Lenny despediu-se
dos pais e da avó junto ao portão de Hogwarts. Estes ficariam na escola durante
mais alguns dias e depois regressariam a casa. Michael e Melanie regressariam
ao seu trabalho como Aurors e lentamente retomariam a sua vida normal. Apesar
de tudo isso contribuir imensamente para a felicidade de Lenny, esta não se
conseguia sentir verdadeiramente feliz por causa de Draco e da situação das
duas famílias. Lenny sabia que entre eles nunca podia resultar enquanto as duas
famílias não resolvessem as suas divergências, e isso parecia impossível. Os
Gant e os Malfoy não se suportavam e isso entristecia Lenny. Não que a rapariga
não compreendesse a razão pela qual os pais não suportavam Lucius, mas mesmo
assim, gostaria que eles fizessem um esforço. À noite, depois do jantar e já com
Lucius e Narcissa fora de Hogwarts, Lenny decidiu subir até à Torre de
Astronomia. Estava uma noite estrelada e soprava uma brisa fria, mas Lenny não
se importou. A diretora reservara um quarto para os pais de Lenny e outro para
a sua avó na área de aposentos dos professores e funcionários, mas estes tinham
ficado a conversar com os professores depois do jantar.
-Desculpa-me - disse
uma voz. Lenny virou-se, vendo Draco com um olhar triste a olhar para si.
Custava-lhe vê-lo assim.
-Desculpa-me também.
-Eu é que tenho de
pedir desculpas, Lenny. O meu pai não foi nada gentil contigo nem com o teu
pai.
-A culpa não é tua -
afirmou Lenny, virando-se de volta para a varanda da torre. Draco aproximou-se.
-Mas...
-Draco, prefiro não
falar mais sobre isso. Nós não temos culpa que as nossas famílias não se
suportem. Mas, sinceramente, por mim, isso não vai ser impedimento.
-Impedimento para
quê? - perguntou Draco, já com melhor cara. Lenny virou-se para ele,
encarando-o. Respirou fundo. Sentia que estava na hora de fazerem finalmente as
pazes.
-Eu amo-te, Draco. E
não quero... não quero deixar de falar contigo, deixar de estar contigo por
causa deles. Não te quero perder por causa de uma estupidez destas, Draco. Na
verdade - os olhos de Lenny brilharam - não te quero perder por nada.
Os olhos de Draco
iluminaram-se e ele aproximou-se.
-Eu também te amo,
Lenny. E não me vais perder. Só espero estar suficientemente à altura para não
te perder. Eu não te mereço, Lenny.
Instintivamente, a
rapariga pousou-lhe um dedo nos lábios.
-Para com isso,
Draco. Tu não me vais perder. E começa a habituar-te que me mereces. No fundo,
tu tens sentimentos. És uma boa pessoa.
Draco sorriu
tristemente.
-Tu sabes que eu não
acredito nisso...
-E tu sabes que eu
costumo ter sempre razão - Lenny sorriu e puxou Draco para si pelos colarinhos.
Ele envolveu-lhe a cintura com os braços e ela afagou-lhe o cabelo sedoso,
enquanto os seus lábios se tocavam apaixonadamente. Era a primeira vez que se
beijavam desde que tinham iniciado a jornada em busca dos pais de Lenny. Depois
ela baixou o braço e levantou-lhe delicadamente a manga do manto, tocando ao de
leve na cicatriz do seu antebraço esquerdo onde em tempos estivera a marca negra dos
Devoradores da Morte. Draco afastou-se bruscamente.
-Desculpa - disse
Lenny, preocupada - dói?
-Não é isso... -
Draco abanou a cabeça - é só que prefiro esquecer a existência dessa cicatriz e
do que a marca me fez passar.
-Mas tu sabes que
não vais esquecer.
-Infelizmente.
-Por isso a melhor
maneira de resolveres tudo é lembrares-te de que isso faz parte do teu passado.
Todos fazemos coisas de que não nos orgulhamos, Draco. Só temos de ultrapassar isso.
Draco virou-se para
a varanda, mirando o céu estrelado.
-Às vezes
pergunto-me o que viste em mim, Lenny. Não sou nada de especial, não
positivamente. Podias ter ficado com quem quisesses... mas escolheste-me e eu
não percebo. És melhor do que eu.
-Draco, não comeces
outra vez, por favor - pediu Lenny - pensei que tivéssemos resolvido isso. Não
era qualquer pessoa que embarcava numa jornada como a nossa, ainda por mais com
pessoas com quem não se dá bem. Mas tu fizeste-o, Draco.
-Eu sei, mas... a
discussão que os nosso pais tiveram um com o outro... fez-me relembrar tudo.
Lenny suspirou.
-Draco, eu gosto de
ti tal como és. Eu sei que erraste no passado, mas não te vou julgar. Estou
aqui para ti, e gosto de todas as tuas falhas e imperfeições, dos teus defeitos
e qualidades. Não duvides disso, Draco. É que... quando dizes que não me
mereces faz-me sentir como se estivesses inseguro em relação a mim. Como se não
tivesses a certeza dos meus sentimentos por ti... ou pior... como se não
tivesses a certeza dos teus sentimentos por mim...
Draco olhou para
ela, calando-a com um beijo intenso.
-Nunca duvides do
que eu sinto por ti, Lenny - murmurou ele - nunca.
-Só quero que tomes
consciência de que te escolhi a ti sabendo de todos os riscos que a minha
decisão traria. E eu escolhi-te à mesma. Aliás, eu não escolhi. O meu coração
escolheu.
-Mas se calhar, se
tu pudesses mandar no teu coração... tinhas escolhido outra pessoa...
Lenny sorriu.
-Então teria
cometido um grande erro. O meu coração sabe o que é certo para mim. Nós somos o
certo e o errado, mas isso só nos torna mais vivos, mais humanos.
Draco abraçou-a
fortemente, sussurrando-lhe ao ouvido:
-Obrigada.
Depois beijaram-se
novamente, sob o céu estrelado e com o vento frio a envolvê-los.
*
Lenny descobriu que a bússola que apontava para aquilo que
ela mais desejava no mundo lhe tinha sido oferecida por Carl Jonathan e que realmente, no baile de Inverno, ela conseguira entrar na mente da mãe, mas que em todas as outras ocasiões os pais tinham conseguido contactá-la e chamá-la. Os sonhos estranhos que tiveram eram, muitas vezes, reflexos do medo de Lenny de perder os entes queridos e da vontade e esperança de encontrar os pais.
Por sorte, não tinha havido Quidditch, mas a equipa dos Gryffindor estava chateada por ter perdido tempo de treinos com mais de metade da sua equipa. Draco não teve tanto azar, uma vez que os Slytherin não tinham treinado muito.
Em relação à Taça das Casas, os Gryffindor iam à frente com 150 pontos, seguidos de perto pelos Ravenclaw com 140 pontos, depois os Slytherin com 125 e por fim os Hufflepuff com 115 pontos.
Na Taça de Quidditch, os Gryffindor também lideravam, com cinco jogos ganhos de 8, depois os Slytherin, a seguir os Hufflepuff e em último os Ravenclaw.
Na segunda-feira
seguinte, Lenny e os outros voltaram finalmente às aulas após três semanas de
ausência. Tinham de pedir apontamentos aos colegas e rever a matéria dada, de
forma a ficarem a par com a turma. Na aula de Poções, o professor Slughorn
tinha alguns caldeirões com poções em cima da bancada, pedindo aos alunos para
os identificar.
Hermione acertou nas primeiras poções e quando Slughorn destapou o
último caldeirão, muitas das raparigas aproximaram-se. Um cheiro leve e
perfumado encheu a sala e Lenny olhou instintivamente para Draco. Ele
correspondeu ao olhar. O cheiro daquela poção… cheirava a chocolate derretido,
a roupa lavada, a maresia e a hortelã-pimenta… e aquele cheiro único de
hortelã-pimenta era exclusivo de uma única pessoa.
Draco.
-Alguém me poderá
dizer o nome desta poção? – perguntou Slughorn, deliciado com a reação dos
alunos. Hermione levantou logo o braço e Slughorn concedeu-lhe a palavra.
-Amortentia,
professor – respondeu ela – é… uma poção de amor.
-Exato. E a que
cheira?
-A Amortentia tem um
cheiro diferente para cada pessoa. O seu cheiro reproduz os cheiros que a
pessoa mais gosta. A mim, por exemplo, cheira-me a… relva recém cortada,
pergaminho novo… e… - porém Hermione não acabou a frase, corando levemente.
Então… isso queria dizer que os cheiros preferidos de Lenny no mundo eram chocolate
derretido, roupa lavada, maresia e hortelã-pimenta. Os três primeiros não a surpreendiam, sempre adorara esses cheiros… mas o cheiro daquela
hortelã-pimenta só existia em Draco. Lenny perguntou-se quais seriam os cheiros
para as outras pessoas, nomeadamente para Draco.
-Muito bem, miss
Granger, dez pontos para os Gryffindor – disse Slughorn - a Amortentia é a
poção de amor mais poderosa do mundo. Ela não cria amor verdadeiro, claro,
isso é impossível. Porém, cria uma forte paixão ou obsessão e é por isso que esta
poção é provavelmente a mais perigosa que se encontra nesta sala. E nas
próximas duas horas vão fazer essa poção. Não tentem surripiar nenhum bocado,
lancei um encantamento aos vossos caldeirões. Podem começar… agora.
Os alunos começaram
a reunir o seu material. Lenny leu as instruções com cuidado, mas já sabia que a sua poção nunca ficaria igual à verdadeira.
Ao fim de duas
horas, a poção de Lenny apresentava uma cor púrpura, não muito diferente da cor
rosa da poção original, mas ao olhar para as poções à sua volta, constatou que
a única que estava perfeitamente rosada era a de Draco.
Slughorn deu uma
volta pela sala, avaliando as poções e depois bateu palmas para chamar a
atenção dos alunos.
-Muito bem – começou
ele – depois de ter avaliado as vossas poções, posso afirmar que a reprodução
mais fiel da Amortentia é a de Draco. Como prémio, os Slytherin ganham vinte e
cinco pontos.
Ouviram-se aplausos
vindos dos Slytherin e um deles perguntou:
-Ele não vai receber
um pouco da poção como prémio?
Slughorn sorriu, mas
foi Draco quem respondeu.
-Não preciso de
nenhuma poção de amor se o consigo encontrar livre e verdadeiramente – declarou
ele, os olhos a fitar intensamente os de Lenny. Ela olhou para baixo, corando. Alguns
alunos assobiaram. O cheiro a hortelã-pimenta multiplicado pelo número de
poções de Amortentia dos alunos fez o coração de Lenny bater mais depressa.
*
-Então, Hermione, qual era o terceiro cheiro que cheiraste na
Amortentia? – perguntou Ron, curioso, quando estavam a sair da aula de Poções.
Ela corou novamente.
-Não é da tua conta – respondeu – e já agora, o que é que tu cheiraste?
Ron olhou para baixo.
-Também não é da tua conta.
Lenny estava a apreciar a conversa, pois sabia que ambos tinham
cheirado o aroma um do outro, só que não queriam admitir, mas depois viu Draco
com Pansy, Blaise, Gregory, Vincent e outros a saírem da sala de Poções.
-Volto já – afirmou, mas nem Hermione nem Ron a ouviram pois
continuavam a discutir. Ao ver Lenny, Draco terminou a conversa com os amigos,
para grande descontentamento de Pansy, e foi ter com Lenny.
-Parabéns por teres feito a melhor poção – felicitou Lenny, quando se
afastaram do corredor para um beco recostado.
-Obrigado – sorriu Draco.
-Pergunto-me se…
-Sim, a Amortentia cheirava-me a frutos silvestres – cortou Draco e
Lenny ficou atordoada.
-O quê? – questionou ela.
-O teu aroma, Lenny. Tu usas pasta de dentes de frutos silvestres e às
vezes também pões perfume desses frutos. Ias perguntar-me se eu sentira algum
cheiro teu, não ias?
-Como é que sabias? – interrogou Lenny, um pouco emocionada.
-Olhaste para mim assim que o Slughorn levantou a tampa do caldeirão
onde estava a Amortentia; como se de súbito sentisses o meu cheiro, como se eu
estivesse ao teu lado quando na verdade estava do outro lado da sala. Calculei
que tivesses sentido o meu aroma, tal como eu senti o teu.
Lenny mordeu o lábio inferior. Draco era inteligente, não havia dúvidas
disso.
-Eu cheirei… hortelã-pimenta. E tinha como que um aroma especial,
único… o teu.
Draco sorriu, não um daqueles seus sorrisos meio endiabrados, mas sim um sorriso genuíno, verdadeiro. Amor verdadeiro.
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