sábado, 18 de maio de 2013

A visita de estudo a Hogsmeade

Depressa chegou o último fim-de-semana do mês de Novembro e a neve voltou a cobrir os campos e a escola com uma espessa camada branca e fofa. O céu encontrava-se nublado e soprava um vento frio, mas os alunos estavam muito entusiasmados com a visita de estudo a Hogsmeade, principalmente os do terceiro ano, que lá iam pela primeira vez. Fred e George também pareciam muito ansiosos por voltarem a entrar na Loja de Brincadeiras Mágicas, Zonko’s, a preferida dos gémeos por incluir um número enorme e super variado de todo o tipo de partidas e brincadeiras. 



Outra loja a que todos os alunos queriam ir era a Honeydukes, uma loja de doces com todo o tipo de guloseimas que se possa imaginar, desde os Feijões de Todos os Sabores de Bertie Bott, os Sapos de Chocolate, pastilhas elásticas Melhor Estouro de Droobles, Abelhas Efervescentes, gomas de dentaduras, aranhas, abóboras, escovas de dentes, serpentes, etc.
Lenny sentia-se entusiasmada mas nervosa e preocupada ao mesmo tempo. Por um lado, seria a primeira vez que iria a Hogsmeade (à exceção do dia em que chegara pelo Expresso de Hogwarts à estação de Hogsmeade, mas aí não tivera oportunidade de explorar a vila), a tão conhecida vila exclusiva de feiticeiros da Grã-Bretanha, onde não existia qualquer tipo de pessoa sem magia, mas por outro, e se Hogsmeade não a levasse a lado nenhum? E se a pista dos pais, isto se era mesmo deles, não passasse de uma coincidência?
À hora de almoço, Draco tentou animá-la, mas Lenny não conseguiu esconder a sua preocupação. Às duas da tarde, Hagrid e a professora McGonagall, os professores encarregues da visita, reuniram os alunos dos terceiros anos para cima com autorização de saída no pátio de entrada de Hogwarts. Lenny ficou junto a Draco, mas avistou um grande grupo de Gryffindors não muito longe dali, onde se incluíam Harry, Ron, Hermione, Ginny, Fred e George. Lenny reconheceu ainda Lee Jordan, o comentador oficial dos jogos de Quidditch da escola, Seamus Finnigan e Dean Thomas, dois rapazes da turma de Lenny e que eram bastante amigos de Harry, Ron e Hermione e Neville, olhando nervosamente em volta e sorrindo quando Luna Lovegood, a amiga deles e pertencente aos Ravenclaw, se aproximou. Todos pareciam estar felizes e Lenny sentiu-se novamente culpada por não saber em que sarilhos é que ia meter os amigos.
Os Slytherin, tal como as outras casas, conversaram animadamente durante todo o caminho até Hogsmeade, percorrido a pé. As botas pretas com pelo por dentro de Lenny calcavam a neve pesadamente e o frio batia-lhe asperamente na cara, mas não nevava e finalmente, às duas horas e meia da tarde, chegaram à vila. 
Hogsmeade tinha um ar acolhedor: era um concentrado de casas de madeira e pedra agora cobertas por neve, um tanto parecida com Diagon-Al, pois os feiticeiros moviam-se livremente.


Hagrid bateu palmas para chamar a atenção dos alunos que olhavam em volta maravilhados e a professora McGonagall começou a falar:
-Muito bem, alunos. Têm agora duas horas para andarem livremente pela vila, mas não quero disparates, nem nenhum tipo de brincadeiras parvas, estamos entendidos? Também não quero que se aproximem da Cabana dos Gritos e se houver algum problema, eu e Hagrid estaremos na "Três Vassouras", o café da Madam Rosmerta. Daqui a exatamente duas horas encontramo-nos neste lugar, ok? Vá, podem ir!
Os alunos começaram a dispersar-se rapidamente pelos estabelecimentos, indo a maioria para a Honeydukes. Fred, George e Lee dirigiram-se para a Zonko's. Harry, Ron e Hermione aproximaram-se de Lenny.
-Por onde queres começar a procurar? - perguntou Harry.
-Não sei. Também gostava de ir visitar as lojas - confessou Lenny.
-Nós mostramos-tas, não demora nada - declarou Ron, olhando intencionalmente para Draco.
-Encontramo-nos aqui daqui a meia hora - disse ele, afastando-se com Gregory, Vincent, Pansy, Daphne, Adrian, Marcus e mais alguns Slytherin em direção à Honeydukes.
Na meia hora seguinte, Lenny entrou em quase todas as lojas de Hogsmeade: foram primeiro à Zonko's, onde Lenny pode ver com os seus próprios olhos centenas de diferentes partidas, jogos e brincadeiras, onde Fred, George, Lee e Ron abasteceram os bolsos e em seguida entraram na Honeydukes, onde compraram doces de variados feitios, desde gomas picantes a chocolates derretidos, etc. Lenny, Hermione e Ginny entraram ainda na Tomes & Scrolls, a livraria local, e numa loja de roupa e depois foram todos até às Três Vassouras, onde beberam as famosas cervejas de manteiga, que os aquecia por dentro. Lenny nunca bebera e gostou muito. Não eram alcoólicas e sabiam algo a laranja. 


Saíram, então, para a rua fria, onde Fred e George se desculparam atabadoalhamente a Lee, dizendo que tinham que cuidar do irmão. Lee acabou por aceitar aquelas desculpas desconfiadamente e foi ter com outro grupo de Gryffindors. Pouco depois chegou Draco sozinho. Seguiu-se um minuto de silêncio incomodatório e finalmente Ginny perguntou:
-Então, por onde começamos? 
-É melhor apressarmo-nos, só temos uma hora e meia - disse Hermione. Mas Lenny não sabia onde procurar. A pista dos pais levara-a apenas a Hogsmeade, não a um local específico dentro da vila. Mas de repente, uma coruja cinzenta escanzelada planou perto da cabeça deles e roubou o gorro de lã branco a Lenny, voando furtivamente pela rua adentro. Lenny apressou-se a segui-la  e os outros imitaram-na. Sem se darem conta, foram dar a uma casinha pequena e aconchegante, de madeira castanha, cuja porta se encontrava aberta. A casa estava apenas iluminada pela lenha que ardia na lareira e a divisão onde se encontravam parecia ser uma cozinha: havia uma pequena mesa de madeira, um balcão preto e um pequeno sofá desbotado em frente da lareira. A coruja cinzenta pousou numa silhueta que se recortava entre as sombras. Lenny susteu a respiração. Depois, a silhueta virou-se e avançou para eles. Era tudo aquilo que Lenny não esperava. Era uma rapariga de grandes e bonitos olhos azuis-céu, que agora refletiam as chamas da lareira, compridos e lisos cabelos louros-platinados e lábios rosados. Era muito bela e encantadora. Um dos gémeos assobiou baixinho e todos os rapazes abriram a boca de espanto e arregalaram os olhos. Formou-se um nó na garganta de Lenny quando a rapariga sorriu. Draco olhava-a fixamente, claramente impressionado.
-Olá - a voz dela parecia ser ainda mais bonita e melodiosa. A coruja deixou cair o gorro de lã de Lenny na mão da rapariga - chamo-me Anastacia.
-Prazer em conhecer-te - disseram todos os rapazes automaticamente e em uníssono. Pareciam enfeitiçados. Lenny revirou os olhos.
-Acho que esse gorro aí é meu - declarou rudemente. 
A rapariga fez questão de ignorar a brusquidão na voz de Lenny e estendeu-lhe o gorro.
-Oh, claro, desculpa... aqui tens - depois os seus olhos bailaram entre os rostos. Ergueu o sobrolho ao ver Harry, mas quando olhou melhor para Lenny ficou boquiaberta. De súbito, um homem e uma mulher entraram em casa pela porta da frente, cada um carregando uma jarra de vidro. Ambos eram também muito bonitos e deviam ter cerca de quarenta anos. A mulher, tal como Anastacia, era loura e tinha olhos azuis, mas o homem era moreno e os seus olhos eram pretos. Quando todos se viraram para eles, a mulher emitiu um pequeno guincho enquanto os seus olhos fixavam a cicatriz de Harry, deixando cair a jarra ao chão, mas o homem gaguejou e deixou também ele cair a sua jarra, mas por outro motivo: 
-Não, não pode ser... Lenny? Lenny Gant? É mesmo?
Lenny não sabia se devia ficar contente ou preocupada, mas não estava a perceber nada. Harry, Ron, Fred, George e Draco continuavam a olhar embasbacados para Anastacia, enquanto que Ginny e Hermione se encontravam muito juntas, olhando também elas com alguma relutância para Anastacia. A mulher apressou-se a reparar as jarras. Mas Lenny concentrou-se no homem. Parecia ser simpático e parecia conhecê-la.
-Sim, sou eu. Conhece-me?
O homem soltou uma pequena gargalhada rouca.
-Oh, se conheço... andei em Hogwarts ao mesmo tempo que os teus pais. Nessa altura eles mal se conheciam, mas o teu pai e eu fomos bons amigos. Parece-me que a Greylor - e apontou para a coruja - sabia que te tinha que trazer aqui. O vendedor bem me disse que ela era especial.
-Fale-me dos meus pais - pediu Lenny. Mas o homem olhou de soslaio para os rapazes.
-Creio que é melhor ires passear com a Greylor, Anastacia - resmungou, por entre dentes. Era óbvio que já lidara muitas vezes com aquele tipo de situação. 
-Se não se importa... eu gostaria de conversar um pouco consigo, a sós - informou Lenny.
-Bom, ok. Então parece-me que não há problema em que os seus amigos desfrutem do resto da visita a Hogsmeade - afirmou o homem, enquanto Hermione e Ginny arrastavam os outros para fora da casa em direção às Três Vassouras. Anastacia sorriu-lhes em sinal de despedida e eles pareciam prestes a babar-se. Lenny fechou os punhos com força, irritada, mas pensou nos pais e tentou controlar-se. Agradeceu a Ginny e a Hermione com o olhar e começou a caminhar lado a lado com o homem. 
-Chamo-me Carl Jonathan, não sei se o Michael alguma vez me referiu - começou ele e Lenny lembrou-se vagamente de que o pai lhe dissera que Carl fora um bom amigo - já tinha ouvido que a filha dos Gant ingressara no sétimo ano em Hogwarts este ano, tem sido um assunto bastante comentado por aqui. Os Gant eram poderosos e bons, toda a gente em Hogsmeade gostava deles.
-Como eram os meus pais no tempo da escola? - inquiriu Lenny, curiosa.
-Oh, bom... - sorriu Carl - o teu pai era uma pessoa muito bem-disposta. Dava-se bem com toda a gente, sabes? Até falava com o Severus Snape de vez em quando, e também com Roger Braxton.
Lenny admirou-se, pois sabia que Severus Snape não tinha sido uma pessoa fácil e provavelmente o professor Braxton também não, além de terem sido ambos Slytherins.
-Ele estava sempre disposto a ajudar toda a gente, sabes? E tinha um imenso jeito para Quidditch, ele! Os professores adoravam-no, era um aluno exemplar e já naquela altura dava mostras de vir a ser um grande feiticeiro. Já conseguia controlar o vento e a água com as mãos e a mente e adorava Defesa contra as Artes das Trevas.
-Nesse aspeto sou parecida com ele - comentou Lenny - a minha disciplina preferida também é Defesa contra as Artes das Trevas.
-E também vais ser uma grande feiticeira - Carl sorriu e continuou - a tua mãe era mais fechada, muito misteriosa e bonita. Os rapazes andavam todos de volta dela e as raparigas invejavam-na, mas ela estava sempre metida consigo mesma, perdida nos seus pensamentos. Era uma ótima aluna a Adivinhação, lembro-me eu, e quando amava alguém, era com força e para sempre. E tinha o dom de ver onde havia a verdade a razão, o que lhe era muito útil. Era uma boa pessoa, a Melanie, e muito corajosa também. Ambos muito poderosos, de facto.
Lenny sentiu um nó na garganta e apeteceu-lhe chorar, de súbito.
-Mas não me parece que o que te tenha trazido cá, quer tenha sido a Greylor ou qualquer outra coisa, te tenha trazido por causa do passado. A ti interessa-te mais o futuro, não é? - perguntou Carl e Lenny consentiu - eu também acredito que eles estejam vivos, mas sei tanto como tu, Lenny, lamento.
Lenny sentiu-se desanimada.
-Oh...
-Não fiques assim. Enquanto tu tiveres esperança, saberás que eles estão à tua espera, à espera que os leves de volta para o lugar onde pertencem - Carl sacou da sua varinha de madeira preta e flexível e fez um pequeno gesto. Um pequeno objeto apareceu-lhe na mão e quando Carl lhe pegou, Lenny constatou que era um colar de ouro, com uma pequena ampulheta cravada dentro de um círculo, com areia roxa na parte de cima e laranja na de baixo.


-Os teus pais vieram visitar-me pouco antes da Batalha de Hogwarts - admitiu Carl - e a tua mãe deu-me isto, pedindo-me que, se alguma vez te chegasse a encontrar, to entregasse. Ao início pensei que fosse um Vira-Tempo, um colar que nos permite voltar atrás no tempo, mas que arrecada muitas consequências para o futuro caso alteremos algo, mas depois apercebi-me que não. Não sei como funciona, Lenny, mas tem alguma utilidade, isso podes ter a certeza. 
-Obrigada, Carl - agradeceu Lenny, mais animada. Pôs o colar ao pescoço, por dentro do pólo e depois apertou a mão a Carl.
-De nada. Se precisares de alguma coisa, sabes onde me encontrar. Boa sorte na tua jornada, Lenny.
Lenny sorriu em resposta e Carl, deu meia volta e desapareceu. Lenny entrou nas Três Vassouras e avistou os seus amigos sentados em duas mesas redondas. Foi ter com eles. 
-Então, já pararam de se babar? - questionou ela, duramente. Os gémeos encolheram os ombros, extasiados, mas Harry, Ron e Draco afirmaram:
-Não tivemos culpa.
-Desculpem? - Lenny estava perplexa.
-Lenny, a Anastacia é metade Veela - aludiu Hermione, baixinho. Então Lenny compreendeu. As Veela eram criaturas verdadeiramente belas que enfeitiçavam os homens com a sua beleza e desenvoltura, mas que quando se irritavam, eram capazes de se transformar numa espécie de hipogrifos raivosos. 
-Como é que sabes? - interrogou Lenny.
-É óbvio. Tem todas as características físicas das Veela, e a mãe dela também. Provavelmente a avó dela foi uma verdadeira Veela. Até era algo parecida com a Fleur Delacour.
Fleur Delacour fora uma aluna da escola Beauxbatons e que era agora casada com Bill Weasley, um dos irmãos mais velhos de Ron, Fred e George e que combatera na Batalha de Hogwarts. Fleur também era metade Veela. Draco levantou-se.
-Desculpa, eu não devia ter...
-Não faz mal - Lenny encolheu os ombros. Depois sorriu levemente - sabiam que o meu pai se dava com o Snape e com Braxton, na altura em que frequentou Hogwarts?
E olharam todos, até Draco, estarrecidos para Lenny, com verdadeiras expressões de horror e surpresa espelhadas nos rostos. Lenny sorriu e começou a relatar-lhes aquilo que Carl lhe contara.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Gryffindor VS Slytherin

O jogo de Quidditch dos Slytherin contra os Gryffindor realizar-se-ia na quarta-feira após as aulas, ao fim da tarde. Marcus Flint quis que a equipa treinasse de manhã, antes das aulas e à tarde, depois destas, todos os dias até chegar o jogo. Lenny gostava cada vez mais daquilo: até quase não falhara nenhuma quaffle que os colegas mandaram e fora à Ala Hospitalar, que não lhe trazia muito boas memórias, acompanhada de Draco, falar com Miles que lhe contou as melhores estratégias de defesa e alguns pontos fracos dos adversários.
Na quarta-feira, o céu estava imensamente nublado e nuvens negras carregadas tornavam o cenário frio e medonho. Não chovia e fazia um vento forte. 
Lenny levantou-se, nervosa, arranjou-se e dirigiu-se ao Salão Nobre, onde Hedz, que agora já não ficava na gaiola no parapeito da janela do dormitório feminino de Lenny, mas sim no Celeiro das Corujas, um espaço da escola onde as corujas dos alunos ficavam, deixou cair um envelope bege em cima da mesa do pequeno-almoço, mesmo em frente a ela. Aquele era o método utilizado pelas corujas: entravam, todos os dias de manhã, ao pequeno-almoço, no Salão Nobre e deixavam cair a correspondência dos seus donos mesmo à frente deles. 
Lenny pegou no envelope bege e viu que era a resposta da carta que mandara no dia anterior à avó. Lenny contara-lhe sobre ser a nova keeper suplente dos Slytherin, que iria jogar contra os Gryffindor no dia seguinte, e agradecera-lhe por a avó lhe ter dado autorização para ir a Hogsmeade mas omitira por completo a verdadeira razão por que tanto lá queria ir. Lenny leu:


Depois do pequeno-almoço reforçado, onde Lenny comeu ovos e sandes de fiambre e queijo, chegou a aula de Adivinhação. A professora Trelawney pô-los a ler as mãos uns dos outros, mas Lenny só conseguia pensar no jogo de Quidditch de logo à tarde. Estava tão distraída que não viu Trelawney aproximar-se dela e a pôr-lhe a mão no ombro.
-Relaxa, filha - disse na sua voz misteriosa e sombria - e concentra-te. Além disso, tem cuidado com o dourado: pode rondar em ti como uma mosca - depois sorriu - será melhor usares óculos de sol!
Afastou-se e Lenny ficou baralhadíssima. Não era surpresa nenhuma que Trelawney, em quase todas as aulas, se saía com uma coisa daquelas e dizia algo sobre algum aluno que acontecia nesse dia: uma vez disse a Cho Chang, uma rapariga de origem asiática e por quem Harry tivera um fraquinho, para ela ter cuidado com o frio e nesse mesmo dia ela apareceu na Ala Hospitalar com uma constipação. 
-Não ligues - murmurou Draco - ela é doida. Como se fosse estar sol num dia como este!
-Tens razão - concordou Lenny, sorrindo.

*

As aulas pareciam arrastar-se sem fim. Lenny não prestara grande atenção a nenhuma delas e por pouco Braxton não retirou cinco pontos aos Slytherin, algo que ele odiava fazer.
Por fim, ao fim da tarde, Lenny e os outros dirigiram-se ao estádio de Quidditch. Agora chovia torrencialmente e o vento era cada vez mais forte, o que fez Lenny lembrar-se de que realmente a professora Trelawney não devia bater bem da cabeça. 
As bancadas estavam cheias de apoiantes dos Gryffindor e dos Slytherin, bem como alunos dos Ravenclaw e Hufflepuff que apoiavam os Gryffindor principalmente. No entanto, alguns deles, apoiavam os Slytherin apenas porque Lenny ia jogar como keeper e todos estavam abrigados em enormes guarda-chuvas e vestidos com impermeáveis. A bancada dos professores também estava cheia e Lee Jordan, o comentador oficial dos jogos de Quidditch em Hogwarts e um aluno do sétimo ano muito amigo de Fred e George e que era dos Gryffindor, também lá se encontrava. Ele era famoso por ser muito subjetivo e tendencioso: falava sempre mais dos Gryffindor do que dos outros e gritava injustiças quando algo prejudicava a sua equipa.
Antes de Madam Hooch dar o apito para começar o jogo, Marcus reuniu os seus jogadores e lembrou-lhes de algumas coisas importantes.
-Draco, não quero distrações. Ai de ti que tenhas a Snitch mesmo à tua frente e como estás mais interessado em escarnecer do Potter, não a apanhes. Gregory e Adrian, quero os vossos olhos fixos nas bludgers e que as lancem de encontro aos outros Gryffindor. Além disso, Adrian, vê se proteges a Lenny das bludgers dos Weasley. Agora, eu, o Blaise e o Vincent, temos apenas de fazer aquilo que treinámos: não podemos falhar e temos de dar tempo ao Draco para que ele apanhe a Snitch, já que só assim acaba o jogo. Em relação a ti, Lenny, é o teu primeiro jogo mas não quero que te deixes levar pelo entusiasmo. O teu objetivo é concentrares-te nas três chasers dos Gryffindor e proteger as balizas. Não quero que se preocupem com o tempo nem com o facto do Potter ter uma Flecha de Fogo. Ok, a vassoura dele é uma das melhores que existe na atualidade, mas as nossas Nimbus 2001 não lhe ficam atrás! Nós vamos vencê-los, ok? Estão prontos? Vamos!
Madam Hooch chamou Marcus e Angelina Johnson, a capitã da equipa dos Gryffindor, para darem um aperto de mão e depois deu início ao jogo com uma sopradela do seu apito. As catorze vassouras elevaram-se no ar e Lenny posicionou-se à frente do poste de golo do meio. Esforçou-se por localizar a quaffle, tentando ver por debaixo da chuva e do vento forte que fazia abanar a vassoura. A quaffle ia agora nas mãos de Angelina Johnson, que se dirigia furtivamente em direção às balizas dos Slytherin, enquanto Marcus e Vincent a tentavam atrapalhar. Angelina arremessou a bola com toda a força em direção à baliza esquerda, mas com uma pirueta, Lenny conseguiu agarrá-la e lançá-la para Blaise, que se encontrava a meio do campo e que voou até às balizas contrárias, onde Ron (que era o keeper dos Gryffindor) não pôde fazer nada para impedir que os Slytherin inaugurassem os marcadores. Cada golo valia dez pontos.
-E já está - disse Lee Jordan, contrariado - os Slytherin acabam de ganhar os primeiros pontos do jogo, com, devo reconhecer, um fantástico passe de Lenny Gant para Blaise Zabini. A novidade deste jogo é portanto, a nova keeper dos Slytherin que até agora não se tem portado nada mal, mas os Gryffindor, devo dizer, são bastante fortes e as nossas chasers, além de bonitas, dificilmente perdem um jogo e...
-Jordan! - ouviu-se a voz da professora McGonagall - importas-te de nos relatar o jogo em vez de estares para aí a caracterizar as nossas chasers?
A certa altura, uma bludger azul-escura dirigiu-se com toda a força para Lenny, que conseguiu desviar-se dela mesmo a tempo.
-Adrian! - berrou Marcus - lança-a de volta a alguém dos Gryffindor, depressa!
Adrian apressou-se a atirar a bola, com o seu bastão, com toda a força contra Katie Bell, outra das chasers dos Gryffindor que vinha lançada para marcar golo, que rodopiou no ar e perdeu a bola. Marcus não perdeu tempo e agarrou-a, passando-a a Vincent, posicionado perto da baliza esquerda dos Gryffindor, que marcou outro golo. Estava vinte a zero. 
Lenny viu Draco e Harry procurarem a Snitch furtivamente pelo campo. Ela tremia de frio enquanto a chuva a fustigava e a ensopava da cabeça aos pés. A sorte é que tinha um capacete, mas mesmo assim... A certa altura, enquanto Marcus marcava o terceiro golo para os Slytherin, Lenny, que acabava de se desviar de outra bludger por um triz, viu Draco olhá-la fixamente.
"Vá lá, Draco, não é altura para isto, vai procurar a Snitch!", pensou Lenny enquanto Lee Jordan não perdeu tempo a comentar aquela situação:
-E é por isto que nunca se deve ter o namorado ou a namorada na mesma equipa, já que Draco Malfoy, em vez de procurar a Snitch, está a observar Lenny Gant, provavelmente para saber se ela está bem e senão levou com a bludger do fantástico George Weasley, que é um dos meus melhores amigos, juntamente com o Fred, eles são incríveis! E se isto alguma vez se viu, sinceramente!
-Jordan! - berrou McGonagall. 
-Desculpe, professora, desculpe... mas... oh, olhem só, Malfoy não se limita a olhá-la, vai ter com ela para se certificar de que Gant está bem e...
De facto, Draco dirigia-se a Lenny. Esta tentava alertá-lo para se concentrar na Snitch, mas ele não a estava a ouvir. Adrian passou por ali, lançando uma bludger a Harry.
-Draco, vai procurar a Snitch, eu estou bem... - disse-lhe Lenny.
Mas de repente, uma bolinha dourada bailou-lhe diante dos olhos e rodou por cima da sua cabeça. Lenny, apesar da chuva, foi ofuscada pelo dourado brilhante da Snitch e lembrou-se das palavras da professora Trelawney: "Além disso, tem cuidado com o dourado: pode rondar em ti como uma mosca. Será melhor usares óculos de sol!"
Ela sempre tinha razão, mas Lenny partira do princípio que a professora se referia ao sol, que era o mais evidente. No entanto, Draco reparara naquilo e certamente se lembrara também das palavras da professora. A Snitch rondava agora por detrás do capacete de Lenny e Draco inclinou-se para Lenny, com um grande sorriso nos lábios. A audiência estava estupefacta, como Lee Jordan fez notar:
-E o que raio está o Malfoy a fazer? Irá beijar Gant mesmo a meio de um jogo? Ok, está a chover, é romântico, mas... Vá lá, eles podem fazer aquilo noutra altura, não é...
-Draco! - gritou Marcus, furioso. Mas Draco ignorou-os e beijou Lenny. A rapariga sabia que aquilo servia como uma maneira de distração: até ali ninguém suspeitava onde estava a Snitch, sem ser Adrian que já a vira e estava muitíssimo atento a qualquer bludger que pudesse interferir na vitória da sua equipa. Harry olhava espantado para a cena, enquanto pelo canto do olho tentava avistar a Snitch. E quando a viu, era tarde de mais. 
Draco agarrou na Snitch dourada com a mão direita, pois não se arriscava a perdê-la, e depois beijou Lenny intensamente. Em seguida, afastou-se e rodopiou na sua vassoura Nimbus 2001, erguendo o braço triunfantemente e mostrando a pequena bola dourada com asas na sua mão. Madam Hooch soou o apito final e Lee Jordan gaguejou.
-Mas c-como é q-que o M-Malfoy c-conseguiu agarrar a S-Snitch? E eu a pensar q-que ele ia a-apenas... - depois disse numa voz desolada - G-Gryffindor perdeu...
-Boa, Draco! - Lenny seguiu-o até ao relvado, onde as sete vassouras dos Slytherin pousaram. Marcus e Blaise puseram Draco aos ombros.
-Boa estratégia - sorriu Marcus - talvez o facto da Lenny ter entrado na equipa seja mais vantajoso do que nós pensámos. Olhem para ali, o Potter está incrédulo! 
De facto, Harry olhava-os atarantado, enquanto o resto da equipa dele parecia desolado. Lenny foi ter com eles e estendeu a mão a Angelina.
-Bom jogo - disse. Angelina apertou-lhe a mão forçadamente.
-És realmente uma boa keeper - comentou Harry quando Lenny lhe estendeu a mão - não nos deixaste pontuar nem uma vez.
-Espero que isto não interfira na nossa amizade - declarou Lenny.
-Claro que não, miúda! E conseguiste desviar-te de todas as nossas bludgers! - exclamou Fred enquanto George acenava em concordância, não conseguindo, no entanto, deixar de se sentir desanimado.
-Oh, isso foi só porque o Adrian me protegeu - garantiu Lenny. Ao ouvir o nome dele, as três chasers  (Katie Bell, Angelina Johnson e Alicia Spinnet) começaram a dar risinhos e Katie Bell corou levemente. Os gémeos Weasley e Ron reviraram os olhos. Parecia que o facto de Adrian ser um beater e lançar as bludgers contra elas não parecia incomodá-las. 
-Lenny! - chamou Draco.
-Bom, vemo-nos por aí - despediu-se a rapariga, enquanto Katie, Angelina e Alicia continuavam a mirar Adrian. 
-Afinal, a Trelawney sempre tinha razão - evidenciou Draco.
-Pois tinha. Acho que vou começar a dar-lhe ouvidos - sorriu Lenny - com esta vitória ficamos empatados com os Gryffindor em primeiro lugar no campeonato, não é?
-É - assentiu Marcus. Adrian deu-lhe uma cotovelada e Marcus respirou fundo.
-Em relação àquilo de seres rapariga... reconheço que estava enganado. És uma boa keeper. Desculpa lá isso - Marcus parecia realmente arrependido.
-Não faz mal, Marcus. Agora só quero entrar no castelo e tirar esta lama e chuva de cima de mim.
Os outros concordaram, e por entre vivas e festejos dos restantes Slytherins, entraram no castelo extremamente felizes. 

*

Depois de um bom banho de água quente e do jantar no Salão Nobre, os Slytherin foram comemorar a vitória na sua sala comum. 
-Viram a cara do Slughorn? - comentou Daphne - estava todo contente ao jantar!
-Claro, e a McGonagall estava furiosa! - concordou Millicent. 
-Ei, Adrian - chamou Lenny - obrigada pela proteção.
-De nada - Adrian encolheu os ombros - era o meu dever. 
Quando Lenny se virou para Draco, este olhava-a com um ar um pouco carrancudo.
-Que foi? - questionou ela.
-Andas muito amiguinha do Adrian - comentou ele.
-Que estás a insinuar? - perguntou ela, espantada.
-Nada.
-Oh, Draco, não estejas com ciúmes! Sabes bem que só gosto de ti! - sorriu Lenny.
Draco sorriu também.
-Mesmo?
-Claro! - Lenny abraçou Draco carinhosamente. Aquele fora um dos melhores dias da sua vida. 

sábado, 11 de maio de 2013

Coração de Serpente

Lenny andava mais animada desde que recebera a carta da avó a dar autorização à visita a Hogsmeade. Todos os seus amigos iriam também. A pouco e pouco a neve amainou, permitindo o recomeço dos treinos de Quidditich.
Marcus Flint, o capitão da equipa de Quidditch dos Slytherin e um dos três chasers da equipa não se importava nada quando o resto dos alunos dos Slytherin iam assistir aos seus treinos, era até uma forma de incentivo.
Lenny adorava ver Draco na sua posição de seeker, sempre à procura da pequena, dourada e veloz bolinha Snitch, mas a posição que mais lhe interessava era a de keeper, uma espécie de guarda-redes dos desportos coletivos como o futebol, o futsal e o andebol do mundo dos Muggles, que protegia as balizas (três altos aros) e tentava impedir que os chasers da equipa adversária marcassem pontos, tendo assim de evitar que eles lançassem a quaffle, uma bola vermelha do tamanho de uma bola de futebol, de encontro aos aros das balizas. Havia ainda os beaters, cuja função era vigiar e mandar para os adversários, munidos de um pequeno bastão, as bludgers, bolas duras e irrequietas que gostavam de fazer cair os jogadores das vassouras. 



Na equipa dos Slytherin, os chasers eram Marcus Flint, Vincent Crabbe e Blaise Zabini, o seeker era portanto Draco, o keeper Miles Blecthcley e os beaters Adrian Pucey e Gregory Goyle.
Naquela tarde de sábado, a meio de Novembro, Lenny assistia ao treino dos Slytherin juntamente com mais alguns colegas. A certa altura, Gregory Goyle perdeu a vista a uma das bludgers e esta, vendo-se livre do seu perseguidor, rumou rumo a Miles Blecthcley, acertando-lhe em cheio no braço direito, fazendo-o rodopiar e ir de encontro ao chão. Draco apressou-se a amparar-lhe a queda, agarrando-o pela capa.
-Miles, estás bem? – ouviu-se a voz de Draco, preocupada.
-Miles, desculpa, eu... – tentou Gregory desculpar-se. Mas Miles não respondeu. Parecia estar inconsciente. Lenny levantou-se das bancadas para ver melhor.
-Vincent e Blaise, levem o Miles até à Ala Hospitalar – ordenou Marcus num tom autoritário, aterrando no relvado do campo. Depois virou-se para Gregory – onde tinhas tu a cabeça? O nosso próximo jogo é contra os Gryffindor na próxima semana e eles são bons! Como é que pensas que vamos conseguir jogar sem ter ninguém que proteja as nossas balizas, hã? Não acho que o Draco consiga ser suficientemente rápido a apanhar a Snitch a ponto de nos poupar de uma humilhação e de uma derrota gigante contra aqueles convencidos pomposos!
O rapaz parecia exaltado e Gregory olhava para o relvado, embaraçado.
-Podemos tentar arranjar um suplente – sugeriu Adrian Pucey, um rapaz do sétimo ano bem constituído e bastante popular entre as raparigas.
-Mas não há ninguém! – gritou Marcus - ouviste bem, Adrian, ninguém!
Lenny desceu rapidamente da bancada e foi ter com eles ao relvado, com o coração a bater loucamente. O que é que ela estava a fazer? Lenny nunca pegara numa vassoura e nenhum dos professores lhe tinha pedido para isso. Mas ela gostaria de tentar e além disso, não queria ver a sua equipa perder. E claro, seria só enquanto Miles não estava em condições de jogar. Isto, claro, se Marcus e os outros não se importassem.
-Hum… eu poderia… tentar… ajudar-vos – disse ela. Olharam os quatro para ela, atarantados.
-Lenny? – murmurou Draco – conheces alguém que…
-Não propriamente – Lenny esboçou um sorriso forçado. Fez um movimento com a mão, pronunciou "Accio Vassoura do Miles" e a vassoura de Miles, estendida no chão, foi levada até à mão de Lenny, através dum Feitiço de Evocação básico e simples. De repente, esta sentiu-se como sempre soubesse o que tinha de fazer, como se tivesse nascido ensinada, tal e qual como sucedera com os feitiços. Lenny subiu para a vassoura e sentiu-lhe a força e a agilidade.
-Lenny, o que raio estás a fazer? – sussurrou Draco, nervoso.
-Se me deixarem, posso ser a vossa suplente – afirmou a rapariga, calmamente.
-Nem penses! – redarguiu Marcus.
-Mas vocês precisam de alguém! E ainda não me viram. Dêem-me uma oportunidade! – pediu ela.
-És uma rapariga – Marcus fez um sorriso desdenhoso. Pelo canto do olho, Lenny viu Adrian e Draco revirarem os olhos. Lenny ficou vermelha de raiva.
-Mesmo que seja alguém da equipa nacional de Quidditch, por ser uma rapariga tu não a deixarias entrar na equipa? Mas isso é a coisa mais imbecil que alguma vez ouvi! Os Gryffindor têm três chasers femininas! E eles vão à frente!
-Bom, duvido que tenhas qualidade para entrar na equipa nacional de Quidditch – contrapôs Marcus, ironicamente – e não quero incompetentes na minha equipa!
Lenny bufou de raiva e preparava-se para descer da vassoura quando esta, automaticamente e persentindo que Lenny a deixava arrancou a toda a velocidade em direção às balizas. Parecia gostar da presença de Lenny e parecia querer encorajá-la.
-Lenny! – chamou Draco. Lenny posicionou-se um pouco à frente da baliza do meio, de modo a conseguir ver as outras duas através da visão periférica.

De Quadribol poste da baliza

-Ponham-me à prova! – provocou ela, não tendo a certeza do que estava a fazer e esperando acima de tudo não estar a fazer figura de parva. A rapariga viu Pansy rir-se e apontar nas bancadas e viu também Draco e Adrian a olharem um para o outro e a acenarem discretamente com a cabeça. Ao mesmo tempo, agarraram cada um numa quaffle e lançaram-nas direitas às balizas com toda a força. A quaffle de Adrian chegou primeiro, pois fora arremessada com mais força, direita à baliza direita, mas Lenny, apesar da forte luz solar que lhe incidia nos olhos, do facto de ser uma principiante e de estar pela primeira vez montada numa vassoura, agarrou-a sem dificuldade, segurando-a firmemente debaixo do braço. Isto tudo aconteceu numa fração de segundo, pois a quaffle de Draco veio logo a seguir direita à baliza esquerda e Lenny, esticando-se para o lado e para baixo, conseguiu agarrá-la e pô-la também debaixo do braço. Lançou-lhas de volta.
-Mais uma vez! – pediu, contente. Draco e Adrian sorriram e atiraram-nas de novo, uma e outra vez. Lenny era mesmo boa naquilo. Apesar das quaffles virem com uma força e velocidade tal, nem uma lhe escapou. Marcus estava de boca aberta e Adrian e Draco começaram a falar com ele. Lenny olhou na direção das bancadas, onde, claro, Pansy a fulminava com o olhar. A primeira acenou-lhe vivamente mas não conseguiu mais do que um ranger de dentes como resposta.
-Ei, miúda! – chamou Marcus – chega aqui!
Lenny conseguia agora controlar a vassoura de Miles na perfeição e conduziu-a até junto dos rapazes. Pousou no chão suavemente e desceu da vassoura.
-Então, já deixaste o teu machismo de parte? – interpelou ela, sarcasticamente.
-Tens realmente algum jeito para isto – começou Marcus, ignorando-a – talvez te possa deixar jogar no lugar do Miles enquanto ele não puder jogar.
-Fixe! – exclamou a rapariga.
-Mas para isso, precisas de treinar. Ainda tens muito a aprender sobre a forma como jogamos e como as equipas adversárias jogam e também algumas técnicas e táticas. Acho que seria melhor falares com o Miles para ele te dar algumas explicações. De resto, o Draco dá-te um horário dos treinos. Aviso-te que nunca treinámos nem jogámos com raparigas e se pensas que vais ter tratamento especial, estás bem enganada. És completamente igual aos outros.
Lenny fez uma continência e sorriu.
-Sim, meu comandante.
Marcus ignorou-a novamente.
-Bom, por hoje é tudo. Quero-vos aqui amanhã bem cedo, prontos para treinar. Entendido?
Assentiram todos afirmativamente e Marcus foi-se embora.
-Obrigado – proferiu Gregory – vejo que não és tão inútil – e Draco fulminou o amigo com o olhar, mas este fez um gesto como que a dizer que ainda não acabara – quanto a Pansy diz. Se não tivesses sido tu, o Marcus ter-me-ia dado cabo da cabeça e sei lá se não me expulsaria da equipa.
Lenny encolheu os ombros.
-De nada.
Gregory afastou-se e depois Draco disse:
-Porque nunca me disseste que tinhas jeito para keeper?
-Nem eu sabia. Há muita coisa sobre mim que eu própria não sei, mas a pouco e pouco elas vão se revelando.
-Quero ver as caras dos Gryffindor quando virem quem é a nossa nova keeper! E então o Fred e o George! Eles adoram mandar as bludgers contra o keeper das equipas adversárias, tenho a certeza de que agora vão ter de mudar a estratégia! Afinal, até há vantagens nessa tua amizade com eles.
-Draco, eu não vou usar a minha amizade com eles de forma a beneficiar a equipa – asseverou Lenny.
-Eu sei, Len, mas, consciente ou inconscientemente, aqueles Weasley vão!
Lenny encolheu os ombros e só depois reparou em Adrian, que juntava as vassouras todas e punha as bolas de volta na mala aonde pertenciam.
-És tu quem costuma fazer isso? – inquiriu a rapariga. Adrian olhou para ela.
-Geralmente são os capitães das equipas, mas o Marcus nunca faz nada, deixa sempre alguém a arrumar por ele – Adrian não parecia sentir-se ressentido, apenas aborrecido – e desculpa lá aquilo que ele disse. Ele às vezes é uma beca idiota.
Draco assentiu com a cabeça.
-Oh, não faz mal, a sério! Não fiquei magoada – certificou Lenny com sinceridade.
-Ainda bem – Adrian pegou nas vassouras e na mala das bolas com algum esforço. Draco e Lenny ajudaram-no. Draco pegou na mala e Lenny em três das vassouras. Adrian sorriu a Lenny calorosamente – e bem-vinda à equipa, Lenny Gant.

*

Ao jantar, a notícia de que Miles se aleijara e de que Lenny o substituiria na função de keeper correu velozmente e deixou todos boquiabertos. Fred e George ultrapassaram a repugnância e foram até à mesa dos Slytherin, onde, num movimento desportista, lhe apertaram a mão.
-Até o próximo jogo. Não esperes que te demos descanso – disse Fred, mas algo na sua voz fez Lenny lembrar-se do que Draco dissera no campo de Quidditch naquela tarde.
-Temos de conseguir ganhar aos Gryffindor no próximo jogo – comentou Adrian – é a única forma de os passarmos antes das férias de Natal. O Marcus vai estar mais exigente que nunca.
-Há dois anos que não ganhamos – concordou Daphne e, ou foi impressão sua, ou Lenny vira os olhos da rapariga a brilhar enquanto Adrian lhe sorria brevemente.
-Espero que não leves muitas boladas – Pansy dirigiu-se a Lenny com um sorriso falso – isso seria mau para nós.
-Oh, claro, Pansy, não te preocupes. Vou tentar, mas, como sei que tenho o teu apoio, e isso é o que conta mais para mim, sei que vou conseguir! Obrigada! – sorriu Lenny, enquanto os outros soltavam leves gargalhadas. Pansy calou-se e corou, mal-humorada.
-Eu tenho a certeza de que a Lenny se vai portar lindamente – Draco rodeou-lhe os ombros com um braço.
-E eu tenho a certeza de que és tu que vais levar umas boladas se não me deixares comer em paz – Lenny retirou-lhe o braço dos ombros, mas beijou-o na face e vários Slytherins emitiram sons de beijos molhados. Lenny e Draco sorriram, contentes. Lenny sentiu que não podia ter ficado numa casa melhor. O Chapéu Selecionador não se enganara. O seu coração era realmente uma Serpente, ela pertencia verdadeiramente aos Slytherin.

Hogsmeade

Hogwarts é segura, mas não te dirá as respostas...
Olha através daquilo que não vês...
Grita pela felicidade...
Sente o bater do nosso coração...
Move-te, sabes que estás quase lá...
E resiste...
A tua jornada espera-te....
Deves continuar, nunca desistir...
E luta, e ama...

As palavras ressoavam na cabeça de Lenny quando esta acordou, no dia seguinte, a meio da tarde. Ainda se encontrava na Ala Hospitalar, mas apenas porque adormecera no dia anterior e Madam Pomfrey não tinha querido acordá-la. Durante o sonho que tivera, ouvira vozes: vozes distantes mas belas, suaves e leves como o vento, mas fortes e seguras como o rugido de um leão... eram as vozes dos pais, cristalinas e surreais. Lenny levantou-se da cama branca com uma energia redobrada e uma nova esperança: agora tinha quase a certeza de que os pais estavam vivos. De que outro modo poderia ela sentir o bater do coração deles? Era como se ele estivesse inserido na luz branca que via sempre a seguir ao verde de Avada Kedavra. E seriam os pais capazes de a contactar por sonhos? Teriam eles enviado todos aqueles sinais para lhe dar uma pista? Lenny tinha muitas questões e poucas respostas, mas iria em busca delas. Pegou num pedaço de pergaminho e escreveu as frases que ouvira no sonho com uma pena. De seguida, Madam Pomfrey entrou.
-A pé, Lenny?
-Sim, Madam Pomfrey - respondeu ela, escondendo o pergaminho atrás de si - sinto-me muito melhor. Poderia dar-me autorização para voltar à minha rotina, por favor?
Madam Pomfrey aproximou-se dela e pôs-lhe uma mão na testa.
-Hum, ok, sim, acho que estás melhor - a senhora escrevinhou algo num pergaminho e depois estendeu-lho - aqui tens. Se precisares de alguma coisa ou te sentires pior, não hesites em vir ver-me.
-Claro. Obrigada por tudo, Madam Pomfrey - Lenny ia a sair da ala, quando a Madam Pomfrey a chamou:
-Lenny, os meninos Malfoy, Potter e Weasley e a menina Granger têm vindo vê-la. Tem ali verdadeiros amigos.
-Eu sei - sorriu Lenny e desapareceu pelos corredores de Hogwarts.

*

Faltava pouco mais de uma hora para o jantar no Salão Nobre e Lenny encontrava-se sentada numa cadeira de veludo verde na sala comum dos Slytherin, olhando para as frases escritas no pergaminho, tentando encontrar alguma pista. Madam Pomfrey dispensara-a do resto das aulas daquele dia e àquela hora, a sala comum encontrava-se vazia, pois os que já haviam acabado as aulas gostavam de se ir sentar no pátio exterior, sentindo a neve a cair. 
Lenny tinha uma força renovada: tomara um bom banho de água quente, comera umas sandes de fiambre e queijo e estava decidida a decifrar aquele enigma. Ainda não falara com os amigos desde que saíra da Ala Hospitalar e não sabia se lhes havia de falar sobre tudo aquilo. Por um lado, sabia que eles a iriam ajudar, mas e se Lenny os fosse meter em algo perigoso e eles acabassem por sair magoados? Lenny não queria isso, decididamente. 
De repente, a porta da sala abriu-se e alguns alunos entraram de rompante. 
-Que seca a aula de História da Magia - Lenny reconheceu a voz de Pansy, enfadonha - cá para mim, deviam excluí-la. Só a Granger parece gostar.
-Lenny! - exclamou Draco, entrando também - não sabia que já tinhas saído da Ala Hospitalar.
-Sim, já saí - Lenny tentou esconder o pergaminho, mas Draco franziu o sobrolho.
-Que é isso?
-Isso o quê?
-Esse pedaço de pergaminho... é do Potter?
-O quê? - estranhou Lenny.
-Tem cuidado, Draco - disse Pansy, maldosamente, atrás dele - ela ainda anda aos segredinhos com ele sem tu saberes...
-Não é nada disso, Pansy - assegurou Lenny numa voz firme mas surpreendentemente calma.
-Bom, então o que é? - indagou ela.
-Não tens nada a ver com isso! - exaltou-se Lenny.
-Ui, cá para mim é mesmo do Pot...
Lenny fulminou-a com o olhar, passou por ela e saiu da sala comum dos Slytherin. Draco seguiu-a e agarrou-a por um braço, suavemente, mas com força suficiente para a fazer parar.
-Espera! - pediu - se não queres dizer o que isso é, tudo bem, mas ao menos diz-me se já estás melhor.
-Claro que já estou melhor. Senão a Madam Pomfrey não me teria deixado ir embora.
Draco olhou-a nos olhos.
-Tens a certeza de que está tudo bem? Tens andado estranha ultimamente... sabes que podes contar comigo.
Lenny cravou o olhar no chão e suspirou.
-Encontra-te comigo na biblioteca às vinte e uma horas, depois do jantar.
E deu meia-volta, pois ainda tinha mais pessoas para avisar.

*

Depois do jantar no Salão Nobre, que soubera a Lenny às mil maravilhas depois da comida e chás preparados pela Madam Pomfrey, Lenny foi até a uma das casas de banho da sala comum dos Slytherin, onde lavou os dentes e a cara. Ainda não estava certa de estar a fazer o correto, mas agora não havia volta a dar. Em seguida dirigiu-se à biblioteca. Hermione, Ron, Ginny e Harry foram os primeiros a chegar.
-Aqui estamos. O que se passa? - perguntou Harry, mas Lenny não respondeu pois Draco acabara de chegar e parecia confuso.
-O que é que eles estão a fazer aqui?
-Bom, eles também vieram porque... - começou Lenny.
-O quê, estavas à espera que fosse uma escapadela romântica entre vocês os dois? - Lenny reconheceu as vozes de Fred e George atrás de Draco. 
-E eles também? - Draco não parecia nada satisfeito.
-Quem está mal, muda-se - disse Ron.
-Porque não te mudas tu, tens menos coisas para acartar... - assanhou Draco. 
E começaram todos a discutir uns com os outros. Madam Pince mandou-os calar várias vezes, mas foi Lenny quem acabou com aquilo:
-Chega! Estou farta das vossas desavenças. Draco, faz o favor de não mandar bocas, isso não te fica bem - e Draco desviou o olhar. Ron soltou uma pequena gargalhada - e Ron, tu também. Vocês são todos meus amigos e não vos estou a pedir que se dêem bem, mas façam um esforço agora, pelo menos. Querem que eu vos conte aquilo que vos trouxe aqui, ou não?
-Claro - assentiu Hermione. Sentaram-se todos numa mesa de madeira e Lenny contou-lhes sobre tudo: falou-lhes sobre a visão que tivera na visita de estudo ao Lago Negro, nos rostos que vira na luz verde do Sem Forma, no que vira quando as velas se apagaram no jantar do Salão Nobre, no outro dia, nos sonhos que tivera enquanto estivera na Ala Hospitalar e por fim mostrou-lhes o pedaço de pergaminho onde escrevera as frases que ouvira os pais sussurrar-lhe durante um desses sonhos. 
-Eu sei que há uma pista escondida nestas palavras, mas não consigo detetá-la. Mas antes preciso de vos perguntar uma coisa. O que quer que seja que estas frases digam, onde quer que seja que isto nos leve, eu não vou desistir. E não vos quero incluir nesta jornada obrigatoriamente. Pode ser perigoso e não quero que nenhum de vocês se magoe. Podem escolher. Querem ajudar-me ou preferem não se envolver? Eu não fico chateada se não quiserem ajudar-me, a sério. 
Lenny observou-os um a um. Harry e Ron trocaram olhares, assim como Fred e George, Ginny e Hermione. Draco fixava-a atentamente.
-Podes contar comigo - disse prontamente - sabes disso.
-Comigo também - proferiu Harry imediatamente.
-E comigo - disseram Ron e Hermione ao mesmo tempo.
-Nunca gostei que me excluíssem - sorriu Ginny - estou convosco. 
-E o grupo não estaria completo sem nós os dois, pois não, Fred? - perguntou George.
-Claro que não, George! Quem é que ia tomar conta destes miúdos? - concordou Fred, rindo.
-Ok, então. Espero não estar a cometer o maior erro da minha vida. Lembro-vos que é perigoso e... 
-Lenny - interrompeu Harry - tu farias o mesmo por qualquer um de nós e não estamos a fazê-lo por obrigação nem por dever. Deste-nos a escolher e nós escolhemos ajudar-te porque gostamos de ti e te queremos realmente ajudar. Agora deixa-nos ver melhor essas frases. 
Lenny não ripostou e colocou o pergaminho na mesa. Todos se inclinaram sobre ele.
-Isto é quase poético - observou Fred.
-Diz que não vale a pena procurar em Hogwarts - afirmou Ginny - por isso teremos de ir a outro lugar.
-Esperem. Hogwarts pode não dar as respostas, mas pode sempre dar-nos pistas - declarou Hermione, sabiamente. 
-"Olha através daquilo que não vês" - recitou Ron - o que é que isso poderá dizer?
-Acho que isso tem a ver com as minhas visões - alegou Lenny - mas ainda não tive oportunidade de ter nenhuma depois do sonho em que ouvi isso, de modo que ainda não pude experimentar por essa perspetiva.
-"Grita pela felicidade"? Isso faz sentido? - perguntou Draco - não deveria ser "luta" ou assim? Quer dizer, parece que tem que ser obrigatoriamente algo começado por g...
-É isso! - exclamaram Harry e Hermione ao mesmo tempo. Os outros olharam atarantados para eles.
-Draco, és um génio! - deixou escapar Hermione, sob o olhar irritado de Ron.
-Vejam - pediu Harry - a primeira letra de cada verso forma uma palavra.
Todos juntaram as letras e por fim, disseram:
-Hogsmeade. 
-Deve haver algo em Hogsmeade que nos poderá ajudar! Os meus pais falavam-me muito em Hogsmeade - afirmou Lenny.
-Nós já lá fomos montes de vezes - os olhos de George brilhavam à luz dos candelabros.
-E estás com sorte - Ginny sorriu - vamos ter uma visita a Hogsmeade no último fim-de-semana do mês. Espero que a tua avó tenha autorizado.
-Vou perguntar-lhe pela Hedz. Obrigada a todos, a sério - Lenny estendeu um braço na mesa, com a palma da mão virada para baixo. Lentamente, Harry pôs a dele por cima, seguido de Hermione, Ginny, Ron, Fred, George e, relutantemente mas porque adorava Lenny, Draco pousou a dele em cima da de George.
-É melhor irmos dormir. Está a ficar tarde - Ginny levantou-se da mesa - até amanhã.
Despediram-se e todos menos Lenny e Draco se encaminharam para a sala comum dos Gryffindor. Draco e Lenny desceram aos calabouços até chegarem à sua sala comum. À porta, Lenny precipitou-se sobre Draco e beijou-o.
-Isto é para te sentires mais animado. Obrigada por teres feito isto - sorriu ela e ele sorriu também e puxou-a mais de encontro a si. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Primeiros Sinais

Na segunda semana de Novembro o tempo tornou-se mais frio e a chuva caiu a potes durante os primeiros dias do mês, tornando assim mais difíceis os jogos de Quidditch, mas estes nunca eram cancelados por causa da chuva.
Na Taça das Casas, Gryffindor continuava na liderança com 162 pontos, Slytherin seguia-os com 122, depois Ravenclaw com 97 e por último Hufflepuff com 77 pontos. Na Taça de Quidditch, era também Gryffindor que ia à frente, com 150 pontos, visto que ganhara três jogos, depois Slytherin com 100, já que ganhara dois, Ravenclaw com 50, pois ganhara um e Hufflepuff com 0, porque ainda não ganhara nenhum.
Lenny decidira deixar de lado aquilo que o Sem Forma lhe mostrara como sendo o seu maior medo e concentrar-se nos estudos.
Estavam na aula de Poções quando de repente algo começou a embater nas janelas, com um som cavo mas suave. Olharam todos pela janela, contentes e surpresos: os primeiros flocos de neve começavam a cair. Era sempre uma alegria quando nevava em Hogwarts: organizavam-se batalhas de neve, os mais novos construíam bonecos de neve e os alunos desciam as ravinas com os seus trenós mágicos. O único senão é que era praticamente impossível jogar Quidditch naquelas condições.



Quando a campainha soou para o final da aula, os alunos precipitaram-se lá para fora, sentindo o frio nas suas caras e aproveitando para lançar as primeiras bolas de neve. Lenny pusera o seu cachecol dos Slytherin às riscas verdes e brancas, umas luvas e um gorro de lã brancos e umas botas pretas com pêlo por dentro. Estava a olhar para a quantidade enorme de alunos do primeiro ano que faziam anjos na neve quando foi atingida por uma bola de neve fria em cheio na cara. Virou-se e viu os gémeos Weasley, juntamente com Ginny, Ron, Hermione, Harry, Neville e Luna. Lenny amassou dois pedaços de neve e lançou-os com toda a força em direção aos gémeos, acertando em cheio nas suas testas com cada bola. Não era preciso ser-se um génio ou uma Hermione para ver que eles lhe tinham mandado a bola de neve. E pedaços enormes de neve voaram em todas as direções quando uma luta de bolas de neve explodiu no pátio da escola.

*

Naquela mesma noite, no Salão Nobre, o teto refletia a neve que caía no céu verdadeiro, como um espelho, só que mágico. Lenny ouvia distraidamente Draco e os colegas a falarem de como os Gryffindor iam à frente em tudo. Ela não conseguia explicar porque estava tão alheia a tudo naquele dia, desde a tarde. Tinha um mau pressentimento em relação a algo e sentia uma grande inquietação. Escrevera à avó a perguntar se estava tudo bem e esta respondera-lhe que sim, por isso, aparentemente, não havia razões para se preocupar. Mas então, porque é que aquele sentimento estranho e incomodatório não a deixava em paz?
A meio do banquete, quando Lenny se preparava para se servir de sumo de abóbora, as luzes das dezenas de velas suspensas no ar apagaram-se subitamente enquanto um vento frio e arrepiante varreu a sala vindo de não-sei-donde. Lenny sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha enquanto sussurros de espanto se faziam ouvir. Sentiu a mão de Draco a tatear no escuro pela mão dela, mas Lenny parecia petrificada. A cena voltava a repetir-se: Lenny via agora, com total nitidez, o mesmo que vira quando desmaiara na visita de estudo ao Lago Negro: uma luz verde, intensa e aterradora, depois Voldemort com a sua varinha erguida na direção dos pais pronunciando Avada Kedavra com os lábios sem, no entanto, se ouvir qualquer som e depois, a escuridão. Lenny ficou à espera da pequena luz brilhante e branca que se seguia, mas não a encontrou.
-Lenny! Lenny, estás bem? – perguntou-lhe Draco, aflito. Os olhos de Lenny vaguearam pela escuridão.
-Tenham calma, tenham calma – pediu McGonagall, com uma voz suave e calma. Bateu palmas e a luz voltou: as velas acenderam-se mas isso não confortou Lenny. O que fora aquilo? Lenny tinha a certeza de que tivera alguma coisa a ver com ela, mas não sabia como nem porquê.
-Lenny, estás bem? – Draco abanou-a pelos ombros mas Lenny via ainda na sua mente o brilho corajoso no olhar dos pais, como se não tivessem medo do que os esperava – Lenny, por favor responde!
Lenny começou a respirar ofegantemente. E quando menos esperava, a luz branca foi demasiado forte, demasiado inesperada e grandiosa, o que fez com que Lenny desmaiasse mesmo ali.

*

Lenny acordou com a visão turva e com uma forte dor de cabeça. Olhou em volta e viu que se encontrava sozinha, deitada numa das camas brancas da Ala Hospitalar. A ala estava iluminada pela luz do sol e Lenny pode ver, pelo relógio que se encontrava na mesa de cabeceira junto a ela, que passava pouco do meio-dia. Não estava a nevar.


A rapariga nunca ali havia estado. Lenny tentou lembrar-se dos acontecimentos que a levaram a parar ali: lembrava-se do apagão das velas, do vento frio, da visão de Voldemort, da luz verde e dos pais e depois do clarão branco que a ofuscara e a fizera desmaiar. Essa era a sua última recordação. Deviam-na ter levado para ali, onde ela passara a noite e a manhã. De repente, Draco, Harry, Hermione e Ron entraram na Ala Hospitalar.
-Lenny! - exclamou Draco - acordaste!
Lenny tentou levantar-se, mas a cabeça pesava-lhe que nem chumbo.
-Que aconteceu? - interrogou, com voz débil.
-Desmaiaste ontem ao jantar - informou Harry.
-Trouxemos-te até aqui, mas ninguém sabe o que te levou a desmaiar - acrescentou Draco. Uma mulher loura e de cara enrugada entrou na ala.
-Ah, já acordaste, Lenny! Sou a Madam Pomfrey e sou responsável pela Ala Hospitalar - depois olhou para os outros - tenho de pedir-vos que deixem a Lenny descansar.
Draco e os outros saíram em silêncio e Madam Pomfrey deu-lhe a tomar um chá de ervas medicinais que sabia horrivelmente e depois deu-lhe um medicamento para a dor de cabeça. Em seguida, Lenny adormeceu e só voltou a acordar ao fim da tarde.

*

A visão de Lenny nublara-se ainda mais: tudo lhe parecia turvo e torcido, de um cinzento medonho e triste. Depois conseguiu visualizar uma longa estrada de pedra que se estendia até não ter fim, rodeada apenas por cinzento, sem se ver uma única tonalidade de outra cor. Lentamente, começou a chover, mas as gotas eram enormes e pesadas, maiores que bolas de ténis e cada uma espelhava um rosto diferente, também em cinzento. Lenny reconheceu a avó: foi a primeira gota que explodiu na estrada. Depois, sem que Lenny pudesse fazer alguma coisa, as caras dos pais, de Draco, de Harry, de Hermione, de Ron, de Ginny, de Luna, de Neville, de Fred, de George, de Daphne e de Hedz desapareciam na explosão resultante das gotas a cair na estrada, emitindo sons metálicos e desesperantes. A pouco e pouco, tudo começou a desaparecer e Lenny abriu os olhos de rompante. A luz dourada do pôr do-sol que entrava pelas janelas fê-la fechá-los de novo. Depois reabriu-os. 
Já não lhe doía a cabeça e conseguia ver bem novamente e Lenny tentou lembrar-se do sonho (ou pesadelo) que tivera, mas por mais que se esforçasse, não conseguia. Em seguida, voltou a fechar os olhos, encostou a cabeça à almofada e dormiu profundamente. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O Sem Forma

As pessoas reagiram de diferentes maneiras relativamente ao namoro de Lenny e Draco, quando os boatos se espalharam pelo Salão Nobre como foguetes, devido a Lenny e Draco terem aparecido juntos e de mãos dadas ao banquete do pequeno-almoço no dia seguinte. Alguns, comentavam enternecidos a história deles, o facto das suas famílias não se suportarem, tal e qual no Romeo e Julieta. Outros, mais escarninhos, diziam que aquilo não ia acabar bem. Outros não conseguiam simplesmente acreditar naquilo. Quer dizer, Draco Malfoy a gostar de alguém? Deviam estar a brincar! Desse grupo faziam parte Harry, Ron, Hermione e Neville. Ginny era a favor do namoro, tal como Luna, e Fred e George eram daqueles que, como com tudo, decidiram começar a brincar e a gozar. Pansy limitou-se a deitar um olhar angustiado a Draco, que pedira a Daphne para trocar com ele, a fim de se sentar ao lado de Lenny e a fulminar Lenny com o olhar quando Draco não estava a ver.
Mas Lenny estava alheia a tudo isso: pensava ainda na noite anterior, que parecia tão surreal e inesperada que era difícil de acreditar no que se passara. Mas o calor de Draco a seu lado lembrava a Lenny que tudo fora real.
Lenny e Draco ficaram até depois da uma da manhã a conversar, a namoriscar e a trocar beijos apaixonados aninhados no sofá da sala comum dos Slytherin. Depois, despediram-se e seguiu cada um para o seu dormitório e Lenny dormiu que nem um bebé. E se ela tivesse seguido o conselho de Daphne e se tivesse ido deitar antes? Provavelmente o dedo mindinho de Draco não estaria agora, propositadamente, a tocar no de Lenny em cima da mesa do pequeno-almoço.
-Fico contente por vocês – insinuou Daphne – e desculpem ter-vos interrompido ontem…
-Daphne, não faz mal - sorriu Lenny, servindo-se de um croissant que tinha curiosamente a forma de um coração.

*

-Seus safados! – exclamou Fred quando Lenny se dirigia à biblioteca, pois Binns, o professor-fantasma de História da Magia, os avisara que a próxima aula decorreria lá e não na sala de aula. Os gémeos andavam agora constantemente de volta dela. Tentaram também gozar com Draco, mas ele ignorara-os por completo – ouvi dizer que estiveram enroscados um no outro até altas horas da noite, esta noite.
Lenny corou e arregalou os olhos.
-Sim, vocês têm de ir com calma, têm quinze anos – acrescentou George.
-Fred, George! – exclamou Lenny – parem com isso! Vocês não têm o direito de falar assim da minha vida!
-Ui, Fred, tocámos num ponto fraco! – uivou George.
-Vocês querem parar? – Lenny virou-se e pôs-se à frente deles. Apesar de ser muito mais baixa que eles, o seu aspeto indisciplinado e o olhar feroz que lhes lançou fê-los calarem-se – daqui a bocado está o corredor inteiro a ouvir-vos!
-Pronto, desculpa! – disseram ambos e saíram rapidamente dali, mas sorriam, divertidos.
Lenny entrou na biblioteca ofegante. Sentou-se numa das mesas de madeira na zona de estudo com Draco e Daphne, enquanto o fantasma de Binns por ali vagueava.
-Muito bem – disse ele numa voz arrastada e gélida – hoje quero que escrevam um pergaminho com vinte centímetros sobre o que pensam das guerras dos Gigantes. Têm esta aula toda para o escrever e basta entregarem-mo na próxima aula. Trouxe-vos à biblioteca pois podem pesquisar nos livros. Alguma dúvida, eu vou estar lá mais à frente, preciso de consultar alguns documentos.
Dito isto, Binns afastou-se a flutuar pelo ar e uma onda de reclamações fez-se ouvir, tendo sido de imediato calada por um “Chiu” de Madam Pince, a bibliotecária.
-Que seca – sussurrou Draco – estava mesmo a apetecer-me pedir à Granger para me fazer isto. Olhem para ela, já escreveu cinco linhas.
-Ela nunca te faria isso. Então a ti – riu Lenny – mas isto é mesmo uma seca.
Um papel em forma de avião pairou no ar acima da cabeça de Lenny e depois caiu à sua frente na mesa. Draco ergueu uma sobrancelha enquanto Lenny desdobrava o papel. Era de Harry e dizia apenas “Precisamos de falar”.
-Lá está o Potter – resmungou Draco – sempre demasiado bondoso e sempre demasiado desconfiado a meu respeito.
-Isto pode não ter nada a ver contigo – comentou Lenny.
-Pois, pois, por isso é que ele me está sempre a olhar fixamente.
Lenny levantou-se da cadeira.
-Onde vais? – perguntou Draco.
-Falar com ele – declarou Lenny, como se fosse óbvio. Draco ia responder, mas Daphne espetou-lhe um pontapé nas canelas e lançou-lhe um olhar de aviso. Lenny afastou-se em direção à mesa de Harry, que se sentava junto de Ron e Hermione. Ron olhava espantado para Hermione, com a pena suspensa no ar, enquanto a rapariga tinha a língua de fora e escrevia freneticamente. Já ia em mais de dez linhas – olá. Querias falar comigo, Harry?
-Sim. Se o teu namoradinho não ficasse demasiado irritado, pedir-te-ia que te sentasses.
Lenny ignorou aquele comentário e puxou a cadeira para trás.
-Diz.
-Tens a certeza do que estás a fazer? – Harry sacudiu o cabelo preto e desalinhado dos olhos com um movimento de cabeça.
-Como assim?
-Tens a certeza de que ele gosta de ti?
Lenny revirou os olhos e suspirou.
-Harry, não vais começar com os teus sermões, pois não?
-Só quero ter a certeza! Não quero que ele te magoe…
-Bom, ele gosta mesmo de mim, não te preocupes. Eu agradeço-te imenso, a sério, mas… se é tudo…
-Tens de desculpar o Harry – intercedeu Ron – é só que é difícil acreditar que ele possa estar… apaixonado.
-Desta vez tenho de concordar com a Lenny – Hermione levantou por fim a cabeça do pergaminho e rodou o ombro direito, que já lhe doía – é fácil de ver que ele a adora quando olha para ela. De facto, falei com a Ginny e agora percebo que isso já era visível antes de eles começarem a namorar.
-Mas vocês são raparigas, vêem paixão em todo o lado – atalhou Ron.
-Não sejas parvo – rezingou Hermione – só um cego é que não vê.
-Pronto, ok. Só quero que saibas que nos preocupamos contigo, Lenny - esclareceu Harry - e estamos aqui para o que for preciso.
-Obrigada, Harry. Eu sei – sorriu Lenny e depois acrescentou, com os olhos brilhantes – e então, se estão aqui para o que é preciso… não poderiam ajudar-me neste trabalho?


*

A aula seguinte era de Defesa contra as Artes das Trevas. Nenhum dos três se resignara a ajudar Lenny com o trabalho e esta voltara para junto de Draco, mas conseguira apenas escrever cinco linhas quando a aula terminara já que a presença de Draco tão perto de si era o bastante para a desconcentrar. 
-Finalmente algo divertido - comentou Draco quando entraram na sala. O resto da turma estava amontoado à porta, olhando curiosos para o que se encontrava dentro da sala. As mesas tinham sido colocadas junto às paredes e no meio da sala encontrava-se apenas um guarda-roupa castanho de madeira, com espelhos. 


-Fazem favor de desimpedir o caminho - disse a voz rouca de Braxton, entrando na sala com o seu manto preto a arrastar-se atrás dele pelo chão. Posicionou-se junto do enigmático armário - hoje vamos fazer uma aula prática. Alguém me sabe dizer o que será que está escondido dentro deste armário?
Hermione levantou de imediato a mão, mas Pansy também. E como Slytherin que era, Braxton deu a palavra a Pansy.
-Um Sem Forma, professor? - disse ela de imediato.
-Muito bem - sorriu o professor - cinco pontos para os Slytherin.
O rosto de Pansy encheu-se de orgulho e satisfação.
-E alguém sabe para que serve e como o combater?
Braxton procurou alguém nos Slytherin que levantasse a mão, mas apenas Hermione parecia saber a resposta. Resignado, Braxton pediu-lhe para falar.
-Um Sem Forma mostra os nossos maiores medos. E o feitiço que o combate é o Riddikulus, que faz com que esse medo se transforme nalgo parodiado. Por exemplo, se alguém tem medo de cobras, é possível que através do Riddikulus consiga pôr a cobra a dançar, ou assim.
-Se há alguém que aqui não tem medo de cobras somos nós - disse Pansy.
-Bom, mas a miss Granger está correta - a cara do professor mostrava claro desânimo - por isso, cinco pontos para os Gryffindor. Agora, quero que pratiquem um pouco o Riddikulus sem as vossas varinhas. Pronunciem da maneira correta.
Depois de algum tempo, de sucessos e insucessos, a treinar o feitiço, Braxton bateu palmas.
-Muito bem, quem quer ser o primeiro a experimentar o Sem Forma?
Levantaram-se alguns braços mas Braxton arreganhou os dentes:
-Weasley! 
Ron pôs-se diante do armário e uma aranha gigante e peluda saiu de lá de dentro. Depois Ron pronunciou o feitiço, abanou a sua varinha e apareceram várias sapatilhas nas patas da aranha, enquanto esta começava a dançar. 


Seguiram-se vários outros alunos e os medos eram variados: a infelicidade e o medo de perder um ente querido era os mais comuns. Lenny percebeu que Braxton evitava chamar Harry ou Draco, talvez porque eram os dois que mais ligações a Voldemort tinham. 
-Para acabar, miss Gant. 
Lenny engoliu em seco: não tinha pensado no que o Sem Forma reproduziria no seu caso. Tinha a certeza que teria a ver ou com Draco ou com a família mas... Lenny não queria que os outros soubessem disso.
-Tem mesmo de ser, professor?
-Bom. Sim - disse Braxton.
Lenny suspirou e tentou pensar em algo divertido, mas parecia que o seu cérebro bloqueara. De repente, uma luz forte, verde e aterradora engoliu a sala. Era a luz de Avada Kedavra. Lenny preparou-se para pronunciar Riddikulus quando os viu: os rostos nítidos dos seus pais e avó, imóveis e impassíveis e em seguida o de Draco, frio e também imóvel. A pouco e pouco, os quatro foram engolidos pela luz, que desapareceu. Lenny caiu de joelhos com estrondo no chão da sala. 
-Que aconteceu? - murmuram várias vozes. Draco precipitou-se para ajudar Lenny e Harry perguntou-lhe se estava bem. 
-É disso que tens medo? - perguntou Pansy - de uma luz verde?
Uma luz verde... espera lá! Eles não tinham visto o rosto dos pais e da avó dela nem de Draco? Não tinham percebido que era a luz da morte? Pansy não fora ao Sem Forma e por isso Lenny não sabia qual o seu maior medo, logo não podia ripostar nem gozar com ela. Mas isso pouco importava.
-Deve ter acontecido alguma coisa no armário - replicou Braxton - algo não está a funcionar bem.
Lenny sabia que Braxton estava a mentir. Talvez ele tivesse sido o único a compreender que luz era aquela, mas, por uma razão desconhecida, só ela conseguira ver o rosto dos pais, da avó e de Draco. Mas porquê?
Por fim, o professor deu a aula por terminada. Lenny apressou-se a sair dali. Precisava de clarear as ideias. No entanto, Draco e Harry seguiram-na até ao pátio.
-Aquela luz... era da Avada Kedavra, não era? - questionou Harry baixinho. Lenny assentiu com a cabeça, olhando para o seu reflexo na fonte. Tinha as faces mais rosadas do que o habitual e estava sem fôlego. Inspirou e expirou várias vezes, tentando controlar a respiração.
-Porque só viste a luz? - perguntou Draco. Lenny engoliu em seco.
-Não sei - mentiu - talvez o Sem Forma esteja mesmo avariado. Calhou-me o azar de ser a última.
E dito isto, deu-lhes a desculpa que tinha que passar pelo dormitório para ir buscar uns livros e desapareceu.