Quando chegaram à estação de Hogsmeade, era de noite e chovia torrencialmente. Daquela vez, em vez de embarcarem nos barcos como haviam feito no início do ano letivo, foram nas carruagens conduzidas por Thestrals, criaturas aladas que eram uma combinação de cavalo com dinossauro e que só eram visíveis aos olhos das pessoas que já haviam presenciado alguma morte. Lenny nunca vira morrer ninguém, pelo que o espaço à frente da carruagem se encontrava, para ela, vazio, mas os alunos que presenciaram a batalha de Hogwarts, onde muita gente morrera, conseguiam vê-los.
| Thestrals |
O castelo estava iluminado e envolto por uma neblina misteriosa, tal como da primeira vez que Lenny o vira ao vivo. Passaram pelo Hall de entrada, onde, cravadas nas paredes, se encontravam as quatro grande ampulhetas das Casas. Sempre que um professor adicionava ou retirava pontos a uma das equipas, os grãos da ampulheta desciam ou subiam da parte de cima da ampulheta para a de baixo, respetivamente. Havia rubis na ampulheta dos Gryffindor, esmeraldas na dos Slytherin, safiras na dos Ravenclaw e citrinos (pedras preciosas) na dos Hufflepuff.
Dirigiram-se ao Salão Nobre, quente e acolhedor, com as velas a flutuar e as longas mesas das equipas já com alguns alunos sentados, aqueles que haviam ficado em Hogwarts nas férias. Os professores já se encontravam todos na respetiva mesa e McGonagall deu início ao 2º período.
*
Na aula de Defesa contra as Artes das Trevas, na primeira segunda-feira do 2º período, Braxton disse-lhes que iriam começar a aprender o feitiço Patronus, o único encantamento conhecido capaz de afastar as criaturas frias e horríveis chamadas Dementors, que sugavam a felicidade às pessoas e as faziam sentir como toda a alegria do mundo tivesse desaparecido e nunca mais voltasse, e que em tempos haviam sido os guardas da prisão de Azkaban, a prisão dos feiticeiros. Por aquela altura, já quase toda a turma conseguia realizar o feitiço, uma vez que grande parte deles havia feito parte do Exército de Dumbledore, no quinto ano, onde Harry lhes havia ensinado a conjurar o feitiço. No entanto, fazia parte do programa e por isso, tinha de ser ensinado, além de que havia muitas imperfeições que tinham de ser trabalhadas.
-Comecemos pelo básico - principiou Braxton, o manto preto a rodopiar atrás de si enquanto andava pela sala. As mesas haviam desaparecido e os alunos encontravam-se dispostos em círculo, em pé, no maior dos silêncios - o que é preciso fazer para conjurar um Patronus?
Várias mãos se levantaram. Braxton deu a palavra a Draco.
-É preciso pensar numa recordação feliz, professor - disse ele - mas tem ser algo mesmo muito feliz, que afaste a maldade dos Dementors.
-Exatamente - declarou Braxton, contente - cinco pontos para os Slytherin. Certamente, Draco, saber-me-ás dizer que forma adquire o Patronus?
-O Patronus adquire a forma de um animal que tenha significado para o dono. Pode mudar de forma ao longa da vida da pessoa, caso aconteça algo muito significativo... como... apaixonar-se ou assim - os olhos de Draco caíram em Lenny, que corou levemente. Pansy resmungou e alguém murmurou algo sobre o Patronus de Tonks se ter transformado num lobo quando se apaixonara por Lupin.
-Correto. Mais cinco pontos para os Slytherin - indagou Braxton - bom, então vamos lá. Quero que se coloquem afastados uns dos outros, de frente para a parede. Concentrem-se numa memória feliz e digam "Expectro Patronum", ao mesmo tempo que fazem assim - Braxton floreou com a varinha e disse "Expecto Patronum". Uma serpente brilhante e azulada saiu da ponta da sua varinha e cavalgou pela sala.
Depois os alunos começaram a fazer os feitiços. Lenny pôs-se de parte durante algum tempo, observando os Patronus dos colegas. O de Harry era um veado, como o do seu pai, o de Hermione uma lontra, o de Ron um Jack Russel Terrier (conhecido por perseguir lontras), o de Seamus Finnigan, uma raposa e o de Luna Lovegood, uma lebre.
Depois os alunos começaram a fazer os feitiços. Lenny pôs-se de parte durante algum tempo, observando os Patronus dos colegas. O de Harry era um veado, como o do seu pai, o de Hermione uma lontra, o de Ron um Jack Russel Terrier (conhecido por perseguir lontras), o de Seamus Finnigan, uma raposa e o de Luna Lovegood, uma lebre.
| Patronus verídico de Harry - Veado |
| Patronus verídico de Hermione - Lontra |
| Patronus verídico de Ron - Jack Russel Terrier |
| Patronus verídico de Seamus - Raposa |
| Patronus verídico de Ginny - Cavalo |
| Patronus verídico de Luna - Lebre |
Pansy estava a ter algumas dificuldades em produzir o seu Patronus, bem como a maioria dos Slytherin, que como não tinham estado no Exército de Dumbledore, não haviam praticado aquele feitiço tanto como os outros.
-Vamos lá, Draco, tu consegues - incentivou Braxton à direita de Lenny. Lenny olhou-o. Uma gota de suor escorria-lhe pela face e Draco respirava profundamente, tentando concentrar-se. Depois, o seu olhar cruzou-se com o de Lenny e esta sorriu levemente, encorajando-o. E isso era tudo o que Draco precisava.
-EXPECTRO PATRONUM! - gritou ele e todos os outros Patronus foram ofuscados pelo de Draco. Pararam todos para o observar: um grande dragão de cauda serpenteante saiu da sua varinha e vagueou pela sala, a luz azulada a brilhar intensamente.
| Patronus fictício de Draco - Dragão |
Braxton exibia um grande sorriso.
-Muito bem, Draco. Podes baixar a varinha.
Draco assim fez e olhou em volta, não conseguindo esconder o entusiasmo que sentia não só por todos o olharem mas também porque acabara de conseguir realizar o seu primeiro Patronus. E era um dragão, uma das criaturas mais poderosas de sempre.
-Eu sempre soube que não eras nenhum cobarde - declarou Pansy, alto e bom som - ninguém com um dragão como Patronus o poderia ser.
-Bem, eu mudei muito - argumentou Draco e algumas pessoas surpreenderam-se com a sua resposta humilde, mas Draco só tinha olhos para Lenny - não conseguiria sem ti.
-Eu não fiz nada - pestanejou Lenny.
-Não sabes o quanto me ajudaste - murmurou Draco e todos se aproximaram para ouvir melhor - antes de te conhecer... não tinha memórias suficientemente felizes para conseguir conjurar um Patronus... agora, basta-me pensar no nosso... primeiro... - e corou levemente, falando ainda mais baixo - beijo... para o produzir.
Alguns dos Slytherin romperam em aplausos e assobios e depressa os outros se lhes juntaram a eles. Até os Gryffindor, que tinham uma rivalidade eterna com Draco e com a maioria dos Slytherin, aplaudiram. Lenny corou até à raiz dos cabelos. Pansy afastara-se para um canto, furiosa.
-Bom - interrompeu Braxton, não podendo, ele mesmo, esconder um sorrisinho de satisfação - acho que seria uma boa altura para ser a sua vez de tentar, menina Gant.
Lenny engoliu em seco. Não tinha propriamente medo de não conseguir produzir um Patronus. Tal como Draco, bastava-lhe pensar naquele momento que conseguiria produzir o maior Patronus do mundo. Tinha era receio de saber a sua forma. E se fosse algo que não se identificasse com ela? Como um papagaio ou um rato ou qualquer coisa do género?
Engoliu em seco, olhou para Draco e desta vez foi ele quem lhe sorriu, encorajando-a, e Lenny pensou na primeira vez que os seus lábios tocaram nos dele, no dia 31 de Outubro. Com isto, fez um movimento com a varinha enquanto proferia:
-Expectro Patronum! - ao início, nada aconteceu. Depois, Lenny concentrou-se mais afundo... o toque dele, o seu cheiro, as suas palavras, tudo aquilo por que Draco já passara... e de repente, um barulhento rugido ecoou por toda a sala, fazendo o chão estremecer debaixo dos seus pés. Várias pessoas saltaram, sobressaltadas. E então, um tigre com um brilho azulado muito intenso saltou da ponta da varinha de Lenny e percorreu a sala, rodeando-a.
-Uau - sussurraram várias vezes.
| Patronus fictício de Lenny - Tigre |
-Muito bem, chega! - exclamou Braxton e o tigre-patronus de Lenny desvaneceu-se com um último rugido. Esta olhou em volta, extasiada. Mal podia esperar por contar à avó que acabara de realizar um feitiço que alguns feiticeiros adultos tinham dificuldade em realizar. E que era um tigre! Lenny sempre adorara tigres, mas saber que era destemida e elegante como eles... naquele momento, tal como Harry se havia sentido uns anos antes, Lenny sentiu-se como se fosse capaz de produzir o maior Patronus do mundo.
*
Depois de terminadas as aulas daquele dia e depois de ter feito os trabalhos de casa com Draco na sala comum, ele e Lenny dirigiram-se ao gabinete de Braxton, também nas masmorras, para começarem as aulas de Oclumância e Legilimância. O gabinete emitia uma luz esverdeada e estava repleto de estantes com ingredientes de poções, bem como algumas mesas e cadeirões.
Braxton encontrava-se a ler um livro e levantou-se quando os viu entrar.
-Trouxeram as varinhas? - questionou ele e Lenny e Draco assentiram - muito bem. Menina Gant...
-Lenny - interrompeu ela - se me permite,... trate-me por Lenny, professor.
-Como queira. Como eu estava a dizer, Lenny, as artes da Legilimância e da Oclumância são extremamente difíceis e vai ser preciso muita prática e esforço para conseguir entrar na mente dos outros e para fechar a sua própria mente. Acha que vai conseguir?
-Sim - respondeu Lenny, rapidamente. Tinha de conseguir. Precisava disso. Pelos seus pais.
-Muito bem, então. Os feiticeiros e bruxos mais experientes e qualificados são capazes de praticar estas artes não verbalmente e sem usar varinha, mas para principiantes, começaremos com varinha.
Lenny agarrou firmemente na sua varinha. Braxton colocou Draco à frente dela, a cerca de cinco metros de distância.
-Muito bem, então. Os feiticeiros e bruxos mais experientes e qualificados são capazes de praticar estas artes não verbalmente e sem usar varinha, mas para principiantes, começaremos com varinha.
Lenny agarrou firmemente na sua varinha. Braxton colocou Draco à frente dela, a cerca de cinco metros de distância.
-Eu e a professora McGonagall concordámos que era preferível começar com a Legilimância, já que pode ser a única forma da Lenny comunicar com os pais. Lenny, quando estiver pronta, concentre-se. Sinta as emoções do seu parceiro, os seus medos, os seus receios, os seus pensamentos, as suas vivências, as suas experiências. Aponte-lhe a varinha e pronuncie "Legilimens". Eu vou seguir os seus progressos observando-os nas vossas mentes.
Lenny respirou fundo. Ela não queria fazer aquilo a Draco. Que direito tinha ela de lhe entrar na mente? Não era... justo. Mas ele estava a fazer aquilo por ela. Tinha-se oferecido para a ajudar. Quanto mais depressa despachasse o assunto, melhor. Segurou a varinha contra ele e tentou concentrar-se naquilo que Braxton dissera.
-Legilimens! - gritou. Primeiro, nada aconteceu. Depois, Draco fechou os olhos com força e recuou para trás, como se estivesse a ser empurrado por alguém. Lenny vislumbrou, por momentos, o abraço de Voldemort a Draco, durante a batalha final em Hogwarts no verão passado e sentiu a dor que aquilo lhe provocava. Não aguentou. Deixou cair a varinha e olhou pela sala, tentando pensar noutra coisa. Draco abriu os olhos a custo.
-Muito impressionante - sibilou Braxton - nunca ninguém que eu tenha ensinado conseguiu tanto na primeira tentativa. Tente outra vez.
Draco respirava ofegantemente, os olhos cravados no chão. Lenny sentiu um aperto no estômago e um nó na garganta. Se soubesse que ia ser assim...
-Legilimens - proferiu, mas a voz tremeu-lhe e daquela vez nada aconteceu.
-Concentre-se! - berrou Braxton, e Lenny transformou o receio em fúria, não por Braxton, mas por quem quer que tenha feito desaparecer os seus pais e ter provocado toda aquela dor a Draco e Lenny tinha a certeza de que havia sido a mesma pessoa: Voldemort.
-LEGILIMENS!
Imagens em catadupa trespassaram-lhe a mente: o medo, o receio, a tristeza, a pressão, um mundo escuro de pensamentos negros na cabeça de Draco, que lhe fora imposto pelos pais, Devoradores da Morte, pelo facto de não ser compreendido por ninguém e pela missão de matar Dumbledore que Voldemort lhe tinha confiado, do facto de não ter escolha, de ter de o fazer pois era a única forma de manter os pais em segurança... depois, uma luz forte e brilhante: quando tudo aquilo acabou, quando viu Lenny pela primeira vez. Os sorrisos, as discussões que o faziam feliz, o bei...
Lenny parou abruptamente. Não queria que Braxton visse aquilo. Ele comprimiu os lábios.
-Ok, por hoje chega. Amanhã, à mesma hora.
E Lenny e Draco abandonaram o gabinete de Braxton em silêncio.
*
À medida que os EFBE's se aproximavam, a pressão aumentava. Fred e George vendiam, às escondidas de Hermione, poções que diziam que acalmavam os nervos ou que estimulavam a inteligência, a biblioteca estava quase sempre cheia de gente, os trabalhos de casa e nas aulas eram cada vez mais difíceis e complexos, mas Lenny só pensava nas aulas de Legilimância e Oclumância com Braxton e Draco. Passara uma semana desde a primeira lição e Lenny melhorara muito: a partir do sexto dia, Braxton declarou-a uma verdadeira Legilimens e tanto Draco como Lenny suspiraram de alívio ao saber que a última não teria de entrar mais na cabeça do primeiro. Braxton raramente se impressionava, mas não podia esconder o espanto que sentia aquando da rapidez e do talento que Lenny demonstrava para aquelas artes.
Lenny começou também a ler o livro "Guia Avançado de Oclumância" que Ron lhe dera pelo Natal, e este ajudava-a muito em Oclumância.
Lenny começou também a ler o livro "Guia Avançado de Oclumância" que Ron lhe dera pelo Natal, e este ajudava-a muito em Oclumância.
Na segunda-feira à noite, uma semana depois da primeira aula, Braxton sugerira que fosse Draco a tentar entrar na mente de Lenny, para treinarem Oclumância. Era, ao mesmo tempo, uma forma de Lenny aprender essa arte e de Draco aprender Legilimância.
Draco era bastante bom em Oclumância, mas não queria, tal como Lenny, entrar nos pensamentos dela, mas ao fim de umas quantas tentativas, conseguiu captar-lhe alguns pensamentos: a raiva e a tristeza pelo desaparecimento dos pais, a luz ao fundo do túnel, quando vira Draco pela primeira vez, quando ele lhe contara de como os pais dela ainda podiam estar vivos... a esperança de os encontrar... e na parte do primeiro beijo, Lenny conseguiu bloquear a mente a tempo de Braxton ver.
Passados alguns dias, Lenny pediu a Braxton para ser ele a tentar entrar na mente dela. Era um desafio bastante mais difícil, resistir ao poder de um Legilimens como Braxton, mas fez como este lhe explicara: as pessoas que na vida real tinham dificuldade em expressar os seus sentimentos e em abrirem-se com os outros eram as mais aptas a praticar Oclumância, como era o caso de Lenny e de Draco. Fora por isso, acrescentara Braxton com desdém, que Harry Potter nunca tinha tido sucesso naquelas artes, quando as treinara com o professor Snape. Harry estava demasiado apegado ao que sentia, não se conseguia desligar dos seus sentimentos, pensamentos e emoções.
Então, Lenny desconectou-se do que sentia e pensava e concentrou-se apenas em resistir. Na sexta-feira, Braxton declarou-a uma verdadeira Occlumens e a Draco um verdadeiro Legilimens. Estavam prontos e treinados. Aquelas lições tinham, por fim, terminado.

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