quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Saída

Draco só pensava em Lenny. Talvez fosse egoísta da sua parte, talvez devesse ultrapassar as desavenças com os amigos Gryffindor de Lenny, mas se eles sobrevivessem e Lenny não... Draco nem queria pensar nisso... ele não saberia o que fazer..
Draco fora rápido a descobrir uma maneira de arranjar comida e conseguira transformar uma pedra num saco-cama. Duplicou a comida, arranjou uma mochila e pô-la às costas com os mantimentos lá dentro.
No nono dia, o túnel estava frio e silencioso: o único som era o ruído dos passos de Draco sob o chão de pedra, frio e sombrio. 
De repente, Draco pensou estar a alucinar: uma imagem desfocada e acinzentada de Lenny apareceu à sua frente: lançou-se sobre ela e viu-se a pisar um chão empedrado, diante de uma casa que tão bem conhecia.
A mansão da sua família.


Estava escuro e era quase de noite: ouviam-se corvos a grasnar e o vento soprava violentamente contra Draco. Os portões da mansão encontravam-se abertos e Draco ficou logo desconfiado. Os pais nunca se esqueciam de deixar o portão bem fechado e o rapaz perguntou-se o que fazia ali. Como é que, voltar para casa, o ia ajudar na busca dos pais de Lenny?
Avançou pelo acesso empedrado até casa, respirando o ar puro e frio, dos dois lados haviam sebes altas e bem tratadas. 
A porta de casa também se encontrava destrancada. Draco avançou cautelosamente pelo hall de entrada: ali dentro, reinava o silêncio. De repente, um homem alto e pálido apareceu à sua frente e Draco não conseguiu evitar pensar que o seu pai parecia um fantasma.
-Pai - murmurou.
-Draco - disse Lucius. Draco engoliu em seco. Não devia ter entrado em casa, devia ter encontrado uma maneira de voltar ao túnel... mas a ideia de ver alguém, de respirar ar puro era mais forte... o pai certamente lhe perguntaria porque não estava em Hogwarts.
-Eu... eu... - gaguejou ele.
-É mesmo isto que queres? - cortou o pai, a cara tão séria e fechada que parecia uma estátua.
-Hã? - estranhou Draco, cravando os olhos no chão de madeira da casa. Como poderia Lucius saber da missão, da jornada? Teria sido a diretora a contar-lhe? Mas ela não se dava com Lucius, não podia ser...além disso, Lucius era a pessoa menos indicada para saber daquilo... ele detestava os pais de Lenny e consequentemente, detestava-a também a ela...
-Perguntei-te se é mesmo isto que queres - repetiu Lucius.
-Não estou a perceber - Draco levantou a cabeça e olhou-o nos olhos. 
-Se gostas mesmo dela - explicou Lucius, um laivo de impaciência nos olhos. Odiava que o filho se fizesse de desentendido, mas este continuava estupefacto. Não estava, definitivamente, à espera que o pai começasse a falar dela.
-Bom, sim... eu... ela... ela é a tal - declarou o rapaz - eu sei que é.
Lucius suspirou, mas não parecia um suspiro de desagrado, antes de... alívio.
-Bom, antes ela que a filhinha daqueles... não interessa.
Draco teve a sensação de que Lucius falava de Lenny. Então, de quem é que ele estava a falar quando perguntara a Draco se gostava mesmo dela?
-Pai, eu amo a Lenny - alegou ele, de rompante. Lucius esbugalhou os olhos e a sua cara ficou roxa de fúria. Os olhos brilhavam de raiva.
-O quê? Mas ela não se chamava Daphne? Lenny não era a dos... dos... - Lucius não acabou a frase e Draco sentiu um baque no coração ao perceber que Lucius ficara convencido que Draco gostava de Daphne, mas este achava que trocar cartões de natal não era o suficiente para achar que alguém ama alguém... porque estava o pai convencido de que ele gostava de Daphne?
-Pai, eu amo a Lenny Gant - afirmou Draco veementemente. 
-O quê? - vociferou Lucius - a Lenny Gant? A filha dos Gant? Mas como... como é que és capaz... ela... eles...
-Se estás preocupado com o seu estatuto de sangue, ela é puro-sangue.
-Quero lá saber se ela é puro-sangue ou sangue de lama! - berrou Lucius e Draco sentiu um laivo de fúria ao ouvir o pai falar de Lenny daquela maneira - não podes ficar com ela, Draco!
-Mas porquê? - questionou este.
-Ela não é para ti. Mereces melhor, Draco - disse Lucius, a voz mais serena.
-Ela é ideal para mim! Se houvesse alguém, na nossa relação, que merecesse melhor, não era eu certamente, por tudo o que já fiz... ou melhor, me obrigaram a fazer, no passado!
A cara de Lucius ficou novamente branca como a cal e os olhos vazios. Não gostava de falar daqueles tempos sombrios.
-Onde está a mãe? - interrogou Draco repentinamente. Lucius olhou-de forma estranhíssima, como se não compreendesse o que o filho lhe perguntara.
-A... tua... mãe? - interpelou ele.
-Sim, a mãe, pai! Aconteceu-lhe alguma coisa? - Draco sentiu-se aflito.
-Draco... a tua mãe... morreu, não te lembras? Na batalha de Hogwarts, a Narcissa...
-Ok, pai, não tem graça.
-Não é para ter graça - bramou Lucius - é a verdade!
Dito isto, voltou-se e subiu as escadas de casa. Draco ficou sozinho no hall de entrada, confuso e desesperado. Aquilo era mentira. Draco sabia-o, ainda no Natal estivera com ela... que raio se passava ali? Primeiro, a proibição de Lucius relativamente a Lenny, depois a morte da mãe... o que faltava... saber que o pai, ou Lenny, também morreriam? Saber que Voldemort não fora destruído e queria encarregar Draco de mais alguma missão impossível? Nada podia ser pior, os seus maiores medos vinham agora ao de cima...
Os seus maiores medos...
-É um teste - sussurrou Draco para si mesmo - não passa de um desafio!
Abriu a porta de casa, correu pelo caminho de acesso empedrado, saiu pelos portões e pôs-se a frente destes, vislumbrando toda a mansão e os jardins adjacentes. Pegou na varinha, o vento novamente a bater-lhe na cara, os corvos a grasnar, e sibilou:
-Riddikulus!
Dali a instantes, apercebeu-se de que o vento parara e de que não ouvia um único som. Abriu um olho, depois outro, e viu-se sob as paredes do túnel frio novamente.

*

Os sentimentos de culpa, exaustão e solidão consumiam Lenny por dentro naquele décimo dia da jornada. Tinha saudades dos banquetes no Salão Nobre, da cama quentinha de dossel no dormitório, das aulas, de Hedz e de Shy... se calhar até das provocações de Pansy! Mas principalmente, saudades dos amigos... de Draco... 
Não via os amigos há uma semana, não fazia ideia de como poderiam estar. No entanto, a agulha vermelha da bússola continuava sempre a apontar em frente, por vezes para os lados quando havia uma curva...
Subitamente, o túnel desembocou em mais uma sala redonda, desta feita sem quaisquer porta ou túneis subjacentes, tirando aquele de onde Lenny havia saído, uma única sala de pedra...
-Parece que conseguiste passar pelo teu túnel - disse uma voz e Lenny viu a Esfinge que lhes lançara o desafio de passar pelos túneis a sair da parede à sua frente com uma expressão de malícia na cara. Para alguém que acabara de presenciar outra pessoa a vencer o seu desafio, parecia demasiado contente e convencida.
-Onde estão os outros? - perguntou Lenny de imediato, arrepiando-se com a gargalhada mesquinha da Esfinge.
-Os outros! - riu ela - devias sentir-te honrada, lisonjeada. Foste a única que conseguiu vencer o meu desafio...
-O quê? - a respiração de Lenny tornou-se ofegante e a culpa ameaçou afogá-la na mágoa. 
-Isso mesmo que ouviste... e como eles não conseguiram... não tens um caminho a seguir - declarou a Esfinge e Lenny virou-se, presenciando com horror o túnel de onde viera a desaparecer, sendo substituída por uma grande camada de pedra, formando uma parede.
-O que acontece agora? - lamentou-se Lenny.
-Agora... só tens uma hipótese... deixas que eu te devore.
Um novo arrepio atravessou a espinha de Lenny, mas ela pensou que era o que merecia. Tinha deixado que os amigos morressem por ela... merecia uma morte daquelas, lenta e dolorosa... mas depois apercebeu-se de que a Esfinge estava diferente. Era igual à outra Esfinge, só que não tinha penas de águia, mas de pavão. E as Esfinges tinham sempre penas de águia.
-Porque... porque tem penas de pavão? - interrogou Lenny e a Esfinge arregalou os olhos de pavor, como se Lenny tivesse descoberto um segredo terrível. 
-É apenas um adereço... - disse a Esfinge... anda, deixa o medo vencer-te...
O medo. Aquele era, sim, o seu maior medo. A dor e a culpa tornavam-se insuportáveis, mas as palavras da Esfinge, ainda que inconscientemente, haviam-lhe dado uma nova esperança.
-Não - afirmou Lenny, firmemente e pegou na varinha. Apontou-a à Esfinge e proferiu:
-Riddikulus!
Nesse instante, a Esfinge e a sala dissolveram-se e Lenny percebeu que voltara ao túnel. Sentiu-se aliviada, não só por saber que ainda havia esperança de os amigos estarem vivos, mas também porque conseguia visualizar uma luz lá mais à frente: a verdadeira saída do túnel. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O Medo

Hermione martirizava-se, tudo aquilo fora feito de uma forma muito precipitada, deveriam ter parado para pensar, ter delineado um plano… e sobretudo distribuir mantimentos e mantas entre todos, para que não fosse preciso recorrer a feitiços. Já lhe haviam saído da mala três tupperwares, pelo menos, o que só a sossegou por saber que os amigos não morreriam à fome.
Instalara-se um calor insuportável no seu túnel: Hermione depositara a capa do uniforme dos Gryffindor dentro da sua mala azul, que continuava com o Feitiço de Extensão Indetetável. Porquanto mais tempo teria de deambular pelo túnel? Tinha dormido três noites sozinha, com uma manta debaixo dela que lhe provocava calor no corpo. Havia seis dias que deixara Hogwarts e três que não via os amigos.
No sétimo dia de viagem, Hermione sentiu-se desesperada: por quanto mais tempo prolongar-se-ia aquilo? Semanas? Meses? Anos…? Faltava-lhe o ar sempre que pensava nisso.
Sentiu-se tonta e enjoada, e, lentamente, sem se aperceber, caiu no chão de pedra do túnel e quando recuperou os sentidos viu-se num sítio completamente diferente.
Era uma sala de aula, com várias mesas e cadeiras ordenadas, mas Hermione não a reconheceu como sendo de Hogwarts, parecia demasiado simples. Era mais parecida com as salas de aulas dos Muggles, insípida e desguarnecida de retratos em movimento ou avisos a piscar. Hermione sentava-se numa das cadeiras com nada em cima da mesa, completamente sozinha. De repente, alguém abriu a porta e um vento frio enregelou-a. Uma pessoa alta e com mantos pretos percorreu apressadamente a sala, encostando-se ao quadro preto de ardósia, de frente para Hermione. Esta suspendeu um esgar de surpresa: a pessoa tinha o rosto deformado e desfocado, como quando alguém não queria ser identificado e o seu rosto aparecia sem forma. Trazia uma pasta de couro castanha consigo, que pousou na secretária de madeira à sua frente. Retirou vários papéis brancos e de aspeto importante, mas rabiscados com vários riscos vermelhos. A pessoa, que tinha mais forma de homem que de mulher, deixou cair as folhas na mesa de Hermione com evidente desagrado e repugnância, como se aquelas folhas fossem algo de malcheiroso e nojento.
Hermione susteu a respiração e sentiu os olhos molhados. Acabara de chumbar em todos os seus EFBE's. Em todas as folhas, a tinta vermelha, havia um círculo a rodear um enorme “T” de “Troll”. Não só não passara, como tivera a pior classificação de entre todas as possíveis.
Mas como era possível que estivesse ali, a receber os resultados dos seus EFBE’s se nem sequer os fizera, ainda? Só podia ser um equívoco, um sonho… não, um pesadelo! Que retratava justamente um dos seus maiores receios… e o rosto sem forma fixava-a, Hermione quase podia adivinha que por detrás do rosto desfocado havia uma expressão maldosa, de gozo… um rosto sem forma…
-É isso! – murmurou ela, para consigo, recuando até a porta. Abriu-a e saiu. Apenas havia um corredor comprido e branco, sem vida, que se estendia para além de onde Hermione conseguia ver. Apontou a varinha à porta e proclamou:
-Riddikulus!
Acordou com a cabeça à roda e o corpo dormente no túnel quente e solitário.


*

Harry era, provavelmente, de todos, aquele que melhor compreendia Lenny. Também ele, em tempos, detestara a ideia de colocar os amigos em perigo por sua causa. 
Apesar de ainda só ter enfrentado um desafio em concreto (o yeti de pelo branco), sabia que o túnel os punha à prova de maneira indireta. A solidão e a falta de mantimentos eram o suficiente para acabar com eles. Se não se tivessem preparado, estariam feitos. Harry, tal como Ron, lembrara-se do que Hermione lhes dissera sobre a comida, mas ao contrário deste, duplicou-a toda antes de a comer e também transformou uma pedra numa mochila, tal como George fizera. 
O oitavo dia no túnel estava a ser o pior: o calor era quase insuportável e o facto de não saber nada dos amigos afligia-o. Sem nada que o distraísse daqueles pensamentos, era fácil entrar em desespero. 
Subitamente, o túnel começou a tremer violentamente, atirando Harry de uma parede para a outra. A poeira fê-lo tossir e Harry fechou os olhos automaticamente. Porém, quando os abriu, já que parara de tremer, não se encontrava no túnel. 
A luz azulada foi o que lhe saltou primeiro à vista: depois distinguiu os contornos de pessoas com varinhas e uma grande espécie de porta, uma rocha, no centro de uma sala.


Mas não era uma porta, nem uma rocha. Era um véu e, nesse momento, o seu padrinho, Sirius, atravessava-a, a sua última gargalhada cravada no rosto. A dor invadiu-o ao mesmo tempo que questões lhe vinham à cabeça. Porque estava ele novamente no Ministério da Magia, como fizera no seu quinto ano escolar? E porque o obrigavam a reviver a morte do padrinho, que há tão pouco tempo conhecera? Mas, ao contrário do que acontecera uns anos antes, agora, não foi apenas Sirius que caiu pelo véu, desaparecendo. Lentamente, Dumbledore seguiu-se a ele, bem como Olho Louco, Hedwig, Dobby, Snape e depois Hagrid, Lenny, Fred, George, Hermione, Ron, Ginny...
As pessoas à sua volta deixaram de ter importância: aliás, o seu mundo já não fazia sentido, girava apenas, tal como a Terra, automaticamente. Mas de que servia continuar a respirar, a sentir o coração bater-lhe no peito, se todos os que amava passavam lentamente para o outro lado, para a morte, para o vazio... de onde não sairiam mais. 
E uma questão desoladora impôs-se na cabeça de Harry: teriam também os amigos chegado àquele lugar e por qualquer motivo, falecido? Não era o facto de poder ser o próximo que o horrorizava, mas sim o facto de já não ter uma razão para viver, já não haver nada que o segurasse à Terra, que segurasse o seu mundo... a gravidade morrera, para si. 
Mas apenas Sirius morrera ali, na realidade. Todos os outros haviam morrido de formas diferentes, isto, tirando aqueles que ainda viviam depois da batalha de Hogwarts, que deviam estar a viver naquele momento, não fosse aquele maldito véu... mas o que fazia Hagrid ali? Porque estavam todos a passar pelo véu? E que pessoas eram aquelas que se moviam à sua volta? Harry fez um esforço e semicerrou os olhos. Distinguiu Bellatrix Lestrange, com ar de louca, rindo-se às gargalhadas. Mas como era possível, ela morrera na batalha de Hogwarts, fora Molly, a mãe de Ron e dos outros Weasley, que a matara, Harry vira com os seus próprios olhos...
Algo não estava bem. Nada fazia sentido. No entanto, Harry sabia que o seu maior medo se erguia perante os seus olhos, sem que ele o pudesse evitar, sem que ele pudesse salvar os amigos, lutar por eles... a dor era infinita e destrutiva, Harry sabia que não conseguiria sobreviver. Não que quisesse. 
As lágrimas escorriam-lhe pela cara e jatos de luz de cores que, tal era a mágoa, ele não conseguia distinguir, passavam por cima de si e ao seu lado, mas Harry só sentia dor, desespero... medo... o seu maior medo...
E então fez-se luz. Era isso. O medo. No terceiro ano de Harry em Hogwarts, quando estudara os dementors com Lupin, este dissera-lhe que o maior medo de Harry era o próprio medo. Agora, porém, o seu medo era outro... ali estava ele, à sua frente. 
Apoiou as mãos nos joelhos, respirando ofegantemente e tentando recompor-se, evitando pensar na dor que o obrigava a dobrar-se. Pousou os dedos na varinha, apontou-a ao véu escuro e bramou:
-Riddikulus!
Foi atirado de um lado para o outro, contudo, em nada bateu. Voltou a tossir com a poeira e quando abriu os olhos, viu-se de volta ao túnel. Sentia-se cansado e ainda atordoado pelo que acabara de presenciar... mas também triunfante. Vencera o próprio medo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Não me deixes

Fred tivera algumas dificuldades em transformar uma pedra numa manta e em arranjar comida, mas por fim, utilizou os mesmos métodos que o irmão gémeo, apesar de ter comido toda a comida sem a ter duplicado, de modo que agora não tinha nenhuma. 
Apesar de só terem passado dois dias desde que deixara Hogwarts, a Fred parecia-lhe uma eternidade. Tinha saudades de Lee Jordan, o seu melhor amigo sem contar com George, das partidas de Quidditch, das chasers da equipa de Quidditch dos Gryffindor, em especial de Angelina Johnson... e claro, das partidas mágicas que tanto ele como George adoravam fazer. 
O túnel estava a uma temperatura amena, nem quente nem frio, mas Fred começava a sentir-se claustrofóbico e sozinho. Devia ser por volta do meio dia, pois a temperatura pareceu aumentar significativamente e Fred deu por si a ser sugado por um buraco que se abrira mesmo à sua frente no túnel.
-Au! - gritou, enquanto embatia nalgo duro. Abriu os olhos e apalpou o chão: encontrava-se numa rua empedrada e ladeada por casas e lojas dos dois lados. À frente, o banco Gringotts, imponente e brilhante. Fred não sabia como, mas tinha ido parar a Diagon-Al. O seu instinto levou-o a percorrer as ruas desertas e assim que virou para a rua onde no verão ele e George trabalhavam na loja de Magias Mirabolantes dos Weasley, viu-a a arder. O edifício onde os gémeos guardavam a maior parte das suas partidas, um trabalho de uma vida... consumido em chamas...
-Socorro, acudam! - berrou Fred, mas Diagon-Al estava estranhamente deserta. E então, ergueu o olhar para uma das janelas e vislumbrou um pedaço de cabelo ruivo a tombar para trás.
-George! - gritou e sem pensar, entrou na casa em chamas. O calor agoniou-o, o fumo sufocou-lhe a garganta, as cinzas cegaram-lhe os olhos... mas ele tinha de continuar, não importava se teria de morrer queimado, só queria salvar o irmão... isso, claro, se não fosse demasiado tarde - aguamenti!
Um jato forte de água saiu da ponta da sua varinha e Fred apontou-o para os lados e para a frente. As prateleiras e estantes ardiam, via-se restos de pacotes chamuscados e negros no chão, fagulhas e coisas pegajosas nas paredes, a madeira a cair por trás de Fred e este abaixava-se à medida que subia as escadas em caracol da loja, rezando a Deus para que não fosse tarde demais... e de súbito viu-o, ao irmão, tombado sobre uma pilha de poções de amor, as labaredas a aproximarem-se dele. Passou o jato de água em volta dele, formando um círculo e afastando as chamas.
-George, por favor, não... não me deixes, George... - sussurrou ele, ajoelhando-se ao seu lado e tocando-lhe na face. Estava fria e Fred perguntou-se porque não teria o irmão apagado ou pelo menos afastado as chamas como Fred fizera. Talvez não tivesse a varinha consigo. Talvez não tivesse tido tempo para fazer o que quer que fosse... Fred sentiu o calor e as labaredas voltarem a avançar, mas Fred fê-las recuar novamente. Tocou no pulso do irmão e gritou de raiva. O seu coração parara. Não batia mais. Mas depois reparou na roupa que George usava... talvez fosse absurdo pensar em roupas naquele momento quando a pessoa mais preciosa que ele tinha acabara de falecer, mas foi essa mesma roupa que o deixou intrigado e o fez perceber que aquilo não fazia sentido. 
Fred lembrava-se da roupa que George usava quando o havia visto pela última vez, na sala dos túneis, onde estava a esfinge: o uniforme dos Gryffindor da escola. Agora, envergava o fato da loja das Magias Mirabolantes dos Weasley e não fazia sentido, numa missão como aquela, George ter querido vestir o fato, a não ser pelo facto do outro estar sujo... mas com um pequeno movimento da varinha isso resolvia-se...então porque optara George, que de certeza chegara ali da mesma forma que Fred, mudado de roupa?
O trabalho da sua vida estava completamente destruído... bem como a sua alma, uma metade de si havia desaparecido... o seu maior medo... mas aquele indício da roupa não deixava de lhe vir à mente, enquanto sentia a dor a consumi-lo mais que as enormes labaredas que teimavam em avançar, por mais que Fred as fizesse recuar com o feitiço aguamenti. Quis agarrar no irmão, mas ele não se desprendeu, como se estivesse colado às poções de amor nas quais jazia o seu corpo. Lentamente, recuou pelas escadas abaixo e saiu da loja, extinguindo o fogo. Lá fora, a rua continuava deserta.
-Ridikkulus! - proferiu e sentiu-se sugado, agora para cima e foi arremessado contra qualquer coisa rugosa e áspera. Percebeu que era pedra e deixou-se cair por esta abaixo, até se sentar no chão. Suspirou, as roupas chamuscadas. Reparou-as com a varinha e depois fechou os olhos, rezando com mais força do que alguma vez rezara na vida, pela segurança de George, da família, dos amigos e da loja de Magias Mirabolantes dos Weasley.

*

Ron levara imenso tempo a adormecer. Não conseguira transformar uma pedra numa manta, não se lembrava do que era preciso fazer, e o chão frio e desconfortável do túnel não o deixava dormir, e o estômago a roncar também não o ajudava. Mas, assim que acordou, lembrou-se do que Hermione uma vez lhe dissera sobre a comida e a Lei de Gamp e apressou-se a invocá-la. Com a pressa, comeu-a toda e só depois se lembrou de que a devia ter duplicado, mas sabia que quando precisasse dela a voltaria a invocar.
Caminhou durante algum tempo e de repente a luz ofuscou-o. Por cima de si, encontrava-se um buraco com um diâmetro de cindo metros e Ron só conseguia distinguir os raios solares e o verde, de árvores, talvez. Sem parar para pensar, içou-se, passou o corpo pelo buraco e abriu a boca de espanto. Preparou-se para voltar a passar pelo buraco, mas este desaparecera.
A floresta erguia-se alta, os pinheiros, as agulhas no chão, tudo muito familiar... Ron sabia que se encontrava na floresta onde, no ano passado, havia abandonado Harry e Hermione na busca das Horcruxes. Por aquela altura, já ele havia perpassado os feitiços protetores que Hermione lançara à tenda deles, pelo que agora seria impossível regressar. Mas o que fazia ele ali? Porque estava ele a reviver o passado? Sentou-se no chão, desesperado, sem saber o que fazer. De repente, ouviu gritos e estrondos e não teve outro remédio se não correr até ao local. Ali estava a tenda, sombria. Não se ouvia um único som. Ron apressou-se a abri-la. Se conseguira encontrar a tenda, era porque algo de errado se passara: os feitiços protetores tinham sido quebrados. E Ron viu porquê. Estendidos no chão da tenda, jaziam Harry e Hermione, pálidos, os membros do corpo contorcidos de uma maneira estranha, os cabelos cheios de gotas de sangue… e Ron soube que se nunca os tivesse abandonado, aquilo poderia não ter acontecido, ele poderia ter ajudado a vencer os oponentes, ou então estaria ali, deitado, junto deles...
Esqueceu-se que era o passado, que era impossível eles morrerem ali, que o futuro era diferente… ao vê-los estendidos no chão, sem vida, nada lhe fazia sentido. Sentia apenas dor, dor e fúria, ressentimento, culpa, não pelos assassinos, mas por si.
Como era possível… Ron sempre receara, temera não voltar a encontrá-los, tinha medo que os melhores amigos morressem e ele não estivesse lá, para os ajudar, para os proteger, para lutar ao lado deles… e agora ali estavam eles, mortos, e o que se limitara Ron a fazer? A fugir.
-Cobarde! – gritou ele para si mesmo, caindo no chão, pensando que não valia a pena o seu coração continuar a bater, se os deles haviam parado… e tudo por culpa de Ron, tudo… o seu maior medo… - não!
Ron arregalou os olhos… não podia ser… ou podia? Era a sua única esperança, a sua tábua de salvação. Recuou até sair da tenda, sem conseguir lançar um último olhar aos amigos. Posicionou-se à frente desta, segurou firmemente na varinha e murmurou:
-Riddikulus!
Um buraco de cinco metros de diâmetro abriu-se no chão debaixo dos pés de Ron e este deixou-se cair no chão duro e frio do túnel de pedra.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Túnel Infernal

Ginny dormira durante toda a noite em cima de uma manta tosca e remendada, resultado da Transfiguração a uma pedra caída no chão do túnel. O calor tinha-se tornado insuportável durante a noite, mas de manhã o frio instalou-se e Ginny perguntou-se o que estariam a fazer os seus amigos em Hogwarts, como Neville e Luna, e se se estariam a perguntar onde raio estava ela. Saberia já McGonagall do desaparecimento deles? Desconfiaria ela da razão pela qual oito dos seus alunos tinham desaparecido? E as aulas e os exames do fim do ano? Para Harry, Ron, Hermione, Lenny e Draco ainda seria pior faltar às aulas, já que era o ano dos seus EFBE's e não convinha nada perder matéria... mas Ginny sabia que era por uma boa causa: se os pais dela estivessem desaparecidos, ela também gostaria de ter os amigos mais chegados por perto. 
De manhã, Ginny retirou um tupperware da sua mala vermelha e comeu um pão com ovo, mas não antes de o duplicar através da Maldição Gemino. Guardou então a réplica do pão com ovo de volta no tupperware e prosseguiu viagem. 
Andou durante cerca de meia-hora, as pernas já entorpecidas e os dentes a bater de frio, quando um vento lhe levantou os cabelos e lhe soprou na cara. Viu luz no fundo do túnel e à medida que se aproximava, árvores e arbustos apareciam: era a saída do túnel. Correu para lá, ofegante e o que viu, assim que saiu para o ar fresco, deixou-a confusa, desconfiada, mas acima de tudo, aliviada. 
Os campos estavam verdes e calmos, soprava uma brisa fresca e a casa desengonçada de vários andares encontrava-se em silêncio. Ginny chegara à "Toca". 
Talvez se devesse ter perguntado o que estava ali a fazer, em que é que a sua casa a ia ajudar, a ela e a Lenny, a encontrar os pais da última, mas a verdade é que não o fez. Estava tão entusiasmada e ansiosa com a perspetiva de ver os seus pais e talvez algum dos seus irmãos mais velhos, que desatou a correr em direção à casa, sem parar para pensar. 
A porta da frente encontrava-se destrancada, mas talvez Molly, através do relógio pendurado na parede da sala de estar, soubesse que Ginny estava a chegar e lhe tivesse aberto a porta, já que o relógio tinha nove ponteiros, cada um com uma fotografia de um dos membros da família. Em vez de horas, o relógio tinha possíveis localizações onde os membros da família podiam estar: em casa, na escola, no trabalho, a viajar, "perdido", no hospital, na prisão ou "em perigo de vida".
Ginny pensou ter ouvido o ruído de tachos vindo da cozinha, mas assim que lá chegou, verificou que esta se encontrava vazia.
-Mãe? - chamou - pai?
Embora soubesse que muito embora o pai estivesse, àquela hora, a trabalhar no Ministério da Magia, não resistiu em chamá-lo também. 
-Bill? Charlie? Percy? - bramou, mas não obteve resposta e saiu da cozinha. Olhou para o sítio onde costumava estar pendurado o relógio, na sala de estar, mas este desaparecera. Correu escadas acima com o medo a tomar conta dela: algo de muito errado se passava ali. Subiu ao primeiro andar e abriu a porta do seu quarto de rompante e gritou. 
-NÃO! - gemeu ela. Em cima da sua cama de casal (a cama de solteiro onde Lenny dormira no Natal havia sido retirada e a de Ginny aumentada) estendia-se, inerte, o corpo da mãe, pálido como um cadáver, uma mão a pender para fora da cama, balançando no ar, a varinha firmemente agarrada com a mão, os olhos inexpressivos e vazios. Avançou para junto dela e tocou-lhe no pulso: foi como passar por um fantasma: um vento gélido abriu as janelas do quarto e os cabelos de Molly e de Ginny esvoaçaram em conjunto. Lágrimas começaram a correr violentamente pela cara de Ginny enquanto milhões de perguntas se formavam na sua mente. O que acontecera? Como acontecera? Porque acontecera? 
Lentamente, virou costas ao corpo da mãe, sem conseguir acreditar no que vira, sem querer acreditar... subiu as escadas aos tropeções e entrou no quarto dos gémeos, no segundo andar, a raiva e a fúria a crescerem dentro de si. 
Aí, o corpo do pai e de Charlie repousavam lado a lado, nas camas de Fred e de George, respetivamente, iguais a Molly. 
-Não! - gritou ela e tombou de joelhos no chão. A dor era pior do que qualquer coisa que já tivesse sentido: cortava-a por dentro, explodia como vidro, dilacerava-a. Começou aos murros no chão de madeira do quarto dos gémeos e arrastou-se, de gatas, não conseguindo suportar a dor em pé, para o quarto de Percy, também no segundo andar. Sombriamente, aquilo que viu não a surpreendeu. O corpo de Percy jazia como um cadáver, no chão do quarto, um olho aberto, outro fechado, a varinha a poucos milímetros dos seus dedos. Queria tocar na face do irmão, mas não queria ao mesmo tempo. Aquilo não podia estar a acontecer. Era surreal, demasiado assustador, demasiado horrível, demasiado mórbido, demasiado...
Ginny levantou-se e correu escadas acima, abrindo a porta do quarto de Bill e Charlie. Aí, Bill encontrava-se de barriga para baixo, estendido no chão, o corpo desfigurado e quase impossível de reconhecer, não fossem as marcas das garras de Fenrir Greyback na bochecha direita e o cabelo comprido e ruivo sujo e enlameado. Encaminhou-se ao quarto dos pais, com dificuldade e chorou com mais força do que havia chorado anteriormente. Fred, George, Ron e Harry encontravam-se amontoados, alguns sem cabeça, outros sem pernas, numa confusão medonha... como se fossem lixo, como se não tivessem qualquer importância e no entanto Ginny não aguentou e correu de casa para fora o mais depressa que pôde e ia tão chorosa e tão cheia de dor que quase não ia reparando que faltava alguma coisa no pátio da casa. A garagem e o rio haviam desaparecido. Na verdade, Ginny não se lembrava com exatidão se os tinha visto ou não quando chegara à "Toca", mas uma última esperança, forte e radiante, surgiu-lhe à cabeça. Talvez aquilo não passasse de um pesadelo... beliscou-se, mas não acordou... ou talvez tudo aquilo fosse o seu maior medo... recuou até conseguir ver toda a casa e a paisagem em volta, depois sacou da varinha e pronunciou, as lágrimas a rolarem-lhe descontroladamente pelas faces: se não fosse aquilo, se não resultasse... então ela não tinha mais razões para viver.
-R-Riddikulus! - e de repente, foi sugada por um vórtice invisível e a escuridão apoderou-se dela. Depois abriu os olhos lentamente e suspirou de alívio, o medo a desaparecer do seu coração, mas a raiva e a fúria a aumentar por quem quer que tenha colocado aquele Sem Forma no seu caminho... pois Ginny encontrava-se estendida de barriga para baixo no chão frio e de pedra do túnel, como se nunca de lá tivesse saído. 


*

George dormira pouco naquela noite, pois morria de fome, e como não trouxera nenhum mantimento (o que lhe parecia agora uma estupidez), não tinha comida e esta era uma das cinco exceções à Lei da Transfiguração dos Elementos, de Gamp, e não podia ser transfigurada a não ser que já se tivesse alguma. Nesse caso, podia ser aumentada ou transformada noutra comida... ou então podia ser invocada se se soubesse onde estava  E George sabia.
-Accio comida - disse e dali a instantes um tupperware voava na sua direção recheado de pães com várias coisas, ovo mexido, fiambre, queijo, manteiga e saladas... além de uma garrafa de água. George não sabia se viera da mala de Hermione, Ginny ou Lenny, mas isso não importava. Sabia que elas tinham armazenado muito mais comida - como é que não me lembrei de isto antes?
Comeu e bebeu até estar saciado, mas não sem antes duplicar toda a comida e a a garrafa de água três vezes e de transformar uma pedra numa mochila. Colocou a comida e a bebida na mochila e pô-la às costas, espantado e maravilhado com a sua inteligência. Mas, sem saber como, o passo seguinte que deu levou-o a uma situação devastadora que já havia vivido: havia chamas, explosões, estrondos e luzes verdes e vermelhas por todo o lado: a batalha de Hogwarts. 



O túnel tinha desaparecido e a escola ardia: ouviam-se gritos e estrondos, viam-se gigantes, aranhas enormes e monstruosas, feiticeiros encapuzados e com máscaras, outros sem varinha, alguns estendidos no chão, feridos ou mortos. George encontrava-se no lado de fora, nos campos, mas correu, meio abaixado para escapar aos raios verdes e vermelhos que lhe rasavam a cabeça, em direção ao castelo, subindo as escadas meio rachadas e partidas o mais rápido que conseguia. No Hall de entrada, as esmeraldas verdes da ampulheta dos Slytherin estavam derramadas no chão, as pessoas escorregavam e caíam, algumas esmeraldas estavam pingadas de sangue, juntamente com o chão. 
George atravessou o Hall e entrou no Salão Nobre: olhou em redor, por entre a fila de mortos e feridos, e arregalou os olhos de medo: a um canto, o corpo do seu irmão gémeo, a pessoa de quem mais gostava no mundo... estendido, pálido, sem vida, mas com uma gargalhada, o seu último riso, estampado no rosto... George procurou os restantes familiares, a dor a consumi-lo por dentro e foi quando se aproximou do corpo de Fred que reparou que jaziam junto dele, inertes tal como o seu irmão gémeo, os olhos fixos e vazios, mortiços. George perguntou-se se seria possível, se teria voltado à batalha de Hogwarts, se recuara no tempo, se podia morrer, se os seus familiares estavam realmente mortos. Não percebia como podia estar ali, como estava a reviver o passado uma vez mais. E porque é que daquela vez tudo era mais negro, mais intenso, mais doloroso, se é que isso era possível...?
Avançou lentamente pela fila de pessoas, alguns gravemente feridos, outros de olhos fechados, para sempre... ajoelhou-se no chão junto da família e lentamente, fechou os olhos a todos os seus parentes, as pessoas que mais amava naquele mundo... 
A dor ameaçava vencê-lo, George preparava-se para desistir, preferia morrer com os familiares a viver uma vida sem eles, não conseguiria... mas uma ínfima parte do seu ser, a parte racional, dizia-lhe que aquilo não estava certo, que era impossível... mas nunca ouvira falar de nada assim, Braxton, nem qualquer outro professor de Defesa contra as Artes das Trevas que já tivera, lhe haviam falado sobre algo assim... apenas sabia que aquele era o seu maior medo... durante a verdadeira Batalha de Hogwarts, o seu maior receio fora ver os seus familiares mortos... e ali estavam eles... e então percebeu.
Não sabia como um Sem Forma podia atingir um tamanho tão grande, reproduzir a situação da batalha como se sucedera, pelo menos no exterior... dentro do Salão Nobre, algo mudara.
Levantou-se a custo, ofegante, e correu para fora do Salão, atravessando o Hall de entrada a correr, por pouco não caindo com as esmeraldas dos Slytherin derramadas no chão como sangue...desceu as escadas de quatro em quatro, ciente de que os feitiços que voavam atrás, à frente e ao seu lado não o poderiam atingir... levou dez minutos a percorrer todo o campo de Hogwarts e a sair pelos portões com um movimento de varinha. Virou-se de frente para os portões, as chamas a cegarem-lhe os olhos.
-Ridikkulus! - gritou e acordou no meio do túnel de pedra, ofegante e cansado, como se o que tivesse vivido fosse real, mas ao mesmo tempo como se nunca tivesse abandonado as paredes rochosas daquele túnel infernal. 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Medos & Desafios

O túnel serpenteava entre curvas e contra-curvas e a certa altura o calor começava a ser insuportável.
-Estamos nisto há horas - comentou Ginny, parando para descansar.
-Daqui a pouco é noite - afirmou Hermione, consultando o seu relógio de bolso.
-Esperem lá, é proibido usar magia fora de Hogwarts! Podemos ser expulsos por causa disto! - lembrou-se Lenny de repente enquanto os outros se sentavam e Hermione e Ginny tiravam comida embalada das suas bolsas.
-Não te preocupes - tranquilizou-a Harry - nós, no nosso quinto ano, também lutámos no Ministério com magia e não fomos expulsos por causa disso.
-Realmente, estamos numa missão para resgatar os teus pais e tu preocupas-te com isso - censurou Fred com um sorriso.
-Vocês estão a fazer tanto por mim. Não sei como é que algum dia vos vou retribuir - agradeceu Lenny.
-Aproveita a comida - gracejou Ron - é suficiente.

*

Hermione surpreendeu tudo e todos ao tirar a custo oito mantas da sua bolsa para dormirem. Assim, passaram a noite ali mesmo no corredor do túnel e depois Hermione acordou-os pelas oito horas da manhã para seguirem o caminho que a agulha da bússola lhes indicava.
Não foi preciso andar muito para perceber que aquela espécie de subterrâneo estava a mudar: começou a ficar frio e o túnel ficou mais estreito. Tinham de andar muito juntos e os gémeos e Ron de baixar a cabeça para não baterem com ela no teto, que ia baixando à medida que caminhavam. A certa altura, quando o frio começava a ser difícil de suportar, o túnel desembocou noutra sala escura e assim que acenderam as varinhas com o feitiço Lumos verificaram, com desânimo, que era uma sala idêntica há que tinham atravessado e onde haviam decifrado o enigma da mulher-fantasma. Agora, porém, não havia portas de madeira fechadas, mas oito túneis idênticos e dispersos.
-Querem ver que vamos ter que decifrar mais um enigma? - indagou Ron, nada satisfeito.
-O senhor devia ser menos impertinente - disse uma voz feminina e cavernosa. A sala iluminou-se como por magia, com uma luz alaranjada, e uma criatura estranha saiu da parede como a mulher-fantasma havia feito. Só que esta não era um fantasma. Estava sentada num pedestal de pedra, tinha cabeça e peito de mulher, mas as patas e as garras eram de leão, a cauda de serpente e as asas de águia. Lenny tinha uma vaga ideia de já a ter visto em qualquer lado.
-O que é... você? - murmurou Ron, assustado. A criatura sorriu maldosamente, mas permaneceu no seu lugar como se de uma estátua se tratasse. E então Lenny lembrou-se de onde já a vira. Tirou o livro "Mitologia no Mundo" que Harry lhe dera da bolsa roxa e folheou o índice. Ali estava.
-Esfinge - declarou Lenny e mostrou a página da Esfinge aos outros.
-Pensava que isso só existia nas mitologias egípcia e grega - confessou Hermione.
-E nas pirâmides - acrescentou George.
-Bom, lamento interromper a vossa maravilhosa conversa - sibilou a Esfinge - mas estou encarregada de vos avisar que só terão sucesso na vossa... jornada, se cada um de vocês conseguir atravessar um dos túneis com sucesso.
-Não parece ser muito difícil - Draco encolheu os ombros, mas arrependeu-se de imediato, pois a Esfinge arreganhou-lhe os dentes afiados.
-E o enigma do homem? Aquele que caminha com quatro patas de manhã, com duas à tarde e com três à noite? - interpelou Lenny.
-É por isso mesmo que vos apresento outro desafio - disse a Esfinge - porque toda a gente já conhece esse enigma. Por isso, meus queridos, aconselho-vos a respirarem fundo. Mas mais enganados não podem estar se acharem que vai ser fácil passar por aqueles túneis, mas garanto-vos que se conseguirem, estarão a um passo de alcançarem o que desejam.
-Que outra escolha temos? - perguntou Harry.
-Serem devorados por mim - a Esfinge lambeu os lábios e sorriu.
-Vamos a isso - Draco avançou um passo, mas Lenny segurou-o por um braço.
-Tenham cuidado - pediu a todos - por favor.
-Não te preocupes. Vai correr tudo bem - acalmou-a Ginny, mas nem ela parecia muito sossegada.
-Não tenho o dia todo - lembrou-lhes a Esfinge e com uma última troca de olhares, cada um entrou num dos túneis, enfrentando o desconhecido.

*

Ginny avançou prudentemente pelo seu túnel: não se ouvia um único som e o calor regressara. Perdeu a noção do tempo: não sabia se haviam passado uma, duas, três horas desde que se separara dos amigos e esperava seriamente que os rapazes conseguissem desencantar uma maneira de se manterem hidratados, já que eram as raparigas que tinham ficado com os mantimentos dentro das suas bolsas. 
De repente, ao curvar numa curva, uma criatura pálida e de olhos vermelhos apareceu-lhe à frente. Tinha cabelo comprido e preto, olhos raiados de sangue e dentes aguçados. Ginny não sabia dizer se era homem ou mulher, mas duma coisa tinha a certeza: era um vampiro. 
Este avançou para ela furtivamente e agarrou-a pelo pescoço. Ginny pegou na varinha e virou-a para trás.
-Atordoar! - o vampiro recuou uns metros para trás e caiu no chão com estrondo: o solo estremeceu por debaixo dos pés de Ginny. O vampiro voltou a levantar-se num ápice e arreganhou-lhe os dentes: num instante, segurava Ginny pelos cabelos e as suas presas encontravam-se a milímetros do pescoço dela. 
Pensa, Ginny, pensa. Todas as criaturas têm um ponto fraco. Qual é a dos vampiros?
E então lembrou-se que o vampiro que os pais guardavam na Toca, no sótão, detestava fogo. Era esse o ponto fraco deles. Ginny sentia o bafo frio do vampiro na sua pele.
-Atordoar! - gritou e o vampiro voltou a recuar - Incendio!
Uma lâmina de chamas saiu da ponta da sua varinha e envolveu o vampiro enquanto este contorcia a cara numa expressão de dor. A pouco e pouco, as labaredas envolveram-no por completo e este desapareceu. Ginny suspirou de alívio e massajou o pescoço, cansada.

*

George conseguira arranjar água com o feitiço Aguamenti e esperava que os outros também se lembrassem disso. O túnel dele mudava constantemente de direção: era uma balbúrdia de curvas e contra-curvas que o começavam a enjoar. A certa altura, chegou ao nariz de George o cheiro a podre: algo apodrecido e maligno aproximava-se, uma combinação de sujidade, sangue e suor. Soltou um grito quando lhe apareceu um lobisomem  pela frente. Era uma mistura de lobo com homem, e erguia-se nas patas traseiras, o corpo todo envolto numa penugem peluda e preta, os olhos pretos e raivosos. O lobisomem saltou sobre ele mas George rebolou no chão e desviou-se. O lobisomem foi embater com o focinho no chão, mas daí a instantes investia novamente sobre o rapaz.
George não podia esquivar-se eternamente ao monstro. Tinha de pensar em algo que o destruísse e depressa.
-Porque é que eu não dei atenção aos professores quando eles falaram sobre lobisomens? - lamentou-se ele, esforçando o cérebro a pensar. Quando finalmente se lembrou de algo que o podia ajudar, o lobisomem saltou sobre ele e deitou-o ao chão. Ia cravar-lhe as presas no corpo quando, com um floreado da sua varinha, George fez surgir uma bala de prata. O monstro arregalou os olhos enquanto George a apontava ao peito da criatura. Ao chegar-lhe ao coração, o lobisomem tombou para trás e ganiu, desaparecendo numa poça de sangue.
-Ufa - suspirou George - daqui em diante vou ter mais atenção nas aulas.

*

Fred demorara mais algum tempo a lembrar-se do feitiço Aguamenti, mas por fim lá conseguiu. Assustava-o a ideia de não saber nada dos outros. Não sabia se tinham conseguido enfrentar o que quer que fosse que tivessem para enfrentar, ou se tinham ficado para trás... mas Fred esforçava-se por não pensar nisso. 
Estava muito calor naquele sítio, talvez cerca de quarenta graus. Fred ia-se refrescando constantemente com o Aguamenti, mas começava a faltar-lhe o ar, de estar tanto tempo fechado naquele subterrâneo. 
Subitamente, o chão tremeu violentamente e Fred pensou tratar-se de um terramoto, mas o coração caiu-lhe aos pés quando um gigante com mais de três metros de altura lhe surgiu no caminho. A cabeça era enorme: os olhos deformados e de um azul brilhante, o nariz era em forma de batata, a boca descaída para o lado esquerdo, o cabelo emaranhado e castanho, mais parecia um ninho de pássaros. O tronco parecia ser em forma de ovo e as suas vestes eram sujas e rasgadas. Os braços pendiam ao longo do corpo como dois troncos de árvores e as pernas pareciam ser demasiado pequenas para conseguirem sustentar tanto peso. 
O gigante parecia não ter reparado ainda em Fred, talvez se ele lhe conseguisse passar por entre as pernas... 
Crac!, Fred pisou numa pedra e o gigante olhou para baixo. Sorriu estupidamente e tentou apanhá-lo com a mão, contudo era demasiado lento e Fred escapou-se-lhe. O gigante rugiu e tentou virar-se, mas as suas banhas fizeram-no ficar encravado entre as paredes dos dois túneis. Fred sabia que não ia lá com feitiços: a pele dos gigantes parecia ignorar os feitiços que os feiticeiros lhes lançavam, pois era uma pele muito resistente, de modo que a única maneira de o enfrentar era correr de um lado para o outro debaixo das pernas dele. O gigante torcia-se todo e tentava alcançá-lo, mas não dava resultado. As paredes do túnel e o teto começaram a desmoronar-se e Fred correu em frente o mais que podia, enquanto o gigante ficava soterrado debaixo da avalanche de pedras.

*

Ron também conseguira, depois de muito puxar pela cabeça, chegar ao feitiço Aguamenti e deambulava agora pelo túnel. Este era sempre em frente: direito e sem curvas. Ron pensava nos amigos e que perigos é que deviam estar a enfrentar: ele, por sua vez, ainda não tinha enfrentado nada. 
Mal tinha acabado de pensar nisso, quando um um frio gélido e cortante o trespassou e envolveu, e uma figura flutuante e encapuzada surgiu do nada à sua frente: o cheiro a podre entranhou-se no seu corpo e a felicidade pareceu esvair-se da sua alma: como se nunca mais pudesse voltar a ser feliz. A criatura era esquelética e o manto eram sombras: todo o seu corpo era podre e maldoso, as sombras envolviam-no e pareciam projetar-se no espírito de Ron, tal como o frio que o enregelava. Ron caiu ao chão com estrondo e retraiu-se, esgotado. O cheiro a podridão entrava-se-lhe pelas narinas adentro, o cansaço, o frio e o medo apoderavam-se dele, via os corpos dos irmãos, dos pais e dos amigos, inertes e mais pálidos que cadáveres....
Concentra-te, Ron!, disse-lhe uma vozinha no ínfimo do seu ser enquanto o Dementor se aproximava. Era Hermione e isso fez Ron acordar.
Tentou concentrar-se em coisas felizes, mas a escuridão começava a apoderar-se dele. Pensou nos irmãos, na primeira vez que conhecera Harry e Hermione, pensou em tudo aquilo que tinha passado com eles...
-Expecto Patronum! - bramou e um Jack Russel Terrier de cor azulada e brilhante saiu da ponta da sua varinha e rodeou o Dementor, que, lentamente, desapareceu. Com ele, as trevas, a infelicidade e o frio foram-se embora.
Ron suspirou de alívio e deixou-se cair no chão, esgotado, mas feliz.
-Hermione - susurrou ele, com a cabeça colada ao chão.

*

Hermione tinha reabastecido os cantis e garrafas de água que levava na sua bolsa azul com o feitiço Aguamenti. Sentia-se cansada e sozinha, mas tinha de continuar, não podia dar parte fraca. Contudo, sentia-se cada vez mais entorpecida e desesperada, como se sentisse ameaçada...
Hermione esbugalhou os olhos à medida que se apercebeu: virou a cabeça para trás com tal rapidez que ia apanhando um torcicolo. Lá estava, a uns quinze metros dela, uma criatura com cerca de trinta centímetros de altura, corpo peludo e uma cabeça demasiado grande, macia e cinzenta. Era um pobgrein, um demónio russo que podia perseguir as presas durante horas causando-lhes aquela sensação de mau-estar. Os pobgrein tinham preferência pelos humanos e Hermione sabia que se não fizesse nada, mais tarde ou mais cedo cederia aos sentimentos negativos que aquela criatura enfadonha e maldosa lhe proporcionava.
Aguenta, Hermione, aguenta, pensava ela, os joelhos a tremer e quase a cair. Pensa em coisas boas, vá lá... mas a rapariga não conseguia, estava prestes a desistir...
Um grito infinito prolongou-se pelo seu ser e apoderou-se-lhe da cabeça: era uma voz masculina e familiar... que dizia apenas Hermione. E foi o suficiente. Hermione endireitou-se, virou-se de frente para o pobgrein - que estava agora a apenas cinco metros de distância - e apontou-lhe a varinha.
-Atordoar! - bramou e o demónio caiu no chão e desapareceu.
-Obrigada, Ron - agradeceu Hermione, sorrindo.

*

No túnel por onde Harry seguia, a temperatura era fria, mas não demasiado. Harry arranjara água através do feitiço Aguamenti e desejou ter os amigos a seu lado. Por certo já anoitecera: Harry estava cansado e com fome e sentia já as pálpebras pesadas do sono. De súbdito, o chão começou a tremer-lhe debaixo dos pés e a temperatura pareceu descer uns vinte graus. 
-Incendio - proferiu Harry e uma labareda de chamas irrompeu da ponta da sua varinha enquanto batia os dentes, que o aqueceu um pouco. Susteu a respiração ao deparar-se com uma criatura de mais de quatro metros de altura coberto da cabeça aos pés por pelo de um branco puríssimo. Era um yeti, que deambulava pelo túnel  e emanava um frio arrepiante, minúsculos cristais e pingentes de gelo que o envolviam e se expandiam em todas as direções. O yeti hesitou ao ver o fogo na varinha de Harry, mas depois rugiu e o gelo à sua volta apagou a chama sem cerimónias. Harry sabia que a única forma de o derrotar era pelo fogo: era, tal como os vampiros, a sua maior fraqueza. Mas a criatura, embora aterradora, possuía uma beleza extrema: os olhos eram do azul-gelo mais incrível que Harry alguma vez vira, o pelo era mais branco que a neve. Porém, o yeti não se debatia com os mesmos problemas que Harry: não lhe pesaria na consciência se matasse Harry, o que, aliás, parecia estar prestes a fazer.
Só havia uma hipótese. Quando o yeti se curvou o mais que pôde e arreganhou os dentes, Harry agarrou firmemente na varinha, mas o yeti sacudiu-o e Harry foi atirado de um lado para o outro das paredes do túnel. Os óculos escorregaram-lhe pela cana do nariz, a varinha estava a um passo do pé esquerdo do yeti... e Harry ali, estatelado contra a parede esquerda do túnel...
-Accio varinha! - gritou e esta levantou-se e foi ter velozmente à mão de Harry. Sentia o bafo do yeti atrás de si... endireitou os óculos no nariz... - incendio!
Uma labareda do tamanho de uma fogueira irrompeu da ponta da sua varinha e bailou diante dos olhos do yeti. Este arregalou a cara de medo, mas as chamas não o atacaram. Harry controlava-as com a varinha. Correu por debaixo das pernas da criatura sem ousar olhar para cima e quando se achou suficientemente longe do yeti, fez desaparecer a fogueira de chamas.


*

Draco fora rápido a encontrar água através do feitiço Aguamenti e percorria agora rapidamente o túnel, que ora tinha retas que se estendiam por mais de dez metros, ora era uma miscelânea de curvas e contra-curvas que o punham enjoado. Ele só conseguia pensar em Lenny: se ela estaria bem, em segurança e em como deviam ter arranjado outra solução, em como nunca a deveria ter deixado ir sozinha, em como era seu dever protegê-la e assegurar-se que estava segura... mas também sabia que Lenny não era fácil de derrubar e que quanto mais depressa saísse dali, mais depressa a veria.
Estava Draco a pensar nisso quando ouviu um grito estridente: um grito familiar, quase como um grasnar... uma figura imponente viu-se ao longe: tinha patas e corpo de cavalo, mas a cabeça era de águia e tinha penas. E lá estava ele: um hipogrifo, semelhante a Buckbeak, outro hipogrifo que, anos antes, atacara Draco durante uma aula de Cuidados com Criaturas Mágicas, quando este se lhe dirigira de forma desrespeitosa. 
Draco sabia que não conseguiria passar por ele sem ser atacado, pelo que a única maneira de sair dali sem atacar também a criatura seria usar a técnica que Hagrid lhes ensinara no terceiro ano e a qual não resultara para Draco. 
O quão estava diferente desse Draco... nessa altura, seria incapaz de engolir o orgulho e de fazer exatamente como Hagrid lhes recomendara, mas agora... para salvar a sua vida, para salvar a vida de Lenny... parecia ser a coisa mais fácil e mais certa a fazer. Era simples.
Olhou-o bem nos olhos, uns olhos pretos e profundos e fez uma leve vénia. Susteu a respiração e esperou, ofegante. E senão resultasse? E se o hipogrifo o atacasse inesperadamente? Subitamente, este baixou levemente o pescoço e afastou-se para o lado. Draco suspirou de alívio e apressou-se a passar pela criatura.

*

Lenny sentia-se imensamente culpada por ter sujeitado os amigos àquele perigo: por mais que estes lhe dissessem que sabiam que corriam riscos e que a queriam ajudar à mesma, Lenny não se sentia segura, nem confiante e muito menos contente. Aquilo era demasiado arriscado... como ficaria a família Weasley se lhes dissessem que, por culpa de Lenny, nunca mais poderiam voltar a ver os filhos? Lenny imaginou a cara de Molly Weasley, contorcida de dor. Não deveria ter permitido uma coisa daquelas. Não estava certo. Mas era ela quem tinha ficado com a bússola, e a sua agulha vermelha apontava para o caminho em frente... e se Lenny conseguisse resgatar os pais? Com um esforço, pôs os pensamentos assustadores de lado e prosseguiu caminho.
Não tinha dado mais do que cinco passos quando um raio de luz vermelha a atingiu no peito e a mandou disparada pelo ar, fazendo-a recuar. Lenny sentiu-se ofegante: viu uma forma humana, coberta por um manto vermelho-sangue e com a cara tapada por um gorro a empunhar uma varinha preta na sua direção. Era um feiticeiro, disso Lenny tinha a certeza. 
-Atordoar! - disse numa voz masculina, sonora e grave.
-Protego! - defendeu-se Lenny e um escudo invisível projetou-se à sua frente, protegendo-a mesmo a tempo do feitiço.
-Imperio! - proferiu o feiticeiro e Lenny sentiu a sensação mais maravilhosa que alguma vez sentira na vida. A rapariga sentiu-se a flutuar: como se todos os pensamentos e preocupações se tivessem evaporado da sua mente. Lenny sentia-se relaxada... mas aquilo era uma maldição. No mais ínfimo do seu ser, ela sabia que mais tarde ou mais cedo faria aquilo que o feiticeiro lhe mandasse fazer... afinal, era a maldição Imperius... tinha de resistir... mas a vida ali parecia tão simples, tão fácil...
-Não! - gritou ela e a sensação de relaxamento desapareceu, bem como todos os seus pensamentos e preocupações regressaram. Tinha de resistir... - atordoar!
O feiticeiro voou pelos ares e embateu na parede de pedra do túnel.
-Incarcerous! - berrou Lenny e cordas pretas e grossas saíram da sua varinha e prenderam o feiticeiro à parede pelo pescoço, pela cintura, pelos braços e pelos pés. Lentamente, este recuou, como se a pedra atrás de si o estivesse a engolir, mas aquilo não era obra de Lenny. Sabia que conseguira derrotar o feiticeiro, ultrapassar o desafio. Agora a Esfinge ou o labirinto subterrâneo ou quem quer que fosse, trataria do resto.