-Tu – a voz dele era
fria e cortante, e recheada de desprezo. Lenny engoliu em seco e sentiu o
coração a bater mais depressa.
-Pai – ouviu Draco dizer, aproximando-se deles. Lenny encontrava-se no meio deles, mas naquele
momento só lhe apetecia sair dali. Era como os Muggles diziam “O que é bom
acaba depressa”. Lenny sentira-se feliz pelo retorno dos pais, e claro que
ainda estava imensamente feliz por isso, mas essa felicidade fora posta de lado
desde o momento em que ouvira Draco falar acerca dos pais deles. E agora estava
frente a frente com Lucius Malfoy.
-Não. Consigo.
Acreditar. Que Foste. Com. Esta. Rapariga. Procurar. Os. Pais. Estúpidos. E.
Imundos. Dela – Lucius rangeu os dentes e falou lentamente, mas no segundo
seguinte tinha uma varinha de madeira de cerejeira, tamanho de 25 centímetros,
pouco flexível, apontada à cara.
-Retire o que disse.
Já – exigiu Lenny, sem se preocupar minimamente pelo facto de estar a ameaçar o
pai do rapaz que amava. Em sua defesa, ele acabara de insultar os seus pais!
Lucius esboçou um
sorriso sarcástico e escarninho.
-E porque haveria?
-Pai, deixa a Lenny
de lado. Se me queres dizer alguma coisa, diz-me a mim – pediu Draco. No
momento em que os olhos de Lucius incidiram no filho ficaram brilhantes de
fúria.
-Tens muito que
explicar, meu menino – afirmou, como se estivesse a falar para uma criança
pequena. Lenny continuava de varinha apontada à sua cara, mas Lucius parecia
não se importar.
-Então, deixa a
Lenny ir-se embora - repetiu Draco.
-Porquê, ela é
covarde? – inquiriu Lucius, os olhos de novo fixos em Lenny. O seu sorriso
maquiavélico voltou a tomar-lhe o rosto.
-Não fui eu que
abandonei a guerra assim que Voldemort foi destruído – acusou Lenny, com
rancor. Ela não queria dizer aquilo para magoar Draco, mas ao mesmo tempo
queria dizê-lo por amor e lealdade aos pais e por raiva a Lucius.
-Pois, tu nem sequer
apareceste – ripostou Lucius.
-Mais vale tarde que
nunca – disse Lenny, a varinha firmemente segura na sua mão.
-Já chega! –
exclamou Draco. Lenny sabia que apenas Pansy, Gregory e Vincent estavam na sala
comum além deles, mas nenhum deles parecia estar lá, pois não se ouviam.
-Sim, concordo –
alegou Lenny, baixando a varinha – já perdi demasiado tempo – e passou por
Lucius, saindo das masmorras. Não sabia o que se passava; porque não ficara
para defender e ajudar Draco. Mas talvez este não precisasse ou não quisesse ajuda e
Lenny não se devia meter entre pai e filho. “Ele tem a Pansy para o defender,
se quiser”, pensou ela, amargurada.
Lenny pensou ir até
às margens do Lago Negro para pensar e espairecer, porém não o pôde fazer pois avistou o pai
a falar com o professor Braxton. Lenny arregalou os olhos… quando fora a Hogsmeade, o amigo
de infância dos pais, Carl Jonathan, dissera-lhe que o pai até se dava com Braxton… mas Lenny nunca esperara encontrar os dois a conversar… afinal, Braxton fora um Slytherin e o pai era um Gryffindor... e no
entanto ali estava a prova, mesmo à sua frente. Vários outros alunos olhavam
também para eles, espantados. Lenny não queria nada ir ter com eles; apesar de
ser dos Slytherin, Braxton ainda a intimidava um bocado. Por sorte, o seu pai e o professor despediram-se um do outro pouco tempo depois, Braxton subindo a escadaria
da entrada e Michael indo ter com Lenny.
-Então és amigo do Braxton – afirmou Lenny.
-É um exemplo de um bom Slytherin - respondeu o pai.
-Os Slytherins também
sabem ser corajosos e bons – defendeu Lenny. Michael sorriu-lhe.
-Eu sei. Então, já conversaste
com todos os teus amigos?
-Sim. Onde está a
mãe?
-Foi com a tua avó
avisar a diretora que vamos a Hogsmeade. Queres vir connosco? Vamos daqui a
pouco.
A recordação da
bonita Anastacia, meia veela, filha de Carl, trespassou-lhe a mente.
-Não… mas diz ao
Carl que mando cumprimentos – na menção de Carl, Lenny lembrou-se de outra
coisa. Deitou a mãe ao bolso do manto e retirou de lá o colar que Carl lhe dera
em Hogsmeade, um com uma ampulheta com areia laranja e roxa – ele deu-me isto quando
lá fui… disse-me que a mãe lhe dera isto para me dar a mim. Mas não sei o que é
ou para que serve.
Michael abriu a boca
para responder, mas foi interrompido por uma voz já familiar a Lenny.
-Ora, ora… olha quem aqui está – Lenny virou-se para ver Lucius encará-los, com Draco ao lado e uma
senhora de cabelo branco e preto e olhos pretos ao lado. Lenny calculou que
fosse Narcissa Malfoy, a mãe de Draco. Parecia ser um pouco mais amável que
Lucius, uma vez que salvara Harry ao dizer a Voldemort que este estava morto na
Floresta Proibida durante a batalha de Hogwarts, mas também, com a sua posse
altiva, não era pessoa de faltar ao respeito.
| Narcissa Malfoy |
-Lucius –
cumprimentou Michael, com voz enfadonha e avançando um passo para ficar lado a
lado com a filha. Os olhos de Draco observaram-no durante um momento e depois
fixaram-se nos de Lenny. A sua expressão era indescritível.
-Aposto que não
ficaste muito contente ao perceber que a tua querida filha, após tanto tempo
sendo cepa-torta, fosse entrar nos Slytherin – sorriu Lucius e Lenny cerrou os
punhos. Como podia Draco não se ter comportado de forma tão arrogante e má nos
últimos anos se o único exemplo que tinha era o seu pai, este tão maléfico e
frio?
Vários alunos
estavam novamente a olhar para aquela cena. Uns cochichavam, outros arregalavam
os olhos e alguns deles tinham as mãos nos mantos, como se estivessem prontos a
sacar das suas varinhas a qualquer momento, caso houvesse uma luta e as coisas dessem para o torto.
-E eu aposto em como
não conseguiste suportar o facto de a minha querida filha ultrapassar o teu
querido filho em quase todas as disciplinas – argumentou Michael e Lenny
sentiu-se sufocar. Isso não era bem verdade… Draco era definitivamente melhor
que ela a Poções e a todas as disciplinas teóricas… além de voar melhor…
-E como é que sabes
isso se só estás com ela há poucos dias desde que misteriosamente ganhou
poderes? – contrapôs Lucius.
-A diretora contou-me – retorquiu Michael e Lenny não tinha a certeza se era boa ideia
mencionar o nome de Minerva McGonagall naquelas circunstâncias, nem se era realmente verdade o que o pai dizia.
-Boa desculpa – riu Lucius
e depois olhou para Draco – mas ainda não consegui perceber como é que o meu
filho foi com a vossa filha, aquele irritante do Potter, uma sangue de lama e os
pobres dos Weasleys procurar-vos…
Lenny cerrou os
dentes. Ele não tinha o direito de falar assim dos seus amigos!
-Eu também não
compreendo isso, mas prefiro que respeites os amigos da minha filha – Michael semicerrou os olhos, fixando-os em Draco. Lenny
sentiu um arrepio na espinha à medida que tanto o pai, como Lucius e Narcissa
olhavam ora para Lenny ora para Draco.
-A tua filha decidiu
levar um colega Slytherin para lhe fazer companhia, foi? – desdenhou Lucius e
Lenny odiou a forma como Lucius falava dela como se ela não estivesse ali. Não
podia ele perguntar-lhe diretamente a ela?
-Se assim fosse
teria levado um melhor, não é? – irritou-se Michael. Com este comentário, Draco
desviou os olhos dos de Lenny e esta não precisou de Legilimância para perceber
o que Draco estava a pensar… “sabia que não te merecia, Lenny, que eras melhor
do que eu valia…”.
-Como te atreves…? –
enfureceu-se Lucius, mas Narcissa agarrou-lhe no manto, sussurrando-lhe algo ao
ouvido.
-Diz-me que não é
verdade, Lucius... sendo filho de um sacana como tu… - continuou Michael.
-Pai! – gritou Lenny,
não querendo saber da figura que podia estar a fazer em frente aos seus
colegas. Porque estava o pai a falar assim para Lucius? E a falar assim de
Draco? Sabia que era assim que a maioria das pessoas da escola pensava, menos
os Slytherin, mas… doía-lhe saber que era assim que o pai pensava de Draco.
-Que é? – questionou
ele, olhando brevemente para a filha. Lenny hesitou. Agora era o momento certo
de dizer a ambas as famílias o que Lenny e Draco sentiam um pelo outro… mas não
conseguiu. Nem Draco. Em vez disso, optou
pela via mais fiável.
-Estás a fazer uma
cena em frente a toda a gente! – murmurou ela – para com isso, parecem dois
adolescentes às turras.
Michael suspirou.
-Está bem, mas
porque não podem simplesmente explicar porque é que ele foi contigo procurar-nos?
Lenny não sabia como
os seus pais e os pais de Draco ainda não tinham percebido a verdade ou como ainda ninguém lhes
tinha dito nada e isso deixava-a enervada e nervosa, mas queria dizer a
verdade num local sossegado e não com um montão de gente a assistir como se fosse
um filme.
-Fui com ela porque…
- disse Draco antes que Lenny pudesse responder e todos os olhares se cravaram
nele – porque não tive escolha.
Lenny sentiu um
baque no coração. De que raio estava ele a falar? Estaria ele a mentir para os
encobrir ou estaria mesmo a confessar o que lhe ia na cabeça? E se fosse esse o
caso… Draco afirmara que tinham ido todos porque queriam, por isso que estava
ele a dizer?
-Não tive escolha
porque… - Draco olhou para Lenny e rapidamente desviou o olhar – porque, cusco como sou, vi a Lenny e os outros a embrenharem-se na Florestas Proibida e fui atrás deles. Depois uns pássaros atacaram-nos e eu já não pude voltar para trás.
Não era a desculpa
mais credível de sempre e Lenny não sabia se coincidia ou não com a versão que
os gémeos haviam dito a toda a gente, mas quem conhecesse Draco minimamente
sabia que ele era pessoa para incomodar os outros. De qualquer forma, os gémeos
provavelmente só começaram a contar a jornada a partir da altura em que se
encontravam na Floresta, o que fazia os factos coincidirem.
-E pronto, é tudo - finalizou.
-Porque não disseram
antes? – grunhiu Lucius.
-Não nos deram
oportunidade! – exclamou Lenny, rezando para que ninguém tivesse a excelente
ideia de os denunciar e de dizer que a única razão porque Draco fora com Lenny
era porque gostavam um do outro – estão constantemente a implicar!
Passado algum tempo
de silêncio, Michael assentiu levemente com a cabeça.
-Está bem, então – suspirou
ele, lançando um último olhar à família Malfoy e perfurando entre a multidão.
Lenny não se atreveu a olhar Draco uma última vez e apressou-se a seguir o pai
antes que alguém os pudesse denunciar ou provocasse mais conflitos.
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