terça-feira, 6 de agosto de 2013

Medos & Desafios

O túnel serpenteava entre curvas e contra-curvas e a certa altura o calor começava a ser insuportável.
-Estamos nisto há horas - comentou Ginny, parando para descansar.
-Daqui a pouco é noite - afirmou Hermione, consultando o seu relógio de bolso.
-Esperem lá, é proibido usar magia fora de Hogwarts! Podemos ser expulsos por causa disto! - lembrou-se Lenny de repente enquanto os outros se sentavam e Hermione e Ginny tiravam comida embalada das suas bolsas.
-Não te preocupes - tranquilizou-a Harry - nós, no nosso quinto ano, também lutámos no Ministério com magia e não fomos expulsos por causa disso.
-Realmente, estamos numa missão para resgatar os teus pais e tu preocupas-te com isso - censurou Fred com um sorriso.
-Vocês estão a fazer tanto por mim. Não sei como é que algum dia vos vou retribuir - agradeceu Lenny.
-Aproveita a comida - gracejou Ron - é suficiente.

*

Hermione surpreendeu tudo e todos ao tirar a custo oito mantas da sua bolsa para dormirem. Assim, passaram a noite ali mesmo no corredor do túnel e depois Hermione acordou-os pelas oito horas da manhã para seguirem o caminho que a agulha da bússola lhes indicava.
Não foi preciso andar muito para perceber que aquela espécie de subterrâneo estava a mudar: começou a ficar frio e o túnel ficou mais estreito. Tinham de andar muito juntos e os gémeos e Ron de baixar a cabeça para não baterem com ela no teto, que ia baixando à medida que caminhavam. A certa altura, quando o frio começava a ser difícil de suportar, o túnel desembocou noutra sala escura e assim que acenderam as varinhas com o feitiço Lumos verificaram, com desânimo, que era uma sala idêntica há que tinham atravessado e onde haviam decifrado o enigma da mulher-fantasma. Agora, porém, não havia portas de madeira fechadas, mas oito túneis idênticos e dispersos.
-Querem ver que vamos ter que decifrar mais um enigma? - indagou Ron, nada satisfeito.
-O senhor devia ser menos impertinente - disse uma voz feminina e cavernosa. A sala iluminou-se como por magia, com uma luz alaranjada, e uma criatura estranha saiu da parede como a mulher-fantasma havia feito. Só que esta não era um fantasma. Estava sentada num pedestal de pedra, tinha cabeça e peito de mulher, mas as patas e as garras eram de leão, a cauda de serpente e as asas de águia. Lenny tinha uma vaga ideia de já a ter visto em qualquer lado.
-O que é... você? - murmurou Ron, assustado. A criatura sorriu maldosamente, mas permaneceu no seu lugar como se de uma estátua se tratasse. E então Lenny lembrou-se de onde já a vira. Tirou o livro "Mitologia no Mundo" que Harry lhe dera da bolsa roxa e folheou o índice. Ali estava.
-Esfinge - declarou Lenny e mostrou a página da Esfinge aos outros.
-Pensava que isso só existia nas mitologias egípcia e grega - confessou Hermione.
-E nas pirâmides - acrescentou George.
-Bom, lamento interromper a vossa maravilhosa conversa - sibilou a Esfinge - mas estou encarregada de vos avisar que só terão sucesso na vossa... jornada, se cada um de vocês conseguir atravessar um dos túneis com sucesso.
-Não parece ser muito difícil - Draco encolheu os ombros, mas arrependeu-se de imediato, pois a Esfinge arreganhou-lhe os dentes afiados.
-E o enigma do homem? Aquele que caminha com quatro patas de manhã, com duas à tarde e com três à noite? - interpelou Lenny.
-É por isso mesmo que vos apresento outro desafio - disse a Esfinge - porque toda a gente já conhece esse enigma. Por isso, meus queridos, aconselho-vos a respirarem fundo. Mas mais enganados não podem estar se acharem que vai ser fácil passar por aqueles túneis, mas garanto-vos que se conseguirem, estarão a um passo de alcançarem o que desejam.
-Que outra escolha temos? - perguntou Harry.
-Serem devorados por mim - a Esfinge lambeu os lábios e sorriu.
-Vamos a isso - Draco avançou um passo, mas Lenny segurou-o por um braço.
-Tenham cuidado - pediu a todos - por favor.
-Não te preocupes. Vai correr tudo bem - acalmou-a Ginny, mas nem ela parecia muito sossegada.
-Não tenho o dia todo - lembrou-lhes a Esfinge e com uma última troca de olhares, cada um entrou num dos túneis, enfrentando o desconhecido.

*

Ginny avançou prudentemente pelo seu túnel: não se ouvia um único som e o calor regressara. Perdeu a noção do tempo: não sabia se haviam passado uma, duas, três horas desde que se separara dos amigos e esperava seriamente que os rapazes conseguissem desencantar uma maneira de se manterem hidratados, já que eram as raparigas que tinham ficado com os mantimentos dentro das suas bolsas. 
De repente, ao curvar numa curva, uma criatura pálida e de olhos vermelhos apareceu-lhe à frente. Tinha cabelo comprido e preto, olhos raiados de sangue e dentes aguçados. Ginny não sabia dizer se era homem ou mulher, mas duma coisa tinha a certeza: era um vampiro. 
Este avançou para ela furtivamente e agarrou-a pelo pescoço. Ginny pegou na varinha e virou-a para trás.
-Atordoar! - o vampiro recuou uns metros para trás e caiu no chão com estrondo: o solo estremeceu por debaixo dos pés de Ginny. O vampiro voltou a levantar-se num ápice e arreganhou-lhe os dentes: num instante, segurava Ginny pelos cabelos e as suas presas encontravam-se a milímetros do pescoço dela. 
Pensa, Ginny, pensa. Todas as criaturas têm um ponto fraco. Qual é a dos vampiros?
E então lembrou-se que o vampiro que os pais guardavam na Toca, no sótão, detestava fogo. Era esse o ponto fraco deles. Ginny sentia o bafo frio do vampiro na sua pele.
-Atordoar! - gritou e o vampiro voltou a recuar - Incendio!
Uma lâmina de chamas saiu da ponta da sua varinha e envolveu o vampiro enquanto este contorcia a cara numa expressão de dor. A pouco e pouco, as labaredas envolveram-no por completo e este desapareceu. Ginny suspirou de alívio e massajou o pescoço, cansada.

*

George conseguira arranjar água com o feitiço Aguamenti e esperava que os outros também se lembrassem disso. O túnel dele mudava constantemente de direção: era uma balbúrdia de curvas e contra-curvas que o começavam a enjoar. A certa altura, chegou ao nariz de George o cheiro a podre: algo apodrecido e maligno aproximava-se, uma combinação de sujidade, sangue e suor. Soltou um grito quando lhe apareceu um lobisomem  pela frente. Era uma mistura de lobo com homem, e erguia-se nas patas traseiras, o corpo todo envolto numa penugem peluda e preta, os olhos pretos e raivosos. O lobisomem saltou sobre ele mas George rebolou no chão e desviou-se. O lobisomem foi embater com o focinho no chão, mas daí a instantes investia novamente sobre o rapaz.
George não podia esquivar-se eternamente ao monstro. Tinha de pensar em algo que o destruísse e depressa.
-Porque é que eu não dei atenção aos professores quando eles falaram sobre lobisomens? - lamentou-se ele, esforçando o cérebro a pensar. Quando finalmente se lembrou de algo que o podia ajudar, o lobisomem saltou sobre ele e deitou-o ao chão. Ia cravar-lhe as presas no corpo quando, com um floreado da sua varinha, George fez surgir uma bala de prata. O monstro arregalou os olhos enquanto George a apontava ao peito da criatura. Ao chegar-lhe ao coração, o lobisomem tombou para trás e ganiu, desaparecendo numa poça de sangue.
-Ufa - suspirou George - daqui em diante vou ter mais atenção nas aulas.

*

Fred demorara mais algum tempo a lembrar-se do feitiço Aguamenti, mas por fim lá conseguiu. Assustava-o a ideia de não saber nada dos outros. Não sabia se tinham conseguido enfrentar o que quer que fosse que tivessem para enfrentar, ou se tinham ficado para trás... mas Fred esforçava-se por não pensar nisso. 
Estava muito calor naquele sítio, talvez cerca de quarenta graus. Fred ia-se refrescando constantemente com o Aguamenti, mas começava a faltar-lhe o ar, de estar tanto tempo fechado naquele subterrâneo. 
Subitamente, o chão tremeu violentamente e Fred pensou tratar-se de um terramoto, mas o coração caiu-lhe aos pés quando um gigante com mais de três metros de altura lhe surgiu no caminho. A cabeça era enorme: os olhos deformados e de um azul brilhante, o nariz era em forma de batata, a boca descaída para o lado esquerdo, o cabelo emaranhado e castanho, mais parecia um ninho de pássaros. O tronco parecia ser em forma de ovo e as suas vestes eram sujas e rasgadas. Os braços pendiam ao longo do corpo como dois troncos de árvores e as pernas pareciam ser demasiado pequenas para conseguirem sustentar tanto peso. 
O gigante parecia não ter reparado ainda em Fred, talvez se ele lhe conseguisse passar por entre as pernas... 
Crac!, Fred pisou numa pedra e o gigante olhou para baixo. Sorriu estupidamente e tentou apanhá-lo com a mão, contudo era demasiado lento e Fred escapou-se-lhe. O gigante rugiu e tentou virar-se, mas as suas banhas fizeram-no ficar encravado entre as paredes dos dois túneis. Fred sabia que não ia lá com feitiços: a pele dos gigantes parecia ignorar os feitiços que os feiticeiros lhes lançavam, pois era uma pele muito resistente, de modo que a única maneira de o enfrentar era correr de um lado para o outro debaixo das pernas dele. O gigante torcia-se todo e tentava alcançá-lo, mas não dava resultado. As paredes do túnel e o teto começaram a desmoronar-se e Fred correu em frente o mais que podia, enquanto o gigante ficava soterrado debaixo da avalanche de pedras.

*

Ron também conseguira, depois de muito puxar pela cabeça, chegar ao feitiço Aguamenti e deambulava agora pelo túnel. Este era sempre em frente: direito e sem curvas. Ron pensava nos amigos e que perigos é que deviam estar a enfrentar: ele, por sua vez, ainda não tinha enfrentado nada. 
Mal tinha acabado de pensar nisso, quando um um frio gélido e cortante o trespassou e envolveu, e uma figura flutuante e encapuzada surgiu do nada à sua frente: o cheiro a podre entranhou-se no seu corpo e a felicidade pareceu esvair-se da sua alma: como se nunca mais pudesse voltar a ser feliz. A criatura era esquelética e o manto eram sombras: todo o seu corpo era podre e maldoso, as sombras envolviam-no e pareciam projetar-se no espírito de Ron, tal como o frio que o enregelava. Ron caiu ao chão com estrondo e retraiu-se, esgotado. O cheiro a podridão entrava-se-lhe pelas narinas adentro, o cansaço, o frio e o medo apoderavam-se dele, via os corpos dos irmãos, dos pais e dos amigos, inertes e mais pálidos que cadáveres....
Concentra-te, Ron!, disse-lhe uma vozinha no ínfimo do seu ser enquanto o Dementor se aproximava. Era Hermione e isso fez Ron acordar.
Tentou concentrar-se em coisas felizes, mas a escuridão começava a apoderar-se dele. Pensou nos irmãos, na primeira vez que conhecera Harry e Hermione, pensou em tudo aquilo que tinha passado com eles...
-Expecto Patronum! - bramou e um Jack Russel Terrier de cor azulada e brilhante saiu da ponta da sua varinha e rodeou o Dementor, que, lentamente, desapareceu. Com ele, as trevas, a infelicidade e o frio foram-se embora.
Ron suspirou de alívio e deixou-se cair no chão, esgotado, mas feliz.
-Hermione - susurrou ele, com a cabeça colada ao chão.

*

Hermione tinha reabastecido os cantis e garrafas de água que levava na sua bolsa azul com o feitiço Aguamenti. Sentia-se cansada e sozinha, mas tinha de continuar, não podia dar parte fraca. Contudo, sentia-se cada vez mais entorpecida e desesperada, como se sentisse ameaçada...
Hermione esbugalhou os olhos à medida que se apercebeu: virou a cabeça para trás com tal rapidez que ia apanhando um torcicolo. Lá estava, a uns quinze metros dela, uma criatura com cerca de trinta centímetros de altura, corpo peludo e uma cabeça demasiado grande, macia e cinzenta. Era um pobgrein, um demónio russo que podia perseguir as presas durante horas causando-lhes aquela sensação de mau-estar. Os pobgrein tinham preferência pelos humanos e Hermione sabia que se não fizesse nada, mais tarde ou mais cedo cederia aos sentimentos negativos que aquela criatura enfadonha e maldosa lhe proporcionava.
Aguenta, Hermione, aguenta, pensava ela, os joelhos a tremer e quase a cair. Pensa em coisas boas, vá lá... mas a rapariga não conseguia, estava prestes a desistir...
Um grito infinito prolongou-se pelo seu ser e apoderou-se-lhe da cabeça: era uma voz masculina e familiar... que dizia apenas Hermione. E foi o suficiente. Hermione endireitou-se, virou-se de frente para o pobgrein - que estava agora a apenas cinco metros de distância - e apontou-lhe a varinha.
-Atordoar! - bramou e o demónio caiu no chão e desapareceu.
-Obrigada, Ron - agradeceu Hermione, sorrindo.

*

No túnel por onde Harry seguia, a temperatura era fria, mas não demasiado. Harry arranjara água através do feitiço Aguamenti e desejou ter os amigos a seu lado. Por certo já anoitecera: Harry estava cansado e com fome e sentia já as pálpebras pesadas do sono. De súbdito, o chão começou a tremer-lhe debaixo dos pés e a temperatura pareceu descer uns vinte graus. 
-Incendio - proferiu Harry e uma labareda de chamas irrompeu da ponta da sua varinha enquanto batia os dentes, que o aqueceu um pouco. Susteu a respiração ao deparar-se com uma criatura de mais de quatro metros de altura coberto da cabeça aos pés por pelo de um branco puríssimo. Era um yeti, que deambulava pelo túnel  e emanava um frio arrepiante, minúsculos cristais e pingentes de gelo que o envolviam e se expandiam em todas as direções. O yeti hesitou ao ver o fogo na varinha de Harry, mas depois rugiu e o gelo à sua volta apagou a chama sem cerimónias. Harry sabia que a única forma de o derrotar era pelo fogo: era, tal como os vampiros, a sua maior fraqueza. Mas a criatura, embora aterradora, possuía uma beleza extrema: os olhos eram do azul-gelo mais incrível que Harry alguma vez vira, o pelo era mais branco que a neve. Porém, o yeti não se debatia com os mesmos problemas que Harry: não lhe pesaria na consciência se matasse Harry, o que, aliás, parecia estar prestes a fazer.
Só havia uma hipótese. Quando o yeti se curvou o mais que pôde e arreganhou os dentes, Harry agarrou firmemente na varinha, mas o yeti sacudiu-o e Harry foi atirado de um lado para o outro das paredes do túnel. Os óculos escorregaram-lhe pela cana do nariz, a varinha estava a um passo do pé esquerdo do yeti... e Harry ali, estatelado contra a parede esquerda do túnel...
-Accio varinha! - gritou e esta levantou-se e foi ter velozmente à mão de Harry. Sentia o bafo do yeti atrás de si... endireitou os óculos no nariz... - incendio!
Uma labareda do tamanho de uma fogueira irrompeu da ponta da sua varinha e bailou diante dos olhos do yeti. Este arregalou a cara de medo, mas as chamas não o atacaram. Harry controlava-as com a varinha. Correu por debaixo das pernas da criatura sem ousar olhar para cima e quando se achou suficientemente longe do yeti, fez desaparecer a fogueira de chamas.


*

Draco fora rápido a encontrar água através do feitiço Aguamenti e percorria agora rapidamente o túnel, que ora tinha retas que se estendiam por mais de dez metros, ora era uma miscelânea de curvas e contra-curvas que o punham enjoado. Ele só conseguia pensar em Lenny: se ela estaria bem, em segurança e em como deviam ter arranjado outra solução, em como nunca a deveria ter deixado ir sozinha, em como era seu dever protegê-la e assegurar-se que estava segura... mas também sabia que Lenny não era fácil de derrubar e que quanto mais depressa saísse dali, mais depressa a veria.
Estava Draco a pensar nisso quando ouviu um grito estridente: um grito familiar, quase como um grasnar... uma figura imponente viu-se ao longe: tinha patas e corpo de cavalo, mas a cabeça era de águia e tinha penas. E lá estava ele: um hipogrifo, semelhante a Buckbeak, outro hipogrifo que, anos antes, atacara Draco durante uma aula de Cuidados com Criaturas Mágicas, quando este se lhe dirigira de forma desrespeitosa. 
Draco sabia que não conseguiria passar por ele sem ser atacado, pelo que a única maneira de sair dali sem atacar também a criatura seria usar a técnica que Hagrid lhes ensinara no terceiro ano e a qual não resultara para Draco. 
O quão estava diferente desse Draco... nessa altura, seria incapaz de engolir o orgulho e de fazer exatamente como Hagrid lhes recomendara, mas agora... para salvar a sua vida, para salvar a vida de Lenny... parecia ser a coisa mais fácil e mais certa a fazer. Era simples.
Olhou-o bem nos olhos, uns olhos pretos e profundos e fez uma leve vénia. Susteu a respiração e esperou, ofegante. E senão resultasse? E se o hipogrifo o atacasse inesperadamente? Subitamente, este baixou levemente o pescoço e afastou-se para o lado. Draco suspirou de alívio e apressou-se a passar pela criatura.

*

Lenny sentia-se imensamente culpada por ter sujeitado os amigos àquele perigo: por mais que estes lhe dissessem que sabiam que corriam riscos e que a queriam ajudar à mesma, Lenny não se sentia segura, nem confiante e muito menos contente. Aquilo era demasiado arriscado... como ficaria a família Weasley se lhes dissessem que, por culpa de Lenny, nunca mais poderiam voltar a ver os filhos? Lenny imaginou a cara de Molly Weasley, contorcida de dor. Não deveria ter permitido uma coisa daquelas. Não estava certo. Mas era ela quem tinha ficado com a bússola, e a sua agulha vermelha apontava para o caminho em frente... e se Lenny conseguisse resgatar os pais? Com um esforço, pôs os pensamentos assustadores de lado e prosseguiu caminho.
Não tinha dado mais do que cinco passos quando um raio de luz vermelha a atingiu no peito e a mandou disparada pelo ar, fazendo-a recuar. Lenny sentiu-se ofegante: viu uma forma humana, coberta por um manto vermelho-sangue e com a cara tapada por um gorro a empunhar uma varinha preta na sua direção. Era um feiticeiro, disso Lenny tinha a certeza. 
-Atordoar! - disse numa voz masculina, sonora e grave.
-Protego! - defendeu-se Lenny e um escudo invisível projetou-se à sua frente, protegendo-a mesmo a tempo do feitiço.
-Imperio! - proferiu o feiticeiro e Lenny sentiu a sensação mais maravilhosa que alguma vez sentira na vida. A rapariga sentiu-se a flutuar: como se todos os pensamentos e preocupações se tivessem evaporado da sua mente. Lenny sentia-se relaxada... mas aquilo era uma maldição. No mais ínfimo do seu ser, ela sabia que mais tarde ou mais cedo faria aquilo que o feiticeiro lhe mandasse fazer... afinal, era a maldição Imperius... tinha de resistir... mas a vida ali parecia tão simples, tão fácil...
-Não! - gritou ela e a sensação de relaxamento desapareceu, bem como todos os seus pensamentos e preocupações regressaram. Tinha de resistir... - atordoar!
O feiticeiro voou pelos ares e embateu na parede de pedra do túnel.
-Incarcerous! - berrou Lenny e cordas pretas e grossas saíram da sua varinha e prenderam o feiticeiro à parede pelo pescoço, pela cintura, pelos braços e pelos pés. Lentamente, este recuou, como se a pedra atrás de si o estivesse a engolir, mas aquilo não era obra de Lenny. Sabia que conseguira derrotar o feiticeiro, ultrapassar o desafio. Agora a Esfinge ou o labirinto subterrâneo ou quem quer que fosse, trataria do resto.

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