sábado, 1 de março de 2014

Paixão

A maioria dos rapazes vinha vestido com os seus melhores casacos de blusão e calças de ganga, uma moda Muggle que os filhos de Muggles haviam instaurado em Hogwarts, e que tinha pegado. Lenny apreciava a vista quando o viu. Vinha vestido com um blusão preto caro e calças de ganga azul. Ele estava a fitá-la intensamente, as suas sobrancelhas a arquearem-se à medida que os seus olhos percorriam o vestido justo de Lenny. Lenny sorriu malevolamente. O vestido tinha surtido efeito.
Depois o seu sorriso esmoreceu-se quando Anastacia se dirigiu a Draco, sorrindo e tagarelando. Lenny engoliu em seco, afastando o olhar.  A música animada mudou para uma mais lenta e Ron juntou-se a Hermione, Luna a Neville, Ginny a Harry, Daphne a Adrian e os gémeos foram procurar as suas parceiras, Angelina e Katie. Lenny evitou olhar em redor da sala pois tinha medo de se deparar com Anastacia e Draco a dançarem juntos. 
Caminhou por entre a multidão até chegar a uma zona mais recostada onde havia pouca gente a conversar. Sentou-se numa cadeira e uma voz perto dela disse:
-É um desperdício uma rapariga tão bonita como tu estar aí sentada sozinha - Lenny levantou a cabeça para ver Roger Davies, um aluno do sétimo ano dos Ravenclaw a olhar para ela. Roger convidara-a para o Baile de Inverno, mas Lenny rejeitara. Normalmente, ela não lhe daria muita conversa, mas se Draco podia falar com Anastacia, Lenny também podia falar com Roger e sabia que falar com ele podia provocar ciúmes em Draco, isto case ele não estivesse mais interessado na Veela.
-Achas que sou bonita? - sorriu Lenny e Roger sorriu com a resposta de Lenny, parecendo aliviado. Talvez estivesse à espera de uma resposta mais rude por parte dela.
-Sim, muito - assentiu ele. Lenny levantou-se, sabendo que só estava a dar trela a Roger para provocar Draco - queres ir comer qualquer coisa?
-Pode ser - concordou Lenny.
-Eu vou buscar - ofereceu-se Roger, desaparecendo de imediato. Lenny ia sentar-se novamente quando uma voz lhe sussurrou ao ouvido, o hálito fresco a hortelã-pimenta a fazer-lhe cócegas:
-Estás linda.
Lenny sentiu uma arrepio quente na espinha e borboletas na barriga, mas tentou manter-se calma e segura, mesmo tendo Draco Malfoy, o "bad boy" de Hogwarts a falar-lhe assim ao ouvido. Lenny afastou-se um pouco para lhe dar uma olhada.
-Tu também não estás mal.
-Nem sabes o quanto eu gostava de dar umas lições aos tipos estúpidos que te estão a olhar neste momento. Devias vestir-te assim só para mim - murmurou Draco, aproximando-se. Lenny cruzou os braços sob o peito, um sorriso endiabrado a cobrir-lhe o sorriso verdadeiro. Olhou para cima, para os olhos cinzentos de Draco.
-És assim tão possessivo?
-Quando a minha namorada é assim tão atraente, sim sou - concordou Draco e Lenny tentou não corar.
-Eu sou a tua namorada? - interrogou Lenny, sorrindo. Draco pôs-lhe as mãos na cintura, puxando-a para si.
-Desculpa-me, Lenny, fui um estúpido e não devia ter dado trela à Anastacia. Tu não merecias e estou mesmo arrependido. Não te quero magoar, mas acabo sempre por fazê-lo, por cometer erros e...
-Desculpa-me também. Não devia ter sido tão ciumenta - afirmou Lenny. Draco esboçou um sorriso endiabrado.
-Já te disse que ficas mesmo gira quando tens ciúmes?
-Não... - ia Lenny dizer, mas alguém lhe cortou a palavra.
-Lenny, queres frango de churrasco ou... - Roger Davies parou a meio da frase quando viu Lenny e Draco tão agarradinhos.
-Tu estavas com este tipo? - questionou Draco, tirando as mãos da cintura de Lenny.
-Só estava a falar com ele - defendeu-se Lenny.
-Não sabia que eras o tipo de miúda que saiu de um, vai logo a correr para outro - ofendeu Roger em voz alta e várias pessoas se aproximaram para assistir à cena.
-Ei, tu - chamou Draco, visivelmente furioso - essa é a minha namorada, sabes?
-Não parecia assim tanto quando ela me beijou há bocado - provocou Roger e Lenny arregalou os olhos, espantada com a lata de Roger. Draco, que erguera os punhos e avançara para Roger, parou e olhou para Lenny.
-Draco, não é verdade! - argumentou Lenny.
-Não mintas, Lenny - sorriu Roger. Lenny olhou para Roger, de costas para Draco e no meio de ambos.
-Para Ravenclaw, és bastante lerdo. Não sabes que é bastante fácil provar a verdade? Basta o Draco ler as nossas mentes para saber a verdade - alegou ela.
Roger pareceu ficar ofuscado com este súbito argumento. Havia agora um círculo de pessoas à volta dos três, mas Lenny não se importou com a atenção.
-Não preciso de ler mente nenhuma. Acredito em ti, Lenny - disse a voz de Draco e Lenny olhou por cima do ombro, sorrindo. Draco sorriu também.
-Bom, talvez ela não me tenha beijado - continuou Roger, olhando fixamente para Draco - mas tenho a certeza que o faria se tu não tivesses aparecido!
-Seu... - grunhiu Lenny, pregando uma estalada na cara de Roger. Este recuou, espantado, a mão de Lenny marcada na cara dele. Depois Roger cuspiu:
-Sua... - disse ele, aproximando-se, mas Draco foi tão rápido que mal se viu. Draco agarrou no braço que Roger estendera para chegar a Lenny e torceu-o atrás das costas de Roger.
-Se. Voltas. A. Tocar. Num. Cabelo. Que. Seja. Da. Minha. Namorada. Vais. Arrepender-te - grunhiu Draco. Roger tentou ripostar, mas depois desistiu, não só porque Draco o estava a prender com força mas também porque sabia que Draco era não só forte fisicamente mas como era melhor que ele a Feitiços, além de ser um ex-Devorador da morte, e tudo isso incutia respeito.
-Está bem - murmurou Roger por entre dentes - larga-me.
Draco assim fez, mas manteve-se protetivamente à frente de Lenny. Fred e George perfuraram a multidão, ladeando Roger pelos ombros.
-Muito bem, amigo, acho que para ti a festa acabou - informou George. Os três saíram da Sala das Necessidades e depois os gémeos regressaram sozinhos.
-Obrigada - agradeceu-lhes Lenny.
-Não tens de quê. Afinal, ninguém magoa a nossa pequena feiticeira do Mal - sorriu Fred, remexendo-lhe no cabelo rebelde.
-E não te preocupes, selámos a Sala com a intenção do Roger Davies não poder voltar a entrar - referiu George. O DJ pôs uma música mais animada a tocar e as pessoas voltaram para a pista de dança ou para os aperitivos, esquecendo o que acontecera. Lenny abraçou Draco, murmurando-lhe ao ouvido:
-Isso foi muito sexy, sabes - sorriu ela - teres-me defendido e protegido.
-Eu nunca o deixaria fazer-te mal, Lenny - disse Draco, pondo-lhe as mãos na cintura suave mas firmemente.
-Amo-te, Draco - disse Lenny de repente e Draco sentiu-se atarantado pela súbita explosão de carinho de Lenny.
-Eu também te amo, Lenny. Muito. E não quero que ninguém, nem a Anastacia, nem o Davies nos separem... por favor - pediu Draco.
-Eu também não - concordou Lenny, beijando-o. Draco puxou-a ainda mais para si, como fossem um só e nesse momento uma música lenta começou a tocar.
-Queres dançar comigo, Lenny? - convidou Draco.
-O prazer seria meu, Draco - respondeu Lenny, pondo os braços em redor do pescoço dele e encostando a cabeça ao seu peito, enquanto ele a  balançava ao ritmo da música.
Depois a música acabou e a voz de Fred Weasley ouviu-se ao microfone.
-Ok, pessoal, está na hora de cantar os parabéns ao meu maninho – disse ele, e pela voz notava-se que estava a sorrir – se querem bolo, juntem-se perto do centro da sala, o bolo pode acabar facilmente.
Lenny e Draco desentrelaçaram-se e encaminharam-se para o centro da sala, perfurando por entre a multidão, o que os fez ganhar alguns protestos e comentários maldosos, que eram imediatamente calados por olhares assustadores que Draco lhes lançava. Mesmo no centro da Sala das Necessidades havia uma mesa comprida com o bolo mais longo que Lenny já vira em toda a sua vida. Estava dividido em vários retângulos, a cobertura era vermelha e dourada em todos eles, das cores dos Gryffindors, e os amigos mais chegados de Ron rodeavam-no a ele e à mesa. Harry, Hermione, Luna, Neville, Ginny, Fred e George estavam lá, bem como Seamus Finnigan e Dean Thomas. Ron chamou Lenny para junto deles e esta avançou, hesitante, pela multidão. Olhou de relance para trás, vendo Draco a olhá-la protetivamente e a deixar-se engolir pela multidão de pessoas que se aproximavam para cantar os parabéns a Ron.
Fred e George começaram a cantar e depressa se juntou o resto da multidão, com pessoas a bater palmas e a gritar. Quando a música acabou, Ron soprou as dezanove velas do seu bolo e com a varinha, começou a distribuir fatias de bolo em pratos de plástico por toda a gente. Da multidão, alguém começou a cantar “Weasley é o nosso Rei” em homenagem a Ron, cujas bochechas ficaram da cor do seu cabelo. Depressa os Gryffindor se juntaram a eles, assim como a maioria dos Hufflepuff e dos Ravenclaw.
-Parabéns, Ron – disse Lenny, abraçando-o.
-Obrigado – respondeu ele. A rapariga virou-se para Fred e George.
-Quem fez este bolo? Está muito bom! – a fatia de bolo que lhe calhara era de chocolate por dentro, mas cada retângulo de bolo tinha um enchimento diferente. Lenny vira gente com bolo de morango, laranja, iogurte, pão-de-ló, coco, fio de ovos...
-A nossa mãe - respondeu George.
-Tenho de vos agradecer pela festa - disse Ron, quase emocionado - está a ser um sucesso.
-Acho que esta festa vai ser falada durante muito tempo - riu Hermione.
-Talvez a moda das festas na Sala das Necessidades pegue - sugeriu Harry. Em seguida, Seamus e Dean chamaram Harry, Ron, Fred, George e Neville para junto deles e Hermione, Ginny e Luna viraram-se para Lenny.
-Então resultou! - exclamou Ginny com voz chilreante - eu disse-te.
-É verdade - sorriu Lenny - o Draco e eu fizemos as pazes. Obrigada.
-Foi muito romântico o que ele fez ao defender-te do Roger - confessou Hermione.
-Não que tu não te saibas defender - acrescentou Luna em voz cantante.
-Pois foi. Nunca esperei ouvir-te dizer isso do Draco, Hermione - sorriu Lenny.
-Parece que as pessoas mudam, não é? - disse ela.
-É verdade - concordou a primeira.
-Por onde é que ele anda, afinal? - interrogou Ginny. 
-Deve ter ido ter com a Daphne, o Blaise e os outros Slytherin - afirmou Lenny. Os seus olhos foram atraídos pelo rosa do vestido de Anastacia. Ela estava a rir-se com algumas amigas não muito longe dali, e Lenny, apontando com a cabeça para elas, comentou: - não acredito que eu o Draco discutimos realmente por causa dela.
-Não te preocupes - alegou Hermione - todos os casais discutem. É normal.
-E é bom discutir de vez em quando, se forem discussões saudáveis. Alimenta a paixão - declarou Luna com uma voz surreal e chilreante, o que fez as outras três raparigas partirem-se a rir.

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