sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Discussões

Dez dias passaram, e era agora 25 de Fevereiro. O tempo passara de neve a chuva. Nesse dia, ao pequeno-almoço tudo decorreu com normalidade, mas em Transfiguração as coisas mudaram de figura. No início da aula a professora McGonagall anunciou:
-Temos uma nova aluna na turma, que saiu da Academia Mágica de Artes Dramáticas e que agora foi colocada nos Hufflepuff. Por favor, deem as boas-vindas a Anastacia Jonathan!
Os olhos de Lenny arregalaram-se ao mesmo tempo que o cérebro dela fazia a ligação e a rapariga com cabelos louros platinados e grandes olhos azuis-céu  entrou na sala. Era a filha de Carl Jonathan, metade Veela, que Lenny conhecera quando fora a Hogsmeade pela primeira vez. A grande maioria dos rapazes ficou embasbacado, as raparigas a revirarem os olhos e a mirá-la, ciumentas. Ela sorriu docemente.
-Por favor, Anastacia, senta-te num dos lugares livres. E agora vamos começar a aula – disse McGonagall. Lenny virou-se para trás. Estava sentada ao lado de Daphne e sabia que Draco estava lá atrás sentado sozinho. Lenny engoliu em seco quando viu Anastacia sentar-se ao lado de Draco. Ele parecia desinteressado a princípio, mas depois viu-a e reconheceu-a. Lenny sentiu ciúmes, mas tentou agir como se nada se passasse. McGonagall pediu: – abram os livros na página 132.
Lenny pegou na sua mala, procurando pelo livro, mas antes de o encontrar os seus dedos apalparam o tecido macio da carteira verde que Draco lhe oferecera pelo dia dos Namorados. Lenny agarrou-a com força, como se naquele momento a carteira fosse a única coisa que a ligasse a Draco.

*

No primeiro dia de aulas de Anastacia ela já conseguira juntar uma data de pontos para os Hufflepuff e já era falada por todas as bocas da escola não só por ser a aluna nova mas principalmente porque era metade Veela e ser muito bonita. Lenny olhara discretamente por cima do ombro algumas vezes durante a aula de Transfiguração e não lhe agradara o que vira: Draco sorria ao falar com ela e Anastacia também.
-Porque é que ela tinha que vir logo para Hogwarts? – resmungou Lenny nesse dia à hora de almoço junto a Daphne, Adrian e Blaise Zabini. Adrian e Daphne tinham assumido a sua relação há pouco tempo e Blaise parecia ser um dos Slytherin mais fixes, e um dos melhores amigos de Draco. Estavam os quatro sentados na relva, agora já sem neve, perto de uma árvore.
-Isso são ciúmes, Lenny? – perguntou Adrian, sorrindo.
-Ele falou a aula toda de Transfiguração com ela! Estava a falar-lhe do quê, das instalações da escola? – ironizou Lenny, cruzando os braços sob o peito – ele é o Draco Malfoy, por amor de Deus, devia ser o primeiro a ignorá-la!
-Bom, mas tu mudaste-o, não foi? – retorquiu Daphne.
-É só porque ela é gira – replicou Lenny. Sabia que se estava a comportar como uma miúda mimada, mas os ciúmes levavam a melhor. 
-Não, Lenny – afirmou Blaise firmemente – ele mudou. Para melhor. E foi por causa de ti, devias sentir-se lisonjeada.
-Ok, talvez ele tenha mudado, mas não me parece que mesmo assim ele fosse estar o tempo todo a falar com uma aluna nova, muito menos dos Hufflepuff, ao contrário do que está a acontecer com a Anastacia – os outros calaram-se perante esta conclusão. Sabiam que Lenny estava certa, Draco não mudara radicalmente e Lenny também não queria isso. Ela gostava da parte de “bad boy” dele e sabia que Draco só conversava com Anastacia porque ela era metade Veela
-Mesmo assim, acho que não te deves sentir ameaçada – continuou Blaise – só porque o Draco fala com ela não quer dizer que…
-Estavam a falar de mim? – perguntou uma voz. Draco. Lenny olhou para cima, sentindo borboletas no estômago. Depois engoliu em seco e desviou o olhar quando viu quem vinha com ele.
-Bom, nós estávamos só… - ia Blaise dizer, mas Lenny interrompeu-o.
-A perguntar-nos onde estarias. Mas parece que já temos a resposta – Lenny levantou-se abruptamente, encarando Draco nos olhos. O olhar dele parecia confuso.
-O quê?
-Aproveita a companhia – declarou Lenny, passando por eles e caminhando em direção ao castelo. Engoliu em seco e não conseguiu evitar olhar por detrás do ombro. Draco não estava a olhar para ela, mas os olhos brilhantes de Anastacia fixavam-na intensamente.

*

Draco, fazendo sinal a Blaise, deu a desculpa de ter de ir buscar algo ao dormitório e Blaise foi atrás dele.
-O que foi aquilo da Lenny? – desabafou Draco, caminhando em direção ao castelo.
-Achas que o teu comportamento está a ser normal, Draco? – criticou Blaise. Ele olhou-o, espantado.
-Que queres dizer?
-Quer dizer, anda toda a gente a estranhar! Andas todo sorrisinhos e conversas com a miúda nova e isso não é nada natural em ti!
-Mas não sou o único! – contestou Draco. Blaise olhou-o duramente.
-Mas tu tens namorada e eles podem não ter! – exclamou ele – uma namorada que não merece andar roída de ciúmes porque um certo tipo anda a babar-se por cima de uma miúda que só viu uma ou duas vezes e que é metade veela.
Draco sentiu a culpa a invadi-lo e engoliu em seco.
-A Lenny está com ciúmes da Anastacia? – perguntou, lentamente. Blaise fez que sim com a cabeça.
-Não me digas que ainda não tinhas percebido. Ou estavas demasiado ocupado com a Anastacia para reparar?
-Cala-te, Blaise - retorquiu Draco. Calou-se ao ver Lenny de pé a fitar a lareira da sala comum dos Slytherin.
-Vou andando - sussurrou Blaise, fazendo sinal a Draco para ir falar com Lenny e saindo da sala comum.
-Não tens mais nenhum sítio para mostrar à Anastacia? - perguntou Lenny ironicamente, virando-se para encarar Draco e cruzando os braços sob o peito - talvez... a Sala das Necessidades?
-Deus, não sabia que conseguias ficar assim tão ciumenta - disse Draco, sorrindo levemente. Lenny não achou piada e o sorriso do rapaz esmoreceu.
-Eu até posso estar a agir de forma ciumenta, mas tu não podes dizer que não andas a agir de forma estranha - constatou Lenny.
-Só estou a tentar ser simpático uma vez na vida! - exclamou Draco, com a voz acima do tom normal.
-Simpático com uma miúda gira dos Hufflepuff! - indagou Lenny no mesmo tom de voz. Só havia dois Slytherin além deles àquela hora na sala, mas naquele momento decidiram ir-se embora.
-Bom, eu não digo nada quando tu te ris com os gémeos Weasley ou com o Adrian! - protestou Draco.
-Isso é porque não tens nada que ficar chateado! O Adrian anda com a Daphne e o Fred e o George metem-se com toda a gente. E eles são meus amigos, enquanto tu só viste a Anastacia duas vezes! - agora Lenny estava praticamente a gritar.
-Então peço desculpa por estar a tentar ser simpático! - ironizou Draco - não vou parar de falar com ela só porque decides ficar toda cheia de ciúmes!
-Ainda bem! - deixou Lenny escapar - então pronto.
-Sim, pronto - concordou Draco, ambos com fúria no olhar. Lenny fulminou-o e saiu da sala como um tornado, lutando contra as lágrimas. Nunca tivera uma discussão assim com Draco, nem mesmo quando nem sequer eram amigos. E doía-lhe tanto... mas eram os dois orgulhosos e nenhum queria dar o braço a torcer. Nenhum queria reconhecer que o outro é que tinha razão, nenhum sabia verdadeiramente qual dos dois tinha razão. Mas se Lenny tivesse ficado mais um pouco perto da sala comum dos Slytherin teria ouvido Draco a dar um pontapé num dos sofás. Ele estava tão chateado e magoado como ela.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Dia de São Valentim

O Dia dos Namorados, ou Dia de São Valentim, não era só celebrado pelos Muggles, mas também pelos feiticeiros. O dia em que essa data era celebrada dependia de país para país, mas na Escócia, onde se situava o castelo de Hogwarts, era celebrado no dia 14 de Fevereiro.
Muita gente tinha ido a Hogsmeade no fim-de-semana em que Lenny acordara, para comprar presentes aos namorados, pretendentes, ou mesmo aos amigos, mas Lenny não pudera comprar nada. De facto, tinha-se esquecido completamente dessa data. Quando andava na escola dos Muggles, a data não lhe dizia nada - os rapazes pareciam-lhe todos estúpidos e nenhum estava interessado nela, e ela também não tinha interesse em ninguém. Mas depois apaixonara-se por Draco... e agora não podia deixar passar aquela data.
-Vais oferecer alguma coisa ao Adrian? - questionou Lenny a Daphne, no dia 13 de Fevereiro à noite, na sala comum dos Slytherin. Os pais e a avó já tinham voltado para casa e os pais iam regressar ao seu trabalho como Aurors.
-Não sei - respondeu ela - e tu e o Draco?
-Bom, eu queria, mas... para ser sincera não faço a mínima ideia do que lhe oferecer.
-O Draco não me parece o tipo de pessoa de se importar se não lhe ofereceres nada - retorquiu Daphne.
-Se calhar tens razão - concordou Lenny.

*

No segundo ano de Harry e dos outros em Hogwarts, Gilderoy Lockhart, o então professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, enfeitara o Salão Nobre no dia dos Namorados com motivos floridos, rosas e corações, mas naquela manhã de 14 de Fevereiro o salão encontrava-se normal. Sem ser, claro, as pessoas a trocarem caixas de chocolate, perfumes ou peluches umas com as outras. 
A opinião de Lenny mantinha-se em relação a tudo aquilo: continuava a não ligar muito a flores e peluches e todos aqueles risinhos punham-na um pouco enjoada. 
-Ainda só estamos de manhã e já estou farta desta atmosfera - declarou Lenny, sentando-se ao lado de Draco no Salão Nobre ao pequeno-almoço.
-Eu também - afirmou Draco. Não falaram mais sobre essa data, mas ao dirigirem-se para a primeira aula, Draco levou-a um canto mais recostado, por detrás de uma estátua.
-Sei que não gostas muito desta data - sussurrou ele - mas é o primeiro 14 de Fevereiro em que me sinto  realmente bem... importavas-te de te encontrar comigo depois do jantar no corredor esquerdo do sétimo andar?
Lenny franziu o sobrolho. Porquê aí?
-Sétimo andar? Há aí algo de especial?
Draco sorriu brevemente.
-Há algo que te quero mostrar. 
-Ok. Agora estou curiosa - alegou Lenny.
-Ainda bem - sorriu Draco e dirigiram-se para as suas aulas.

*

Lenny mal conseguiu manter a sua curiosidade durante o resto do dia. Pensava em tudo aquilo que Draco lhe poderia querer mostrar, mas não fazia ideia do que seria. Na aula de Poções, Slughorn retirara dez pontos aos Gryffindor por Lavender Brown e Parvati Patil terem tentado surripiar a receita da Amortentia do livro de Poções. 
Por todo o lado, casais passeavam de mãos dadas, algumas raparigas choravam por não serem correspondidas e os rapazes conversavam entre si a ver se haviam ou não de se declarar. 
Finalmente, o jantar no Salão Nobre acabou e Lenny dirigiu-se rapidamente à sala comum dos Slytherin. Lavou os dentes com a pasta de dentes de frutos silvestres, tentou pentear o cabelo e ajeitou o manto. Por volta das oito e quarenta dirigiu-se ao corredor esquerdo do sétimo andar. Draco já lá estava e sorriu ao vê-la.
-Porque estás parado à frente da tapeçaria de Barnabé e Barmy a tentar ensinar os trolls bebés? - inquiriu Lenny, referindo-se uma tapeçaria encostada à parede do corredor. 
Não estava mais ninguém no corredor, uma vez que eram quase nove da noite, a hora de recolher para os quintos anos para cima, e Draco virou-se de costas para a tal tapeçaria, encarando a parede à sua frente.
-Não me orgulho da forma como descobri isto, Lenny, mas à nossa frente há uma sala escondida, a Sala das Necessidades. Só aparece às vezes, consoante precises mesmo de alguma coisa. Por exemplo, se quiseres ir à casa-de-banho mas ela estiver muito longe, basta pensares três  vezes numa casa-de-banho que a Sala das Necessidades se transforma numa. Se te quiseres esconder de alguém, basta pedires à Sala das Necessidades, que ela certifica-se que essa pessoa não te encontra enquanto estiveres dentro da Sala.
-Uau - disse Lenny, espantada.
-Foi usada pelo Potter e pelos outros no nosso quinto ano quando eles criaram o Exército de Dumbledore de forma a treinarem Defesa contra as Artes das Trevas, e também foi usado por mim quando...  quando reparei os Armários de Desaparecimento para deixar entrar os... os Devoradores da Morte em Hogwarts, no sexto ano.
Lenny pegou-lhe na mão, apertando-a na sua. Sabia que Draco não se orgulhava daquilo. Draco respirou fundo, acalmando-se com o toque de Lenny.
-Mas isso é passado e... e queria mostrar-ta, Lenny.
-E vais pensar em quê para ela aparecer?
Draco sorriu, concentrando-se. A princípio, nada aconteceu, mas depois uma porta apareceu na parede em frente deles. Draco abriu-a, deixando Lenny entrar.
A sala não era grande, pois eles não precisavam. Tinha uma lareira que lançava luz, dois cadeirões e um sofá. Era como que uma representação da sala comum dos Slytherin, em tons verdes e prateados, mas mais acolhedora.
-Onde é que tu queres chegar com o sofá, Draco? - riu Lenny e Draco quase se engasgou.
-Isso... isso não, Lenny! Só queria algo calmo onde pudéssemos estar e conversar à vontade. 
-Estava a brincar, Draco, não precisavas de ficar tão nervoso - provocou Lenny.
-Eu não estava nervoso! - replicou Draco, corado. Lenny sentou-se no sofá, com Draco ao seu lado. Depois este retirou algo do bolso do casaco.
-Fui a Hogsmeade no sábado, antes de acordares. Queria dar-te alguma coisa na mesma. Sei que não és muito fã de flores e isso, por isso... quando vi isto... achei que ias gostar - Draco estendeu-lhe um embrulho prateado. Lenny abriu-o e quando viu o que era, sorriu. 
-Tu conheces-me bem, Draco - sorriu ela - adoro! Obrigada!
Draco sorriu com sinceridade. Parecia aliviado.
-Ainda bem que gostas.
Draco oferecera a Lenny uma carteira verde com serpentes entrelaçadas.


-Agora sinto-me culpada. Não tenho nada para te dar - disse Lenny.
-Devolveste-me a minha humanidade, Lenny - Draco olhou-a com ar sério - e ofereceste-me um futuro melhor. Que mais podia pedir?
-Então, não ficas chateado?
-Claro que não!
-Obrigada, Draco - sorriu Lenny, aninhando-se no colo dele. Ele afagou-lhe o cabelo rebelde, o hálito a hortelã-pimenta a fazer cócegas no ouvido de Lenny.
-Obrigado eu - sussurrou.

*

Lenny acabou por adormecer aninhada nos braços de Draco, acordando no dia seguinte com aquele a seu lado. A rapariga não saberia dizer ao certo quanto tempo falara com ele: falaram sobre muita coisa... Lenny contou-lhe um pouco sobre como era o mundo Muggle, a escola, as pessoas, as tradições, as culturas... Draco, a custo, contou-lhe sobre a sua tarefa no sexto ano, e sobre como o pressionaram a ser um Devorador da Morte devido aos seus pais. Falaram sobre as rivalidades entre os Gant e os Malfoy, sobre a jornada deles e sobre como tinham de ser mais discretos para os pais não desconfiarem de nada. 
Fora a conversa mais longa e intensa que Lenny e Draco tiveram, mas ajudara-os a ficarem mais próximos.
-Bom dia - sussurrou ele, afagando-lhe o cabelo.
-Bom dia - respondeu Lenny.
-Lamento estragar o momento, mas está na quase na hora do pequeno-almoço. Queres que saia primeiro?
-Não, eu vou - afirmou Lenny, despedindo-se de Draco com um beijo na cara. Depois dirigiu-se ao seu dormitório, arranjando-se, e por sorte não foi apanhada por ninguém.
-Que é que andaste a fazer ontem à noite, Lenny? - riu Fred de manhã, quando ela se dirigia para a primeira aula.
-Tu e o Draco tiveram uma boa noite? - abespinhou George. 
-Ei! - protestou Lenny, olhando-os com falsa fúria, as bochechas a ficarem vermelhas. Lenny sabia que Fred e George não sabiam de nada e que estavam apenas a gozar, mas os gémeos, sem saberem, estavam a dizer a verdade, o que fazia corar Lenny.
-Oh, vê, ela está a corar! - Fred partiu-se a rir, o que deixou Lenny verdadeiramente irritada.
-Parem com a brincadeira! Eu não ando para aí a comentar as vossas vidas amorosas! - exclamou ela e depois sorriu maliciosamente - oh, esqueçam, vocês não têm vidas amorosas...
-Outch! - exclamou uma voz. Era Ginny, que dobrou a esquina do corredor e veio ter com eles - essa foi boa!
-Foi maldosa! - replicou George.
Lenny manteve o sorriso.
-Afinal, eu sou a pequena Feiticeira do Mal, certo?
Os gémeos sorriram.
-O teu sorriso malévolo é a confirmação.
Lenny voltou a sorrir, mas agora naturalmente, um sorriso sincero.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Amortentia

Lenny despediu-se dos pais e da avó junto ao portão de Hogwarts. Estes ficariam na escola durante mais alguns dias e depois regressariam a casa. Michael e Melanie regressariam ao seu trabalho como Aurors e lentamente retomariam a sua vida normal. Apesar de tudo isso contribuir imensamente para a felicidade de Lenny, esta não se conseguia sentir verdadeiramente feliz por causa de Draco e da situação das duas famílias. Lenny sabia que entre eles nunca podia resultar enquanto as duas famílias não resolvessem as suas divergências, e isso parecia impossível. Os Gant e os Malfoy não se suportavam e isso entristecia Lenny. Não que a rapariga não compreendesse a razão pela qual os pais não suportavam Lucius, mas mesmo assim, gostaria que eles fizessem um esforço. À noite, depois do jantar e já com Lucius e Narcissa fora de Hogwarts, Lenny decidiu subir até à Torre de Astronomia. Estava uma noite estrelada e soprava uma brisa fria, mas Lenny não se importou. A diretora reservara um quarto para os pais de Lenny e outro para a sua avó na área de aposentos dos professores e funcionários, mas estes tinham ficado a conversar com os professores depois do jantar.
-Desculpa-me - disse uma voz. Lenny virou-se, vendo Draco com um olhar triste a olhar para si. Custava-lhe vê-lo assim.
-Desculpa-me também.
-Eu é que tenho de pedir desculpas, Lenny. O meu pai não foi nada gentil contigo nem com o teu pai.
-A culpa não é tua - afirmou Lenny, virando-se de volta para a varanda da torre. Draco aproximou-se.
-Mas...
-Draco, prefiro não falar mais sobre isso. Nós não temos culpa que as nossas famílias não se suportem. Mas, sinceramente, por mim, isso não vai ser impedimento.
-Impedimento para quê? - perguntou Draco, já com melhor cara. Lenny virou-se para ele, encarando-o. Respirou fundo. Sentia que estava na hora de fazerem finalmente as pazes.
-Eu amo-te, Draco. E não quero... não quero deixar de falar contigo, deixar de estar contigo por causa deles. Não te quero perder por causa de uma estupidez destas, Draco. Na verdade - os olhos de Lenny brilharam - não te quero perder por nada.
Os olhos de Draco iluminaram-se e ele aproximou-se.
-Eu também te amo, Lenny. E não me vais perder. Só espero estar suficientemente à altura para não te perder. Eu não te mereço, Lenny.
Instintivamente, a rapariga pousou-lhe um dedo nos lábios.
-Para com isso, Draco. Tu não me vais perder. E começa a habituar-te que me mereces. No fundo, tu tens sentimentos. És uma boa pessoa.
Draco sorriu tristemente.
-Tu sabes que eu não acredito nisso...
-E tu sabes que eu costumo ter sempre razão - Lenny sorriu e puxou Draco para si pelos colarinhos. Ele envolveu-lhe a cintura com os braços e ela afagou-lhe o cabelo sedoso, enquanto os seus lábios se tocavam apaixonadamente. Era a primeira vez que se beijavam desde que tinham iniciado a jornada em busca dos pais de Lenny. Depois ela baixou o braço e levantou-lhe delicadamente a manga do manto, tocando ao de leve na cicatriz do seu antebraço esquerdo onde em tempos estivera a marca negra dos Devoradores da Morte. Draco afastou-se bruscamente.
-Desculpa - disse Lenny, preocupada - dói?
-Não é isso... - Draco abanou a cabeça - é só que prefiro esquecer a existência dessa cicatriz e do que a marca me fez passar.
-Mas tu sabes que não vais esquecer.
-Infelizmente.
-Por isso a melhor maneira de resolveres tudo é lembrares-te de que isso faz parte do teu passado. Todos fazemos coisas de que não nos orgulhamos, Draco. Só temos de ultrapassar isso.
Draco virou-se para a varanda, mirando o céu estrelado.
-Às vezes pergunto-me o que viste em mim, Lenny. Não sou nada de especial, não positivamente. Podias ter ficado com quem quisesses... mas escolheste-me e eu não percebo. És melhor do que eu.
-Draco, não comeces outra vez, por favor - pediu Lenny - pensei que tivéssemos resolvido isso. Não era qualquer pessoa que embarcava numa jornada como a nossa, ainda por mais com pessoas com quem não se dá bem. Mas tu fizeste-o, Draco.
-Eu sei, mas... a discussão que os nosso pais tiveram um com o outro... fez-me relembrar tudo.
Lenny suspirou.
-Draco, eu gosto de ti tal como és. Eu sei que erraste no passado, mas não te vou julgar. Estou aqui para ti, e gosto de todas as tuas falhas e imperfeições, dos teus defeitos e qualidades. Não duvides disso, Draco. É que... quando dizes que não me mereces faz-me sentir como se estivesses inseguro em relação a mim. Como se não tivesses a certeza dos meus sentimentos por ti... ou pior... como se não tivesses a certeza dos teus sentimentos por mim...
Draco olhou para ela, calando-a com um beijo intenso.
-Nunca duvides do que eu sinto por ti, Lenny - murmurou ele - nunca.
-Só quero que tomes consciência de que te escolhi a ti sabendo de todos os riscos que a minha decisão traria. E eu escolhi-te à mesma. Aliás, eu não escolhi. O meu coração escolheu.
-Mas se calhar, se tu pudesses mandar no teu coração... tinhas escolhido outra pessoa...
Lenny sorriu.
-Então teria cometido um grande erro. O meu coração sabe o que é certo para mim. Nós somos o certo e o errado, mas isso só nos torna mais vivos, mais humanos.
Draco abraçou-a fortemente, sussurrando-lhe ao ouvido:
-Obrigada.
Depois beijaram-se novamente, sob o céu estrelado e com o vento frio a envolvê-los.

*


Lenny descobriu que a bússola que apontava para aquilo que ela mais desejava no mundo lhe tinha sido oferecida por Carl Jonathan e que realmente, no baile de Inverno, ela conseguira entrar na mente da mãe, mas que em todas as outras ocasiões os pais tinham conseguido contactá-la e chamá-la. Os sonhos estranhos que tiveram eram, muitas vezes, reflexos do medo de Lenny de perder os entes queridos e da vontade e esperança de encontrar os pais. 
Por sorte, não tinha havido Quidditch, mas a equipa dos Gryffindor estava chateada por ter perdido tempo de treinos com mais de metade da sua equipa. Draco não teve tanto azar, uma vez que os Slytherin não tinham treinado muito. 
Em relação à Taça das Casas, os Gryffindor iam à frente com 150 pontos, seguidos de perto pelos Ravenclaw com 140 pontos, depois os Slytherin com 125 e por fim os Hufflepuff com 115 pontos.
Na Taça de Quidditch, os Gryffindor também lideravam, com cinco jogos ganhos de 8, depois os Slytherin, a seguir os Hufflepuff e em último os Ravenclaw.
Na segunda-feira seguinte, Lenny e os outros voltaram finalmente às aulas após três semanas de ausência. Tinham de pedir apontamentos aos colegas e rever a matéria dada, de forma a ficarem a par com a turma. Na aula de Poções, o professor Slughorn tinha alguns caldeirões com poções em cima da bancada, pedindo aos alunos para os identificar. 



Hermione acertou nas primeiras poções e quando Slughorn destapou o último caldeirão, muitas das raparigas aproximaram-se. Um cheiro leve e perfumado encheu a sala e Lenny olhou instintivamente para Draco. Ele correspondeu ao olhar. O cheiro daquela poção… cheirava a chocolate derretido, a roupa lavada, a maresia e a hortelã-pimenta… e aquele cheiro único de hortelã-pimenta era exclusivo de uma única pessoa.
Draco.
-Alguém me poderá dizer o nome desta poção? – perguntou Slughorn, deliciado com a reação dos alunos. Hermione levantou logo o braço e Slughorn concedeu-lhe a palavra.
-Amortentia, professor – respondeu ela – é… uma poção de amor.





-Exato. E a que cheira?
-A Amortentia tem um cheiro diferente para cada pessoa. O seu cheiro reproduz os cheiros que a pessoa mais gosta. A mim, por exemplo, cheira-me a… relva recém cortada, pergaminho novo… e… - porém Hermione não acabou a frase, corando levemente. Então… isso queria dizer que os cheiros preferidos de Lenny no mundo eram chocolate derretido, roupa lavada, maresia e hortelã-pimenta. Os três primeiros não a surpreendiam, sempre adorara esses cheiros… mas o cheiro daquela hortelã-pimenta só existia em Draco. Lenny perguntou-se quais seriam os cheiros para as outras pessoas, nomeadamente para Draco.
-Muito bem, miss Granger, dez pontos para os Gryffindor – disse Slughorn - a Amortentia é a poção de amor mais poderosa do mundo. Ela não cria amor verdadeiro, claro, isso é impossível. Porém, cria uma forte paixão ou obsessão e é por isso que esta poção é provavelmente a mais perigosa que se encontra nesta sala. E nas próximas duas horas vão fazer essa poção. Não tentem surripiar nenhum bocado, lancei um encantamento aos vossos caldeirões. Podem começar… agora.
Os alunos começaram a reunir o seu material. Lenny leu as instruções com cuidado, mas já sabia que a sua poção nunca ficaria igual à verdadeira.
Ao fim de duas horas, a poção de Lenny apresentava uma cor púrpura, não muito diferente da cor rosa da poção original, mas ao olhar para as poções à sua volta, constatou que a única que estava perfeitamente rosada era a de Draco.
Slughorn deu uma volta pela sala, avaliando as poções e depois bateu palmas para chamar a atenção dos alunos.
-Muito bem – começou ele – depois de ter avaliado as vossas poções, posso afirmar que a reprodução mais fiel da Amortentia é a de Draco. Como prémio, os Slytherin ganham vinte e cinco pontos.
Ouviram-se aplausos vindos dos Slytherin e um deles perguntou:
-Ele não vai receber um pouco da poção como prémio?
Slughorn sorriu, mas foi Draco quem respondeu.
-Não preciso de nenhuma poção de amor se o consigo encontrar livre e verdadeiramente – declarou ele, os olhos a fitar intensamente os de Lenny. Ela olhou para baixo, corando. Alguns alunos assobiaram. O cheiro a hortelã-pimenta multiplicado pelo número de poções de Amortentia dos alunos fez o coração de Lenny bater mais depressa.


*

-Então, Hermione, qual era o terceiro cheiro que cheiraste na Amortentia? – perguntou Ron, curioso, quando estavam a sair da aula de Poções. Ela corou novamente.
-Não é da tua conta – respondeu – e já agora, o que é que tu cheiraste?
Ron olhou para baixo.
-Também não é da tua conta.
Lenny estava a apreciar a conversa, pois sabia que ambos tinham cheirado o aroma um do outro, só que não queriam admitir, mas depois viu Draco com Pansy, Blaise, Gregory, Vincent e outros a saírem da sala de Poções.
-Volto já – afirmou, mas nem Hermione nem Ron a ouviram pois continuavam a discutir. Ao ver Lenny, Draco terminou a conversa com os amigos, para grande descontentamento de Pansy, e foi ter com Lenny.
-Parabéns por teres feito a melhor poção – felicitou Lenny, quando se afastaram do corredor para um beco recostado.
-Obrigado – sorriu Draco.
-Pergunto-me se…
-Sim, a Amortentia cheirava-me a frutos silvestres – cortou Draco e Lenny ficou atordoada.
-O quê? – questionou ela.
-O teu aroma, Lenny. Tu usas pasta de dentes de frutos silvestres e às vezes também pões perfume desses frutos. Ias perguntar-me se eu sentira algum cheiro teu, não ias?
-Como é que sabias? – interrogou Lenny, um pouco emocionada.
-Olhaste para mim assim que o Slughorn levantou a tampa do caldeirão onde estava a Amortentia; como se de súbito sentisses o meu cheiro, como se eu estivesse ao teu lado quando na verdade estava do outro lado da sala. Calculei que tivesses sentido o meu aroma, tal como eu senti o teu.
Lenny mordeu o lábio inferior. Draco era inteligente, não havia dúvidas disso.
-Eu cheirei… hortelã-pimenta. E tinha como que um aroma especial, único… o teu.
Draco sorriu, não um daqueles seus sorrisos meio endiabrados, mas sim um sorriso genuíno, verdadeiro. 
Amor verdadeiro.