigirem-se aos vossos dormitórios. Depois das férias de Natal poderão começar a treinar. 
Lenny foi atingida por uma sensação devastadora: com todos aqueles acontecimentos repentinos não lhe passara pela cabeça nem uma única vez que não veria Draco nem os restantes amigos durante os próximos quinze dias, e esse período de tempo parecia-lhe interminável. Por outro lado, veria a avó, que já não via há meses.
Em silêncio, um a um, levantaram-se das cadeiras e saíram do gabinete da diretora, dirigindo-se cada um aos respetivos dormitórios.

*

No dia seguinte, ninguém se lembrava, claro, do que ocorrera com Harry e Draco durante o Baile no dia anterior, devido ao feitiço que McGonagall lançara sobre todos. Lenny ficou a saber, por algumas conversas que ouviu, que os Weird Sisters haviam dado uma sessão de autógrafos depois do concerto no Baile.
Lenny fez a mala lentamente, foi ao Celeiro das Corujas buscar Hedz, pô-la na gaiola e encaminhou-se para os portões da escola, juntando-se aos outros na caminhada para Hogsmeade, sítio onde eles iriam apanhar o comboio. Quando lá chegaram, o Expresso de Hogwarts já lá estava e Lenny relembrou-se instantaneamente da primeira vez que embarcara a bordo naquele comboio. Às onze horas da manhã certas, entraram no comboio.
Lenny passou metade da viagem do Expresso de Hogwarts num compartimento com Draco, Daphne, Pansy, Gregory e Vincent e a outra metade com Harry, Ron, Hermione e Ginny, a que se depois lhe juntaram Fred e George.
O facto de, em Hogwarts, nunca haver testes nem exames no fim de cada período escolar, como era habitual na escola dos Muggles, mas sim apenas os EFBE's (Exames de Feitiçaria Barbaramente Extenuantes) no final do sétimo ano, em Junho, e cujos exames se prolongariam durante duas semanas (o quinto ano teria os NPF's -Níveis Puxados de Feitiçaria, enquanto que os outros anos teriam exames normais, também no fim do ano) e tudo aquilo que acontecera com os seus pais fazia com que Lenny não se andasse a preocupar o que devia com os estudos. Na verdade, muitos alunos do sétimo ano andavam já stressados pela pressão dos exames, dado que eles contribuiriam, de forma direta, na escolha da profissão futura e exerciam grande influência nessa mesma escolha. Lenny ouvira falar de relatos de desmaios durante os exames, de ataques de pânico, do tráfico na escola de poções de estimular o cérebro, a inteligência ou de afastar o sono e foi durante a viagem no Expresso de Hogwarts, quando Lenny viu Hermione a ler afincadamente o manual do sétimo ano de Transfiguração que a rapariga tomou finalmente consciência de que também tinha, além dos pais, de se preocupar com os estudos. Aqueles exames determinariam em que áreas a rapariga teria mais probabilidades de arranjar emprego.
Por isso, decidiu que começaria a fazer apontamentos, resumos e revisões durante as férias de Natal, pois Lenny não gostava de deixar tudo para a última e nunca se saberia quando seria preciso ela ausentar-se da escola para procurar os pais: só esperava que não fosse nas duas semanas dos EFBE's, mas sabia que se tivesse de escolher entre os pais e os exames que não hesitaria nem por um segundo em ir à procura dos seus progenitores. Além disso, tinha também carradas de trabalhos de casa para fazer, que, certamente, a ajudariam no seu estudo.
A neve caiu durante quase toda a viagem, e os campos outrora verdes e preenchidos encontravam-se agora debaixo de uma camada branca de neve, enquanto as árvores agitavam os ramos frágeis ao sabor do vento. Os amigos Gryffindor de Lenny falaram durante toda a viagem, sobretudo sobre o que se passara no gabinete de McGonagall no dia anterior, mas Lenny ficara calada durante a maior parte do tempo, o olhar fixo na paisagem que passava, acenando ou abanando de vez em quando a cabeça quando alguns dos outros lhe fazia alguma pergunta. O mesmo se passou com os Slytherin: apenas ela e Draco sabiam do que se passara, mas a nenhum deles lhes apeteceu falar muito. Eram já seis da tarde quando o comboio parou, por fim, na plataforma 9 e 3/4. Lenny levantou-se do banco do compartimento, recolheu a sua bagagem e saiu do compartimento, seguida dos outros Gryffindor. Quando saíram para o ar frio da noite, Lenny despediu-se dos amigos.
-Obrigada por tudo - agradeceu ela, abraçando Hermione.
-De nada. Podes contar sempre connosco. Feliz Natal! - disse Hermione.
-Feliz Natal! - retribuiu Lenny. Depois de ter abraçado todos os amigos Gryffindor, vagueou o olhar pela multidão de alunos. Avistou Draco a falar com Pansy e dirigiu-se para lá. Draco e Pansy olharam para ela, o primeiro despediu-se de Pansy e levou Lenny para um local mais sossegado, resguardados pelas sombras recortantes dos candelabros.
-Adoraria que me escrevesses - começou Draco - mas por uma questão de segurança, não quero que o faças. Se o meu pai sabe que nós... eu e tu...
-Não te preocupes, eu não escrevo - resignou-se Lenny. De maneira alguma a rapariga queria criar conflitos entre Draco e o pai - mas gostaria de te mandar um presente de Natal.
Draco franziu o sobrolho, enquanto pensava.
-Tens o endereço da Daphne, não tens?
Lenny fez que sim com a cabeça.
-Envia-la para ela e ela envia-ma para mim. A Daphne é de confiança e o meu pai não se importa que eu me dê com ela. Eu faço o mesmo.
Lenny sorriu.
-Ok - olharam-se durante um momento e depois, lentamente, a multidão de pessoas começou a dispersar-se, à medida que passava a barreira de tijolo para a estação de King's Cross - acho que...
-Pois... - disse Draco ao mesmo tempo. Sorriram ambos e, num movimento inesperado, Draco segurou Lenny pela cintura e aproximou-a de si, beijando-a ternuramente.
-Vou ter saudades tuas - declarou Draco - feliz Natal.
-Eu também. Feliz Natal - Lenny abraçou-o intensamente e depois agarrou no carrinho com as malas e a gaiola de Hedz. Afastou-se em direção à barreira e sentiu um nó apertado na garganta. Mal se tinha separado de Draco e já o desejava... correu contra a barreira e entrou na estação, em Londres. Avistou a avó de imediato, junto de um quiosque de revistas e foi ter com ela. A estação estava quase vazia, mas a funcionária do quiosque deitou um olhar desconfiado a Hedz.
-Lenny! - sorriu a avó, abraçando-a - tinha tantas saudades tuas!
-Eu também, avó - sorriu Lenny e afastaram-se ambas do quiosque, seguindo em direção à saída da estação. Lenny avistou, ao longe, as cabeças ruivas de Ginny, Ron e os gémeos e o cabelo preto rebelde de Harry, juntamente com uma mulher gorducha e um homem alto e magro que Lenny calculou serem a Srª. e o Sr. Weasley. Harry iria passar o Natal com eles, na casa dos Weasley, a quem eles, carinhosamente, apelidavam de "A Toca". Lenny avistou o velho carocha azul da avó no parque de estacionamento da estação.

Carocha da avó de Lenny

Lenny colocou as malas no porta-bagagens do carro e sentou-se no banco de trás com a gaiola de Hedz, enquanto a avó se instalava ao volante. 
-Então, filha, de que estás à espera? Conta-me tudo! - pediu a avó, sorrindo-lhe pelo espelho retrovisor interno e Lenny começou a falar-lhe de Hogwarts, omitindo por completo as visões que havia tido com os pais, a Legilimância, a Oclumância, o que encontrara quando fora a Hogsmeade e rezando para que McGonagall não lhe tivesse já relatado tudo aquilo por carta.

sábado, 15 de junho de 2013

Legilimância

Lenny e Draco rodopiaram durante o que pareceram horas, ao som da música clássica. Draco fazia parecer a dança muito fácil: Lenny limitava-se a deixar-se levar por ele. A certa altura, a música clássica foi diminuindo de intensidade e as pessoas começaram a dirigir-se às mesas, apreciando os aperitivos ou usufruindo de uma refeição mais completa. Lenny optou pelos aperitivos, saboreando os bolinhos de abóbora, os biscoitos de gengibre ou os chapéus de açúcar. De repente, McGonagall bateu palmas e Flitwick acabou com a música.
-Bom, sei que muitos de vocês preferem outro tipo de música e por isso, decidimos convidar os Weird Sisters para tocar no nosso Baile.
A multidão rompeu em aplausos e exclamações de entusiasmo. Lenny já ouvira falar nos Weird Sisters, uma banda popular que, apesar do nome, era constituída por oito indivíduos masculinos. Os elementos da orquestra desceram do palco e guardaram os instrumentos, preparando-se para apreciar o resto do baile e McGonagall fez um súbito movimento com a varinha. De imediato uma parede escura apareceu entre o palco e as três grandes árvores de Natal e oito bolas de fumo estoiraram no palco platinado. Assim que o fumo desapareceu, cada elemento do grupo apareceu onde antes haviam caído as bolas de fumo. Vestiam-se de forma extravagante, tal e qual verdadeiras estrelas de rock. Saudaram o público e começaram a tocar uma música muito mexida, enquanto os alunos saltavam de braços no ar e abanavam o capacete.  


-Assim - declarou Lenny, falando num tom elevado para se sobrepor ao barulho da música - é que dançam os Muggles. 
Draco sorriu. A hora seguinte passou a correr: Lenny conversou com Harry, Hermione, Ron, Ginny, Fred, George, Neville e Luna enquanto Draco falava com Pansy, Daphne, Adrian, etc, dançou mais um pouco ao som das músicas dos Weird Sisters, observou os professores fora do seu elemento natural, conversando numa das mesas, etc. 
Subitamente, Lenny sentiu a música parar abruptamente, mas as pessoas em seu redor continuavam a dançar. Sentiu a cabeça rodopiar, mas ela encontrava-se parada. As imagens à sua volta rodaram a toda a velocidade e foram-se desvanecendo progressivamente, até Lenny ser cegada por uma neblina luminosa, substituída de imediato por uma escuridão que cegava mais que a luz, uma escuridão profunda e intensa, embrenhada até às profundezas do seu ser. E depois, ouviu claramente dentro da sua mente: "Oh, ela virá. Tenho a certeza". Era a voz da sua mãe, clara e segura, mas diferente das outras vezes. Parecia que desta vez não era Lenny quem estava a ser contactada, parecia ser ela a tentar contactar os pais, sem, no entanto, o conseguir. A mãe dela falava como se não soubesse que a filha estava a ouvir. Até ali, todas as visões que tivera, tudo o que ouvira dos pais, parecia que estava predestinado a ver ou ouvir, parecia que os pais queriam que ela soubesse de tudo aquilo, mas agora... agora era diferente, algo de invulgar e que não estava previsto acontecer. Eles não sabiam que ela estava a escutar. Então, porque estava ela?
Repentinamente, a escuridão negra desvaneceu-se , o som da música alta entrou-lhe pelos ouvidos dentro e o Baile de Inverno voltou a existir. A cabeça de Lenny rodopiou mais uma vez e esta sentiu-se tonta.
-Lenny, estás bem? - questionou uma voz. Draco estava ao seu lado, olhando-a atentamente. Lenny não lhe queria estragar a festa, a modos que tentou sorrir, mas ainda se encontrava muito tonta.
-Que se passa? - Lenny distinguiu a voz de Harry, que se aproximava, seguido de Ginny, Ron e Hermione.
-Não sei - respondeu Draco. Lenny abriu caminho por entre os colegas e afastou-se para junto das portas do Salão. A música dava-lhe dores de cabeça. Os outros seguiram-na, à exceção de Ron, que conseguiu arrastar Fred e George das suas companheiras.
-Eu ouvi-os - proferiu Lenny num fio de voz - aos meus pais.
-Outra vez? Como é que foi? - interpelou Ginny.
-Que disseram eles? - perguntou Draco.
-Não foi igual - assegurou Lenny - nada nem ninguém me tentou mostrar coisa alguma à pouco. É mais como... se eu tivesse invadido a mente deles, percebem? Ouvi a minha mãe e no entanto ela não se apercebeu disso... 
Hermione e Harry trocaram olhares cúmplices, enquanto Draco franzia o sobrolho, mas os outros ficaram confusos.
-Que disse a tua mãe? - perguntou Fred.
-"Oh, ela virá. Tenho a certeza" - citou Lenny.
-Parecia que estava a falar com alguém - observou George. 
-Eu acho... - começou Draco.
-É... - disseram Hermione e Harry ao mesmo tempo que Draco. Este encolheu os ombros.
-Falem vocês primeiro - disse.
-Acho que devias falar com a professora McGonagall, Lenny - sugeriu Hermione.
-Ou com o professor Braxton - propôs Draco, perante os olhares de desprezo dos outros, que não gostavam muito dele por estar sempre a favorecer os Slytherins.
-Porquê? Não lhes posso contar nada acerca disto, vocês sabem!  - exclamou Lenny.
-Mas eles percebem melhor disto do que nós - Harry olhou em volta, cravando o olhar na mesa onde se sentavam os professores.
-Disto o quê? - indagou Lenny.
-Sim, também não estou a perceber - concordou Ron, e Ginny e os gémeos acenaram com a cabeça.
Hermione olhou para Harry e para Draco, como que a assegurar-se de que podia falar.
-Nós achamos... - mordeu o lábio inferior - que acabaste de ter um momento como Legilimens.
Desta vez, os gémeos trocaram um olhar de compreensão.
-Esperem, a Lenny sabe Legilimância? - interrogou Ginny, num sussurro. 
Lenny arregalou os olhos. Não podia... ela não... ela nunca praticara Legilimância, nunca tivera contacto com  aquela arte! Mas de facto, também nunca havia feito um feitiço antes de vir para Hogwarts... mas a Legilimância era algo que se tinha que praticar muito, algo de muito complicado e complexo. Lenny havia lido sobre Legilimância algures num livro, mas nunca achara possível conseguir tornar-se uma Legilimens. Poucas pessoas o haviam conseguido, já que a arte de entrar na mente de outras pessoas e de ler e ver os seus pensamentos era extremamente difícil. 
-Eu não posso! Eu nunca... eu não tenho treino! - Lenny não sabia explicar como pudera aceder ao que ouvira, não sabia se tinha entrado na mente da mãe ou se fora alguma artimanha de alguém, mas, sem saber como, sabia com toda a certeza de que os pais não haviam provocado aquilo.
-Também não tinhas com os feitiços - comunicou Ginny - toda a gente sabe que és diferente, Lenny. Não há ninguém como tu, que consiga entrar no sétimo ano em Hogwarts sem ter realizado nenhum feitiço e em poucos meses tornar-se uma das melhores da escola a Defesa contra as Artes das Trevas, pelo menos... 
-Além disso, a tua mãe tem o dom de ver a razão e a verdade, não é? - perguntou Hermione e Lenny mal conseguiu esconder a felicidade que sentira ao ouvir Hermione falar no presente e não no passado - talvez isso também ajude... mas nenhum de nós sabe muito sobre isto... é por isso que te aconselhamos a falar com a McGonagall... ou o Braxton.
-Como é que falo com eles sem lhes revelar o que ouvi, sem lhes dizer tudo por que passei? - insinuou Lenny.
-Podes simplesmente dizer que gostarias de aprender Legilimância... - alvitrou Draco. Lenny sentia-se bastante confusa.
-Não me parece que vá ser assim tão simples  - replicou Lenny - não me parece que a Legilimância se ensine só porque alguém quer aprender.
De súbito, os joelhos de Harry tremeram e ele caiu no chão do Salão com estrondo. Ginny soltou um pequeno grito e ajoelhou-se a seu lado. Depois, Draco começou também a tremer, tentando manter-se em pé e parecendo oferecer mais resistência.
-Draco... - murmurou Lenny, agarrando-o por um braço e ajudando-o a manter-se em pé, enquanto Ginny, Ron e os gémeos tentavam ajudar Harry a levantar-se, mas ele parecia colado ao chão. 
-É o Braxton - murmurou Hermione. Lenny olhou para a mesa dos professores e viu que, de facto, Braxton tinha os lábios cerrados e fitava Harry e Draco com o olhar.
-Que raios está ele a fazer? - uivou Fred.
-Ele também é um Legilimens - explicou Hermione
-Então porque está a atacar o Harry e o Draco? - inquiriu Ron.
-Bom, não sei, de facto... mas que está a tentar aceder aos pensamentos do Harry e do Draco, lá isso está - confidenciou Hermione. Várias pessoas tinham parado de dançar para observar a cena e lentamente, a música extinguiu-se.
-Chega, Roger - ouviu-se a voz de McGonagall e Harry caiu de costas para trás, enquanto Draco parava de tremer - não se preocupem, alunos, os rapazes devem ter comido um bolinho estragado... Weird Sisters, continuem, por favor... o Baile não pode parar! - a diretora estalou os dedos e a música recomeçou a tocar, enquanto as pessoas dançavam e Lenny percebeu que McGonagall acabara de apagar aquele momento da memória de toda a gente sem ser de Lenny, Draco, Harry, Ron, Hermione, Ginny, Fred, George, Braxton e dela próprio. Rapidamente, McGonagall e Braxton aproximaram-se deles.
-Acho que precisamos de ter uma conversinha - sibilou Braxton.
-Vamos para o meu gabinete - disse McGonagall - todos nós. Há muito coisa por explicar.
E, sem dizer mais nada, a diretora abriu as portas do Salão. Hermione, Ron e Ginny seguiram-na, enquanto os gémeos levavam Harry pelos ombros e Lenny ajudava Draco. Braxton escoltava-os, fechando a porta do Salão atrás de si. Encaminharam-se pois, para o gabinete de McGonagall. Seguiram por um corredor escuro até chegarem a uma porta resguardada por duas gárgulas, onde a diretora murmurou a senha. As gárgulas afastaram-se, deixando-os passar e passaram a porta, subindo a escadaria em direção ao gabinete da diretora, que se situava na Torre da mesma. O gabinete era grande, bem iluminado e tinha prateleiras repletas de livros, bem como uma imponente secretária de madeira por debaixo de um grande candeeiro. Havia ainda duas escadarias que se encontravam num arco.
-Sentem-se - ordenou McGonagall, fazendo um gesto com a varinha que retirou do manto e fazendo aparecer nove cadeiras - tu também, Braxton.
Sentaram-se todos e a diretora olhou um por um.
-Então, quem quer começar?

Headmaster's Tower 2
Torre da Diretora
Gabinete da Diretora