quinta-feira, 25 de julho de 2013

Nem tudo o que parece é

Caminharam por entre as árvores o que pareceram horas. Cada um tinha os ouvidos à escuta e ocasionalmente punham a mão dentro do manto para se certificarem que tinham a sua varinha. Seguiram sempre a agulha da bússola, e à medida que iam penetrando na floresta, as árvores ficavam mais cerradas e a luz solar diminuía. Os pássaros cantavam melodias estranhas e assustadoras, ao longe ouvia-se o restolhar das folhas, o vento a soprar...


De repente, dezenas de pássaros fantasmagóricos e resultantes de uma mistura entre corvo e águia deslizaram das árvores em voo picado. A cabeça era preta como a de um corvo, com olhos pretos cor do carvão, mas o bico e o resto do corpo eram de águia: bico e garras afiadas e penas castanhas.
-Atordoar! - gritaram Harry e Hermione ao mesmo tempo. Os outros apressaram-se a imitá-los e vários pássaros caíram ao chão, mas após uma breve hesitação os restantes investiram sobre eles.
-Lenny! - gritou Draco, situado perto de uma árvore a lutar contra meia dúzia de pássaros, e Lenny sentiu o bico afiado de um deles rasgar-lhe o manto na parte direita da sua cintura, que por pouco não lhe perfurou a pele. 
Feitiços de cor vermelha trespassaram a floresta e ofuscaram a pouca luz solar. Os corvos-águia grasnavam e atacavam sem piedade, mas os feitiços de atordoar faziam-nos cair no chão da floresta. A pouco e pouco, todos os pássaros desapareceram. 
-Estão todos bem? - perguntou Lenny, olhando em redor. Os outros assentiram, mas George tinha um profundo arranhão na bochecha esquerda, Fred tinha penas no cabelo, Ron estava a sangrar do lábio, Harry tinha os óculos tortos, Hermione a manga esquerda do manto dos Gryffindor rasgada, Ginny um corte no joelho e Draco... Draco desaparecera.
-Draco! - gritou Lenny, sendo invadida por uma onda de raiva e tristeza. 
-Onde é que aquele tipo se meteu? - resmoneou Ron. Lenny foi até à árvore donde avistara Draco pela última vez. Subitamente, a terra desabou em redor dos seus pés e Lenny deu por si a cair, sem no entanto conseguir gritar, como se tivesse perdido a voz. Aterrou nalgo que não parecia terra: não havia luz. Lenny apalpou o chão: era frio, talvez de tijolo ou pedra. Continuava sem conseguir falar, mas ouvia as vozes dos amigos lá em cima, chamando por ela. Agarrou na varinha e tentou pronunciar um encantamento, mas a língua enrolou-se e ficou-lhe presa. Era o Feitiço da Língua Atada. Concentrou-se e conseguiu realizar, pela primeira vez, um feitiço não-verbal,  que Flitwick lhes havia ensinado uns dias antes. Lumos, pensou e um jato de luz azul saiu da sua varinha e percorreu o ar a toda a velocidade, explodindo lá em cima. 
-Lenny! - a cara de Harry apareceu-lhe lá de cima - espera aí por nós. Vamos descer.
Lenny assentiu e desviou-se para o lado e sentiu que a sua voz regressara: o feitiço que a havia feito perder a fala era anulado assim que descobrissem onde ela se havia metido. A voz de Draco deveria ter regressado também, mas Lenny não o ouvia.
George foi o último a aterrar e Lenny viu que as suas caras estavam livres de arranhões, penas, sangue e Harry já não tinha os óculos tortos.
-Reparo - proferiu Ginny e o corte na cintura de Lenny desapareceu.
-Obrigada -disse ela em voz sumida, olhando em redor através da luz proveniente da sua varinha. Os outros acenderam também as suas e Lenny arregalou os olhos. Estavam na mesma sala de tijolo com várias portas de madeira fechadas que a rapariga vira no sonho em que ouvira o pai dizer que deveria procurar onde não podia entrar, só que desta vez o teto não era aberto, era terra.
-É a mesma sala que vi no meu sonho - comunicou Lenny.
-Por onde será que o Draco terá ido? - perguntou Ginny.
-Não fui a lado nenhum - sussurrou uma voz sumida - estou aqui.
Apontaram todos as varinhas para o local de onde vinha a voz: a um canto, Draco encontrava-se sentado, mais pálido do que nunca, com arranhões no corpo e marcas de garras na bochecha direita.
-Reparo - disse Lenny e as marcas e os arranhões desapareceram - o que aconteceu?
-Fiquei com a língua presa, não conseguia falar. Só agora me apercebi que já conseguia - confessou ele, levantando-se.
-Sim, também me aconteceu - admitiu Lenny - desfez-se quando eles me encontraram.
-Não há tempo a perder - interrompeu Harry - Lenny, a bússola.
Lenny abriu-a de novo e a agulha voltou a girar. Lentamente, as portas de madeira foram-se desvanecendo, até restarem unicamente duas. A agulha parou no meio delas, sem conseguir escolher.
-É obviamente um feitiço Confundus - observou Hermione - que está a confundir a tua bússola. Uma das portas leva aos teus pais, a outra... provavelmente à morte.
-E não sabes como desfazer esse feitiço? - interpelou Ron. Hermione enrubesceu e olhou para o chão.
-Temos de nos decidir - afirmou Lenny - mas acho que só eu deverei continuar.
-O quê? - questionaram os outros.
-Não quero conduzir-vos à morte! - disse ela, agastada.
-E é para isso que eu sirvo - proferiu uma voz cristalina e aguda. A sala iluminou-se magicamente, transmitindo uma luz amarelada, e da parede surgiu uma mulher de meia idade vestida com trajes medievais, mas era cinzenta e flutuava. Um fantasma.
-Quem é a senhora? - perguntou Harry.
-A Guardiã dos Portais - a mulher-fantasma apontou para as duas portas de madeira atrás de si.
-E como é que nos pode ajudar? - interrogou Ron.
-Lançar-vos-ei um enigma. Se o conseguirem resolver, o feitiço Confundus lançado à vossa bússola será desfeito e ela poderá escolher a porta correta. Se errarem na resposta do enigma, o feitiço não será anulado e restará apenas a porta errada...
-Resumindo, se errarmos, morremos - concluiu George. A mulher-fantasma assentiu com a cabeça.
-E se não quisermos ouvir o enigma? - perguntou Ginny.
-Terão cinquenta por cento de hipóteses de sobreviverem - respondeu-lhes a mulher-fantasma com um breve sorriso - mas e então, aceitam?
Olharam todos para Lenny a encorajá-la.
-Sim - acedeu ela, mas o receio começava a apoderar-se dela. E se errassem?
-Muito bem. Ouçam com atenção - a mulher-fantasma flutuou duas vezes em volta deles e depois disse:

Este enigma levar-vos-á à sobrevivência ou à morte,
Pensem bem, meus meninos, a união é forte
As portas parecem iguais mas não o são
A diferença está no olhar, na ilusão
Nem tudo o que parece é
Não compliquem as coisas, o que é fácil, fácil é

-Só isso? - interpelou Draco, pois a mulher-fantasma calou-se - mas...
-Isso parece mais um texto de psicologia - confessou Fred.
-Nem tudo o que parece é... - matutou Hermione.
-Não podemos complicar as coisas - lembrou Ginny - os enigmas parecem sempre difíceis, mas isso podem ser apenas manias da nossa cabeça... se soubermos pensar, encontramos a resposta.
-Estás a esquecer-te de um pequeno pormenor, maninha - resmungou George - ninguém aqui é dos Ravenclaw.
Lenny aproximou-se das portas. Pareciam iguaizinhas... mas a diferença estava no olhar...na ilusão...
-Uma ilusão! - exclamou ela - é uma ilusão de ótica, malta!
-Hã? - estranharam os gémeos e Ron.
-A Lenny tem razão... - confidenciou Hermione - tudo depende do sítio de onde vemos as portas... olhámo-las sempre de frente, mas...
-Se nos pusermos de lado... - completou Ginny e moveu-se para o lado direito das portas. Depois fez uma careta - nada...
-A união é forte - avisou Draco.
-É isso! - concordou Harry - pessoal, formem uma linha todos juntos ao pé da Ginny.
Assim fizeram e assim que os ombros de todos se tocaram, a mulher-fantasma sorriu.
-Muito bem, meninos. Conseguiram. O feitiço Confundus foi quebrado. Eu disse-vos que era fácil. Basta unirem-se e pensarem. São os segredos da vitória.
E com isto desvaneceu-se no ar, em milhões de pós prateados que ao tocarem no chão de tijolo da sala desapareceram também. Lenny abriu a bússola e a agulha girou. Desta vez, a seta apontou para a porta mais à direita.
-Prontos? - perguntou ela.
-Sempre - responderam os outros.
-Alohomora - Lenny apontou a varinha à fechadura da porta e esta abriu-se como por magia. Um túnel de pedra estendia-se até virar numa curva e eles caminharam em frente, prosseguindo a jornada.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Floresta Proibida

Duas semanas depois do início das aulas, Lenny e os amigos ainda não tinham conseguido descobrir o enigma que o pai lhe lançara em sonhos: aquele que dizia que Lenny deveria procurar onde não podia entrar. Ao pequeno-almoço, no Salão Nobre, Hedz posou um pequeno embrulho em frente a Lenny, que lhe deu uma tira de bacon a agradecer. Quando a coruja se foi embora, Lenny pensou de quem poderia ser aquele embrulho. Não tinha remetente nem destinatário, e a avó nunca lhe enviava nada sem lhe dar umas palavrinhas. Na verdade, não tinha nada escrito nem nenhum cartão que lhe pudesse explicar de onde viera aquilo. Se não tinha sido a avó, Lenny não estava a ver quem poderia ter sido. Não havia mais ninguém... a não ser...
-Não vais abrir? - perguntou-lhe Draco. Lenny assentiu com a cabeça e desembrulhou o embrulho rapidamente. Como esperara, não tinha uma única palavra a explicar o objeto que se lhe apresentava à frente. Era uma espécie de cubo com um tipo de metade de ovo preto incrustado e com fechadura, mas sem sítio para chave. Lenny abriu a fechadura e reprimiu uma exclamação de surpresa. Era uma bússola.



-Para que é que queres uma bússola? - perguntou Pansy mesquinhamente, mas algo dizia a Lenny que aquela bússola não era normal. Voltou a fechá-la, levantou-se da mesa e atravessou o Salão Nobre até sair porta fora.

*

Embora soubesse Legilimância, Lenny não queria por nada ler as mentes das outras pessoas, pelo que não o fazia, mas não se surpreendeu ao sentir um toque no ombro. Virou-se, mas não era apenas Draco. Harry, Ron, Hermione, Ginny e os gémeos Fred e George também tinham vindo ter com ela. 
-Não parece estranho? - perguntou-lhes Lenny - alguém me enviou isto sem me dar nenhuma explicação... por que a Pansy tem razão... para que é que eu quero uma bússola?
-Quem quer que seja que te tenha dado isso deve achar que és inteligente o suficiente para encontrares uma utilidade para isso - afirmou Hermione, sorrindo e observando a estranha bússola. 
-Bom, talvez devêssemos esperar pelo cair da noite para ver se a bússola aponta mesmo para Norte - sugeriu Ginny.
E assim foi. Ao anoitecer, Lenny e os outros dirigiram-se sorrateiramente até à Torre de Astronomia, uma torre pontiaguda onde eles tinham as aulas práticas de Astronomia.

Torre da Astronomia por fora
Torre da Astronomia por dentro

Lenny abriu a bússola e a pequena agulha vermelha começou de imediato a girar. Olharam todos para o céu à procura da Estrela Polar. Hermione foi a primeira a encontrá-la.


-Ali - apontou ela. Olharam de volta para a agulha da bússola, que parara finalmente, mas esta apontava para um local completamente diferente. Lenny susteu a respiração à medida que percorria o olhar e o enquadrava para o sítio para onde a agulha apontava.
-A Floresta Proibida - disse Harry.
-Como é que não pensámos nisso? - perguntaram Fred e George ao mesmo tempo.
-Lenny - sussurrou Hermione - "deves procurar onde não podes entrar". Lenny, a bússola aponta para aquilo que mais desejas no mundo!

*

Nessa mesma noite, Lenny voltou atordoada para a sala comum dos Slytherin seguida em silêncio por Draco. Aquilo que mais desejas no mundo... não havia dúvidas em relação ao que era: encontrar os seus pais. E agora tudo fazia sentido... a pista dos pais... a bússola... mas como tinham eles conseguido enviá-la? Se é que tinham sido mesmo eles... nessa noite, Lenny não conseguiu dormir. Sabia que não iria aparecer nas aulas no dia seguinte. Não sabia se os amigos iriam com ela ou não, mas ela partiria na manhã seguinte em busca dos pais. Não podia esperar mais. Não aguentava. E a bússola era, sem dúvida, uma ajuda preciosa que a levaria até aos pais, mas, que infelizmente, não a avisaria dos perigos que correria.
As suas colegas de dormitório ainda estavam, na sua maioria, na sala comum, pelo que Lenny aproveitou para pegar numa velha bolsa de vários tons roxos com missangas e colocar-lhe um Feitiço de Extensão Indetetável, pelo que pôde colocar à vontade algumas roupas suas, a bússola, o diário-logo, o espelho de duas faces, a bola de cristal que Ginny lhe oferecera pelo Natal, o "Guia Avançado de Oclumância" que Ron lhe dera, o livro "Mitologia no Mundo" oferecido por Harry e o estranho colar com uma ampulheta com pedrinhas laranja e roxas que Carl lhe dera quando fora a Hogsmeade dentro da bolsa. Esta continuava com o seu tamanho e peso natural, embora estivesse cheia de coisas lá dentro.


Por fim, escreveu um bilhete a Daphne pedindo-lhe que, senão fosse incómodo, cuidasse de Hedz e de Shy enquanto ela estivesse fora e explicou-lhe que teria de se ausentar de Hogwarts por tempo indefinido e por motivos pessoais. Acarinhou Shy e foi visitar Hedz ao Celeiro das Corujas e depois regressou ao dormitório. Finalmente, adormeceu por cima dos cobertores e de manhã, logo depois do sol nascer, deu uma última mirada ao quarto e saiu para a sala comum. Arqueou as sobrancelhas quando viu Draco à sua espera, embora lá no fundo soubesse que nunca na vida um partiria sem o outro.
-Achavas que te deixava ir sozinha? - questionou ele, abraçando-a - nunca na vida. E já sabia que irias tentar partir cedo para não nos dares hipóteses de irmos contigo. Não é que esteja muito contente por os outros também irem, mas...
-Espera lá... os outros também vão? - interrogou Lenny.
-Sim. Estão à nossa espera no hall de entrada - alegou Draco. Depois olhou para a bolsa roxa que Lenny levava a tiracolo e compreendeu.
-Não queres pôr aqui nada dentro? - ofereceu Lenny - não pesa e não me custa nada.
Draco acedeu e rapidamente puseram algumas roupas suas e outros pertences (dos quais o seu diário-logo e o seu espelho de duas faces) dentro da bolsa. Abandonaram, então, juntos, a sala comum dos Slytherin.
Quando chegaram ao hall de entrada, Lenny pode constatar que Hermione e Ginny tinham, também elas, uma bolsa a tiracolo, sendo a de Hermione azul e a de Ginny vermelha.
-Eu levo os pertences do Ron e do Harry além dos meus - confidenciou Hermione e Ginny disse a Lenny que levava os dela e os dos gémeos.
Lenny suspirou. 
-Têm a certeza de que é isto que querem? Se algum de vocês...
-Lenny, não comeces com isso - declarou Ron - temos de partir antes que dêem pela nossa falta. 
-Sim, abre a bússola - incitou Fred. Lenny assim fez e a agulha desta voltou a apontar para a Floresta Proibida. Lenny lembrou-se de quando entrara na parte segura da floresta aquando da visita de estudo ao Lago Negro mais Draco e de como era diferente agora. Como não havia segurança nem proteção nem certezas de que voltariam todos, são e salvos.
E mesmo assim, ali estavam eles, os seus amigos, dispostos a arriscarem a vida por Lenny. Esta respirou fundo e encaminharam-se todos para a Floresta.

domingo, 14 de julho de 2013

As Memórias São Poderosas

Quando chegaram à estação de Hogsmeade, era de noite e chovia torrencialmente. Daquela vez, em vez de embarcarem nos barcos como haviam feito no início do ano letivo, foram nas carruagens conduzidas por Thestrals, criaturas aladas que eram uma combinação de cavalo com dinossauro e que só eram visíveis aos olhos das pessoas que já haviam presenciado alguma morte. Lenny nunca vira morrer ninguém, pelo que o espaço à frente da carruagem se encontrava, para ela, vazio, mas os alunos que presenciaram a batalha de Hogwarts, onde muita gente morrera, conseguiam vê-los. 


Thestrals
O castelo estava iluminado e envolto por uma neblina misteriosa, tal como da primeira vez que Lenny o vira ao vivo. Passaram pelo Hall de entrada, onde, cravadas nas paredes, se encontravam as quatro grande ampulhetas das Casas. Sempre que um professor adicionava ou retirava pontos a uma das equipas, os grãos da ampulheta desciam ou subiam da parte de cima da ampulheta para a de baixo, respetivamente. Havia rubis na ampulheta dos Gryffindor, esmeraldas na dos Slytherin, safiras na dos Ravenclaw e citrinos (pedras preciosas) na dos Hufflepuff.




Dirigiram-se ao Salão Nobre, quente e acolhedor, com as velas a flutuar e as longas mesas das equipas já com alguns alunos sentados, aqueles que haviam ficado em Hogwarts nas férias. Os professores já se encontravam todos na respetiva mesa e McGonagall deu início ao 2º período. 

*

Na aula de Defesa contra as Artes das Trevas, na primeira segunda-feira do 2º período, Braxton disse-lhes que iriam começar a aprender o feitiço Patronus, o único encantamento conhecido capaz de afastar as criaturas frias e horríveis chamadas Dementors, que sugavam a felicidade às pessoas e as faziam sentir como toda a alegria do mundo tivesse desaparecido e nunca mais voltasse, e que em tempos haviam sido os guardas da prisão de Azkaban, a prisão dos feiticeiros. Por aquela altura, já quase toda a turma conseguia realizar o feitiço, uma vez que grande parte deles havia feito parte do Exército de Dumbledore, no quinto ano, onde Harry lhes havia ensinado a conjurar o feitiço. No entanto, fazia parte do programa e por isso, tinha de ser ensinado, além de que havia muitas imperfeições que tinham de ser trabalhadas.
-Comecemos pelo básico - principiou Braxton, o manto preto a rodopiar atrás de si enquanto andava pela sala. As mesas haviam desaparecido e os alunos encontravam-se dispostos em círculo, em pé, no maior dos silêncios - o que é preciso fazer para conjurar um Patronus?
Várias mãos se levantaram. Braxton deu a palavra a Draco.
-É preciso pensar numa recordação feliz, professor - disse ele - mas tem ser algo mesmo muito feliz, que afaste a maldade dos Dementors.
-Exatamente - declarou Braxton, contente - cinco pontos para os Slytherin. Certamente, Draco, saber-me-ás dizer que forma adquire o Patronus?
-O Patronus adquire a forma de um animal que tenha significado para o dono. Pode mudar de forma ao longa da vida da pessoa, caso aconteça algo muito significativo... como... apaixonar-se ou assim - os olhos de Draco caíram em Lenny, que corou levemente. Pansy resmungou e alguém murmurou algo sobre o Patronus de Tonks se ter transformado num lobo quando se apaixonara por Lupin. 
-Correto. Mais cinco pontos para os Slytherin - indagou Braxton - bom, então vamos lá. Quero que se coloquem afastados uns dos outros, de frente para a parede. Concentrem-se numa memória feliz e digam "Expectro Patronum", ao mesmo tempo que fazem assim - Braxton floreou com a varinha e disse "Expecto Patronum". Uma serpente brilhante e azulada saiu da ponta da sua varinha e cavalgou pela sala.
Depois os alunos começaram a fazer os feitiços. Lenny pôs-se de parte durante algum tempo, observando os Patronus dos colegas. O de Harry era um veado, como o do seu pai, o de Hermione uma lontra, o de Ron um Jack Russel Terrier (conhecido por perseguir lontras), o de Seamus Finnigan, uma raposa e o de Luna Lovegood, uma lebre.

File:Harry Potters' Patronus.jpg
Patronus verídico de Harry - Veado

File:Patronus.PNG
Patronus verídico de Hermione  - Lontra

File:Ron's Patronus.gif
Patronus verídico de Ron - Jack Russel Terrier

File:Patronus Fox2.JPG
Patronus verídico de Seamus - Raposa
Patronus verídico de Ginny - Cavalo

File:Patronus2.gif
Patronus verídico de Luna - Lebre

Pansy estava a ter algumas dificuldades em produzir o seu Patronus, bem como a maioria dos Slytherin, que como não tinham estado no Exército de Dumbledore, não haviam praticado aquele feitiço tanto como os outros. 
-Vamos lá, Draco, tu consegues - incentivou Braxton à direita de Lenny. Lenny olhou-o. Uma gota de suor escorria-lhe pela face e Draco respirava profundamente, tentando concentrar-se. Depois, o seu olhar cruzou-se com o de Lenny e esta sorriu levemente, encorajando-o. E isso era tudo o que Draco precisava.
-EXPECTRO PATRONUM! - gritou ele e todos os outros Patronus foram ofuscados pelo de Draco. Pararam todos para o observar: um grande dragão de cauda serpenteante saiu da sua varinha e vagueou pela sala, a luz azulada a brilhar intensamente. 

Patronus fictício de Draco - Dragão

Braxton exibia um grande sorriso.
-Muito bem, Draco. Podes baixar a varinha.
Draco assim fez e olhou em volta, não conseguindo esconder o entusiasmo que sentia não só por todos o olharem mas também porque acabara de conseguir realizar o seu primeiro Patronus. E era um dragão, uma das criaturas mais poderosas de sempre.
-Eu sempre soube que não eras nenhum cobarde - declarou Pansy, alto e bom som - ninguém com um dragão como Patronus o poderia ser.
-Bem, eu mudei muito - argumentou Draco e algumas pessoas surpreenderam-se com a sua resposta humilde, mas Draco só tinha olhos para Lenny - não conseguiria sem ti.
-Eu não fiz nada - pestanejou Lenny.
-Não sabes o quanto me ajudaste - murmurou Draco e todos se aproximaram para ouvir melhor - antes de te conhecer... não tinha memórias suficientemente felizes para conseguir conjurar um Patronus... agora, basta-me pensar no nosso... primeiro... - e corou levemente, falando ainda mais baixo - beijo... para o produzir. 
Alguns dos Slytherin romperam em aplausos e assobios e depressa os outros se lhes juntaram a eles. Até os Gryffindor, que tinham uma rivalidade eterna com Draco e com a maioria dos Slytherin, aplaudiram. Lenny corou até à raiz dos cabelos. Pansy afastara-se para um canto, furiosa. 
-Bom - interrompeu Braxton, não podendo, ele mesmo, esconder um sorrisinho de satisfação - acho que seria uma boa altura para ser a sua vez de tentar, menina Gant.
Lenny engoliu em seco. Não tinha propriamente medo de não conseguir produzir um Patronus. Tal como Draco, bastava-lhe pensar naquele momento que conseguiria produzir o maior Patronus do mundo. Tinha era receio de saber a sua forma. E se fosse algo que não se identificasse com ela? Como um papagaio ou um rato ou qualquer coisa do género?
Engoliu em seco, olhou para Draco e desta vez foi ele quem lhe sorriu, encorajando-a, e Lenny pensou na primeira vez que os seus lábios tocaram nos dele, no dia 31 de Outubro. Com isto, fez um movimento com a varinha enquanto proferia:
-Expectro Patronum! - ao início, nada aconteceu. Depois, Lenny concentrou-se mais afundo... o toque dele, o seu cheiro, as suas palavras, tudo aquilo por que Draco já passara... e de repente, um barulhento rugido ecoou por toda a sala, fazendo o chão estremecer debaixo dos seus pés. Várias pessoas saltaram, sobressaltadas. E então, um tigre com um brilho azulado muito intenso saltou da ponta da varinha de Lenny e percorreu a sala, rodeando-a.
-Uau - sussurraram várias vezes.

Patronus fictício de Lenny - Tigre
-Muito bem, chega! - exclamou Braxton e o tigre-patronus de Lenny desvaneceu-se com um último rugido. Esta olhou em volta, extasiada. Mal podia esperar por contar à avó que acabara de realizar um feitiço que alguns feiticeiros adultos tinham dificuldade em realizar. E que era um tigre! Lenny sempre adorara tigres, mas saber que era destemida e elegante como eles... naquele momento, tal como Harry se havia sentido uns anos antes, Lenny sentiu-se como se fosse capaz de produzir o maior Patronus do mundo.

*

Depois de terminadas as aulas daquele dia e depois de ter feito os trabalhos de casa com Draco na sala comum, ele e Lenny dirigiram-se ao gabinete de Braxton, também nas masmorras, para começarem as aulas de Oclumância e Legilimância. O gabinete emitia uma luz esverdeada e estava repleto de estantes com ingredientes de poções, bem como algumas mesas e cadeirões. 


Braxton encontrava-se a ler um livro e levantou-se quando os viu entrar. 
-Trouxeram as varinhas? - questionou ele e Lenny e Draco assentiram - muito bem. Menina Gant...
-Lenny - interrompeu ela - se me permite,... trate-me por Lenny, professor.
-Como queira. Como eu estava a dizer, Lenny, as artes da Legilimância e da Oclumância são extremamente difíceis e vai ser preciso muita prática e esforço para conseguir entrar na mente dos outros e para fechar a sua própria mente. Acha que vai conseguir?
-Sim - respondeu Lenny, rapidamente. Tinha de conseguir. Precisava disso. Pelos seus pais.
-Muito bem, então. Os feiticeiros e bruxos mais experientes e qualificados são capazes de praticar estas artes não verbalmente e sem usar varinha, mas para principiantes, começaremos com varinha.
Lenny agarrou firmemente na sua varinha. Braxton colocou Draco à frente dela, a cerca de cinco metros de distância.
-Eu e a professora McGonagall concordámos que era preferível começar com a Legilimância, já que pode ser a única forma da Lenny comunicar com os pais. Lenny, quando estiver pronta, concentre-se. Sinta as emoções do seu parceiro, os seus medos, os seus receios, os seus pensamentos, as suas vivências, as suas experiências. Aponte-lhe a varinha e pronuncie "Legilimens". Eu vou seguir os seus progressos observando-os nas vossas mentes.
Lenny respirou fundo. Ela não queria fazer aquilo a Draco. Que direito tinha ela de lhe entrar na mente? Não era... justo. Mas ele estava a fazer aquilo por ela. Tinha-se oferecido para a ajudar. Quanto mais depressa despachasse o assunto, melhor. Segurou a varinha contra ele e tentou concentrar-se naquilo que Braxton dissera. 
-Legilimens! - gritou. Primeiro, nada aconteceu. Depois, Draco fechou os olhos com força e recuou para trás, como se estivesse a ser empurrado por alguém. Lenny vislumbrou, por momentos, o abraço de Voldemort a Draco, durante a batalha final em Hogwarts no verão passado e sentiu a dor que aquilo lhe provocava. Não aguentou. Deixou cair a varinha e olhou pela sala, tentando pensar noutra coisa. Draco abriu os olhos a custo. 


-Muito impressionante - sibilou Braxton - nunca ninguém que eu tenha ensinado conseguiu tanto na primeira tentativa. Tente outra vez.
Draco respirava ofegantemente, os olhos cravados no chão. Lenny sentiu um aperto no estômago e um nó na garganta. Se soubesse que ia ser assim... 
-Legilimens - proferiu, mas a voz tremeu-lhe e daquela vez nada aconteceu. 
-Concentre-se! - berrou Braxton, e Lenny transformou o receio em fúria, não por Braxton, mas por quem quer que tenha feito desaparecer os seus pais e ter provocado toda aquela dor a Draco e Lenny tinha a certeza de que havia sido a mesma pessoa: Voldemort. 
-LEGILIMENS!
Imagens em catadupa trespassaram-lhe a mente: o medo, o receio, a tristeza, a pressão, um mundo escuro de pensamentos negros na cabeça de Draco, que lhe fora imposto pelos pais, Devoradores da Morte, pelo facto de não ser compreendido por ninguém e pela missão de matar Dumbledore que Voldemort lhe tinha confiado, do facto de não ter escolha, de ter de o fazer pois era a única forma de manter os pais em segurança... depois, uma luz forte e brilhante: quando tudo aquilo acabou, quando viu Lenny pela primeira vez. Os sorrisos, as discussões que o faziam feliz, o bei...
Lenny parou abruptamente. Não queria que Braxton visse aquilo. Ele comprimiu os lábios.
-Ok, por hoje chega. Amanhã, à mesma hora. 
E Lenny e Draco abandonaram o gabinete de Braxton em silêncio.

*

À medida que os EFBE's se aproximavam, a pressão aumentava. Fred e George vendiam, às escondidas de Hermione, poções que diziam que acalmavam os nervos ou que estimulavam a inteligência, a biblioteca estava quase sempre cheia de gente, os trabalhos de casa e nas aulas eram cada vez mais difíceis e complexos, mas Lenny só pensava nas aulas de Legilimância e Oclumância com Braxton e Draco. Passara uma semana desde a primeira lição e Lenny melhorara muito: a partir do sexto dia, Braxton declarou-a uma verdadeira Legilimens e tanto Draco como Lenny suspiraram de alívio ao saber que a última não teria de entrar mais na cabeça do primeiro. Braxton raramente se impressionava, mas não podia esconder o espanto que sentia aquando da rapidez e do talento que Lenny demonstrava para aquelas artes.
Lenny começou também a ler o livro "Guia Avançado de Oclumância" que Ron lhe dera pelo Natal, e este ajudava-a muito em Oclumância.
Na segunda-feira à noite, uma semana depois da primeira aula, Braxton sugerira que fosse Draco a tentar entrar na mente de Lenny, para treinarem Oclumância. Era, ao mesmo tempo, uma forma de Lenny aprender essa arte e de Draco aprender Legilimância. 
Draco era bastante bom em Oclumância, mas não queria, tal como Lenny, entrar nos pensamentos dela, mas ao fim de umas quantas tentativas, conseguiu captar-lhe alguns pensamentos: a raiva e a tristeza pelo desaparecimento dos pais, a luz ao fundo do túnel, quando vira Draco pela primeira vez, quando ele lhe contara de como os pais dela ainda podiam estar vivos... a esperança de os encontrar... e na parte do primeiro beijo, Lenny conseguiu bloquear a mente a tempo de Braxton ver. 
Passados alguns dias, Lenny pediu a Braxton para ser ele a tentar entrar na mente dela. Era um desafio bastante mais difícil, resistir ao poder de um Legilimens como Braxton, mas fez como este lhe explicara: as pessoas que na vida real tinham dificuldade em expressar os seus sentimentos e em abrirem-se com os outros eram as mais aptas a praticar Oclumância, como era o caso de Lenny e de Draco. Fora por isso, acrescentara Braxton com desdém, que Harry Potter nunca tinha tido sucesso naquelas artes, quando as treinara com o professor Snape. Harry estava demasiado apegado ao que sentia, não se conseguia desligar dos seus sentimentos, pensamentos e emoções.
Então, Lenny desconectou-se do que sentia e pensava e concentrou-se apenas em resistir. Na sexta-feira, Braxton declarou-a uma verdadeira Occlumens e a Draco um verdadeiro Legilimens. Estavam prontos e treinados. Aquelas lições tinham, por fim, terminado.