sábado, 22 de novembro de 2014

Beijo

Depressa passou uma semana. O aviso de Draco aos Slytherin resultara e estes já não a chateavam. Lenny voltou a andar com os amigos Gryffindor, embora ainda evitasse Fred, e a detenção não era assim tão má, principalmente por ter Draco tão perto. Na primeira semana tiveram de limpar algumas salas, mas agora a detenção consistia em estudar e Lenny e Draco aproveitavam para estudar para os EFBE's.
Lenny e Draco sentiam-se um pouco culpados por terem feito com que os Slytherin perdessem cem pontos, pelo que cada um se esforçava ao máximo nas aulas, respondendo a perguntas, executando os feitiços na perfeição, fazendo o que podiam para ganhar o máximo de pontos possíveis. Como eram feiticeiros ótimos por natureza, não era difícil serem os melhores alunos, só empatados com Hermione. Os professores estavam impressionados, e os colegas também. Nunca tinham visto Lenny ou Draco tão empenhados, mas atribuíam esse empenho ao fim da relação e ao facto de eles se quererem concentrar noutras coisas e provar ao outro que eram melhores. 
Além disso, Draco também se esforçava muito no Quidditch, e os Slytherin iam à frente, com a maior pontuação no desporto. Apesar disso, os Slytherin ainda tinham um longo caminho até conseguirem igualar as restantes casas, mas era algo que era possível porque o espírito competitivo de Lenny e Draco tinha sido transmitido aos restantes colegas de equipa e agora todos davam o seu melhor para ganhar pontos.
Nunca se vira a casa dos Slytherin tão empenhada e tão bem-comportada, pois se os Slytherin se afastassem de castigos, não perderiam pontos. 
Pansy, em relação ao afastamento de Lenny e Draco, estava sempre a tentar ter a atenção deste último, mas este nem lhe ligava. Passava os dias a ansiar pela detenção para poder ver Lenny, e pela noite na Sala das Necessidades para poder de facto estar com ela.
Lenny e Draco quase que já não dormiam nos respetivos dormitórios: preferiam passar a noite juntos na Sala das Necessidades, algumas vezes apenas a conversar, outras vezes em carícias e afetos. Eram sempre muito cautelosos e indiferentes um ao outro durante o dia, mas à noite, ao tocarem-se, tudo valia a pena. 
Em relação aos pais, estes mandavam-lhe cartas todos os meses, a que Lenny respondia, fingindo entusiasmo. Os pais tinham ficado muito contentes ao ouvirem da discussão pública que fizera com que Lenny e Draco acabassem. Se eles soubessem...
Maio chegou, e o calor também. Os alunos sabiam que só faltava um mês para acabar as aulas e fazer os exames, e embora andassem entusiasmados pela chegada do Verão, também se sentiam ansiosos pelos exames e tristes por deixarem Hogwarts, principalmente os que estavam a frequentar o sétimo ano e que não regressariam mais. 
Num certo dia, à tarde, Lenny tinha um furo no horário pelo que resolveu dirigir-se à biblioteca quando alguém a puxou para dentro de uma sala e fechou a porta atrás de si. Lenny preparou-se para barafustar, mas depois viu quem estava encostado à porta. 
-Fred - disse Lenny. Sabia que estava a ser demasiado fria com ele, e também sabia que já não era por se sentir magoada por ele a ter "entregue" aos seus pais no dia do jogo de Quidditch. Sabia que agora andava a evitar Fred porque tinha uma ligeira ideia dos sentimentos que ele poderia nutrir por ela, sentimentos que ela não retribuía. 
-Lenny - a voz de Fred estava seca, mas Lenny denotava uma pontada de ansiedade - foi mesmo preciso andares a ignorar-me durante quase duas semanas?
Lenny engoliu em seco, sem conseguir olhar Fred nos olhos.
-Não acredito que ainda te sintas magoada por causa daquilo, Lenny. Já te pedi desculpas milhares de vezes. Fi-lo porque não podias fugir. Para onde irias? E como viverias? Precisas da tua família, Lenny, e eu só fiz o melhor para ti.
Lenny suspirou.
-Eu sei, Fred, tens razão. E também peço desculpa por te andar a evitar. Mas.... quero concentrar-me nos exames agora.
Fred franziu o sobrolho.
-Isso não te impede de te dares com os meus irmãos e com o Harry e a Hermione. Porque é que não te dás comigo?
-Porque... - Lenny não conseguiu continuar, mordendo o lábio inferior e olhando para o chão. Sentiu Fred a aproximar-se, e depois os dedos deles tocaram ao de leve no queixo dela, fazendo-a levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos. Fred era muito mais alto que Draco, quanto mais que ela.
-Porquê, Lenny? - insistiu Fred, a voz mais firme. Lenny engoliu em seco. Não valia a pena mentir.
-Porque tenho a sensação que eles não me vêem da forma que tu me vês.
Fred deixou os dedos que tocavam no queixo de Lenny caírem, recuando um passo. Os olhos estavam ligeiramente esbugalhados, e a boca encontrava-se ligeiramente entreaberta.
-Eu... - Fred não sabia bem o que dizer. Como é que ela se apercebera? Ele nunca fizera nada que pudesse indiciar o que ele sentia verdadeiramente por ela, pois não? Claro que havia umas piadas aqui, umas conversas acolá, mas... era assim que Fred era. E sim, sentia-se diferente quando estava com Lenny, e doía-lhe sempre que a via com Draco. E agora que eles já não estavam juntos, Fred sabia que podia ser essa a sua oportunidade.
Mas tinha medo de ser rejeitado, porque sabia o quanto Lenny amava Draco.
-Como é que percebeste? – perguntou ele, finalmente.
-Não sei… acho que os meus pais perceberam primeiro que eu.
-Não quero ser rejeitado, Lenny, e é por isso que nem sequer me vou dar ao trabalho de clarificar o que sinto. Não quero pôr-te numa posição em que me rejeites, porque sei que é isso que irá acontecer. Sei que amas o Draco e que nunca me escolherás a mim. Mas deixa-me ao menos fazer isto… nem que seja a primeira e a última vez.
Fred aproximou-se e antes que Lenny percebesse o que estava a acontecer, já ele lhe segurava o rosto com as duas mãos e os seus lábios tocavam os dela. Depois ele beijou-a, e ela só correspondeu porque não queria ferir ainda mais os sentimentos de Fred. Ela sabia que ao corresponder ao beijo não estava a dar esperanças a Fred porque ele próprio admitira que Lenny nunca o escolheria. Por isso deixou Fred aproveitar o único gesto romântico que eles iam alguma vez partilhar.
Sentia-se culpada por o estar a beijar, era certo, mas era demasiado amável e amiga de Fred para lhe fazer uma desfeita daquelas e rejeitar o beijo. Assim, os lábios de ambos moveram-se em sincronia. Fred sentia-se extasiado, mas percebia que ela só o estava a beijar de volta para não lhe ferir os sentimentos. E talvez ao corresponder Lenny feria-lhe mais os sentimentos do que se o tivesse rejeitado, porque sabia que Lenny sentia uma amizade demasiado grande para com ele para ser comparada a amor.
Ela não era capaz de o rejeitar porque gostava demasiado dele como amigo, mas também não era capaz de o beijar com sinceridade porque não gostava dele de forma romântica. Isso fazia Fred sentir-se mal, mas os lábios deles no dela atenuavam um pouco essa sensação.
Por fim afastaram-se, e Lenny não sabia quanto tempo tinha passado.
-Obrigado – disse Fred numa voz débil.
Lenny desviou o olhar. Sabia que Fred ficara decerto magoado por ela só querer ser amiga dele, mas também sabia que este momento, este beijo, ainda que falso, fora importante para ele.
Como se fosse o encerrar de um capitulo, de uma história. Como se ele precisasse do beijo para selar o que sentia por ela, para conseguir seguir em frente. E talvez fosse mesmo isso.
Por isso ela voltou a olhar para ele e respondeu:
-De nada. 

A Sala das Necessidades

Lenny e Draco passaram as três horas seguintes a limpar o Salão Nobre. No fim, estavam suados e exaustos, mas o Salão estava limpo e brilhante. Depois regressaram à sala comum, onde foram bombardeados por perguntas por parte dos seus colegas Slytherin, que provavelmente ainda não sabiam que Lenny e Draco, através da guerra de comida, tinham feito com que a sua equipa perdesse cem pontos.
Ambos se mostraram carrancudos, porque ninguém ficaria feliz depois de "acabar a relação" e de ter de limpar o Salão, e aproveitando a desculpa, foi cada um para o seu dormitório.
No dia seguinte, quando Lenny entrou na sala comum dos Slytherin, toda a gente se calou e ficou a olhar para ela. Lenny engoliu em seco: de certeza que os Slytherin já sabiam da perda dos cem pontos.
Pansy, que se encontrava sentada num cadeirão, levantou-se abruptamente e dirigiu-se a Lenny com passos pesados.
-Tu! O que é que te passou pela cabeça? Por que raio decidiste acabar o teu namorozinho perfeito com uma guerra de comida que fez os Slytherin perderem cem pontos?
-Eu... - Lenny começou, mas Pansy interrompeu-a.
-És mesmo egoísta! É que só pensaste em ti, sem pensares nos Slytherin! Como é que achas que vamos conseguir recuperar tantos pontos? Vamos perder a Taça das Casas no nosso último ano em Hogwarts!
-Peço desculpa, ok! - disse Lenny olhando para todos - não foi minha intenção começar uma guerra, e muito menos fazer os Slytherin perderem tantos pontos, mas aconteceu! Eu estava magoada, ainda estou, e foi no calor do momento! Não estou a dizer para me perdoarem, mas eu já pedi desculpa e se vocês não seguem em frente, eu sigo.
Dito isto, Lenny atravessou a sala comum e dirigiu-se ao Salão Nobre. À entrada, encontrou Hermione, Harry, Ron e Ginny.
-Lenny! Estás bem? - perguntou Hermione assim que a viu. Lenny engoliu em seco. Não queria ter de mentir aos amigos, mas era a única maneira de manter secreta a sua relação com Draco.
Lenny encolheu os ombros e olhou para o chão.
-Lamentamos muito... - continuou Ginny.
-A vossa discussão foi mesmo medonha - disse Ron, ganhando um olhar fulminante de Hermione.
Lenny levantou os olhos do chão.
-Eu sei. Mas... foi melhor assim. Eu e o Draco não podíamos continuar, não enquanto os meus pais não o permitirem. Por isso... só quero esquecer isto. Desculpem.
E Lenny passou por eles e entrou no Salão. Não viu Draco ao pequeno-almoço, mas nas aulas não conseguia evitar olhar para ele. Era horrível ter de mentir a toda a gente e esconder os seus sentimentos, tudo porque os pais não o permitiam.
Lenny andava também a evitar Fred, que já a tentara interpelar algumas vezes, mas ela esquivava-se sempre. Agora não era só o facto de Fred a ter "entregue" aos pais, mas também o facto de ter de mentir a mais uma pessoa. E ela gostava de Fred. Mas não da forma como amava Draco.

*

Passaram três dias. Os Slytherin ainda estavam muito chateados pela perda de cem pontos, mas Lenny ignorava as bocas e os comentários maldosos, que vinham principalmente de Pansy. Também andava mais sozinha, pois assim não tinha de mentir a ninguém acerca dela e de Draco. 
Era difícil ignorar a presença de Draco: via-o nas aulas, nos corredores, na sala comum, no Salão Nobre. E eles ainda não se tinham encontrado. Lenny começava a perguntar-se se Draco já não queria verdadeiramente estar com ela até que recebeu um papel na aula de Poções. Lenny reconheceu imediatamente a letra de Draco, e sem, que ninguém visse, leu: "Lenny, tenho estado a pensar em ti o dia todo. Estou a enlouquecer sem ti. Preferi que os ânimos acalmassem, mas acho que agora nos podemos voltar a encontrar. Hoje às 21h na S.N? Tenho saudades tuas."
Lenny não conseguiu evitar o sorriso que lhe preencheu a cara quando acabou de ler o bilhete. Sabia que com "S.N." Draco queria dizer Sala das Necessidades. E lá estaria ela a essa hora. 

*

A noite chegou e Lenny comeu pouco ao jantar. Vira Draco a sair pouco antes do Salão Nobre e ela foi ao dormitório e depois seguiu para o sétimo andar. Aí, sem que ninguém a visse, entrou na Sala das Necessidades. Esta estava iluminada por uma lareira, recriando a sala comum dos Slytherin, só que sem estes, e apenas com uma pessoa sentada num cadeirão. 
-Draco - o nome escapou-se-lhe da boca num lamento, quase como se Lenny precisasse daquele nome para sobreviver. 
Draco olhou para cima e levantou-se, correndo para ela num ápice. Os dois abraçaram-se, reconfortados no calor um do outro. Nada mais importava. As mentiras, a indiferença durante o dia, tudo isso valia a pena por aquele momento.
-Tive tantas saudades tuas - suspirou Draco para o cabelo de Lenny. 
-Eu também - respondeu ela, a voz abafada por estar com a cabeça encostada ao peito forte de Draco. Os dois afastaram-se um pouco e Draco percorreu com os dedos frios a face de Lenny.
-Tens a certeza que ninguém nos encontrará? - perguntou Lenny.   
-Pedi especificamente por um lugar onde pudesse estar a sós contigo sem que ninguém nos encontrasse. Não te preocupes, Lenny. Estamos seguros aqui - tranquilizou-a ele.
-Ainda bem.
-Os Slytherin têm-te chateado muito? - perguntou Draco. Lenny encolheu os ombros, mas desviou o olhar.
-Mais ou menos. E a ti?
-Sou Chefe de Equipa e acho que eles estão convencidos que a culpa pela guerra de comida e pelo castigo é mais tua que minha. Mas eu digo-lhes para te pararem de chatear. Eles ouvir-me-ão.
-Obrigada - Lenny sorriu.
-Não te esqueças que a detenção começa amanhã. Ao menos poderemos ver-nos todos os dias após as aulas, durante um mês.
Lenny sorriu.
-Ainda bem.
Os dedos de Draco ainda estavam a acariciar a pele de Lenny, o que lhe mandava arrepios por todo o corpo. Depois os seus lábios colaram-se aos dela, num misto de fúria, paixão e necessidade.
-Amo-te tanto - disse-lhe Draco ao ouvido, quando se afastaram.
-Eu também te amo, Draco - respondeu Lenny, rodeando-lhe o pescoço com os braços. Draco pegou-lhe pela cintura e caíram os dois num sofá verde comprido.
-Tens a certeza? - sussurrou Draco.
-Quero isto, Draco - disse Lenny, sabendo que aquilo era a maior certeza da vida dela - quero-te a ti. Amo-te, E o nosso amor é um feitiço mágico que permanecerá para sempre ininterrupto.
Os lábios dele voltaram a colar-se aos dela, enquanto a roupa de ambos caía no chão ao seu lado. Draco retirou os lábios dos de Lenny, dizendo-lhe:
-Também te quero, Lenny. Mais do que tudo. Amo-te.
E depois os lábios de ambos reencontraram-se com ferocidade e paixão e tudo explodiu em prazer.