sexta-feira, 6 de junho de 2014

Plano

Na terça-feira, dois dias depois do domingo de Páscoa, recomeçavam as aulas. Lenny regressaria a Hogwarts e se isso geralmente significava felicidade, agora significava estudar para os EFBE’s e pior, ter de enfrentar os amigos e de ignorar Draco. Lenny não contactara Draco e não sabia o que fazer. Por um lado não o queria ignorar, mas por outro sabia que seria pior se não o fizesse. Só não sabia como lhe havia de dizer nem como Draco ia reagir. Seria dificílimo ter de ver Draco a toda a hora, nas aulas, na sala comum, no Salão Nobre, e não poder falar com ele. Quanto mais pensava nisso mais Lenny começava a querer desrespeitar as regras dos pais, mas eles estariam atentos e Lenny não podia arriscar. Se a vissem a falar com Draco tirá-la-iam de Hogwarts por certo.
Na segunda-feira a seguir ao domingo de Páscoa chegaram várias corujas com cartas de Hermione e Ginny, também assinadas por Ron, Harry e George. Chegou também uma de Fred a pedir desculpas, mas Lenny não respondeu a nenhuma delas. Sabia que estava a ser mimada, mas não conseguia evitar. Sentia-se furiosa com o mundo. Era por essa mesma razão que temia contactar Draco: tinha medo de estragar tudo ao dizer coisas que não sentia. Lenny passou a segunda-feira toda enfiada no quarto. De vez em quando a mãe ou a avó iam ver se ela estava bem. Às refeições, Lenny comia rapidamente e retirava-se para o seu quarto. Ao fim da tarde fez as malas e foi deitar-se cedo. Não estava nada ansiosa pelo dia seguinte.

*

Na terça-feira, Lenny acordou, arranjou-se e sem falar muito, os pais e a avó levaram-na até à estação de Kings Cross.
-Adeus, Lenny – disse Melanie – lembra-te que gostamos muito de ti e que tudo isto é para teu bem. Daqui a uns anos vais ver que foi melhor assim.
-Claro - anuiu Lenny sarcasticamente. Relutantemente, Lenny abraçou os pais e depois, mais carinhosamente, a avó. Em seguida, sem olhar para trás, atravessou o muro. O ruído agora habitual do comboio e da agitação dos alunos fez Lenny sentir-se reconfortavelmente melhor.
-Lenny! – a rapariga reconheceu a voz de Harry ali perto e em seguida ele, Hermione, Ginny e Ron apareceram à sua frente.
-Como estás? – perguntou Hermione.
-Os meus pais proibiram-me de falar com o Draco. Não me proibiram de o ver pois isso seria impossível.
-Lamento – disse Ginny e ela e Hermione abraçaram-na.
-Até me disseram que isto tudo era para o meu bem e que daqui a alguns anos eu lhes iria agradecer – contou Lenny, quase a chorar – mas eles não entendem. O que me importa a felicidade no futuro se não sou feliz agora? Como é que eles esperam que eu siga em frente se vou estar constantemente a vê-lo?
-Quem me dera que os teus pais entendessem, Lenny – disse Hermione, triste. Era fácil perceber que Lenny se sentia desolada, desamparada. Lenny avistou as cabeças ruivas dos gémeos.
-Desculpem, mas tenho de ir.
-Não podes continuar a ignorar o Fred, Lenny – disse Ginny – ele não fez por mal.
Lenny suspirou.
-Eu só não consigo enfrentá-lo neste momento. E desculpem-me se… se não estou a ser uma boa amiga no momento, mas por favor, compreendam – disse ela, afastando-se. A voz de Hagrid anunciou a partida para Hogwarts e Lenny entrou no comboio. Por sorte ainda havia pouca gente no comboio e não encontrou ninguém conhecido. Quando estava a entrar num compartimento vazio, alguém a chamou. Lenny virou-se. Era Anastacia. Lenny franziu o sobrolho.
-Preciso de falar contigo - disse ela, empurrando Lenny para dentro do compartimento e fechando a porta atrás de si.
-O que foi? Vieste para me vigiar? Não estou com o Draco, pois não? - perguntou Lenny lembrando-se de que os pais lhe tinham dito que Anastacia ficaria encarregue de a vigiar, juntamente com Fred. Anastacia ignorou-a.
-Sei que os teus pais descobriram o teu namoro com o Draco - disse ela - o meu pai falou-me disso nas férias da Páscoa e eu tentei dizer-lhe para não contar nada aos teus pais, que não havia mal andares a namorar o Draco, mas o meu pai não me quis ouvir. Tentei ajudar-te, a sério, mas foi em vão.
-Tentaste mesmo ajudar-me? - perguntou Lenny, desconfiada.
-Sim, tentei. Desculpa se fui a razão de alguma vez te teres chateado com o Draco, e lamento que me vejas como uma inimiga. Não vou estar a vigiar-te, e por mim, vou dizer sempre aos meus pais que não te vi com o Draco. Quero que saibas que lamento muito, Lenny, e se houver alguma forma de eu puder ajudar, eu...
-Obrigada - disse Lenny. 
-Lenny - ao ouvir aquela voz Lenny gelou. À porta do compartimento encontrava-se Draco, com uma expressão triste e furiosa ao mesmo tempo.
-Ouviste? - perguntou ela.
-Palavra a palavra - confirmou Draco. Lenny olhou para Anastacia, a pensar se teria sido isto que ela queria: provocar mais confusões entre Lenny e Draco. Mas depois Lenny viu a cara aflita de Anastacia e percebeu que não tinha sido nada combinado.
-Anastacia, eu e o Draco precisamos de falar sozinhos.
-Claro - disse ela e depois pronunciou a palavra "desculpa" com os lábios. Draco desviou-se da porta do compartimento e Anastacia saiu. 
-Porque é que não me contaste? - interrogou Draco - quando é que os teus pais descobriram?
Lenny suspirou.
-Acho que chegou a altura de te contar a história toda - nesse momento, o comboio deixou a estação, arrancando em direção a Hogwarts. E Lenny contou. Contou-lhe tudo sobre o dia de Páscoa, em como os pais a tinham chamado de parte e falado, não, discutido com ela, contou-lhe como fugira, como Fred a impedira de se ir embora, da conversa em casa, do castigo. Quando chegou a essa parte Lenny não conseguiu olhar para Draco, temendo a sua reação.
-Então os teus pais proibiram-te de falares comigo? - questionou Draco quando Lenny se calou. 
-Sim - disse a rapariga com uma voz débil -  e parece que já estou a quebrar a regra.
-Mas vais cumpri-la?
-Não sei, Draco, quero dizer... tu sabes que eu não quero! Como é que eu me vou manter afastada de ti? Mas por outro lado... se eles descobrem que desobedeci, as consequências serão muito piores. 
-O que queres fazer?
Lenny conseguiu finalmente reunir coragem e olhar Draco nos olhos. A sua expressão estava triste e desalentada. Não era justo que os pais a tivessem obrigado a escolher entre eles e Draco, mesmo que alegassem que era para seu bem. Se eles gostavam mesmo dela, importar-se-iam com a sua felicidade naquele momento. E eles nem sequer conheciam Draco. Só o detestavam por causa dos pais dele. Mas estaria Lenny disposta a arriscar tudo por Draco? 
-Eu quero estar contigo - murmurou Lenny - mas ninguém pode saber.
Pronto. Dissera-o. Decidira. Não havia volta a dar. Ela não podia enganar o coração. Lenny amava Draco. 
Draco ficou calado durante algum tempo, até que disse:
-Acho que há uma maneira - como Lenny não disse nada, ele continuou - mas tem de ser muito credível, para que ninguém desconfie nada. Disseste que ninguém poderia saber, certo? Isso inclui os Slytherin e os teus amigos Gryffindor, certo?
Lenny acenou afirmativamente com a cabeça.
-Então temos de armar uma discussão. Acabar em público. 
Lenny começava a compreender a ideia.
-Mas há sempre a Sala das Necessidades - afirmou Draco - claro que teremos que ter muito cuidado, mas...
-É melhor que nada - concordou Lenny.
-Lamento muito que tenhas que escolher entre mim e os teus pais - disse-lhe Draco.
-A culpa não é tua - assegurou-lhe Lenny - então, onde é que vamos fazer a discussão?
Draco sorriu levemente. Ele conhecia o sítio ideal. 

domingo, 1 de junho de 2014

Castigo

Fred agarrou-lhe num pulso e fê-la virar-se para si, o coração a partir-se-lhe quando viu a cara dela, desolada, desalentada. Puxou-a para si e abraçou-a, não se importando com as lágrimas que lhe ensopavam a camisa.
-Lamento muito, Lenny – murmurou Fred, mais sério do que alguma vez Lenny o vira.
-Porque é que estás aqui? – perguntou Lenny, a sua voz abafada, a cabeça encostada ao peito dele.
-Eu… - Fred pareceu ficar embaraçado por um momento e depois prosseguiu: - fui ver se estava tudo bem e depois vi-te a correr. Disse aos teus pais que te ia buscar e te levava até eles.
Lenny libertou-se do abraço de Fred e deu um passo atrás.
-Não. Não vou voltar lá para dentro.
-Lenny… não é como se tivesses muitas opções.
-Não percebes? Se eu voltar, a discussão vai ser ainda maior! Pior! Eles nunca mais me deixam voltar a ver o Draco!
-Isso era assim tão mau? – perguntou Fred em voz sumida. Lenny fulminou-o com o olhar, mas não teve forças para argumentar.
-Eles tiram-me de Hogwarts.
A cara de Fred ficou ainda mais séria e triste.
-Achas que eles são capazes disso?
-Eu conheço-os.
Fred mordeu o lábio, meditando no que havia de fazer.
-O que vais fazer, então?
-Não sei. Quero dizer, eu sei que eles são meus pais e tudo, mas se eles não conseguem aceitar o facto de que… de que eu amo o Draco – os olhos de Fred murcharam um pouco – então não sei.
-Não estás a pensar fugir, pois não?
-Não estou a pôr essa hipótese de lado – afirmou Lenny. Depois, impulsivamente, pôs-se em bicos de pés e beijou Fred na bochecha, muito perto dos lábios – obrigada.
Depois virou-se. À sua frente encontravam-se Melanie, Michael e Christine. Lenny voltou a virar-se.
-Fred! – exclamou ela, furiosa.
-Desculpa, Lenny, mas não podia deixar-te fugir – confidenciou Fred, enquanto George e os outros chegavam junto deles. A expressão de Fred estava triste.
-Lamento por esta confusão toda, mas nós e a Lenny temos de nos ir embora – declarou Michael.
-E as minhas coisas?
-A Molly e o Arthur deram-nos autorização para irmos à Toca arrumar as tuas coisas – afirmou Melanie. Assim, agarrou em Lenny para que ela não se pudesse materializar sozinha e Apareceram os quatro na Toca.
-Tens cinco minutos – avisou-a o pai. Lenny pensou se conseguiria fugir, mas sabia que isso não ia resolver nada. E se fugisse, para onde iria? Assim, com lágrimas a começarem de novo a escorrer-lhe pela cara, Lenny fez as malas num instante, pegou nas gaiolas de Hedz e Shy e foi ter com a família. Depois materializaram-se de volta à casa da avó, em Londres.
Entraram em casa em silêncio. Lenny não se dignou a olhar para nenhum deles, embora visse de soslaio que a sua avó a olhava compadecidamente. A rapariga foi logo para o seu quarto e como ninguém objetou deixou-se lá estar. Pousou as gaiolas, mas não desfez a mala. Ouvia as vozes dos pais e da avó vindas da sala, mas não conseguia ouvir o que estavam a dizer. Também não queria. Passado um bocado alguém bateu à porta. Não se ouviu resposta, pelo que Christine entrou no quarto da neta, vendo-a aninhada na sua cama com a cabeça enterrada na almofada.
-Os teus pais querem falar contigo – disse ela, sentando-se a seu lado e afagando-lhe o cabelo.
-Correção: Querem gritar comigo – ironizou Lenny, a voz abafada.
-Lamento muito, Lenny – aquela frase fez Lenny lembrar-se de Fred e um sentimento estranho invadiu-lhe o espírito. Porque se importara ele tanto com ela? E porque é que ele depois a entregara? A traíra?
-Eu também – soluçou Lenny. Como a neta não fazia intenção de se levantar, Christine levantou-se e foi até à porta. Antes de sair, contudo, disse:
-Lenny, no fim tudo vai ficar bem. Se agora as coisas não estão bem é porque não é o fim – declarou ela, antes de sair e fechar a porta.
-Parece o fim – murmurou Lenny com um gigantesco nó na garganta. Todavia levantou-se, compôs a colcha da cama e olhou-se ao espelho. Tinha o cabelo todo despenteado e os olhos e o nariz vermelhos. Estupidamente, a única coisa que conseguiu pensar foi em como Fred a tinha visto naquele estado. Foi até à casa de banho e lavou a cara com água fria. Depois penteou-se e dirigiu-se à sala. Os pais estavam sentados no sofá e a avó num cadeirão.
-Aqui estou – disse ela, à soleira da porta – vão tirar-me de Hogwarts?
-Estávamos a pensar nisso, de facto – apontou o pai – mas depois da intervenção da tua avó e de termos visto que tens amigos verdadeiros em Hogwarts, como o Fred, resolvemos não o fazer.
Lenny não conseguiu sorrir.
-Afinal, só falta um período para acabares as aulas e seria um desperdício não fazeres os exames. Também sabemos que que não é possível mudar-te de equipa, nem impedir que o Draco Malfoy frequente os mesmos locais na escola que tu. No entanto, pedimos a duas pessoas que te vigiassem. Não podes aproximar-te dele. Se tiveres um trabalho de grupo, não o fazes com ele.
“A Pansy vai ficar contente”, pensou Lenny, sarcástica.
-Tens de entender que é o melhor para ti, filha – interveio Melanie – aquele rapaz não é bom para ti.
-E eu suponho que vocês o conheçam - replicou Lenny. Michael ia abrir a boca para argumentar mas Lenny interrompeu:
-Posso ao menos saber por quem vou ser vigiada como se fosse uma criminosa?
-Fred Weasley e Anastacia Jonathan – declarou o pai.
-Bestial – ironizou Lenny – e eles não terão mais nada que fazer do que me vigiar?
-Eles compreendem – disse Michael. Lenny inclinou a cabeça e sorriu cinicamente.
-Uau, agora espanta-me como é que vocês não foram para os Slytherin. Não é como se as vossas ações fossem assim tão corajosas.
-Lenny, eu não te admito que… - exaltou-se Michael.
-Desculpa, mas foste tu que disseste que agora percebias porque é que eu fui para os Slytherin! Porquê? Por ter mentido? Por me ter apaixonado?
A expressão de Michael ficou confusa.
-Lenny, não foi isso que eu quis dizer! Eu não estava a dizer que foste para os Slytherin porque nos mentiste, mas sim por causa do Draco! Ele influenciou-te, não foi?
-E se influenciou? Não é como se eu tivesse começado a comportar-me de forma errada! Fui à vossa procura. Vocês nunca notaram nenhum comportamento estranho. O Draco não me influenciou para o mal!
-Merlin, porque é que não podias ter-te apaixonado por outro rapaz? – perguntou Michael, levando as mãos à cabeça – pelo Fred Weasley, por exemplo. É um bom rapaz. Preocupa-se contigo.
-Gosta de ti – acrescentou Melanie e a sensação estranha que Lenny experienciara no quarto quando a avó lhe disse a mesma frase que momentos antes Fred lhe dissera, regressou. A rapariga revirou os olhos.
-A culpa não é minha que não consiga mandar nos meus sentimentos nem controlar por quem me apaixono ou não. Mas se querem saber, não me arrependo nem por um segundo de ter sido o Draco – respondeu Lenny com sinceridade – mais algum castigo?
-Tens alguma forma de comunicar com ele? Espelhos ou diários ou… - perguntou-lhe a mãe. Lenny olhou-a nos olhos.
-Não.
-Muito bem. Por agora é tudo – disse a mãe e Lenny retirou-se para o seu quarto. Sabia que não devia ter mentido, mas estava mesmo zangada e triste naquele momento. No entanto, não tentou contactar Draco. Naquele momento não conseguia. Não tinha forças. O que começara por ser um grande dia acabara por se transformar num dos piores dias da vida de Lenny. E ela não sabia como reagir.

Jogo

Os raios de sol acordaram Lenny na manhã de domingo de Páscoa. Ginny e Hermione não se encontravam no quarto. Depois de se vestir e arranjar, Lenny desceu até à cozinha, onde apenas se encontrava Fred.
-Bom dia – disse ele.
-Olá – disse ela – os outros?
-A Ginny e a Hermione estão lá fora com o Ron e o Harry, e o George está na casa de banho – declarou Fred, que pegou numa caneca de leite – então, que queres de pequeno-almoço?
-Eu acho que me consigo arranjar, obrigada – respondeu Lenny.
-Sabes onde estão as coisas? – sorriu Fred.
-Não. Pronto, ok…
-Leite com cereais? – sugeriu Fred. Lenny assentiu com a cabeça e quando Fred acabou de lhe preparar o pequeno-almoço, sentaram-se os dois à mesa.
-Já soubeste das novidades? – perguntou ele. 
-Foste a primeira pessoa que encontrei hoje, por isso não – respondeu Lenny com um sorriso sarcástico.
-Vamos ver o jogo de Quidditch dos Chudley Cannons contra as Holyhead Harpies hoje, para a Liga Inglesa e Irlandesa.
-Fixe! Em que posição é que se encontram cada uma das equipas?
-Os Chudley Cannons vão em 11º e as Holyhead Harpies vão em 9º, para grande infelicidade do Ron.
-Os Ballycastle Bats continuam em primeiro? – questionou Lenny.
-Credo, Lenny, tu andas atenta à Liga ou não? – riu Fred – sim, continuam. Os teus pais e os pais da Hermione também foram convidados.
-Espero que as Holyhead Harpies ganham – afirmou Lenny.
-A Ginny e a Hermione também, mas o Ron é um adepto ferranho dos Cannons. Quanto a mim, não sou por nenhum, mas mal posso esperar por ver as miúdas das Harpies.
-Vais ter de esperar até logo à tarde – disse Ginny, entrando na cozinha com Hermione – bom dia, Lenny.
-Olá – cumprimentou ela.
-Espero que o Fred não te tenha aborrecido – Ginny lançou um olhar ameaçador ao irmão.
-Quem é que achas que eu sou? – arguiu Fred, pondo as mãos no ar – além de ser o mais giro de Hogwarts, é claro!
-Ah, desculpa, mas esse sou eu – interrompeu George, entrando na cozinha.
-Mas vocês são iguais, qual é a diferença? – questionou Lenny, fazendo Ginny e Hermione rirem, enquanto Fred e George a olharam, indignados.

*

O resto da manhã foi passado descontraidamente. Havia alguma azáfama relativamente ao almoço de Páscoa e depois ao jogo. Entretanto, os familiares de Lenny e de Hermione chegaram para almoçar.
-O jogo começa às quinze da tarde – informou Arthur, enquanto se servia de cabrito assado – o estádio encontra-se numa zona aparentemente deserta para muggles, mas os pais da Hermione conseguirão vê-lo à mesma. É melhor partirmos por volta das duas e meia se queremos chegar a tempo.
Assim, por volta das duas horas e meia da tarde, com a merenda às costas, os Weasley, os Gant e os Granger, bem como Harry, materializaram-se para o estádio, que já tinha bastante gente. Este estava situado numa zona rural com muitos prados em Inglaterra, e era uma área muito inacessível e difícil de ser encontrada pelos muggles. No entanto, o estádio tinha todos os feitiços anti-muggles, só por segurança. Havia várias entradas para o estádio e seguranças verificavam as entradas e os bilhetes de cada pessoa. Depois de passarem pela segurança, entraram finalmente no estádio, onde uma imensidão de verde e amarela se fazia ver de um lado, os adeptos das Holyhead Harpies, e laranja do outro, os adeptos dos Chudley Cannons. Os Weasley, Harry, os Gant e os Granger foram sentar-se numa zona neutral, esperando que o jogo começasse. Depressa as equipas apareceram em campo, saudando os adeptos, e o apito não se fez esperar. O jogo começou rápido, mas depois foi ficando mais parado. A certa altura, vários adeptos dos Chudley Cannons começaram a cantar a uma só voz “We will rock you”, para grande espanto dos feiticeiros.
-São os feiticeiros filhos de Muggles que começaram a cantar – declarou Hermione.
-Eles têm razão – riu Ron. Ginny olhou-o maliciosamente.
-Depressa, Hermione, Lenny, não há nenhuma música muggle com a qual possamos replicar? – perguntou ela com um brilho nos olhos.
-Bem.. – pensaram elas.
-“Who let the dogs out”! – exclamou Lenny – de certeza que os filhos de muggles a conhecem.
-Boa! – disse Ginny e, sempre enérgica, começou a espalhar a palavra aos adeptos das Holyhead Harpies até um filho de muggle suficientemente corajoso começar a cantar. Depressa se lhe juntaram Lenny e Hermione, e até Ginny, mesmo não conhecendo a música começou a cantar. Assim, o coro dos Chudley Cannons que cantava “We will rock you” esmoreceu e a música de “Who let the dogs out” começou a fazer-se ouvir a alto e bom som. Os feiticeiros, atónitos, olhavam-se espantados, sem perceberem o que estava a acontecer, mas os filhos de muggles sorriam. Estavam tão absorvidos na canção que nem se aperceberam do intervalo. As Holyhead Harpies estavam a ganhar por 120-60. Os pais de Lenny foram comprar sumos e cachorros-quentes. Quando voltaram, e ao ver a expressão dos pais, Lenny percebeu de imediato que algo estava errado. Sentiu o estômago às voltas e o coração a bater depressa, mesmo sem saber o que se passava. Mas a cara dos pais não enganava. Além disso, não tinham trazido comida nenhuma.
-Lenny – chamou Michael numa voz que não estava para brincadeiras. Lenny engoliu em seco e trocou um breve olhar com os amigos, aflita. O que se teria passado quando os pais se ausentaram? – Lenny.
O pai voltou a chamá-la e Lenny levantou-se do seu assento. Notava que o pai estava a fazer um esforço para não se enervar à frente dos Weasley e dos Granger. A mãe, por sua vez, encontrava-se ao lado dele com uma expressão triste na cara.
-O que se passa? – sussurrou Lenny quando chegou junto deles. Os pais nada disseram, viraram as costas e encaminharam-se para a zona interior do estádio, onde se encontravam as casas-de-banho e as lojas de comida. A pouca gente que aí se encontrava começava a regressar ao estádio para a segunda parte do jogo.
-É verdade? – perguntou-lhe a mãe, a expressão triste a afligir Lenny.
-Bom, talvez se me explicarem do que estão a falar eu possa responder – disse Lenny, não conseguindo evitar o tom sarcástico.
-O Carl também veio assistir ao jogo – declarou o pai, que se referia ao seu amigo que vivia em Hogsmeade e cuja filha era Anastacia, Carl Jonathan. Lenny franziu o sobrolho, não conseguindo perceber o que é aquilo tinha a ver – viemos comprar comida e vimo-lo. Disse-nos que já há algum tempo que queria falar connosco.
Os pais olharam para ela, mas como Lenny não disse nada, Michael continuou.
-Disse-nos que te viu em Hogsmeade, no dia 2 de Abril.
Lenny congelou. Não podia ser. Tinha sido esse o dia em que Lenny fora com Draco à loja das tatuagens, em Hogsmeade.
-E disse-nos que te viu a beijar um rapaz – continuou Michael.
-O que não teria sido um problema tão grande, se… - disse Melanie.
-Se esse… rapaz não fosse o Draco Malfoy – finalizou Michael. Lenny não sabia o que dizer, fazer ou pensar. Não podia acreditar que os seus pais tinham descoberto. Não conseguia perceber como tinha sido tão imprudente. Afinal, qualquer um os podia ter visto. Não podia evitar sentir um pouco de raiva por Carl. Lá no fundo, sabia que a culpa não era dele, mas mesmo assim…
-Mentiste-nos, Lenny – disse Michael – e bem. Agora percebo porque é que o Malfoy foi contigo procurar-nos. A desculpa que nos deram na altura não me convencera totalmente mas decidi aceitá-la. Quer dizer, tudo era mais fácil de aceitar do que saber que… que a minha filha pudesse gostar de um… de alguém como o Malfoy.
A voz de Michael estava invulgarmente serena, o que só piorava a situação. Às vezes era preferível que gritassem connosco. Lenny não suportava ouvir a voz da desilusão, do desapontamento. Mas também não podia negar.
-Porque é que nos mentiste? – perguntou-lhe Melanie.
-Porque é que acham? – questionou Lenny por sua vez – não é como se eu tivesse planeado. Mas aconteceu. E eu sabia que vocês nunca aceitariam que eu gostasse do Draco e…
-Pensavas que o conseguirias esconder? Para sempre? – interrogou Michael.
-Eu só…
-Agora percebo porque foste para os Slytherin – cortou Michael, a voz agora mais fria. E aquela frase magoou-a mais do que qualquer outra coisa.
-Lenny… - murmurou Melanie quando a rapariga passou por eles a correr. Tentou agarrá-la, mas a rapariga esquivou-se.
-Lenny, volta aqui! – gritou o pai, mas Lenny não parou. Não tinha forças para se materializar, pelo que desceu as escadas e saiu do estádio, o coração a bater com força, a cabeça a latejar, as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Lenny nunca quisera nada daquilo. Ouviu alguém a correr atrás de si, mas não parou.
-Lenny…
Aquela voz fê-la parar. Não era a do pai, nem da mãe, nem sequer a de Ginny ou a de Hermione. 
Era a de Fred.