quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Saída

Draco só pensava em Lenny. Talvez fosse egoísta da sua parte, talvez devesse ultrapassar as desavenças com os amigos Gryffindor de Lenny, mas se eles sobrevivessem e Lenny não... Draco nem queria pensar nisso... ele não saberia o que fazer..
Draco fora rápido a descobrir uma maneira de arranjar comida e conseguira transformar uma pedra num saco-cama. Duplicou a comida, arranjou uma mochila e pô-la às costas com os mantimentos lá dentro.
No nono dia, o túnel estava frio e silencioso: o único som era o ruído dos passos de Draco sob o chão de pedra, frio e sombrio. 
De repente, Draco pensou estar a alucinar: uma imagem desfocada e acinzentada de Lenny apareceu à sua frente: lançou-se sobre ela e viu-se a pisar um chão empedrado, diante de uma casa que tão bem conhecia.
A mansão da sua família.


Estava escuro e era quase de noite: ouviam-se corvos a grasnar e o vento soprava violentamente contra Draco. Os portões da mansão encontravam-se abertos e Draco ficou logo desconfiado. Os pais nunca se esqueciam de deixar o portão bem fechado e o rapaz perguntou-se o que fazia ali. Como é que, voltar para casa, o ia ajudar na busca dos pais de Lenny?
Avançou pelo acesso empedrado até casa, respirando o ar puro e frio, dos dois lados haviam sebes altas e bem tratadas. 
A porta de casa também se encontrava destrancada. Draco avançou cautelosamente pelo hall de entrada: ali dentro, reinava o silêncio. De repente, um homem alto e pálido apareceu à sua frente e Draco não conseguiu evitar pensar que o seu pai parecia um fantasma.
-Pai - murmurou.
-Draco - disse Lucius. Draco engoliu em seco. Não devia ter entrado em casa, devia ter encontrado uma maneira de voltar ao túnel... mas a ideia de ver alguém, de respirar ar puro era mais forte... o pai certamente lhe perguntaria porque não estava em Hogwarts.
-Eu... eu... - gaguejou ele.
-É mesmo isto que queres? - cortou o pai, a cara tão séria e fechada que parecia uma estátua.
-Hã? - estranhou Draco, cravando os olhos no chão de madeira da casa. Como poderia Lucius saber da missão, da jornada? Teria sido a diretora a contar-lhe? Mas ela não se dava com Lucius, não podia ser...além disso, Lucius era a pessoa menos indicada para saber daquilo... ele detestava os pais de Lenny e consequentemente, detestava-a também a ela...
-Perguntei-te se é mesmo isto que queres - repetiu Lucius.
-Não estou a perceber - Draco levantou a cabeça e olhou-o nos olhos. 
-Se gostas mesmo dela - explicou Lucius, um laivo de impaciência nos olhos. Odiava que o filho se fizesse de desentendido, mas este continuava estupefacto. Não estava, definitivamente, à espera que o pai começasse a falar dela.
-Bom, sim... eu... ela... ela é a tal - declarou o rapaz - eu sei que é.
Lucius suspirou, mas não parecia um suspiro de desagrado, antes de... alívio.
-Bom, antes ela que a filhinha daqueles... não interessa.
Draco teve a sensação de que Lucius falava de Lenny. Então, de quem é que ele estava a falar quando perguntara a Draco se gostava mesmo dela?
-Pai, eu amo a Lenny - alegou ele, de rompante. Lucius esbugalhou os olhos e a sua cara ficou roxa de fúria. Os olhos brilhavam de raiva.
-O quê? Mas ela não se chamava Daphne? Lenny não era a dos... dos... - Lucius não acabou a frase e Draco sentiu um baque no coração ao perceber que Lucius ficara convencido que Draco gostava de Daphne, mas este achava que trocar cartões de natal não era o suficiente para achar que alguém ama alguém... porque estava o pai convencido de que ele gostava de Daphne?
-Pai, eu amo a Lenny Gant - afirmou Draco veementemente. 
-O quê? - vociferou Lucius - a Lenny Gant? A filha dos Gant? Mas como... como é que és capaz... ela... eles...
-Se estás preocupado com o seu estatuto de sangue, ela é puro-sangue.
-Quero lá saber se ela é puro-sangue ou sangue de lama! - berrou Lucius e Draco sentiu um laivo de fúria ao ouvir o pai falar de Lenny daquela maneira - não podes ficar com ela, Draco!
-Mas porquê? - questionou este.
-Ela não é para ti. Mereces melhor, Draco - disse Lucius, a voz mais serena.
-Ela é ideal para mim! Se houvesse alguém, na nossa relação, que merecesse melhor, não era eu certamente, por tudo o que já fiz... ou melhor, me obrigaram a fazer, no passado!
A cara de Lucius ficou novamente branca como a cal e os olhos vazios. Não gostava de falar daqueles tempos sombrios.
-Onde está a mãe? - interrogou Draco repentinamente. Lucius olhou-de forma estranhíssima, como se não compreendesse o que o filho lhe perguntara.
-A... tua... mãe? - interpelou ele.
-Sim, a mãe, pai! Aconteceu-lhe alguma coisa? - Draco sentiu-se aflito.
-Draco... a tua mãe... morreu, não te lembras? Na batalha de Hogwarts, a Narcissa...
-Ok, pai, não tem graça.
-Não é para ter graça - bramou Lucius - é a verdade!
Dito isto, voltou-se e subiu as escadas de casa. Draco ficou sozinho no hall de entrada, confuso e desesperado. Aquilo era mentira. Draco sabia-o, ainda no Natal estivera com ela... que raio se passava ali? Primeiro, a proibição de Lucius relativamente a Lenny, depois a morte da mãe... o que faltava... saber que o pai, ou Lenny, também morreriam? Saber que Voldemort não fora destruído e queria encarregar Draco de mais alguma missão impossível? Nada podia ser pior, os seus maiores medos vinham agora ao de cima...
Os seus maiores medos...
-É um teste - sussurrou Draco para si mesmo - não passa de um desafio!
Abriu a porta de casa, correu pelo caminho de acesso empedrado, saiu pelos portões e pôs-se a frente destes, vislumbrando toda a mansão e os jardins adjacentes. Pegou na varinha, o vento novamente a bater-lhe na cara, os corvos a grasnar, e sibilou:
-Riddikulus!
Dali a instantes, apercebeu-se de que o vento parara e de que não ouvia um único som. Abriu um olho, depois outro, e viu-se sob as paredes do túnel frio novamente.

*

Os sentimentos de culpa, exaustão e solidão consumiam Lenny por dentro naquele décimo dia da jornada. Tinha saudades dos banquetes no Salão Nobre, da cama quentinha de dossel no dormitório, das aulas, de Hedz e de Shy... se calhar até das provocações de Pansy! Mas principalmente, saudades dos amigos... de Draco... 
Não via os amigos há uma semana, não fazia ideia de como poderiam estar. No entanto, a agulha vermelha da bússola continuava sempre a apontar em frente, por vezes para os lados quando havia uma curva...
Subitamente, o túnel desembocou em mais uma sala redonda, desta feita sem quaisquer porta ou túneis subjacentes, tirando aquele de onde Lenny havia saído, uma única sala de pedra...
-Parece que conseguiste passar pelo teu túnel - disse uma voz e Lenny viu a Esfinge que lhes lançara o desafio de passar pelos túneis a sair da parede à sua frente com uma expressão de malícia na cara. Para alguém que acabara de presenciar outra pessoa a vencer o seu desafio, parecia demasiado contente e convencida.
-Onde estão os outros? - perguntou Lenny de imediato, arrepiando-se com a gargalhada mesquinha da Esfinge.
-Os outros! - riu ela - devias sentir-te honrada, lisonjeada. Foste a única que conseguiu vencer o meu desafio...
-O quê? - a respiração de Lenny tornou-se ofegante e a culpa ameaçou afogá-la na mágoa. 
-Isso mesmo que ouviste... e como eles não conseguiram... não tens um caminho a seguir - declarou a Esfinge e Lenny virou-se, presenciando com horror o túnel de onde viera a desaparecer, sendo substituída por uma grande camada de pedra, formando uma parede.
-O que acontece agora? - lamentou-se Lenny.
-Agora... só tens uma hipótese... deixas que eu te devore.
Um novo arrepio atravessou a espinha de Lenny, mas ela pensou que era o que merecia. Tinha deixado que os amigos morressem por ela... merecia uma morte daquelas, lenta e dolorosa... mas depois apercebeu-se de que a Esfinge estava diferente. Era igual à outra Esfinge, só que não tinha penas de águia, mas de pavão. E as Esfinges tinham sempre penas de águia.
-Porque... porque tem penas de pavão? - interrogou Lenny e a Esfinge arregalou os olhos de pavor, como se Lenny tivesse descoberto um segredo terrível. 
-É apenas um adereço... - disse a Esfinge... anda, deixa o medo vencer-te...
O medo. Aquele era, sim, o seu maior medo. A dor e a culpa tornavam-se insuportáveis, mas as palavras da Esfinge, ainda que inconscientemente, haviam-lhe dado uma nova esperança.
-Não - afirmou Lenny, firmemente e pegou na varinha. Apontou-a à Esfinge e proferiu:
-Riddikulus!
Nesse instante, a Esfinge e a sala dissolveram-se e Lenny percebeu que voltara ao túnel. Sentiu-se aliviada, não só por saber que ainda havia esperança de os amigos estarem vivos, mas também porque conseguia visualizar uma luz lá mais à frente: a verdadeira saída do túnel. 

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