Depressa chegou o último fim-de-semana do mês de Novembro e a neve voltou a cobrir os campos e a escola com uma espessa camada branca e fofa. O céu encontrava-se nublado e soprava um vento frio, mas os alunos estavam muito entusiasmados com a visita de estudo a Hogsmeade, principalmente os do terceiro ano, que lá iam pela primeira vez. Fred e George também pareciam muito ansiosos por voltarem a entrar na Loja de Brincadeiras Mágicas, Zonko’s, a preferida dos gémeos por incluir um número enorme e super variado de todo o tipo de partidas e brincadeiras.
Outra loja a que todos os alunos queriam ir era a Honeydukes, uma loja de doces com todo o tipo de guloseimas que se possa imaginar, desde os Feijões de Todos os Sabores de Bertie Bott, os Sapos de Chocolate, pastilhas elásticas Melhor Estouro de Droobles, Abelhas Efervescentes, gomas de dentaduras, aranhas, abóboras, escovas de dentes, serpentes, etc.
Lenny sentia-se entusiasmada mas nervosa e preocupada ao mesmo tempo. Por um lado, seria a primeira vez que iria a Hogsmeade (à exceção do dia em que chegara pelo Expresso de Hogwarts à estação de Hogsmeade, mas aí não tivera oportunidade de explorar a vila), a tão conhecida vila exclusiva de feiticeiros da Grã-Bretanha, onde não existia qualquer tipo de pessoa sem magia, mas por outro, e se Hogsmeade não a levasse a lado nenhum? E se a pista dos pais, isto se era mesmo deles, não passasse de uma coincidência?
À hora de almoço, Draco tentou animá-la, mas Lenny não conseguiu esconder a sua preocupação. Às duas da tarde, Hagrid e a professora McGonagall, os professores encarregues da visita, reuniram os alunos dos terceiros anos para cima com autorização de saída no pátio de entrada de Hogwarts. Lenny ficou junto a Draco, mas avistou um grande grupo de Gryffindors não muito longe dali, onde se incluíam Harry, Ron, Hermione, Ginny, Fred e George. Lenny reconheceu ainda Lee Jordan, o comentador oficial dos jogos de Quidditch da escola, Seamus Finnigan e Dean Thomas, dois rapazes da turma de Lenny e que eram bastante amigos de Harry, Ron e Hermione e Neville, olhando nervosamente em volta e sorrindo quando Luna Lovegood, a amiga deles e pertencente aos Ravenclaw, se aproximou. Todos pareciam estar felizes e Lenny sentiu-se novamente culpada por não saber em que sarilhos é que ia meter os amigos.
Os Slytherin, tal como as outras casas, conversaram animadamente durante todo o caminho até Hogsmeade, percorrido a pé. As botas pretas com pelo por dentro de Lenny calcavam a neve pesadamente e o frio batia-lhe asperamente na cara, mas não nevava e finalmente, às duas horas e meia da tarde, chegaram à vila.
Hogsmeade tinha um ar acolhedor: era um concentrado de casas de madeira e pedra agora cobertas por neve, um tanto parecida com Diagon-Al, pois os feiticeiros moviam-se livremente.

Hagrid bateu palmas para chamar a atenção dos alunos que olhavam em volta maravilhados e a professora McGonagall começou a falar:
-Muito bem, alunos. Têm agora duas horas para andarem livremente pela vila, mas não quero disparates, nem nenhum tipo de brincadeiras parvas, estamos entendidos? Também não quero que se aproximem da Cabana dos Gritos e se houver algum problema, eu e Hagrid estaremos na "Três Vassouras", o café da Madam Rosmerta. Daqui a exatamente duas horas encontramo-nos neste lugar, ok? Vá, podem ir!
Os alunos começaram a dispersar-se rapidamente pelos estabelecimentos, indo a maioria para a Honeydukes. Fred, George e Lee dirigiram-se para a Zonko's. Harry, Ron e Hermione aproximaram-se de Lenny.
-Por onde queres começar a procurar? - perguntou Harry.
-Não sei. Também gostava de ir visitar as lojas - confessou Lenny.
-Nós mostramos-tas, não demora nada - declarou Ron, olhando intencionalmente para Draco.
-Encontramo-nos aqui daqui a meia hora - disse ele, afastando-se com Gregory, Vincent, Pansy, Daphne, Adrian, Marcus e mais alguns Slytherin em direção à Honeydukes.
Na meia hora seguinte, Lenny entrou em quase todas as lojas de Hogsmeade: foram primeiro à Zonko's, onde Lenny pode ver com os seus próprios olhos centenas de diferentes partidas, jogos e brincadeiras, onde Fred, George, Lee e Ron abasteceram os bolsos e em seguida entraram na Honeydukes, onde compraram doces de variados feitios, desde gomas picantes a chocolates derretidos, etc. Lenny, Hermione e Ginny entraram ainda na Tomes & Scrolls, a livraria local, e numa loja de roupa e depois foram todos até às Três Vassouras, onde beberam as famosas cervejas de manteiga, que os aquecia por dentro. Lenny nunca bebera e gostou muito. Não eram alcoólicas e sabiam algo a laranja.
Saíram, então, para a rua fria, onde Fred e George se desculparam atabadoalhamente a Lee, dizendo que tinham que cuidar do irmão. Lee acabou por aceitar aquelas desculpas desconfiadamente e foi ter com outro grupo de Gryffindors. Pouco depois chegou Draco sozinho. Seguiu-se um minuto de silêncio incomodatório e finalmente Ginny perguntou:
-Então, por onde começamos?
-É melhor apressarmo-nos, só temos uma hora e meia - disse Hermione. Mas Lenny não sabia onde procurar. A pista dos pais levara-a apenas a Hogsmeade, não a um local específico dentro da vila. Mas de repente, uma coruja cinzenta escanzelada planou perto da cabeça deles e roubou o gorro de lã branco a Lenny, voando furtivamente pela rua adentro. Lenny apressou-se a segui-la e os outros imitaram-na. Sem se darem conta, foram dar a uma casinha pequena e aconchegante, de madeira castanha, cuja porta se encontrava aberta. A casa estava apenas iluminada pela lenha que ardia na lareira e a divisão onde se encontravam parecia ser uma cozinha: havia uma pequena mesa de madeira, um balcão preto e um pequeno sofá desbotado em frente da lareira. A coruja cinzenta pousou numa silhueta que se recortava entre as sombras. Lenny susteu a respiração. Depois, a silhueta virou-se e avançou para eles. Era tudo aquilo que Lenny não esperava. Era uma rapariga de grandes e bonitos olhos azuis-céu, que agora refletiam as chamas da lareira, compridos e lisos cabelos louros-platinados e lábios rosados. Era muito bela e encantadora. Um dos gémeos assobiou baixinho e todos os rapazes abriram a boca de espanto e arregalaram os olhos. Formou-se um nó na garganta de Lenny quando a rapariga sorriu. Draco olhava-a fixamente, claramente impressionado.
-Olá - a voz dela parecia ser ainda mais bonita e melodiosa. A coruja deixou cair o gorro de lã de Lenny na mão da rapariga - chamo-me Anastacia.
-Prazer em conhecer-te - disseram todos os rapazes automaticamente e em uníssono. Pareciam enfeitiçados. Lenny revirou os olhos.
-Acho que esse gorro aí é meu - declarou rudemente.
A rapariga fez questão de ignorar a brusquidão na voz de Lenny e estendeu-lhe o gorro.
-Oh, claro, desculpa... aqui tens - depois os seus olhos bailaram entre os rostos. Ergueu o sobrolho ao ver Harry, mas quando olhou melhor para Lenny ficou boquiaberta. De súbito, um homem e uma mulher entraram em casa pela porta da frente, cada um carregando uma jarra de vidro. Ambos eram também muito bonitos e deviam ter cerca de quarenta anos. A mulher, tal como Anastacia, era loura e tinha olhos azuis, mas o homem era moreno e os seus olhos eram pretos. Quando todos se viraram para eles, a mulher emitiu um pequeno guincho enquanto os seus olhos fixavam a cicatriz de Harry, deixando cair a jarra ao chão, mas o homem gaguejou e deixou também ele cair a sua jarra, mas por outro motivo:
-Não, não pode ser... Lenny? Lenny Gant? É mesmo?
Lenny não sabia se devia ficar contente ou preocupada, mas não estava a perceber nada. Harry, Ron, Fred, George e Draco continuavam a olhar embasbacados para Anastacia, enquanto que Ginny e Hermione se encontravam muito juntas, olhando também elas com alguma relutância para Anastacia. A mulher apressou-se a reparar as jarras. Mas Lenny concentrou-se no homem. Parecia ser simpático e parecia conhecê-la.
-Sim, sou eu. Conhece-me?
O homem soltou uma pequena gargalhada rouca.
-Oh, se conheço... andei em Hogwarts ao mesmo tempo que os teus pais. Nessa altura eles mal se conheciam, mas o teu pai e eu fomos bons amigos. Parece-me que a Greylor - e apontou para a coruja - sabia que te tinha que trazer aqui. O vendedor bem me disse que ela era especial.
-Fale-me dos meus pais - pediu Lenny. Mas o homem olhou de soslaio para os rapazes.
-Creio que é melhor ires passear com a Greylor, Anastacia - resmungou, por entre dentes. Era óbvio que já lidara muitas vezes com aquele tipo de situação.
-Se não se importa... eu gostaria de conversar um pouco consigo, a sós - informou Lenny.
-Bom, ok. Então parece-me que não há problema em que os seus amigos desfrutem do resto da visita a Hogsmeade - afirmou o homem, enquanto Hermione e Ginny arrastavam os outros para fora da casa em direção às Três Vassouras. Anastacia sorriu-lhes em sinal de despedida e eles pareciam prestes a babar-se. Lenny fechou os punhos com força, irritada, mas pensou nos pais e tentou controlar-se. Agradeceu a Ginny e a Hermione com o olhar e começou a caminhar lado a lado com o homem.
-Chamo-me Carl Jonathan, não sei se o Michael alguma vez me referiu - começou ele e Lenny lembrou-se vagamente de que o pai lhe dissera que Carl fora um bom amigo - já tinha ouvido que a filha dos Gant ingressara no sétimo ano em Hogwarts este ano, tem sido um assunto bastante comentado por aqui. Os Gant eram poderosos e bons, toda a gente em Hogsmeade gostava deles.
-Como eram os meus pais no tempo da escola? - inquiriu Lenny, curiosa.
-Oh, bom... - sorriu Carl - o teu pai era uma pessoa muito bem-disposta. Dava-se bem com toda a gente, sabes? Até falava com o Severus Snape de vez em quando, e também com Roger Braxton.
Lenny admirou-se, pois sabia que Severus Snape não tinha sido uma pessoa fácil e provavelmente o professor Braxton também não, além de terem sido ambos Slytherins.
-Ele estava sempre disposto a ajudar toda a gente, sabes? E tinha um imenso jeito para Quidditch, ele! Os professores adoravam-no, era um aluno exemplar e já naquela altura dava mostras de vir a ser um grande feiticeiro. Já conseguia controlar o vento e a água com as mãos e a mente e adorava Defesa contra as Artes das Trevas.
-Nesse aspeto sou parecida com ele - comentou Lenny - a minha disciplina preferida também é Defesa contra as Artes das Trevas.
-E também vais ser uma grande feiticeira - Carl sorriu e continuou - a tua mãe era mais fechada, muito misteriosa e bonita. Os rapazes andavam todos de volta dela e as raparigas invejavam-na, mas ela estava sempre metida consigo mesma, perdida nos seus pensamentos. Era uma ótima aluna a Adivinhação, lembro-me eu, e quando amava alguém, era com força e para sempre. E tinha o dom de ver onde havia a verdade a razão, o que lhe era muito útil. Era uma boa pessoa, a Melanie, e muito corajosa também. Ambos muito poderosos, de facto.
Lenny sentiu um nó na garganta e apeteceu-lhe chorar, de súbito.
-Mas não me parece que o que te tenha trazido cá, quer tenha sido a Greylor ou qualquer outra coisa, te tenha trazido por causa do passado. A ti interessa-te mais o futuro, não é? - perguntou Carl e Lenny consentiu - eu também acredito que eles estejam vivos, mas sei tanto como tu, Lenny, lamento.
Lenny sentiu-se desanimada.
-Oh...
-Não fiques assim. Enquanto tu tiveres esperança, saberás que eles estão à tua espera, à espera que os leves de volta para o lugar onde pertencem - Carl sacou da sua varinha de madeira preta e flexível e fez um pequeno gesto. Um pequeno objeto apareceu-lhe na mão e quando Carl lhe pegou, Lenny constatou que era um colar de ouro, com uma pequena ampulheta cravada dentro de um círculo, com areia roxa na parte de cima e laranja na de baixo.
Lenny admirou-se, pois sabia que Severus Snape não tinha sido uma pessoa fácil e provavelmente o professor Braxton também não, além de terem sido ambos Slytherins.
-Ele estava sempre disposto a ajudar toda a gente, sabes? E tinha um imenso jeito para Quidditch, ele! Os professores adoravam-no, era um aluno exemplar e já naquela altura dava mostras de vir a ser um grande feiticeiro. Já conseguia controlar o vento e a água com as mãos e a mente e adorava Defesa contra as Artes das Trevas.
-Nesse aspeto sou parecida com ele - comentou Lenny - a minha disciplina preferida também é Defesa contra as Artes das Trevas.
-E também vais ser uma grande feiticeira - Carl sorriu e continuou - a tua mãe era mais fechada, muito misteriosa e bonita. Os rapazes andavam todos de volta dela e as raparigas invejavam-na, mas ela estava sempre metida consigo mesma, perdida nos seus pensamentos. Era uma ótima aluna a Adivinhação, lembro-me eu, e quando amava alguém, era com força e para sempre. E tinha o dom de ver onde havia a verdade a razão, o que lhe era muito útil. Era uma boa pessoa, a Melanie, e muito corajosa também. Ambos muito poderosos, de facto.
Lenny sentiu um nó na garganta e apeteceu-lhe chorar, de súbito.
-Mas não me parece que o que te tenha trazido cá, quer tenha sido a Greylor ou qualquer outra coisa, te tenha trazido por causa do passado. A ti interessa-te mais o futuro, não é? - perguntou Carl e Lenny consentiu - eu também acredito que eles estejam vivos, mas sei tanto como tu, Lenny, lamento.
Lenny sentiu-se desanimada.
-Oh...
-Não fiques assim. Enquanto tu tiveres esperança, saberás que eles estão à tua espera, à espera que os leves de volta para o lugar onde pertencem - Carl sacou da sua varinha de madeira preta e flexível e fez um pequeno gesto. Um pequeno objeto apareceu-lhe na mão e quando Carl lhe pegou, Lenny constatou que era um colar de ouro, com uma pequena ampulheta cravada dentro de um círculo, com areia roxa na parte de cima e laranja na de baixo.
-Os teus pais vieram visitar-me pouco antes da Batalha de Hogwarts - admitiu Carl - e a tua mãe deu-me isto, pedindo-me que, se alguma vez te chegasse a encontrar, to entregasse. Ao início pensei que fosse um Vira-Tempo, um colar que nos permite voltar atrás no tempo, mas que arrecada muitas consequências para o futuro caso alteremos algo, mas depois apercebi-me que não. Não sei como funciona, Lenny, mas tem alguma utilidade, isso podes ter a certeza.
-Obrigada, Carl - agradeceu Lenny, mais animada. Pôs o colar ao pescoço, por dentro do pólo e depois apertou a mão a Carl.
-De nada. Se precisares de alguma coisa, sabes onde me encontrar. Boa sorte na tua jornada, Lenny.
Lenny sorriu em resposta e Carl, deu meia volta e desapareceu. Lenny entrou nas Três Vassouras e avistou os seus amigos sentados em duas mesas redondas. Foi ter com eles.
-Então, já pararam de se babar? - questionou ela, duramente. Os gémeos encolheram os ombros, extasiados, mas Harry, Ron e Draco afirmaram:
-Não tivemos culpa.
-Desculpem? - Lenny estava perplexa.
-Lenny, a Anastacia é metade Veela - aludiu Hermione, baixinho. Então Lenny compreendeu. As Veela eram criaturas verdadeiramente belas que enfeitiçavam os homens com a sua beleza e desenvoltura, mas que quando se irritavam, eram capazes de se transformar numa espécie de hipogrifos raivosos.
-Como é que sabes? - interrogou Lenny.
-É óbvio. Tem todas as características físicas das Veela, e a mãe dela também. Provavelmente a avó dela foi uma verdadeira Veela. Até era algo parecida com a Fleur Delacour.
Fleur Delacour fora uma aluna da escola Beauxbatons e que era agora casada com Bill Weasley, um dos irmãos mais velhos de Ron, Fred e George e que combatera na Batalha de Hogwarts. Fleur também era metade Veela. Draco levantou-se.
-Desculpa, eu não devia ter...
-Não faz mal - Lenny encolheu os ombros. Depois sorriu levemente - sabiam que o meu pai se dava com o Snape e com Braxton, na altura em que frequentou Hogwarts?
E olharam todos, até Draco, estarrecidos para Lenny, com verdadeiras expressões de horror e surpresa espelhadas nos rostos. Lenny sorriu e começou a relatar-lhes aquilo que Carl lhe contara.


