Ginny dormira durante toda a noite em cima de uma manta tosca e remendada, resultado da Transfiguração a uma pedra caída no chão do túnel. O calor tinha-se tornado insuportável durante a noite, mas de manhã o frio instalou-se e Ginny perguntou-se o que estariam a fazer os seus amigos em Hogwarts, como Neville e Luna, e se se estariam a perguntar onde raio estava ela. Saberia já McGonagall do desaparecimento deles? Desconfiaria ela da razão pela qual oito dos seus alunos tinham desaparecido? E as aulas e os exames do fim do ano? Para Harry, Ron, Hermione, Lenny e Draco ainda seria pior faltar às aulas, já que era o ano dos seus EFBE's e não convinha nada perder matéria... mas Ginny sabia que era por uma boa causa: se os pais dela estivessem desaparecidos, ela também gostaria de ter os amigos mais chegados por perto.
De manhã, Ginny retirou um tupperware da sua mala vermelha e comeu um pão com ovo, mas não antes de o duplicar através da Maldição Gemino. Guardou então a réplica do pão com ovo de volta no tupperware e prosseguiu viagem.
Andou durante cerca de meia-hora, as pernas já entorpecidas e os dentes a bater de frio, quando um vento lhe levantou os cabelos e lhe soprou na cara. Viu luz no fundo do túnel e à medida que se aproximava, árvores e arbustos apareciam: era a saída do túnel. Correu para lá, ofegante e o que viu, assim que saiu para o ar fresco, deixou-a confusa, desconfiada, mas acima de tudo, aliviada.
Os campos estavam verdes e calmos, soprava uma brisa fresca e a casa desengonçada de vários andares encontrava-se em silêncio. Ginny chegara à "Toca".
Talvez se devesse ter perguntado o que estava ali a fazer, em que é que a sua casa a ia ajudar, a ela e a Lenny, a encontrar os pais da última, mas a verdade é que não o fez. Estava tão entusiasmada e ansiosa com a perspetiva de ver os seus pais e talvez algum dos seus irmãos mais velhos, que desatou a correr em direção à casa, sem parar para pensar.
A porta da frente encontrava-se destrancada, mas talvez Molly, através do relógio pendurado na parede da sala de estar, soubesse que Ginny estava a chegar e lhe tivesse aberto a porta, já que o relógio tinha nove ponteiros, cada um com uma fotografia de um dos membros da família. Em vez de horas, o relógio tinha possíveis localizações onde os membros da família podiam estar: em casa, na escola, no trabalho, a viajar, "perdido", no hospital, na prisão ou "em perigo de vida".
Ginny pensou ter ouvido o ruído de tachos vindo da cozinha, mas assim que lá chegou, verificou que esta se encontrava vazia.
-Mãe? - chamou - pai?
Embora soubesse que muito embora o pai estivesse, àquela hora, a trabalhar no Ministério da Magia, não resistiu em chamá-lo também.
-Bill? Charlie? Percy? - bramou, mas não obteve resposta e saiu da cozinha. Olhou para o sítio onde costumava estar pendurado o relógio, na sala de estar, mas este desaparecera. Correu escadas acima com o medo a tomar conta dela: algo de muito errado se passava ali. Subiu ao primeiro andar e abriu a porta do seu quarto de rompante e gritou.
-NÃO! - gemeu ela. Em cima da sua cama de casal (a cama de solteiro onde Lenny dormira no Natal havia sido retirada e a de Ginny aumentada) estendia-se, inerte, o corpo da mãe, pálido como um cadáver, uma mão a pender para fora da cama, balançando no ar, a varinha firmemente agarrada com a mão, os olhos inexpressivos e vazios. Avançou para junto dela e tocou-lhe no pulso: foi como passar por um fantasma: um vento gélido abriu as janelas do quarto e os cabelos de Molly e de Ginny esvoaçaram em conjunto. Lágrimas começaram a correr violentamente pela cara de Ginny enquanto milhões de perguntas se formavam na sua mente. O que acontecera? Como acontecera? Porque acontecera?
Lentamente, virou costas ao corpo da mãe, sem conseguir acreditar no que vira, sem querer acreditar... subiu as escadas aos tropeções e entrou no quarto dos gémeos, no segundo andar, a raiva e a fúria a crescerem dentro de si.
Aí, o corpo do pai e de Charlie repousavam lado a lado, nas camas de Fred e de George, respetivamente, iguais a Molly.
-Não! - gritou ela e tombou de joelhos no chão. A dor era pior do que qualquer coisa que já tivesse sentido: cortava-a por dentro, explodia como vidro, dilacerava-a. Começou aos murros no chão de madeira do quarto dos gémeos e arrastou-se, de gatas, não conseguindo suportar a dor em pé, para o quarto de Percy, também no segundo andar. Sombriamente, aquilo que viu não a surpreendeu. O corpo de Percy jazia como um cadáver, no chão do quarto, um olho aberto, outro fechado, a varinha a poucos milímetros dos seus dedos. Queria tocar na face do irmão, mas não queria ao mesmo tempo. Aquilo não podia estar a acontecer. Era surreal, demasiado assustador, demasiado horrível, demasiado mórbido, demasiado...
Ginny levantou-se e correu escadas acima, abrindo a porta do quarto de Bill e Charlie. Aí, Bill encontrava-se de barriga para baixo, estendido no chão, o corpo desfigurado e quase impossível de reconhecer, não fossem as marcas das garras de Fenrir Greyback na bochecha direita e o cabelo comprido e ruivo sujo e enlameado. Encaminhou-se ao quarto dos pais, com dificuldade e chorou com mais força do que havia chorado anteriormente. Fred, George, Ron e Harry encontravam-se amontoados, alguns sem cabeça, outros sem pernas, numa confusão medonha... como se fossem lixo, como se não tivessem qualquer importância e no entanto Ginny não aguentou e correu de casa para fora o mais depressa que pôde e ia tão chorosa e tão cheia de dor que quase não ia reparando que faltava alguma coisa no pátio da casa. A garagem e o rio haviam desaparecido. Na verdade, Ginny não se lembrava com exatidão se os tinha visto ou não quando chegara à "Toca", mas uma última esperança, forte e radiante, surgiu-lhe à cabeça. Talvez aquilo não passasse de um pesadelo... beliscou-se, mas não acordou... ou talvez tudo aquilo fosse o seu maior medo... recuou até conseguir ver toda a casa e a paisagem em volta, depois sacou da varinha e pronunciou, as lágrimas a rolarem-lhe descontroladamente pelas faces: se não fosse aquilo, se não resultasse... então ela não tinha mais razões para viver.
-R-Riddikulus! - e de repente, foi sugada por um vórtice invisível e a escuridão apoderou-se dela. Depois abriu os olhos lentamente e suspirou de alívio, o medo a desaparecer do seu coração, mas a raiva e a fúria a aumentar por quem quer que tenha colocado aquele Sem Forma no seu caminho... pois Ginny encontrava-se estendida de barriga para baixo no chão frio e de pedra do túnel, como se nunca de lá tivesse saído.
Ginny pensou ter ouvido o ruído de tachos vindo da cozinha, mas assim que lá chegou, verificou que esta se encontrava vazia.
-Mãe? - chamou - pai?
Embora soubesse que muito embora o pai estivesse, àquela hora, a trabalhar no Ministério da Magia, não resistiu em chamá-lo também.
-Bill? Charlie? Percy? - bramou, mas não obteve resposta e saiu da cozinha. Olhou para o sítio onde costumava estar pendurado o relógio, na sala de estar, mas este desaparecera. Correu escadas acima com o medo a tomar conta dela: algo de muito errado se passava ali. Subiu ao primeiro andar e abriu a porta do seu quarto de rompante e gritou.
-NÃO! - gemeu ela. Em cima da sua cama de casal (a cama de solteiro onde Lenny dormira no Natal havia sido retirada e a de Ginny aumentada) estendia-se, inerte, o corpo da mãe, pálido como um cadáver, uma mão a pender para fora da cama, balançando no ar, a varinha firmemente agarrada com a mão, os olhos inexpressivos e vazios. Avançou para junto dela e tocou-lhe no pulso: foi como passar por um fantasma: um vento gélido abriu as janelas do quarto e os cabelos de Molly e de Ginny esvoaçaram em conjunto. Lágrimas começaram a correr violentamente pela cara de Ginny enquanto milhões de perguntas se formavam na sua mente. O que acontecera? Como acontecera? Porque acontecera?
Lentamente, virou costas ao corpo da mãe, sem conseguir acreditar no que vira, sem querer acreditar... subiu as escadas aos tropeções e entrou no quarto dos gémeos, no segundo andar, a raiva e a fúria a crescerem dentro de si.
Aí, o corpo do pai e de Charlie repousavam lado a lado, nas camas de Fred e de George, respetivamente, iguais a Molly.
-Não! - gritou ela e tombou de joelhos no chão. A dor era pior do que qualquer coisa que já tivesse sentido: cortava-a por dentro, explodia como vidro, dilacerava-a. Começou aos murros no chão de madeira do quarto dos gémeos e arrastou-se, de gatas, não conseguindo suportar a dor em pé, para o quarto de Percy, também no segundo andar. Sombriamente, aquilo que viu não a surpreendeu. O corpo de Percy jazia como um cadáver, no chão do quarto, um olho aberto, outro fechado, a varinha a poucos milímetros dos seus dedos. Queria tocar na face do irmão, mas não queria ao mesmo tempo. Aquilo não podia estar a acontecer. Era surreal, demasiado assustador, demasiado horrível, demasiado mórbido, demasiado...
Ginny levantou-se e correu escadas acima, abrindo a porta do quarto de Bill e Charlie. Aí, Bill encontrava-se de barriga para baixo, estendido no chão, o corpo desfigurado e quase impossível de reconhecer, não fossem as marcas das garras de Fenrir Greyback na bochecha direita e o cabelo comprido e ruivo sujo e enlameado. Encaminhou-se ao quarto dos pais, com dificuldade e chorou com mais força do que havia chorado anteriormente. Fred, George, Ron e Harry encontravam-se amontoados, alguns sem cabeça, outros sem pernas, numa confusão medonha... como se fossem lixo, como se não tivessem qualquer importância e no entanto Ginny não aguentou e correu de casa para fora o mais depressa que pôde e ia tão chorosa e tão cheia de dor que quase não ia reparando que faltava alguma coisa no pátio da casa. A garagem e o rio haviam desaparecido. Na verdade, Ginny não se lembrava com exatidão se os tinha visto ou não quando chegara à "Toca", mas uma última esperança, forte e radiante, surgiu-lhe à cabeça. Talvez aquilo não passasse de um pesadelo... beliscou-se, mas não acordou... ou talvez tudo aquilo fosse o seu maior medo... recuou até conseguir ver toda a casa e a paisagem em volta, depois sacou da varinha e pronunciou, as lágrimas a rolarem-lhe descontroladamente pelas faces: se não fosse aquilo, se não resultasse... então ela não tinha mais razões para viver.
-R-Riddikulus! - e de repente, foi sugada por um vórtice invisível e a escuridão apoderou-se dela. Depois abriu os olhos lentamente e suspirou de alívio, o medo a desaparecer do seu coração, mas a raiva e a fúria a aumentar por quem quer que tenha colocado aquele Sem Forma no seu caminho... pois Ginny encontrava-se estendida de barriga para baixo no chão frio e de pedra do túnel, como se nunca de lá tivesse saído.
*
George dormira pouco naquela noite, pois morria de fome, e como não trouxera nenhum mantimento (o que lhe parecia agora uma estupidez), não tinha comida e esta era uma das cinco exceções à Lei da Transfiguração dos Elementos, de Gamp, e não podia ser transfigurada a não ser que já se tivesse alguma. Nesse caso, podia ser aumentada ou transformada noutra comida... ou então podia ser invocada se se soubesse onde estava E George sabia.
-Accio comida - disse e dali a instantes um tupperware voava na sua direção recheado de pães com várias coisas, ovo mexido, fiambre, queijo, manteiga e saladas... além de uma garrafa de água. George não sabia se viera da mala de Hermione, Ginny ou Lenny, mas isso não importava. Sabia que elas tinham armazenado muito mais comida - como é que não me lembrei de isto antes?
Comeu e bebeu até estar saciado, mas não sem antes duplicar toda a comida e a a garrafa de água três vezes e de transformar uma pedra numa mochila. Colocou a comida e a bebida na mochila e pô-la às costas, espantado e maravilhado com a sua inteligência. Mas, sem saber como, o passo seguinte que deu levou-o a uma situação devastadora que já havia vivido: havia chamas, explosões, estrondos e luzes verdes e vermelhas por todo o lado: a batalha de Hogwarts.
O túnel tinha desaparecido e a escola ardia: ouviam-se gritos e estrondos, viam-se gigantes, aranhas enormes e monstruosas, feiticeiros encapuzados e com máscaras, outros sem varinha, alguns estendidos no chão, feridos ou mortos. George encontrava-se no lado de fora, nos campos, mas correu, meio abaixado para escapar aos raios verdes e vermelhos que lhe rasavam a cabeça, em direção ao castelo, subindo as escadas meio rachadas e partidas o mais rápido que conseguia. No Hall de entrada, as esmeraldas verdes da ampulheta dos Slytherin estavam derramadas no chão, as pessoas escorregavam e caíam, algumas esmeraldas estavam pingadas de sangue, juntamente com o chão.
George atravessou o Hall e entrou no Salão Nobre: olhou em redor, por entre a fila de mortos e feridos, e arregalou os olhos de medo: a um canto, o corpo do seu irmão gémeo, a pessoa de quem mais gostava no mundo... estendido, pálido, sem vida, mas com uma gargalhada, o seu último riso, estampado no rosto... George procurou os restantes familiares, a dor a consumi-lo por dentro e foi quando se aproximou do corpo de Fred que reparou que jaziam junto dele, inertes tal como o seu irmão gémeo, os olhos fixos e vazios, mortiços. George perguntou-se se seria possível, se teria voltado à batalha de Hogwarts, se recuara no tempo, se podia morrer, se os seus familiares estavam realmente mortos. Não percebia como podia estar ali, como estava a reviver o passado uma vez mais. E porque é que daquela vez tudo era mais negro, mais intenso, mais doloroso, se é que isso era possível...?
Avançou lentamente pela fila de pessoas, alguns gravemente feridos, outros de olhos fechados, para sempre... ajoelhou-se no chão junto da família e lentamente, fechou os olhos a todos os seus parentes, as pessoas que mais amava naquele mundo...
A dor ameaçava vencê-lo, George preparava-se para desistir, preferia morrer com os familiares a viver uma vida sem eles, não conseguiria... mas uma ínfima parte do seu ser, a parte racional, dizia-lhe que aquilo não estava certo, que era impossível... mas nunca ouvira falar de nada assim, Braxton, nem qualquer outro professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivera, lhe haviam falado sobre algo assim... apenas sabia que aquele era o seu maior medo... durante a verdadeira Batalha de Hogwarts, o seu maior receio fora ver os seus familiares mortos... e ali estavam eles... e então percebeu.
Não sabia como um Sem Forma podia atingir um tamanho tão grande, reproduzir a situação da batalha como se sucedera, pelo menos no exterior... dentro do Salão Nobre, algo mudara.
Levantou-se a custo, ofegante, e correu para fora do Salão, atravessando o Hall de entrada a correr, por pouco não caindo com as esmeraldas dos Slytherin derramadas no chão como sangue...desceu as escadas de quatro em quatro, ciente de que os feitiços que voavam atrás, à frente e ao seu lado não o poderiam atingir... levou dez minutos a percorrer todo o campo de Hogwarts e a sair pelos portões com um movimento de varinha. Virou-se de frente para os portões, as chamas a cegarem-lhe os olhos.
-Ridikkulus! - gritou e acordou no meio do túnel de pedra, ofegante e cansado, como se o que tivesse vivido fosse real, mas ao mesmo tempo como se nunca tivesse abandonado as paredes rochosas daquele túnel infernal.
George atravessou o Hall e entrou no Salão Nobre: olhou em redor, por entre a fila de mortos e feridos, e arregalou os olhos de medo: a um canto, o corpo do seu irmão gémeo, a pessoa de quem mais gostava no mundo... estendido, pálido, sem vida, mas com uma gargalhada, o seu último riso, estampado no rosto... George procurou os restantes familiares, a dor a consumi-lo por dentro e foi quando se aproximou do corpo de Fred que reparou que jaziam junto dele, inertes tal como o seu irmão gémeo, os olhos fixos e vazios, mortiços. George perguntou-se se seria possível, se teria voltado à batalha de Hogwarts, se recuara no tempo, se podia morrer, se os seus familiares estavam realmente mortos. Não percebia como podia estar ali, como estava a reviver o passado uma vez mais. E porque é que daquela vez tudo era mais negro, mais intenso, mais doloroso, se é que isso era possível...?
Avançou lentamente pela fila de pessoas, alguns gravemente feridos, outros de olhos fechados, para sempre... ajoelhou-se no chão junto da família e lentamente, fechou os olhos a todos os seus parentes, as pessoas que mais amava naquele mundo...
A dor ameaçava vencê-lo, George preparava-se para desistir, preferia morrer com os familiares a viver uma vida sem eles, não conseguiria... mas uma ínfima parte do seu ser, a parte racional, dizia-lhe que aquilo não estava certo, que era impossível... mas nunca ouvira falar de nada assim, Braxton, nem qualquer outro professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivera, lhe haviam falado sobre algo assim... apenas sabia que aquele era o seu maior medo... durante a verdadeira Batalha de Hogwarts, o seu maior receio fora ver os seus familiares mortos... e ali estavam eles... e então percebeu.
Não sabia como um Sem Forma podia atingir um tamanho tão grande, reproduzir a situação da batalha como se sucedera, pelo menos no exterior... dentro do Salão Nobre, algo mudara.
Levantou-se a custo, ofegante, e correu para fora do Salão, atravessando o Hall de entrada a correr, por pouco não caindo com as esmeraldas dos Slytherin derramadas no chão como sangue...desceu as escadas de quatro em quatro, ciente de que os feitiços que voavam atrás, à frente e ao seu lado não o poderiam atingir... levou dez minutos a percorrer todo o campo de Hogwarts e a sair pelos portões com um movimento de varinha. Virou-se de frente para os portões, as chamas a cegarem-lhe os olhos.
-Ridikkulus! - gritou e acordou no meio do túnel de pedra, ofegante e cansado, como se o que tivesse vivido fosse real, mas ao mesmo tempo como se nunca tivesse abandonado as paredes rochosas daquele túnel infernal.
Sem comentários:
Enviar um comentário