segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conflitos

-Tu – a voz dele era fria e cortante, e recheada de desprezo. Lenny engoliu em seco e sentiu o coração a bater mais depressa.
-Pai – ouviu Draco dizer, aproximando-se deles. Lenny encontrava-se no meio deles, mas naquele momento só lhe apetecia sair dali. Era como os Muggles diziam “O que é bom acaba depressa”. Lenny sentira-se feliz pelo retorno dos pais, e claro que ainda estava imensamente feliz por isso, mas essa felicidade fora posta de lado desde o momento em que ouvira Draco falar acerca dos pais deles. E agora estava frente a frente com Lucius Malfoy.  
-Não. Consigo. Acreditar. Que Foste. Com. Esta. Rapariga. Procurar. Os. Pais. Estúpidos. E. Imundos. Dela – Lucius rangeu os dentes e falou lentamente, mas no segundo seguinte tinha uma varinha de madeira de cerejeira, tamanho de 25 centímetros, pouco flexível, apontada à cara.
-Retire o que disse. Já – exigiu Lenny, sem se preocupar minimamente pelo facto de estar a ameaçar o pai do rapaz que amava. Em sua defesa, ele acabara de insultar os seus pais!
Lucius esboçou um sorriso sarcástico e escarninho.
-E porque haveria?
-Pai, deixa a Lenny de lado. Se me queres dizer alguma coisa, diz-me a mim – pediu Draco. No momento em que os olhos de Lucius incidiram no filho ficaram brilhantes de fúria.
-Tens muito que explicar, meu menino – afirmou, como se estivesse a falar para uma criança pequena. Lenny continuava de varinha apontada à sua cara, mas Lucius parecia não se importar.
-Então, deixa a Lenny ir-se embora - repetiu Draco.
-Porquê, ela é covarde? – inquiriu Lucius, os olhos de novo fixos em Lenny. O seu sorriso maquiavélico voltou a tomar-lhe o rosto.
-Não fui eu que abandonei a guerra assim que Voldemort foi destruído – acusou Lenny, com rancor. Ela não queria dizer aquilo para magoar Draco, mas ao mesmo tempo queria dizê-lo por amor e lealdade aos pais e por raiva a Lucius.
-Pois, tu nem sequer apareceste – ripostou Lucius.
-Mais vale tarde que nunca – disse Lenny, a varinha firmemente segura na sua mão.
-Já chega! – exclamou Draco. Lenny sabia que apenas Pansy, Gregory e Vincent estavam na sala comum além deles, mas nenhum deles parecia estar lá, pois não se ouviam.
-Sim, concordo – alegou Lenny, baixando a varinha – já perdi demasiado tempo – e passou por Lucius, saindo das masmorras. Não sabia o que se passava; porque não ficara para defender e ajudar Draco. Mas talvez este não precisasse ou não quisesse ajuda e Lenny não se devia meter entre pai e filho. “Ele tem a Pansy para o defender, se quiser”, pensou ela, amargurada.
Lenny pensou ir até às margens do Lago Negro para pensar e espairecer, porém não o pôde fazer pois avistou o pai a falar com o professor Braxton. Lenny arregalou os olhos… quando fora a Hogsmeade, o amigo de infância dos pais, Carl Jonathan, dissera-lhe que o pai até se dava com Braxton… mas Lenny nunca esperara encontrar os dois a conversar…  afinal, Braxton fora um Slytherin e o pai era um Gryffindor... e no entanto ali estava a prova, mesmo à sua frente. Vários outros alunos olhavam também para eles, espantados. Lenny não queria nada ir ter com eles; apesar de ser dos Slytherin, Braxton ainda a intimidava um bocado. Por sorte, o seu pai e o professor despediram-se um do outro pouco tempo depois, Braxton subindo a escadaria da entrada e Michael indo ter com Lenny.
-Então és amigo do Braxton – afirmou Lenny.
-É um exemplo de um bom Slytherin - respondeu o pai.
-Os Slytherins também sabem ser corajosos e bons – defendeu Lenny. Michael sorriu-lhe.
-Eu sei. Então, já conversaste com todos os teus amigos?
-Sim. Onde está a mãe?
-Foi com a tua avó avisar a diretora que vamos a Hogsmeade. Queres vir connosco? Vamos daqui a pouco.
A recordação da bonita Anastacia, meia veela, filha de Carl, trespassou-lhe a mente.
-Não… mas diz ao Carl que mando cumprimentos – na menção de Carl, Lenny lembrou-se de outra coisa. Deitou a mãe ao bolso do manto e retirou de lá o colar que Carl lhe dera em Hogsmeade, um com uma ampulheta com areia laranja e roxa – ele deu-me isto quando lá fui… disse-me que a mãe lhe dera isto para me dar a mim. Mas não sei o que é ou para que serve.
Michael abriu a boca para responder, mas foi interrompido por uma voz já familiar a Lenny.
-Ora, ora… olha quem aqui está – Lenny virou-se para ver Lucius encará-los, com Draco ao lado e uma senhora de cabelo branco e preto e olhos pretos ao lado. Lenny calculou que fosse Narcissa Malfoy, a mãe de Draco. Parecia ser um pouco mais amável que Lucius, uma vez que salvara Harry ao dizer a Voldemort que este estava morto na Floresta Proibida durante a batalha de Hogwarts, mas também, com a sua posse altiva, não era pessoa de faltar ao respeito.

Narcissa Malfoy

-Lucius – cumprimentou Michael, com voz enfadonha e avançando um passo para ficar lado a lado com a filha. Os olhos de Draco observaram-no durante um momento e depois fixaram-se nos de Lenny. A sua expressão era indescritível.
-Aposto que não ficaste muito contente ao perceber que a tua querida filha, após tanto tempo sendo cepa-torta, fosse entrar nos Slytherin – sorriu Lucius e Lenny cerrou os punhos. Como podia Draco não se ter comportado de forma tão arrogante e má nos últimos anos se o único exemplo que tinha era o seu pai, este tão maléfico e frio?
Vários alunos estavam novamente a olhar para aquela cena. Uns cochichavam, outros arregalavam os olhos e alguns deles tinham as mãos nos mantos, como se estivessem prontos a sacar das suas varinhas a qualquer momento, caso houvesse uma luta e as coisas dessem para o torto.
-E eu aposto em como não conseguiste suportar o facto de a minha querida filha ultrapassar o teu querido filho em quase todas as disciplinas – argumentou Michael e Lenny sentiu-se sufocar. Isso não era bem verdade… Draco era definitivamente melhor que ela a Poções e a todas as disciplinas teóricas… além de voar melhor…
-E como é que sabes isso se só estás com ela há poucos dias desde que misteriosamente ganhou poderes? – contrapôs Lucius.
-A diretora contou-me – retorquiu Michael e Lenny não tinha a certeza se era boa ideia mencionar o nome de Minerva McGonagall naquelas circunstâncias, nem se era realmente verdade o que o pai dizia.
-Boa desculpa – riu Lucius e depois olhou para Draco – mas ainda não consegui perceber como é que o meu filho foi com a vossa filha, aquele irritante do Potter, uma sangue de lama e os pobres dos Weasleys procurar-vos…
Lenny cerrou os dentes. Ele não tinha o direito de falar assim dos seus amigos!
-Eu também não compreendo isso, mas prefiro que respeites os amigos da minha filha – Michael semicerrou os olhos, fixando-os em Draco. Lenny sentiu um arrepio na espinha à medida que tanto o pai, como Lucius e Narcissa olhavam ora para Lenny ora para Draco.
-A tua filha decidiu levar um colega Slytherin para lhe fazer companhia, foi? – desdenhou Lucius e Lenny odiou a forma como Lucius falava dela como se ela não estivesse ali. Não podia ele perguntar-lhe diretamente a ela?
-Se assim fosse teria levado um melhor, não é? – irritou-se Michael. Com este comentário, Draco desviou os olhos dos de Lenny e esta não precisou de Legilimância para perceber o que Draco estava a pensar… “sabia que não te merecia, Lenny, que eras melhor do que eu valia…”.
-Como te atreves…? – enfureceu-se Lucius, mas Narcissa agarrou-lhe no manto, sussurrando-lhe algo ao ouvido.
-Diz-me que não é verdade, Lucius... sendo filho de um sacana como tu… - continuou Michael.
-Pai! – gritou Lenny, não querendo saber da figura que podia estar a fazer em frente aos seus colegas. Porque estava o pai a falar assim para Lucius? E a falar assim de Draco? Sabia que era assim que a maioria das pessoas da escola pensava, menos os Slytherin, mas… doía-lhe saber que era assim que o pai pensava de Draco.
-Que é? – questionou ele, olhando brevemente para a filha. Lenny hesitou. Agora era o momento certo de dizer a ambas as famílias o que Lenny e Draco sentiam um pelo outro… mas não conseguiu. Nem Draco. Em vez disso, optou pela via mais fiável.
-Estás a fazer uma cena em frente a toda a gente! – murmurou ela – para com isso, parecem dois adolescentes às turras.
Michael suspirou.
-Está bem, mas porque não podem simplesmente explicar porque é que ele foi contigo procurar-nos?
Lenny não sabia como os seus pais e os pais de Draco ainda não tinham percebido a verdade ou como ainda ninguém lhes tinha dito nada e isso deixava-a enervada e nervosa, mas queria dizer a verdade num local sossegado e não com um montão de gente a assistir como se fosse um filme.
-Fui com ela porque… - disse Draco antes que Lenny pudesse responder e todos os olhares se cravaram nele – porque não tive escolha.
Lenny sentiu um baque no coração. De que raio estava ele a falar? Estaria ele a mentir para os encobrir ou estaria mesmo a confessar o que lhe ia na cabeça? E se fosse esse o caso… Draco afirmara que tinham ido todos porque queriam, por isso que estava ele a dizer?
-Não tive escolha porque… - Draco olhou para Lenny e rapidamente desviou o olhar – porque, cusco como sou, vi a Lenny e os outros a embrenharem-se na Florestas Proibida e fui atrás deles. Depois uns pássaros atacaram-nos e eu já não pude voltar para trás.
Não era a desculpa mais credível de sempre e Lenny não sabia se coincidia ou não com a versão que os gémeos haviam dito a toda a gente, mas quem conhecesse Draco minimamente sabia que ele era pessoa para incomodar os outros. De qualquer forma, os gémeos provavelmente só começaram a contar a jornada a partir da altura em que se encontravam na Floresta, o que fazia os factos coincidirem.
-E pronto, é tudo - finalizou.
-Porque não disseram antes? – grunhiu Lucius.
-Não nos deram oportunidade! – exclamou Lenny, rezando para que ninguém tivesse a excelente ideia de os denunciar e de dizer que a única razão porque Draco fora com Lenny era porque gostavam um do outro – estão constantemente a implicar!
Passado algum tempo de silêncio, Michael assentiu levemente com a cabeça.
-Está bem, então – suspirou ele, lançando um último olhar à família Malfoy e perfurando entre a multidão. Lenny não se atreveu a olhar Draco uma última vez e apressou-se a seguir o pai antes que alguém os pudesse denunciar ou provocasse mais conflitos. 

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