terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Dia de São Valentim

O Dia dos Namorados, ou Dia de São Valentim, não era só celebrado pelos Muggles, mas também pelos feiticeiros. O dia em que essa data era celebrada dependia de país para país, mas na Escócia, onde se situava o castelo de Hogwarts, era celebrado no dia 14 de Fevereiro.
Muita gente tinha ido a Hogsmeade no fim-de-semana em que Lenny acordara, para comprar presentes aos namorados, pretendentes, ou mesmo aos amigos, mas Lenny não pudera comprar nada. De facto, tinha-se esquecido completamente dessa data. Quando andava na escola dos Muggles, a data não lhe dizia nada - os rapazes pareciam-lhe todos estúpidos e nenhum estava interessado nela, e ela também não tinha interesse em ninguém. Mas depois apaixonara-se por Draco... e agora não podia deixar passar aquela data.
-Vais oferecer alguma coisa ao Adrian? - questionou Lenny a Daphne, no dia 13 de Fevereiro à noite, na sala comum dos Slytherin. Os pais e a avó já tinham voltado para casa e os pais iam regressar ao seu trabalho como Aurors.
-Não sei - respondeu ela - e tu e o Draco?
-Bom, eu queria, mas... para ser sincera não faço a mínima ideia do que lhe oferecer.
-O Draco não me parece o tipo de pessoa de se importar se não lhe ofereceres nada - retorquiu Daphne.
-Se calhar tens razão - concordou Lenny.

*

No segundo ano de Harry e dos outros em Hogwarts, Gilderoy Lockhart, o então professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, enfeitara o Salão Nobre no dia dos Namorados com motivos floridos, rosas e corações, mas naquela manhã de 14 de Fevereiro o salão encontrava-se normal. Sem ser, claro, as pessoas a trocarem caixas de chocolate, perfumes ou peluches umas com as outras. 
A opinião de Lenny mantinha-se em relação a tudo aquilo: continuava a não ligar muito a flores e peluches e todos aqueles risinhos punham-na um pouco enjoada. 
-Ainda só estamos de manhã e já estou farta desta atmosfera - declarou Lenny, sentando-se ao lado de Draco no Salão Nobre ao pequeno-almoço.
-Eu também - afirmou Draco. Não falaram mais sobre essa data, mas ao dirigirem-se para a primeira aula, Draco levou-a um canto mais recostado, por detrás de uma estátua.
-Sei que não gostas muito desta data - sussurrou ele - mas é o primeiro 14 de Fevereiro em que me sinto  realmente bem... importavas-te de te encontrar comigo depois do jantar no corredor esquerdo do sétimo andar?
Lenny franziu o sobrolho. Porquê aí?
-Sétimo andar? Há aí algo de especial?
Draco sorriu brevemente.
-Há algo que te quero mostrar. 
-Ok. Agora estou curiosa - alegou Lenny.
-Ainda bem - sorriu Draco e dirigiram-se para as suas aulas.

*

Lenny mal conseguiu manter a sua curiosidade durante o resto do dia. Pensava em tudo aquilo que Draco lhe poderia querer mostrar, mas não fazia ideia do que seria. Na aula de Poções, Slughorn retirara dez pontos aos Gryffindor por Lavender Brown e Parvati Patil terem tentado surripiar a receita da Amortentia do livro de Poções. 
Por todo o lado, casais passeavam de mãos dadas, algumas raparigas choravam por não serem correspondidas e os rapazes conversavam entre si a ver se haviam ou não de se declarar. 
Finalmente, o jantar no Salão Nobre acabou e Lenny dirigiu-se rapidamente à sala comum dos Slytherin. Lavou os dentes com a pasta de dentes de frutos silvestres, tentou pentear o cabelo e ajeitou o manto. Por volta das oito e quarenta dirigiu-se ao corredor esquerdo do sétimo andar. Draco já lá estava e sorriu ao vê-la.
-Porque estás parado à frente da tapeçaria de Barnabé e Barmy a tentar ensinar os trolls bebés? - inquiriu Lenny, referindo-se uma tapeçaria encostada à parede do corredor. 
Não estava mais ninguém no corredor, uma vez que eram quase nove da noite, a hora de recolher para os quintos anos para cima, e Draco virou-se de costas para a tal tapeçaria, encarando a parede à sua frente.
-Não me orgulho da forma como descobri isto, Lenny, mas à nossa frente há uma sala escondida, a Sala das Necessidades. Só aparece às vezes, consoante precises mesmo de alguma coisa. Por exemplo, se quiseres ir à casa-de-banho mas ela estiver muito longe, basta pensares três  vezes numa casa-de-banho que a Sala das Necessidades se transforma numa. Se te quiseres esconder de alguém, basta pedires à Sala das Necessidades, que ela certifica-se que essa pessoa não te encontra enquanto estiveres dentro da Sala.
-Uau - disse Lenny, espantada.
-Foi usada pelo Potter e pelos outros no nosso quinto ano quando eles criaram o Exército de Dumbledore de forma a treinarem Defesa contra as Artes das Trevas, e também foi usado por mim quando...  quando reparei os Armários de Desaparecimento para deixar entrar os... os Devoradores da Morte em Hogwarts, no sexto ano.
Lenny pegou-lhe na mão, apertando-a na sua. Sabia que Draco não se orgulhava daquilo. Draco respirou fundo, acalmando-se com o toque de Lenny.
-Mas isso é passado e... e queria mostrar-ta, Lenny.
-E vais pensar em quê para ela aparecer?
Draco sorriu, concentrando-se. A princípio, nada aconteceu, mas depois uma porta apareceu na parede em frente deles. Draco abriu-a, deixando Lenny entrar.
A sala não era grande, pois eles não precisavam. Tinha uma lareira que lançava luz, dois cadeirões e um sofá. Era como que uma representação da sala comum dos Slytherin, em tons verdes e prateados, mas mais acolhedora.
-Onde é que tu queres chegar com o sofá, Draco? - riu Lenny e Draco quase se engasgou.
-Isso... isso não, Lenny! Só queria algo calmo onde pudéssemos estar e conversar à vontade. 
-Estava a brincar, Draco, não precisavas de ficar tão nervoso - provocou Lenny.
-Eu não estava nervoso! - replicou Draco, corado. Lenny sentou-se no sofá, com Draco ao seu lado. Depois este retirou algo do bolso do casaco.
-Fui a Hogsmeade no sábado, antes de acordares. Queria dar-te alguma coisa na mesma. Sei que não és muito fã de flores e isso, por isso... quando vi isto... achei que ias gostar - Draco estendeu-lhe um embrulho prateado. Lenny abriu-o e quando viu o que era, sorriu. 
-Tu conheces-me bem, Draco - sorriu ela - adoro! Obrigada!
Draco sorriu com sinceridade. Parecia aliviado.
-Ainda bem que gostas.
Draco oferecera a Lenny uma carteira verde com serpentes entrelaçadas.


-Agora sinto-me culpada. Não tenho nada para te dar - disse Lenny.
-Devolveste-me a minha humanidade, Lenny - Draco olhou-a com ar sério - e ofereceste-me um futuro melhor. Que mais podia pedir?
-Então, não ficas chateado?
-Claro que não!
-Obrigada, Draco - sorriu Lenny, aninhando-se no colo dele. Ele afagou-lhe o cabelo rebelde, o hálito a hortelã-pimenta a fazer cócegas no ouvido de Lenny.
-Obrigado eu - sussurrou.

*

Lenny acabou por adormecer aninhada nos braços de Draco, acordando no dia seguinte com aquele a seu lado. A rapariga não saberia dizer ao certo quanto tempo falara com ele: falaram sobre muita coisa... Lenny contou-lhe um pouco sobre como era o mundo Muggle, a escola, as pessoas, as tradições, as culturas... Draco, a custo, contou-lhe sobre a sua tarefa no sexto ano, e sobre como o pressionaram a ser um Devorador da Morte devido aos seus pais. Falaram sobre as rivalidades entre os Gant e os Malfoy, sobre a jornada deles e sobre como tinham de ser mais discretos para os pais não desconfiarem de nada. 
Fora a conversa mais longa e intensa que Lenny e Draco tiveram, mas ajudara-os a ficarem mais próximos.
-Bom dia - sussurrou ele, afagando-lhe o cabelo.
-Bom dia - respondeu Lenny.
-Lamento estragar o momento, mas está na quase na hora do pequeno-almoço. Queres que saia primeiro?
-Não, eu vou - afirmou Lenny, despedindo-se de Draco com um beijo na cara. Depois dirigiu-se ao seu dormitório, arranjando-se, e por sorte não foi apanhada por ninguém.
-Que é que andaste a fazer ontem à noite, Lenny? - riu Fred de manhã, quando ela se dirigia para a primeira aula.
-Tu e o Draco tiveram uma boa noite? - abespinhou George. 
-Ei! - protestou Lenny, olhando-os com falsa fúria, as bochechas a ficarem vermelhas. Lenny sabia que Fred e George não sabiam de nada e que estavam apenas a gozar, mas os gémeos, sem saberem, estavam a dizer a verdade, o que fazia corar Lenny.
-Oh, vê, ela está a corar! - Fred partiu-se a rir, o que deixou Lenny verdadeiramente irritada.
-Parem com a brincadeira! Eu não ando para aí a comentar as vossas vidas amorosas! - exclamou ela e depois sorriu maliciosamente - oh, esqueçam, vocês não têm vidas amorosas...
-Outch! - exclamou uma voz. Era Ginny, que dobrou a esquina do corredor e veio ter com eles - essa foi boa!
-Foi maldosa! - replicou George.
Lenny manteve o sorriso.
-Afinal, eu sou a pequena Feiticeira do Mal, certo?
Os gémeos sorriram.
-O teu sorriso malévolo é a confirmação.
Lenny voltou a sorrir, mas agora naturalmente, um sorriso sincero.

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