sábado, 8 de fevereiro de 2014

Amortentia

Lenny despediu-se dos pais e da avó junto ao portão de Hogwarts. Estes ficariam na escola durante mais alguns dias e depois regressariam a casa. Michael e Melanie regressariam ao seu trabalho como Aurors e lentamente retomariam a sua vida normal. Apesar de tudo isso contribuir imensamente para a felicidade de Lenny, esta não se conseguia sentir verdadeiramente feliz por causa de Draco e da situação das duas famílias. Lenny sabia que entre eles nunca podia resultar enquanto as duas famílias não resolvessem as suas divergências, e isso parecia impossível. Os Gant e os Malfoy não se suportavam e isso entristecia Lenny. Não que a rapariga não compreendesse a razão pela qual os pais não suportavam Lucius, mas mesmo assim, gostaria que eles fizessem um esforço. À noite, depois do jantar e já com Lucius e Narcissa fora de Hogwarts, Lenny decidiu subir até à Torre de Astronomia. Estava uma noite estrelada e soprava uma brisa fria, mas Lenny não se importou. A diretora reservara um quarto para os pais de Lenny e outro para a sua avó na área de aposentos dos professores e funcionários, mas estes tinham ficado a conversar com os professores depois do jantar.
-Desculpa-me - disse uma voz. Lenny virou-se, vendo Draco com um olhar triste a olhar para si. Custava-lhe vê-lo assim.
-Desculpa-me também.
-Eu é que tenho de pedir desculpas, Lenny. O meu pai não foi nada gentil contigo nem com o teu pai.
-A culpa não é tua - afirmou Lenny, virando-se de volta para a varanda da torre. Draco aproximou-se.
-Mas...
-Draco, prefiro não falar mais sobre isso. Nós não temos culpa que as nossas famílias não se suportem. Mas, sinceramente, por mim, isso não vai ser impedimento.
-Impedimento para quê? - perguntou Draco, já com melhor cara. Lenny virou-se para ele, encarando-o. Respirou fundo. Sentia que estava na hora de fazerem finalmente as pazes.
-Eu amo-te, Draco. E não quero... não quero deixar de falar contigo, deixar de estar contigo por causa deles. Não te quero perder por causa de uma estupidez destas, Draco. Na verdade - os olhos de Lenny brilharam - não te quero perder por nada.
Os olhos de Draco iluminaram-se e ele aproximou-se.
-Eu também te amo, Lenny. E não me vais perder. Só espero estar suficientemente à altura para não te perder. Eu não te mereço, Lenny.
Instintivamente, a rapariga pousou-lhe um dedo nos lábios.
-Para com isso, Draco. Tu não me vais perder. E começa a habituar-te que me mereces. No fundo, tu tens sentimentos. És uma boa pessoa.
Draco sorriu tristemente.
-Tu sabes que eu não acredito nisso...
-E tu sabes que eu costumo ter sempre razão - Lenny sorriu e puxou Draco para si pelos colarinhos. Ele envolveu-lhe a cintura com os braços e ela afagou-lhe o cabelo sedoso, enquanto os seus lábios se tocavam apaixonadamente. Era a primeira vez que se beijavam desde que tinham iniciado a jornada em busca dos pais de Lenny. Depois ela baixou o braço e levantou-lhe delicadamente a manga do manto, tocando ao de leve na cicatriz do seu antebraço esquerdo onde em tempos estivera a marca negra dos Devoradores da Morte. Draco afastou-se bruscamente.
-Desculpa - disse Lenny, preocupada - dói?
-Não é isso... - Draco abanou a cabeça - é só que prefiro esquecer a existência dessa cicatriz e do que a marca me fez passar.
-Mas tu sabes que não vais esquecer.
-Infelizmente.
-Por isso a melhor maneira de resolveres tudo é lembrares-te de que isso faz parte do teu passado. Todos fazemos coisas de que não nos orgulhamos, Draco. Só temos de ultrapassar isso.
Draco virou-se para a varanda, mirando o céu estrelado.
-Às vezes pergunto-me o que viste em mim, Lenny. Não sou nada de especial, não positivamente. Podias ter ficado com quem quisesses... mas escolheste-me e eu não percebo. És melhor do que eu.
-Draco, não comeces outra vez, por favor - pediu Lenny - pensei que tivéssemos resolvido isso. Não era qualquer pessoa que embarcava numa jornada como a nossa, ainda por mais com pessoas com quem não se dá bem. Mas tu fizeste-o, Draco.
-Eu sei, mas... a discussão que os nosso pais tiveram um com o outro... fez-me relembrar tudo.
Lenny suspirou.
-Draco, eu gosto de ti tal como és. Eu sei que erraste no passado, mas não te vou julgar. Estou aqui para ti, e gosto de todas as tuas falhas e imperfeições, dos teus defeitos e qualidades. Não duvides disso, Draco. É que... quando dizes que não me mereces faz-me sentir como se estivesses inseguro em relação a mim. Como se não tivesses a certeza dos meus sentimentos por ti... ou pior... como se não tivesses a certeza dos teus sentimentos por mim...
Draco olhou para ela, calando-a com um beijo intenso.
-Nunca duvides do que eu sinto por ti, Lenny - murmurou ele - nunca.
-Só quero que tomes consciência de que te escolhi a ti sabendo de todos os riscos que a minha decisão traria. E eu escolhi-te à mesma. Aliás, eu não escolhi. O meu coração escolheu.
-Mas se calhar, se tu pudesses mandar no teu coração... tinhas escolhido outra pessoa...
Lenny sorriu.
-Então teria cometido um grande erro. O meu coração sabe o que é certo para mim. Nós somos o certo e o errado, mas isso só nos torna mais vivos, mais humanos.
Draco abraçou-a fortemente, sussurrando-lhe ao ouvido:
-Obrigada.
Depois beijaram-se novamente, sob o céu estrelado e com o vento frio a envolvê-los.

*


Lenny descobriu que a bússola que apontava para aquilo que ela mais desejava no mundo lhe tinha sido oferecida por Carl Jonathan e que realmente, no baile de Inverno, ela conseguira entrar na mente da mãe, mas que em todas as outras ocasiões os pais tinham conseguido contactá-la e chamá-la. Os sonhos estranhos que tiveram eram, muitas vezes, reflexos do medo de Lenny de perder os entes queridos e da vontade e esperança de encontrar os pais. 
Por sorte, não tinha havido Quidditch, mas a equipa dos Gryffindor estava chateada por ter perdido tempo de treinos com mais de metade da sua equipa. Draco não teve tanto azar, uma vez que os Slytherin não tinham treinado muito. 
Em relação à Taça das Casas, os Gryffindor iam à frente com 150 pontos, seguidos de perto pelos Ravenclaw com 140 pontos, depois os Slytherin com 125 e por fim os Hufflepuff com 115 pontos.
Na Taça de Quidditch, os Gryffindor também lideravam, com cinco jogos ganhos de 8, depois os Slytherin, a seguir os Hufflepuff e em último os Ravenclaw.
Na segunda-feira seguinte, Lenny e os outros voltaram finalmente às aulas após três semanas de ausência. Tinham de pedir apontamentos aos colegas e rever a matéria dada, de forma a ficarem a par com a turma. Na aula de Poções, o professor Slughorn tinha alguns caldeirões com poções em cima da bancada, pedindo aos alunos para os identificar. 



Hermione acertou nas primeiras poções e quando Slughorn destapou o último caldeirão, muitas das raparigas aproximaram-se. Um cheiro leve e perfumado encheu a sala e Lenny olhou instintivamente para Draco. Ele correspondeu ao olhar. O cheiro daquela poção… cheirava a chocolate derretido, a roupa lavada, a maresia e a hortelã-pimenta… e aquele cheiro único de hortelã-pimenta era exclusivo de uma única pessoa.
Draco.
-Alguém me poderá dizer o nome desta poção? – perguntou Slughorn, deliciado com a reação dos alunos. Hermione levantou logo o braço e Slughorn concedeu-lhe a palavra.
-Amortentia, professor – respondeu ela – é… uma poção de amor.





-Exato. E a que cheira?
-A Amortentia tem um cheiro diferente para cada pessoa. O seu cheiro reproduz os cheiros que a pessoa mais gosta. A mim, por exemplo, cheira-me a… relva recém cortada, pergaminho novo… e… - porém Hermione não acabou a frase, corando levemente. Então… isso queria dizer que os cheiros preferidos de Lenny no mundo eram chocolate derretido, roupa lavada, maresia e hortelã-pimenta. Os três primeiros não a surpreendiam, sempre adorara esses cheiros… mas o cheiro daquela hortelã-pimenta só existia em Draco. Lenny perguntou-se quais seriam os cheiros para as outras pessoas, nomeadamente para Draco.
-Muito bem, miss Granger, dez pontos para os Gryffindor – disse Slughorn - a Amortentia é a poção de amor mais poderosa do mundo. Ela não cria amor verdadeiro, claro, isso é impossível. Porém, cria uma forte paixão ou obsessão e é por isso que esta poção é provavelmente a mais perigosa que se encontra nesta sala. E nas próximas duas horas vão fazer essa poção. Não tentem surripiar nenhum bocado, lancei um encantamento aos vossos caldeirões. Podem começar… agora.
Os alunos começaram a reunir o seu material. Lenny leu as instruções com cuidado, mas já sabia que a sua poção nunca ficaria igual à verdadeira.
Ao fim de duas horas, a poção de Lenny apresentava uma cor púrpura, não muito diferente da cor rosa da poção original, mas ao olhar para as poções à sua volta, constatou que a única que estava perfeitamente rosada era a de Draco.
Slughorn deu uma volta pela sala, avaliando as poções e depois bateu palmas para chamar a atenção dos alunos.
-Muito bem – começou ele – depois de ter avaliado as vossas poções, posso afirmar que a reprodução mais fiel da Amortentia é a de Draco. Como prémio, os Slytherin ganham vinte e cinco pontos.
Ouviram-se aplausos vindos dos Slytherin e um deles perguntou:
-Ele não vai receber um pouco da poção como prémio?
Slughorn sorriu, mas foi Draco quem respondeu.
-Não preciso de nenhuma poção de amor se o consigo encontrar livre e verdadeiramente – declarou ele, os olhos a fitar intensamente os de Lenny. Ela olhou para baixo, corando. Alguns alunos assobiaram. O cheiro a hortelã-pimenta multiplicado pelo número de poções de Amortentia dos alunos fez o coração de Lenny bater mais depressa.


*

-Então, Hermione, qual era o terceiro cheiro que cheiraste na Amortentia? – perguntou Ron, curioso, quando estavam a sair da aula de Poções. Ela corou novamente.
-Não é da tua conta – respondeu – e já agora, o que é que tu cheiraste?
Ron olhou para baixo.
-Também não é da tua conta.
Lenny estava a apreciar a conversa, pois sabia que ambos tinham cheirado o aroma um do outro, só que não queriam admitir, mas depois viu Draco com Pansy, Blaise, Gregory, Vincent e outros a saírem da sala de Poções.
-Volto já – afirmou, mas nem Hermione nem Ron a ouviram pois continuavam a discutir. Ao ver Lenny, Draco terminou a conversa com os amigos, para grande descontentamento de Pansy, e foi ter com Lenny.
-Parabéns por teres feito a melhor poção – felicitou Lenny, quando se afastaram do corredor para um beco recostado.
-Obrigado – sorriu Draco.
-Pergunto-me se…
-Sim, a Amortentia cheirava-me a frutos silvestres – cortou Draco e Lenny ficou atordoada.
-O quê? – questionou ela.
-O teu aroma, Lenny. Tu usas pasta de dentes de frutos silvestres e às vezes também pões perfume desses frutos. Ias perguntar-me se eu sentira algum cheiro teu, não ias?
-Como é que sabias? – interrogou Lenny, um pouco emocionada.
-Olhaste para mim assim que o Slughorn levantou a tampa do caldeirão onde estava a Amortentia; como se de súbito sentisses o meu cheiro, como se eu estivesse ao teu lado quando na verdade estava do outro lado da sala. Calculei que tivesses sentido o meu aroma, tal como eu senti o teu.
Lenny mordeu o lábio inferior. Draco era inteligente, não havia dúvidas disso.
-Eu cheirei… hortelã-pimenta. E tinha como que um aroma especial, único… o teu.
Draco sorriu, não um daqueles seus sorrisos meio endiabrados, mas sim um sorriso genuíno, verdadeiro. 
Amor verdadeiro. 

Sem comentários:

Enviar um comentário