terça-feira, 30 de abril de 2013

Aresto Momentum!

No dia seguinte, Lenny acordou cedo. Partilhava um dormitório com mais quatro raparigas Slytherin, entre elas Daphne Greengrass. No dia anterior, depois do jantar, Draco indicara-lhe o caminho até à Sala Comum dos Slytherin, que se encontrava nas masmorras. Em Hogwarts, as escadas mudavam constantemente de direção e as imagens moviam-se. Nos quadros, as personagens apareciam e desapareciam, juntavam-se a outras personagens noutros quadros, etc. 




Havia um grande quadro de um homem robusto na porta que dava para a Sala Comum dos Slytherin. Draco proferiu uma palavra-passe e a porta abriu-se. Na sala, que era grande e espaçosa, predominavam os tons verdes e prateados. Havia sofás, uma lareira, mesas, jogos de xadrez, quadros, candelabros, etc. Draco entregou-lhe o uniforme feminino dos Slytherin: era composto por uma camisa branca, um pólo verde-escuro de algodão,  uma capa verde-escura com o símbolo dos Slytherin cozido ao peito, uma gravata verde e branca, uma saia preta, meias pretas e sabrinas pretas. Havia ainda um cachecol verde e branco  e umas botas pretas com pêlo por dentro para os dias mais frios e um chapéu azul-escuro/preto opcional. 



Depois de algumas indicações básicas, como a hora de levantar, recolher e tudo isso, retirou-se, sem se despedir. 
Os dormitórios das raparigas situavam-se à direita e os dos rapazes à esquerda. Lenny encontrou todos os seus pertences dentro do dormitório, junto àquela que iria ser a sua cama, uma junto à janela.
Nenhuma das raparigas era especialmente amável, ao contrário de Hermione ou Luna, mas algumas chegaram a perguntar-lhe se precisava de alguma coisa, à exceção de Daphne, que era simpática. Apenas Pansy se lhe dirigia como se estivesse a falar com um animal sujo e repugnante. 
Lenny levantou-se e arranjou-se. Dirigiu-se ao parapeito e cumprimentou Hedz. Abriu a gaiola e a janela, pôs uma carta no bico da coruja e Hedz desapareceu a voar de imediato. Lenny não se preocupou: sabia que a coruja voltaria em breve, assim que entregasse a carta à avó a dizer que chegara e que estava tudo bem. Teve também de dizer que se encontrava nos Slytherin, mas procurou sublinhar as qualidades que o Chapéu lhe apelidara. 
Lenny pegou na mala preta a tiracolo, ajeitou a gravata e saiu do dormitório. Alguns dos Slytherins encontravam-se na Sala Comum, outros ainda estavam nos dormitórios e outros já haviam saído. Lenny optou por dirigir-se ao salão de banquetes, para tomar o pequeno-almoço. Por sorte usufruía de uma boa memória e foi fácil encontrar o caminho. À porta do salão, avistou Harry de braço dado com uma rapariga ruiva e com sardas, bastante parecida com Ron, e este e Hermione junto deles.
-Lenny! Olá! - disseram todos. A rapariga ruiva deu um passo em frente.
-Acho que ainda não me apresentei. Sou a Ginny. Ginny Weasley.
-Ah! És a namorada do Harry, certo?
Ambos coraram, mas Ginny assentiu afirmativamente com a cabeça. Harry tentou mudar rapidamente de assunto.
-Surpreendeste-nos, ontem, hã? Slytherin! Ninguém estava à espera! - olharam todos para o uniforme de Lenny. Ela olhou para o deles. Era bastante parecido, excetuando as cores, que eram dourado e vermelho, o símbolo dos Gryffindor cozido ao peito nas suas capas pretas e o facto do uniforme masculino ter calças e não saia, claro.
-Eu também não estava à espera - comentou a rapariga. Depois encolheu os ombros - não é assim tão mau.
-Não é assim tão mau?! - espantou-se Hermione - merecias melhor sorte!
Lenny mordeu o lábio inferior. Como é que podia explicar a Hermione que, na verdade, até estava satisfeita por ter ficado nos Slytherin? Ela não ia compreender.
Dois gémeos ruivos e iguaizinhos entraram no salão com grande estardalhaço. O sol brilhava lá fora e o céu não apresentava quaisquer nuvens.
-Aqui está a pequena feiticeira do Mal! - exclamaram eles, revolvendo ainda mais o cabelo de Lenny, num gesto amável.
-Ei! - protestou ela.
-Somos o Fred e o George Weasley - saudaram ambos, ignorando a intervenção da rapariga. Depois encaminharam-se para a mesa dos Gryffindor.
-Pequena feiticeira do Mal? Que é isso? - questionou Lenny.
-É como todos te chamam agora - informou Ron - por o Chapéu ter dito que o teu coração e alma já tinham escolhido Slytherin há algum tempo. De que outra forma poderias ter ido parar àqueles percevejos? Ups, desculpa!
-Não faz mal - Lenny encolheu os ombros. Também não valia a pena tentar explicar-lhes que não era em relação ao Bem e ao Mal que ficara dividida, mas sim em relação ao Bem e...
-Malfoy! - chamou Harry, quando o viu entrar. O primeiro já se encaminhava para a mesa dos Slytherin, vestido com o seu uniforme verde-escuro, mas parou, rodou sobre os calcanhares e olhou sarcasticamente para Harry.
-Sim, Potter?
Harry deu um passo em frente.
-Espero que não te armes em estúpido este ano.
-Porquê? - Draco fez um sorriso sarcástico - estás com medo, é?
-Não me estou a referir às nossas desavenças. Sabes muito bem que posso com mil de ti. Estou a referir-me à Lenny. Não quero que a aborreças, ouviste?
Draco reparou finalmente em Lenny. Esta sentiu-se corar quando ele olhou para ela, mas fez por permanecer impassível e segura.
-Tu não és meu pai - provocou o rapaz de cabelos brancos.
-Estou a falar a sério, Malfoy.
Draco olhou diretamente para os olhos azuis de Lenny.
-Agora precisas da proteção do namoradinho, é?
-Não sejas infantil! - exclamou Harry. Lenny tinha de fazer alguma coisa. Não podia simplesmente ficar ali a assistir.
-O Harry não é meu namorado, é da Ginny. E eu não preciso da proteção de ninguém, mas agradeço ao Harry por estar a fazer isto - Lenny aproximou-se de Draco. Este era uns bons centímetros mais alto que ela, mas ela fez por olhá-lo profundamente nos olhos, demonstrando que não tinha medo. E, oh, aquilo que ela sentia naquele momento era tudo menos medo.
Draco revirou os olhos e deu meia volta.
-Eu disse-te que ele era um idiota - avisou Hermione.
-Desculpem aquilo que ele disse sobre... nós - pediu Lenny - mas Ginny, a sério, o Harry é apenas meu amigo...
-Eu sei, Lenny, não te preocupes. Mesmo que eu não conhecesse o Draco, saberia que ele só o fez por estar irritado.
-Pois, ele não deve suportar mesmo o Harry.
-Não me referia apenas a isso - sussurrou-lhe ela, ao ouvido, de modo que mais ninguém ouviu. Lenny sentiu um frémito e virou-se para Harry.
-Obrigada, Harry. A sério.
Ele encolheu os ombros.
-De nada. Queria apenas certificar-me que ele não te aborrecia. Apesar de ser Chefe de Equipa, continua a ser um parvo. Mas, de qualquer maneira, não era preciso ter feito nada. Já vi que te consegues defender.
Lenny sorriu.
-Ao menos sou da vossa turma - no dia anterior, ficara a saber que Harry, Ron, Hermione, Luna, Neville, Seamus, Dean (dois rapazes Gryffindor que partilhavam o dormitório com Harry, Ron e Neville), Draco, Pansy, Daphne, Vincent Crabbe e Gregory Goyle (dois rapazes matulões que andavam sempre de volta de Draco como se fossem os seus guarda-costas), entre outros, eram da turma dela - qual é a nossa primeira aula?
-Defesa contra as Artes das Trevas - respondeu Hermione - com o professor Braxton. É o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas, vi-o ontem ao jantar.

-Ok. Vemo-nos lá - e Lenny dirigiu-se à mesa dos Slytherin.

*

No fim do pequeno-almoço, Lenny foi com Harry, Hermione e Ron até à primeira aula. Lenny reparou que eram os últimos a chegar. Só quatro lugares se encontravam vazios. Hermione, Ron e Hermione ocuparam os seus lugares do ano passado, mas Lenny permaneceu em pé. Só havia um lugar vago, na carteira da terceira fila na vertical e segunda na horizontal, ao lado da de Harry e Ron. Atrás estavam sentadas Pansy Parkinson e Daphne Greengrass. Ao lado da cadeira vazia encontrava-se Draco Malfoy.
-Como eu estava a dizer, antes destes quatro colegas chegarem, vou ser o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Já agora, menina, do que está à espera? – perguntou o professor, olhando para Lenny. Era um homem dos seus quarenta anos, moreno e parecia exigente - não sei como é no mundo Muggle, mas aqui eu não chamo para se vir apresentar à frente. Arranje um lugar e sente-se! Quero dar a minha aula!
Lenny correu literalmente até ao único lugar vago, passando por Daphne. Sentou-se ao pé de Draco. Harry sorriu-lhe, encorajando-a, da outra mesa. Lenny sorriu em resposta.
-Bom - indagou Braxton - agora que parece que já não há mais nada que me impeça de prosseguir com a minha aula, vamos ao que interessa. 
-Tiveste muita sorte - sussurrou Draco – o Braxton podia pregar-te um sermão por teres chegado tarde logo no primeiro dia.
-Ele também não parece implicar contigo - contrapôs Lenny, não conseguindo evitar um leve tom de irritação na voz.
-Porque sou dos Slytherin - olhou-a como se Lenny fosse parva – o Braxton também foi, quando andou em Hogwarts. Apesar de não ser Chefe dos Slytherin, gosta mais de nós.
-Dah!, e eu também sou - ela olhou-o da mesma forma.
Draco calou-se e exibiu uma expressão estranha, como se só agora se tivesse apercebido daquele facto.
-Então é por isso – indagou ele.
-É, se calhar – ironizou Lenny.
-Mas melhor é o Slughorn – prosseguiu Draco - está sempre a favorecer-nos. Os outros professores não favorecem assim tanto as suas equipas, nem desfavorecem assim tanto as outras. A McGonagall já chegou a tirar cinquenta pontos à sua própria equipa.
A cadeira de Draco foi empurrada um pouco para a frente. 
-Pst, Draco - murmurou Pansy - cala-te. O Braxton está a ouvir tudo e só não diz nada porque és um Slytherin.
Calaram-se ambos. Lenny observou o professor. Não parecia ter estado a escutar a conversa, mas se calhar era mesmo só para não prejudicar a própria equipa. No entanto, Lenny inclinava-se mais para o facto de que Pansy os mandara calar apenas porque não suportava ouvi-los conversar.

*

O resto da aula passou a correr. Draco não falou mais para Lenny, nem ela para este. A aula seguinte correu algo pior. Tiveram aulas de Encantamentos com o professor Filius Flitwick, um homem franzino de expressão amável. Durante a aula de Braxton, não tiveram de realizar nenhum feitiço, pois este limitara-se a dar-lhes uma aula teórica, mas Flitwick queria que eles revissem os feitiços básicos que lhes ensinara nos anos anteriores, entre os quais o Accio, o Wingardium Leviosa e o Aguamenti. Todos os alunos conseguiram realizá-los com sucesso (incluindo Neville, que não era conhecido pela sua destreza nos feitiços e Seamus, que costumava sempre pegar fogo às coisas). Todos menos Lenny. E isso era frustrante. Flitwick falou-lhes também de um feitiço de nome Aresto Momentum, que servia para fazer com que as pessoas, em queda, parassem a centímetros do chão, atenuando assim a dor da queda.
No final da aula, Lenny dirigiu-se ao salão dos banquetes para almoçar. Todos falavam no jogo inaugural de Quidditch daquele ano, que se realizaria naquela mesma tarde, entre Gryffindor e Slytherin, as equipas que disputaram a final do ano passado, tendo sido os primeiros a saírem vitoriosos.
-Ela nem conseguiu fazer o Wingardium Leviosa – Lenny ouviu Pansy comentar na mesa dos Slytherin, à hora de almoço.
-Ela há-de lá chegar. Espero – disse Draco.
No entanto, Lenny não tinha tanta certeza. E não estava mesmo com paciência para aturar as bocas de Pansy. Por isso, deu meia volta e saiu discretamente do salão de banquetes.

*

Não haveria aulas de tarde por causa do jogo de Quidditch, mas enquanto toda a gente parecia estar extremamente entusiasmada, a Lenny não lhe apetecia lá muito ir. No entanto, a curiosidade de ver um jogo de Quidditch a sério falava mais forte. O pai tinha sido um dos melhores chasers que Gryffindor alguma vez tivera e Lenny queria ver Harry e Draco como seekers de Gryffindor e Slytherin, respetivamente. Por isso, arrastou-se com os outros até ao campo de Quidditch, um pouco afastado de Hogwarts. As bancadas do campo iam-se enchendo de alunos e professores que vinham assistir ao jogo: Hogwarts em peso encontrava-se ali. Os torreões que rodeavam o campo tinham as cores das duas equipas.




Lenny avistou Ron, Hermione, Ginny e outros Gryffindor numa das bancadas e foi ter com eles, sendo a única Slytherin naquele lado, recebendo algumas reclamações por causa disso.
-Ainda bem que vieste! É o teu primeiro jogo, não é? – questionou Hermione.
-É. Mas sou vossa rival, agora – sorriu Lenny.
-Então, que ganhe o melhor! – gracejou Ron, enquanto a professora de voo do primeiro ano e treinadora de Quidditch, Rolanda Hooch, dava início ao jogo. Lenny sabia as regras e as posições dos jogadores, pelo que optou por desfrutar do jogo em vez de se sentir culpada por não conseguir realizar feitiços. Lá em cima, no campo, Lenny pôde ver Harry e Draco cada um sentado em cima das suas vassouras a observarem-se mutuamente. Depois, partiram ambos em busca da Snitch. Durante algum tempo, o jogo decorreu sem problemas: Gryffindor ganhava por apenas dez pontos. Mas, de repente, Draco aproximou-se de Harry e empurrou-o, já que este tentava alcançar a Snitch. Harry ripostou e deu-lhe um empurrão com força. Draco estava todo inclinado para a frente a tentar agarrar a Snitch e perdeu o equilíbrio. Tentou agarrar-se à vassoura, mas o cabo desta fugiu-lhe e Draco começou a cair a pique até ao relvado. Murmúrios de perplexidade percorreram a multidão. Vendo que ninguém reagia, Lenny soube exatamente o que fazer. Como se tivesse nascido ensinada, mas a verdade é que sentia apenas necessidade de proteger Draco.
Então, num movimento vigoroso, firme e rápido, sacou a varinha da capa e gritou, mesmo quando Draco se preparava para cair violentamente no chão:
-Aresto Momentum! – Draco ficou a pairar a poucos centímetros do relvado e depois caiu no chão, sem estrondo.
-Quem o fez? – ouviram-se várias vozes perguntar, enquanto murmúrios de espanto atravessavam as bocas da multidão.
-Foi a novata, a novata!
-A filha dos Gant!
-Lenny Gant!
Lenny sentia-se nas nuvens. Tinha acabado de realizar o seu primeiro feitiço.
-Boa, Lenny! – exclamaram Ron e Hermione, dando-lhe palmadinhas nas costas. Lenny sentia-se felicíssima: não só concretizara com sucesso um feitiço de que Flitwick lhes falara nas aulas, como também salvara Draco. O apito de Madame Hooch soou e a sua voz estridente fez-se ouvir por entre as exclamações de admiração:
-Jogo interrompido! Por motivos maiores, o jogo foi cancelado! Alguém que assista a Draco Malfoy, por favor!
No campo, Draco levantou-se. Tinha uma expressão atordoada na cara. Os restantes jogadores desceram das suas vassouras e pousaram no relvado. Os de Slytherin apressaram-se a ajudá-lo e a perguntar-lhe se precisava de ir à enfermaria, mas Draco recusou. Varreu as bancadas com o olhar à procura de Lenny, mas esta tinha desaparecido por debaixo dos festejos dos Slytherin que a congratulavam.

domingo, 28 de abril de 2013

Gryffindor ou Slytherin? Eis a Questão

Por fim, o comboio parou. Estavam na estação de comboios perto de Hogwarts, em Hogsmeade, mas teriam de ir em barcos até chegar ao castelo. Lenny, Harry, Hermione e Ron saíram os quatro do comboio e observaram Hogwarts, lá ao longe, no cimo da colina. As suas malas iriam ser colocadas nos dormitórios dos alunos.
-As ondas estão agitadas hoje - comentou alguém perto deles - não costuma ser bom sinal.
-Para com isso, Luna - interveio outra voz.
-Mas é a verdade - pronunciou a primeira voz, lenta e misteriosa. Lenny ergueu os olhos e vislumbrou uma rapariga magra, com cabelos louros quase brancos e tez pálida. Um rapaz alto, desengonçado e de cabelos castanhos-escuros encontrava-se perto dela. 
-Luna! Neville! - ouviu-se a voz de Hermione por entre o barulho das ondas - que bom voltar a ver-vos!
-Olá, Hermione. Olá, Ron - cumprimentaram eles. Depois olharam para Lenny.
-Lenny... Gant - apresentou-se Lenny. Os dois sorriram e apertaram-lhe a mão. 
-Muito bem, pessoal! O mar está um bocado bravo, mas os barcos são resistentes! - a voz de Hagrid soou com um ribombar de um trovão.
-Sim - murmurou Ron por entre dentes, com ironia - barcos de madeira super resistentes.
-Só os alunos do primeiro ano costumam ir nos barcos, mas, após a batalha, a professora McGonagall decidiu que todos os anos iriam nos barcos, desta vez – informou Hermione.
Quando se encaminharam para o porto, alguém passou por Lenny, dando-lhe um encontrão. O rapaz, que tinha cabelos brancos, olhou para trás por breves momentos e semicerrou os olhos. Lenny sentiu um baque no coração. Depois, ele virou-se novamente para a frente e desapareceu.
-Draco Malfoy - informou Hermione - o mesmo idiota de sempre. Idiota?, pensou Lenny. Ah, sim, ouvira falar dele. Partilhava uma rivalidade eterna com o Harry, e os seus pais, e mesmo ele, haviam sido Devoradores da Morte, seguidores de Voldemort. Quando Voldemort desapareceu, há quinze anos atrás, os Malfoy alegaram que haviam sido obrigados a juntar-se a ele, mas assim que este regressara voltaram a unir-se a ele. Também Draco tivera de se juntar ao Senhor das Trevas, por causa dos pais. Só não foram, desta vez, parar à prisão por a mãe de Draco ter mentido a Voldemort quando este lhe perguntara se Harry estava morto, na Floresta Proibida durante a batalha de Hogwarts.
-Nem sei como é que tem coragem de voltar a Hogwarts depois de tudo o que aconteceu – disse Ron, com desprezo. Os outros concordaram, mas, por mais que Lenny se convencesse que ele era algo mau, não conseguiu abrandar o ritmo cardíaco do seu coração.
Por fim, embarcaram nos barcos de madeira que levavam cinco pessoas cada um. Hagrid ocupou o último, sozinho. 


Assim que chegaram à escola, saíram dos barcos e avistaram a professora McGonagall, a professora de Transfiguração e agora diretora de Hogwarts, bem como Chefe de Equipa dos Gryffindor, mas sem os beneficiar por isso, com um grande chapéu de bruxa, cara enrugada e olhos verdes, que se situava no cimo da enorme escadaria.
-Bem-vindos a todos - saudou ela, firmemente - queiram todos os anos menos o primeiro entrar no salão de banquetes. Como já devem saber, as vossas malas encontram-se nos respetivos dormitórios.
Todos os alunos do segundo ao sétimo ano fizeram o que a professora lhes mandou. Todos menos Lenny. Ela ainda não sabia a que Casa pertencia. Será que teria de enfrentar o Chapéu Selecionador com os alunos do primeiro ano, que tinham metade da sua altura? Isso seria embaraçoso.
Por fim, a professora McGonagall avistou-a:
-Menina Gant! - exclamou. Todos os alunos do primeiro ano se viraram para ela – acordei com os restantes professores que só vai entrar depois de o Chapéu Selecionador escolher as Casas dos alunos mais novos. Por isso, fica aqui à espera até que eu a chame para entrar no salão, ok?
Lenny assentiu com a cabeça e engoliu em seco. Entrar no salão de banquetes, sozinha? Lenny ouviu atentamente as instruções que a professora McGonagall deu: disse-lhes algumas regras básicas, lugares onde não poderiam entrar pois eram proibidos, etc. Por fim, os alunos do primeiro ano entraram no salão e Lenny sentou-se na escadaria, sozinha. Ouvia os aplausos que provinham de dentro e o entusiasmo de cada um. Finalmente, passado algum tempo, a professora McGonagall abriu as portas e comunicou-lhe:
-Pode entrar. Prepare-se para olharem para si - disse, fixando os olhos no cabelo curto e rebelde de Lenny.
Lenny levantou-se e seguiu-a. Um silêncio avassalador instalou-se no salão assim que entrou. Este estava todo iluminado com grandes candelabros que pendiam do teto. Longas mesas de madeira percorriam todo o espaço, com vários alunos vestidos com as suas capas negras sentados e ao fundo havia uma mesa na horizontal onde se encontravam os professores. O teto parecia não ser um teto, mas sim refletir o céu. No entanto, era apenas uma ilusão.

Os alunos novos estavam a sentar-se, mas mesmo assim, olhavam todos fixamente para a rapariga nova. Ao longe, ouviu-se um assobio de admiração e aprovação. Lenny procurou o dono com o olhar, não por interesse, mas por aborrecimento. Que achava ele de interessante nos seus cabelos louros quase brancos, curtos e revoltos, com madeixas rosas e azuis, nos seus olhos azuis-marinhos, e nas suas faces rosadas? Ela não se achava nada interessante. Por fim, Minerva McGonagall pôs-se diante do estrado, voltando a discursar.


-Bem-vinda, Lenny Gant – disse ela - espero que gostes de aqui estar. Podes nunca ter realizado nenhum feitiço - e vários murmúrios trespassaram a sala - mas eu sei que estás pronta para o sétimo ano. 
Agora, alguns alunos olhavam-na com desdém. Um olhar que dizia "Ah, ah, deixa-me rir! Nunca utilizou uma varinha e vai para o quinto ano?! A McGonagall está a ficar maluca!"
-Anda, o Chapéu Selecionador espera-te – incitou a diretora. Lenny engoliu em seco. Caminhou, tentando parecer segura, ao longo das mesas compridas. Avistou Harry, Ron e Hermione na mesa dos Gryffindor. Os três sorriram a encorajá-la. Subiu as pequenas escadas e sentou-se na cadeira. Oh, aquilo era tão intimidador. Depois, uma sensação de curiosidade apoderou-se dela: ainda não tinha pensado naquilo. Em que Casa a poria o Chapéu?


A professora McGonagall colocou-o na sua cabeça. Este ficou em silêncio durante algum tempo e depois os seus lábios começaram a mover-se, sussurrando-lhe:.
-Hum... difícil esta... quase tão difícil como o Harry Potter, há uns anos atrás...
Lenny tentava descobrir que semelhanças poderia ter com Harry, enquanto pensava nas qualidades que possuía e em que Casa essas se encaixavam.
-Hum, sim, o Dumbledore não se enganou, como disse antes de falecer... tens uma grande força escondida dentro de ti... e inteligência, determinação, coragem e ambição também. Tens qualidades das quatro casas... justiça, coragem, sabedoria e ambição... Tens, por outro lado, a tua alma, a tua mente e o teu coração divididos entre duas casas, embora não o reconheças - continuou o Chapéu, enigmaticamente - podíamos dizer que entre o Bem e o Mal, mas não quero atribuir rótulos a nenhuma das Casas. Digamos antes que te divides entre os Gryffindor e os Slytherin. Mas qual será a Casa correta?
O Chapéu calou-se durante uns momentos. Os alunos entreolhavam-se e falavam baixinho entre si, expectantes. Até os professores pareciam algo irrequietos. Mas Lenny não observava nada daquilo. Refletia nas palavras do Chapéu, que sabia mais o que ela sentia, do que ela própria. Ambos os pais tinham pertencido a Gryffindor. E se ela fosse parar aos Slytherin? Mesmo estando desaparecidos, Lenny não tinha a certeza se eles ficariam tão orgulhosos se Lenny ficasse nos Slytherin do que nos Gryffindor. E talvez a avó também não ficasse. Mas não era isso que a preocupava ou magoava. Lenny percorria a sala com o olhar, à procura daquilo que o Chapéu lhe dava a entender: que havia algo ou alguém naquela sala que a fazia sentir-se dividida. E Lenny deu por si a procurar com o olhar Draco Malfoy, mas sem sucesso. Por fim, foi interrompida pela voz sonora do Chapéu Selecionador: 
-Acho que a tua alma e o teu coração já se haviam decidido, mas a tua mente continua confusa! Então, aqui vai uma ajudinha: SLYTHERIN!
Murmúrios de espanto irromperam o salão. Lenny olhou para as caras surpresas dos Gryffindor, nomeadamente dos mais recentes amigos. Por fim, os Slytherin irromperam em aplausos. Lenny estava surpreendida. Pensara que nenhuma das equipas a queria. Afinal, ela nunca realizara nenhum feitiço.
Mas Lenny nunca esperara ficar nos Slytherin  Quando os pais e a avó lhe falavam sobre eles, ela ficava sempre assustada ou furiosa, já que a equipa da Serpente era a que tinha produzido maior número de feiticeiros negros das quatro Casas. Pensara sempre ir parar aos Ravenclaw, os inteligentes e criativos, ou talvez aos Gryffindor, os corajosos e bravos, ou mesmo aos Hufflepuff, os bondosos e justos. Mas aos Slytherin, ambiciosos e poderosos? A esses nunca. No entanto, não estava assustada nem arrependida, nem nada disso. Apenas... surpresa. E ansiosa.
E Lenny perguntou-se se não tivesse visto Draco umas horas antes, se teria entrado nos Slytherin na mesma.  Porque, era ele porque o seu coração e alma já se haviam decidido, não era? Ou não?
A professora McGonagall tirou, por fim, o Chapéu Selecionador da cabeça de Lenny, e esta levantou-se da cadeira e dirigiu-se, atordoada, à mesa da ponta direita, dos Slytherin. Alguns cumprimentaram-na e outros fizeram-lhe perguntas. Depois, uma voz mesquinha de rapariga argumentou:
-Não sei como podem ficar contentes com a vinda dela para aqui! Não sabe pegar numa varinha! Não é, Draco?
Não foi o tom maldoso na voz da rapariga que a alertou, mas sim o nome que proferiu. Alguém lhe deu lugar e Lenny sentou-se, olhando para o lado, procurando-o. Quando finalmente se virou para a frente, teve de fazer um esforço para não abrir a boca de espanto. Draco Malfoy encontrava-se à sua frente, com os olhos fixos na toalha de mesa. Os seus cabelos brancos caíam-lhe para a cara, tapando-lhe os olhos azuis-acinzentados, que pareciam prata derretida. Não respondeu à pergunta da rapariga, mas outra voz feminina e aguda afirmou:
-Pansy, nós não somos como os Ravenclaw, que são uns individualistas e fazem tudo para passar por cima uns dos outros só para terem a melhor nota. Nós não somos assim. Assim que entras para os Slytherin, todos os outros Slytherin passam a ser teus irmãos - a rapariga olhava agora diretamente para Lenny. Era loura e bonita. Apresentou-se como sendo Daphne Greengrass, uma das Chefes da Equipa dos Slytherin e que tinha uma irmã mais nova de nome Astoria Greengrass - assim que te tornas uma Serpente, és uma de nós, uma da elite.
Lenny gostava da ideia. De não estar só. De eles, ainda que Lenny não conseguisse usar uma varinha, a apoiassem. Aquilo contradizia tudo o que tinha ouvido sobre os Slytherin. Sabia que eles eram unidos como equipa, caso contrário, não teriam tido hipóteses de ganharem a Taça das Casas tantas vezes. Talvez eles não se importassem com a reputação que tinham. Sempre era uma forma de não os chatearem, algo que lhes dava vantagem. Pansy não ripostou.
Um rapaz escuro e bem constituído, do sétimo ano, olhou para ela.
-Sou Blaise Zabini, e juntamente com o Draco, a Daphne e a Millicent, somos os Chefes da Equipa dos Slytherin. Bem-vinda às Serpentes - disse - depois o Draco dá-te o teu uniforme. É ele quem trata disso.
-Ok, obrigada - respondeu Lenny. Depois olhou para Millicent, sentada junto de Blaise. Não tinha um aspeto muito amigável e era grande, redonda e bolacheirona.
-Bom - ouviu-se a voz de McGonagall novamente - agora que todos já se encontram nas respetivas Casas, gostaria de dar, de bom grado, início ao primeiro banquete deste ano letivo em Hogwarts! Bom apetite!
A diretora bateu palmas e imediatamente centenas de bandejas, pratos, copos, talheres, guardanapos e outros utensílios apareceram nas mesas. Depois, pratos de carne, peixe, sopas, sumos, etc, apareceram também. Em breve, todos comiam animadamente. Lenny serviu-se de puré com carne e sumo de abóbora.
-Draco! Não comes? - perguntou Pansy, que tinha cabelos pretos médios e era bem constituída.
De facto, Draco ainda não pegara nos talheres. Por fim, levantou os olhos do prato e pegou firmemente na faca e no garfo. Olhou fixamente para Lenny e perguntou, rudemente:
-Então, nunca pegaste numa varinha?
-Já peguei - contrapôs ela. A voz de Draco era áspera e rude, mas fazia acelerar o coração de Lenny.
-Sim, mas não a sabes usar - ripostou Pansy.
-Bom, o seu núcleo reside na veia de um Unicórnio e na pena da Fénix - replicou Lenny por sua vez. Começava a sentir-se farta daquela miúda. Que tinha contra ela? Porque lhe falava tão rudemente? E porque se sentava ela tão perto de Draco? Mais perto do que o seria de esperar, mais perto do que o normal.
Aquilo fez calar a rapariga. Até um pequeno indício de admiração apareceu nos olhos de Draco, mas desapareceu logo em seguida.
-E não a enfeitiçaste? - perguntou alguém.
-Claro que não! O Ollivander entregou-ma nas mãos. Nunca a vira antes. Apenas uma igual... era...
-Era a mesma da tua mãe - interrompeu Draco.
-Era – concordou Draco, perguntando-se como saberia ele disso.
-Quando acabarmos o jantar, vais connosco até à sala comum. Sou um dos Chefes de Equipa, por isso tenho de dar-te o uniforme dos Slytherin - disse Draco, de uma só vez.
Dito isto, não proferiu nem mais uma palavra. Lenny preferiu também não dizer nada, mas Pansy fulminava-a constantemente com o olhar.

sábado, 27 de abril de 2013

O Começo



Estava uma noite escura e agitada naquele primeiro dia de Setembro. A paisagem encontrava-se imersa numa neblina profunda e cinzenta, corujas piavam sem cessar e as ondas revolviam as rochas violentamente. Por debaixo da neblina misteriosa, erguia-se, no cume de uma montanha, o castelo de Hogwarts com os seus grandes torreões, a melhor Escola de Magia e Feitiçaria do mundo mágico. A lua erguia-se no céu alto, cheia e de um branco muito brilhante e os animais pareciam algo irrequietos, mas Hogwarts parecia alheio a toda aquela agitação.
O ano letivo estava prestes a começar: bastava entrar pelos portões da escola. Hogwarts e o restante mundo da Magia estava em festa: Harry Potter matara Voldemort e o seu exército fora destruído no final do ano letivo passado, na medonha batalha em Hogwarts. Porém, Hogwarts ficara totalmente destruída, tendo sido reconstruída no verão, onde Minerva McGonagall, a então diretora, insistiu em reforçar a segurança dos seus alunos. Agora, Hogwarts estava pronta para um novo ano.

Lenny Gant tinha dezassete anos e uma extraordinária força dentro de si, porém, bem enterrada. Era filha de feiticeiros do Bem poderosos, que desapareceram misteriosamente na Batalha de Hogwarts. Lenny não se atrevera a assumir na batalha: permanecera em casa da avó, no mundo dos Muggles (os humanos que não possuíam magia), durante esta, esperando ansiosamente pelo regresso dos pais, o que nunca sucedeu.
Lenny soubera desde sempre o que os pais eram, mas estes nunca foram capazes de lhe explicar porque é que ela não desenvolvera aquilo que era de esperar duma filha de feiticeiros tão poderosos: Lenny não apresentara, nos seus dezassete anos de idade, qualquer aptidão ou destreza para o mundo mágico, o que preocupou muito os pais. Estes levaram-na a alguns feiticeiros e bruxas, mas nenhum lhes soube dizer com exatidão porque tal acontecia, a não ser que ela era uma cepa-torta (pessoas filhas de feiticeiros que nasciam sem possuir magia). Por fim, desistiram, resignando-se a deixá-la com a avó durante os anos letivos, enquanto viam os filhos dos amigos serem chamados a entrar em Hogwarts. Lenny frequentava a escola normal no mundo dos Muggles, enquanto os pais ajudavam a travar o mal no mundo da Magia, mas Lenny nunca se integrara totalmente.
Até dois dias antes.

*

Estava uma noite estrelada e silenciosa naquele dia de fim de Agosto, dois dias antes do ano letivo em Hogwarts começar. No mundo dos Muggles, ainda se fazia sentir o calor do verão. Lenny encontrava-se sentada no sofá gasto e castanho da sala de estar da avó, a Sr.ª Gant, enquanto esta se entretinha com a sua costura. 



A certa altura, Lenny ouviu um piar: um piar estranho e melodioso, como que um chamamento. Levantou-se pesadamente do sofá e dirigiu-se à janela. Sob a lua quase cheia, pendurada no parapeito da janela do lado de fora, encontrava-se uma coruja branca como a neve, com uma bonita carta bege selada com lacre vermelho bem segura entre o bico. Lenny abriu a janela e a coruja depositou-lhe a carta na mão, obedientemente, desaparecendo imediatamente. 
Lenny abriu a carta e leu-a, espantada. Vieram-lhe lágrimas aos olhos quando percebeu que era aquilo porque os pais, todas as noites, até à noite anterior ao ano letivo começar, nos anos anteriores, esperavam: era o convite de entrada em Hogwarts. 
-O que é isso? - perguntou a avó, erguendo os olhos da sua costura. Quando viu lágrimas nos olhos da neta, apressou-se a animá-la. Lenny era tudo o que ela tinha e preocupava-se muito com ela.
-Uma carta - respondeu a rapariga em voz sumida - de Hogwarts.
-Oh, Lenny! - então, a senhora começou também a chorar. Dentro da carta, além do convite, vinha uma lista de coisas que eram necessárias e que se poderiam encontrar em Diagon-Al, e mesmo uma mensagem pessoal de Minerva McGonagall, a diretora de Hogwarts, com os seus pêsames em relação ao desaparecimento dos seus pais. 
-Eles esperaram por isto durante anos - as lágrimas escorriam agora violentamente pela cara de Lenny - e agora que não estão cá, é que ela vem. Não é justo.
-Já li sobre isso - respondeu a avó, que fora em tempos uma boa feiticeira, mas que preferira converter-se ao mundo dos Muggles para cuidar da neta - que às vezes os nossos instintos feiticeiros estão tão bem escondidos que só são revelados após algo que nos abala fortemente emocional e psicologicamente. Como, tu, sabes, a falta dos pais - a avó esforçava-se por não dizer desaparecimento em frente da neta - de qualquer maneira, podes ter a certeza de que eles iriam ficar extremamente orgulhosos. Eu sempre soube, sabes? Que havia algo em ti fora do comum. Já quando os teus professores me chamavam para ir à tua escola, sendo eu a tua encarregada de educação, e me diziam que em vez de prestares atenção nas aulas, te punhas a desenhar chapéus do Merlin, corujas ou a fazer movimentos estranhos com canetas como se fossem varinhas. 
-Obrigada por acreditares em mim, avó - Lenny permitiu-se sorrir um bocadinho. A avó abraçou-a carinhosamente e depois declarou: - amanhã vamos a Diagon-Al. Comprar tudo o que precisas. Os livros, o material de escrita e de poções, a varinha, a vassoura, e talvez... talvez um animal. 
*

No dia seguinte, de manhãzinha, a Sr.ª Gant e a neta dirigiram-se a Diagon-Al. Lenny já lá fora algumas vezes e achava aquilo fascinante. A passagem secreta para as lojas de Magia encontrava-se por detrás de um pub chamado o "Caldeirão Escoante" no mundo dos Muggles. Quem poderia suspeitar que aquilo levaria a dezenas de lojas cheias de utensílios mágicos? 



A Sr.ª Gant lembrava-se do sítio onde tudo se situava: começaram por comprar os livros e o material de escrita (as penas, os pergaminhos, a tinta...), na Borrões e Floreados, depois alguns instrumentos e objetos que eram precisos para as aulas de Poções e Astronomia (incluindo um caldeirão e um telescópio). Compraram também uma Nimbus, não a mais recente, mas sem dúvida uma vassoura bonita, rápida e potente. Dourada e de madeira mágica.
Antes de irem até à loja de animais de estimação, que Lenny estava simplesmente super ansiosa por visitar, pois sempre pedira aos pais uma coruja, embora nunca tenha tido nenhuma, passaram primeiro pelo Ollivanders, a melhor loja de varinhas que jamais existira. 
A loja era uma loja um pouco escura, cheia de prateleiras com caixas de várias cores que continham varinhas, e um velho feiticeiro encontrava-se junto ao balcão, polindo com todo o cuidado uma varinha de aspeto frágil.



-Mrs. Gant! Que bom voltar a vê-la! - exclamou Ollivander, quando viu a avó de Lenny. Parecia realmente feliz em voltar a vê-la.
-Bons olhos o vejam, Ollivander.
Ollivander olhou depois para Lenny e sorriu.
-Foi tarde, mas chegou. Recebeu finalmente a sua carta, não foi, menina?
Lenny assentiu com a cabeça. 
-Muito bem, então. Vamos a isso.
A Sr.ª Gant sentou-se numa cadeira de veludo vermelho, enquanto Lenny experimentava varinhas atrás de varinhas, mas nenhuma parecia agradar Ollivander.
-A varinha escolhe o feiticeiro - referia ele, sempre que Lenny fazia um gracioso movimento com a mão, mas cujas varinhas se mostravam indiferentes.
Por fim, Ollivander retirou uma caixa preta de aspeto imponente de uma das prateleiras. Abriu-a no balcão com cuidado.
-Pergunto-me - disse ele para si - se será esta... a tal. É bastante poderosa, mas tenho um palpite. Tome.
Ollivander estendeu-lhe uma varinha de aspeto familiar, de cor de madeira de cerejeira, com 25 cm de comprimento,  pouco flexível  O seu núcleo residia numa veia de coração de Unicórnio e numa pequena pena da Fénix. Todas as varinhas possuíam um núcleo mágico que provinha de alguma criatura excecional. O Unicórnio era bastante raro, poderoso e misterioso, enquanto a Fénix era corajosa, infinita e imortal.


Lenny pegou-lhe hesitante, mas assim que os seus dedos tocaram na leve aspereza da varinha, uma potente luz azul iluminou a sala. Os olhos da Sr.ª Gant irradiavam felicidade, bem como a expressão de entusiasmo no rosto de Ollivander.
-É essa! - exclamou ele - essa é a tal
Ollivander embrulhou-a com cuidado e ela e a avó saíram da loja. Uma vez cá fora, rodeados por feiticeiros, bruxos e outras criaturas mágicas, Lenny perguntou:
-O que tem a minha varinha de especial? Como é que o Ollivander sabia que era a tal?
-Essa varinha - informou a avó, misteriosamente - era igual à que a tua mãe usava.
Lenny sentiu-se entusiasmada e assustada ao mesmo tempo.
-O Ollivander não quis dizer nada sobre isso, pois temia ferir os teus sentimentos, mas ele lembra-se de todas as varinhas que já vendeu. E eu lembro-me perfeitamente da primeira vez que entrei na Ollivanders com a tua mãe, para comprar a sua primeira varinha. Lembro-me como se tivesse sido ontem.
Lenny mordeu o lábio inferior e temeu desatar a soluçar. A avó reparou e sorriu ternamente:
-E agora, Lenny, que me dizes de irmos então ver um animal para ti, hem?
O rosto de Lenny iluminou-se e dirigiram-se à loja de animais. A maioria dos animais eram morcegos, corujas, ratos, aranhas, rãs, sapos e algumas pequenas serpentes, mas Lenny há muito que se decidira.
Sempre adorara corujas. Assim que entrou na loja, estas começaram a piar, competindo pela sua atenção. Mas bastou erguer os olhos para o fundo da sala para se decidir. Ali, dentro de uma gaiola de metal, encontrava-se a mais bela coruja que já vira: mais branca do que a neve, com reluzentes e redondos olhos azuis-escuros que a olhavam profundamente. Esta era a única coruja que não piava ou batia as asas, mas algo nos seus olhos enigmáticos fez Lenny apaixonar-se.
-É aquela, não é? - questionou a avó. Lenny sorriu.
-É.

*
No dia seguinte, seria o dia de embarcar em Hogwarts. O comboio para Hogwarts partiria às onze horas da manhã da estação de King's Cross. Lenny sentia-se muito entusiasmada, mas também muito assustada. Seria a única feiticeira que não tinha qualquer experiência no mundo da Magia, mas que no entanto, iria frequentar o sétimo ano. Era de loucos, mas por qualquer razão que ela desconhecia, Minerva McGonagall insistira e assegurara, na carta que a avó recebera no dia anterior, que Lenny sair-se-ia bem no sétimo ano. Como se soubesse que ela sempre tivera aquilo dentro de si, mas nunca sobressaíra. Que ela não precisava de frequentar os anos anteriores e tivesse o potencial suficiente para enfrentar as difíceis matérias do sétimo ano que a esperavam.

A Sr.ª Gant levou-a até à estação de comboios, onde se dirigiram à plataforma 9 e 3/4. Quando os pais lhe falaram dela pela primeira vez, esta riu-se, pensando que era uma piada, mas os pais explicaram-lhe que havia uma parede de tijolo castanho entre a plataforma nove e dez do mundo dos Muggles, que, quando se corria de encontro a ela sem parar, dava acesso ao mundo da Magia e à estação onde o Expresso de Hogwarts esperava.


Porém, Lenny não conseguiu esconder o nervosismo. Despediu-se atabalhoadamente da avó, que chorava.
-Adoro-te, avó.
-Eu também. Manda uma carta pela Hedz quando chegares. 
Hedz fora o nome que Lenny decidira dar à sua coruja. Deu um último beijo apressado na face da avó, e depois agarrou-se com força ao carrinho que trazia diante de si, com as suas malas e a gaiola com a Hedz e avançou. Correu sem parar e temeu chocar contra a parede feita tola, mas isso não aconteceu. Atravessou um portal invisível e viu-se num mundo desconhecido mas familiar. Era a mesma plataforma, mas não havia sinais da avó nem pessoas de malas de trabalho a passarem, apressadas. Ali, encontrava-se um extenso comboio vermelho parado nos carris e vários feiticeiros com carrinhos iguais aos dela, vestidos com as suas capas pretas e longas. De repente, uma nova sensação atingiu Lenny. Apesar de tudo aquilo ser novo para ela, sentiu-se em casa, como nunca se sentira na escola dos Muggles. 
Um grande homem de longas barbas castanhas vestido de couro, aproximou-se, com uma expressão amigável.
-Tu deves ser a Lenny, certo? Lenny Gant? - proferiu ele, olhando para a minúscula tabuleta que segurava entre as mãos, comparado com o seu tamanho. Lenny fingiu não reparar nas cabeças mais próximas que se viraram para a ver, curiosos.
-Sim - afirmou ela, contente por ter sido reconhecida - sou eu.
-Muito bem. O Dumbledore, descanse ele em paz, falou-nos muito sobre ti. Pelo que ouvi, és uma feiticeira muito especial. 
Ela sorriu timidamente.
-Ainda não me considero uma feiticeira. 
Os olhos do homem ficaram tristes.
-Lamento muito o que aconteceu aos teus pais. Gostava muito deles.
Subitamente, Lenny reconheceu o grande homem. Era Rubeus Hagrid, o Guardião das Chaves e dos Terrenos de Hogwarts e também professor de Cuidados com Criaturas Mágicas. 
Alguém passou por ali a correr e deu-lhe um pequeno encontrão. Um rapaz ruivo e com sardas apressou-se a virar-se e a desculpar-se.
-Desculpa - depois sorriu amigavelmente - sou o Ron. Ron Weasley.
-Ron! - Hagrid deu uma sonora gargalhada rouca e depois bateu no ombro de Ron com tanta força que o deitou quase ao chão - como vai o meu velho amigo?
-Vou bem, Hagrid, mas por vezes devias medir a força que tens. 
-Oh, oh, desculpa! Bom, já conheces a Lenny Gant, certo? Vai ser do teu ano.
Ron franziu o sobrolho, mas depois sorriu e estendeu-lhe a mão.
-Prazer.
-Igualmente - Lenny apertou-lhe a mão. Depois viu uma rapariga com volumosos cabelos cor de mel-escuros e tez clara a aproximar-se.
-És a Lenny Gant? Ouvi falar de ti! - disse ela - é verdade que nunca fizeste nenhum feitiço?
Lenny cravou os olhos no chão. Sabia que a rapariga não o tinha dito por maldade, e, ainda que fosse verdade, magoava. Lenny tentara fazer alguns feitiços no dia anterior com a sua nova varinha, mas não resultaram. Contudo, ela estava decidida a não desistir.
-Hermione! - ralhou Ron - deixa-a em paz!
Hermione pediu desculpas com o olhar.
-Desculpa-me. Às vezes falo sem pensar. Mas isso não é um problema, a sério. Há montes de alunos que não realizaram nenhum feitiço até vir para Hogwarts. Todavia, tinham algo em si que dizia a Dumbledore e aos outros professores que viriam a tornar-se bons feiticeiros. A propósito, sou a Hermione Granger - depois virou-se para Hagrid e cumprimentou-o.
-Olá, Hagrid. Já viste o Harry por aí?
-Não, mas ele veio contigo, Ron, não veio?
-Sim, ele passou as férias comigo. Disse que ia cumprimentar o Neville e depois desapareceu. Provavelmente está rodeado de admiradoras. É o maior herói de sempre. As miúdas não lhe vão dar descanso este ano.
-Nunca deram, pois não? - gracejou Hagrid, emitindo mais uma das suas gargalhadas roucas. 
-Ou talvez se tenha esgueirado para ir ter com a Ginny - provocou Hermione, olhando propositadamente para Ron. Contudo, pouco depois, Harry apareceu por detrás deles. Oh, sim, o famoso Harry Potter. O único ser no mundo que sobrevivera a um "Avada Kedavra" de Voldemort. O único que o conseguiu destruir. Era lendário. No entanto, ao contrário do que Lenny esperava, ele não se mostrou todo pomposo e convencido, pavoneando-se e congratulando-se pela sua vitória e pelos seus feitos, mas pareceu realmente bondoso e modesto. Hermione abraçou-o e os seus olhos azuis olharam para Lenny curiosamente. Ela observou a sua famosa cicatriz em forma de relâmpago na testa dele. Harry estendeu a mão.
-Harry Potter - apresentou-se, como se a rapariga não soubesse quem ele era. 
-Lenny Gant - respondeu. Ele ficou um pouco surpreso ao ouvir o seu nome, mas Hagrid interrompeu-os, gritando a bom gritar:
-Muito bem, pessoal! Está na hora de embarcar no Expresso de Hogwarts! Quero ordem enquanto fazem uma fila para entrar! Vamos, vamos!

No entanto, apesar das ordens do imponente Hagrid, estavam todos demasiado entusiasmados para formarem uma fila como deve ser. Em vez disso, entraram a monte no comboio.

*

Muita gente pedira a Harry para ficar no seu compartimento no Expresso de Hogwarts, mas por bondade, ele convidou Lenny a sentar-se com ele, Hermione e Ron.
-Onde ficou a Ginny? - perguntou Hermione.
-Com o Neville e a Luna - responderam Harry e Ron ao mesmo tempo.
Lenny olhava pela janela, distraída e absorta nos seus pensamentos, enquanto a paisagem verdejante passava por ela a toda a velocidade.


-Estás bem? - inquiriu Harry. Era muito fácil dar-se com Harry. Era bondoso e amável. Com Hermione e Ron, também, mas a sua bondade era diferente, mais indireta do que a de Harry. 
-Estou. Só um pouco nervosa - alegou Lenny.
-Queres um sapo de chocolate? - ofereceu Ron. Lenny virou a cabeça para ele - eles ajudam-me sempre quando estou nervoso.
-Pode ser - Lenny retirou um do saco e observou o cromo que trazia. Os pais costumavam levar-lhes chocolates daqueles quando era mais pequena e ela gostava sempre de ver quem era o feiticeiro famoso que se encontrava no cromo. Daquela vez, porém, sentiu lágrimas nos olhos. Ron, Hermione e Harry inclinaram-se os três sobre ela para verem também quem era.
-Oh, desculpa... - gaguejou Ron - pensei que já soubesses... 
-Não, não sabia. Quando é que...?
-Depois da batalha contra o Voldemort, em Hogwarts - afirmou Harry - alguns dos cromos dos sapos de chocolate foram renovados e devido aos feitos que fizeram, colocaram cromos deles na coleção.
Lenny leu a descrição e olhou novamente para a fotografia animada. Os feiticeiros que se encontravam no cromo eram, nada mais nada menos, que os seus pais, sorridentes e com uma bravura tal no olhar que Lenny se orgulhou instantaneamente de ser filha deles. Através daquele cromo, sentia-os mais perto de si. Pareciam tão vivos. Depois, leu a descrição.

"Michael e Melanie Gant foram dois grandes feiticeiros do Bem que enfrentaram Voldemort com tudo o que tinham. Michael tinha o dom de controlar os quatro elementos com a mente e Melanie de ver a verdade e a razão. Deixaram uma filha a viver com a avó no mundo Muggle, e além de que nunca realizou nenhum feitiço, pouco se sabe sobre ela."

-É por isso que és tão intrigante - prosseguiu Hermione, persentindo a tristeza de Lenny - porque os teus pais eram famosos e poderosos, mas de ti sabe-se pouco ou nada. 
-E o que se sabe é uma porcaria - interveio ela - que eu sou uma fraca.
E uma lágrima salgada escorreu-lhe pela face.
-E que varinha tens? - interrogou Harry - qual o seu núcleo?
-Veia de Unicórnio e pena de Fénix - informou ela.
Ron e Hermione ficaram boquiabertos, mas Harry sorriu.
-Vês? Tu não és fraca. Uma varinha como essa nunca escolheria alguém fraco para ser seu dono. Nunca. Podes ter a certeza.
Lenny sorriu. Harry fê-la sentir-se melhor.
O resto da viagem passou a correr. Os quatro falaram acerca de si e das suas vivências e Lenny ficou a conhecê-los bastante melhor. Ficou a saber que Harry, Ron, Hermione, Neville, Luna e alguns alunos mais velhos tinham regressado a Hogwarts para acabarem o sétimo ano, entre os quais os irmãos de Ron e de Ginny, os gémeos Fred e George. Quando chegaram a Hogwarts, já anoitecera.